Tópicos | minidocumentário

Já está disponível no Youtube do LeiaJá o minidocumentário "Maria foi Vadiar: mulheres que reinventaram a capoeira". O trabalho é assinado pela repórter especial Marília Parente, pela editora de vídeo Jéssica do Vale e conta com imagens do repórter cinematográfico Júlio Gomes. No vídeo, mulheres mestres de capoeira versam sobre suas trajetórias e relatam os desafios de gênero enfrentados no cotidiano da prática cultural brasileira.

Assista aqui: 

##RECOMENDA##

[@#video#@]

O minidocumentário 'Tributo ao TTK' estreou nesta terça-feira (24), no aplicativo do Amazon Music e na página do serviço de streaming no YouTube. A produção mostra como o rap cresceu no bairro do Catete, no Rio de Janeiro, e conta com participação de importantes nomes do cenário musical, como Marcelo D2, BK, Sain e Filipe Ret - que também atuou como diretor criativo -. O conteúdo faz parte da programação de agosto do Amazon Music, que celebra o rap como gênero em destaque.

"Eu cheguei no Catete em 1985. Vim do subúrbio, onde andar de skate era coisa de 'playboy'. O bairro sintetiza a cultura urbana muito bem, porque é perto da praia, num lugar urbano, onde a galera se sentia muito excluída, então ali a pichação era forte. O Catete vai ser minha área pra sempre, é um lugar que faz parte da história da minha vida ", declara D2 no filme.

##RECOMENDA##

Confira o resultado de 'Tributo ao TTK':

*Da assessoria

Fase musical final do artista foi predominante roqueira, com a banda jaboatonense "Má Companhia" ou outros amigos de Candeias. (Nemo Côrtes/cortesia)

##RECOMENDA##

Uma casa colorida, repleta de amigos, música, quadros e de portas invariavelmente abertas. É assim que os frequentadores do “aparteliê” de Lula Côrtes em Candeias, no município de Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife, descrevem o local escolhido pelo multiartista recifense para viver seus últimos anos de vida. Àquela altura, o mundo inteiro já cabia na cabeça de um pirata que se recusava a deixar de vislumbrar o mar como possibilidade máxima de conexão com outros sons e povos. Dado à uma incorrigível informalidade, Luiz Augusto Martins Côrtes logo entraria para história da música como Lula Côrtes, parceiro de Zé Ramalho em Paêbiru (1975), que conduziu com sua cítara marroquina (apelidada de “tricórdio”) pelas veredas da música experimental nordestina, reencontrando as origens árabes das escalas e timbres locais. Caso estivesse vivo, Lula completaria 70 anos neste maio de 2019, e certamente ainda moraria em Candeias.

“A casa de Lula era assim: se eu chegasse lá oito horas da manhã, começava a fazer alguma coisa. Quando davam 10 horas, ele me chamava para fazer um peixe e eu ia ao mercado comprar um uísque ou uma cana, quando a gente estava nas vacas magras. Aí poderiam chegar pescadores, as amigas dele ou Zeca Baleiro”, brinca Igor Sales, amigo com quem Lula Côrtes dividiu uma de suas moradas em Candeias, além de seu “digitador oficial”, ocupação que derivou da recusa do artista de deixar a escrita à mão. Estudante de comunicação, Igor se aproximou do gênio pernambucano durante as farras em Candeias. Sempre bem frequentado, o apartamento de Lula no bairro, segundo Igor, chegou a ser visitado pelo falecido príncipe da Holanda Johan Friso e por um dos guitarristas dos Rolling Stones, Ronnie Wood, que também era afeito à pintura. “Ele chegou a pintar um quadro pequenininho em Candeias. Lula guardou esse objeto por um tempo, na parede. Depois que morreu não sei onde foi parar”, lamenta Igor.

Assista ao Minidocumentário "Além-mar: os últimos anos de Lula Côrtes em Candeias":

À época, Igor era um estudante de comunicação perdido, interessado em desenvolver seus conhecimentos em pintura, uma das muitas artes que o “mago de Candeias” dominava. “ fizemos um acordo: ele me ajudaria a pintar e eu digitaria no computador os manuscritos dele. Na época, eu tinha uma banda de rock, chamada ‘Transmissão Clandestina’, e ele gostava e tinha muito essa atitude rock n’roll. Era um cara que rasgava a camisa em cima do palco, tomava uma e descia para arengar com alguém no público”, diverte-se Igor.

Apesar disso, ele destaca que o período em que conheceu Lula foi de altos e baixos para o artista. “Ele descobriu um câncer, não sei se foi depois disso que passou a viver um dia de cada vez. Se ele pegasse uma grana agora, a gente ia almoçar num restaurante, depois ia tomar uma não sei onde e, caso chegassem outras pessoas, ele fazia tudo de novo. Agora também acontecia de a Celpe vir e cortar a luz, porque ele esquecia de pagar, ou de faltar comida. Muitas vezes, eu e outros amigos chegamos junto com marmitas”, lembra.

"Digitador oficial": Igor colocou no computador três livros inteiramente manuscritos por Lula. (Júlio Gomes/LeiaJá Imagens)

Paralelamente às oscilações financeiras, Lula parecia produzir como nunca, na música, na literatura e nas artes plásticas. Depois de domar a rebelde caligrafia do artista, por vezes vomitada por fluxo criativo contínuo em enormes folhas de papel A3, Igor calcula ter digitado e ter sido o primeiro a ler pelo menos três livros de Lula Côrtes, alguns deles ainda inéditos. “Ele tinha umas sacadas muito boas e obras interessantíssimas de ficção e poesia. Só que ainda mais interessante do que consumir a obra, era conviver com ele. Era um cara com quem eu aprendia o tempo todo”, completa.

O papa de Candeias

Blusão, sunga e uma rede de pesca. Era só o que Lula Côrtes costumava carregar no corpo em suas andanças diárias à beira do mar de Candeias. Entre os lugares onde era quase certo encontrá-lo estavam a antiga peixaria, o Bar do Rock e o Bar do Xexéu, onde costumeiramente tocavam amigos da cena local como Morcego, Beto Kaiser e Xandinho, membro da Má Companhia (última banda de Lula Côrtes) até hoje. “Abri o bar na orla e, como sou músico, outros artistas passaram a frequentar o espaço. Lula virou uma peça fundamental aqui no bairro, era um ícone da música. Para a gente era uma satisfação tê-lo conosco”, lembra o músico Carlos Roberto Xavier, conhecido como Xexéu.

Bar do Xexéu era parada certa de Lula Cortês em Candeias. (Xexéu/cortesia e Júlio Gomes/LeiaJá Imagens)

Com diversos interesses em comum, Xexéu e Lula passaram a se encontrar quase todo dia. “A gente ia andando até o rio, para pescar tabocas. Às vezes, quando ele via que estavam batendo ondas, tirando o referencial pelo Pico dos Abreus, vinha me encontrar no mar. Sabia que eu estaria pescando lagosta e a gente cozinharia junto”, comenta Xexéu. Para o músico, a rotina mudou radicalmente em decorrência de efeitos ambientais negativos causados pela construção do Porto de Suape. Outras intervenções humanas intensificaram os efeitos do avanço do mar e algumas partes da orla do bairro perderam toda a faixa de areia. “Lula sentiu impacto disso tanto quanto nós, locais. Por um tempo, não pudemos mais andar na praia, porque fizeram aterros com areia do fundo do mar, com cascalhos, e até do rio, que algumas pessoas diziam ter micróbios e bactérias. O prédio dele chegou a ter o muro derrubado pelo mar, o que o deixou assustado”, relata Xexéu.

Cada vez mais engajado à cena musical de Candeias, Lula passou a sentir a necessidade de interferir de forma ainda mais profunda na vida do bairro. De acordo com a produtora, jornalista e amiga do artista, Ana Patrícia Vaz Manso, o músico chegou a fundar uma Organização Não Governamental (ONG) chamada Sociedade de Arte Lula Côrtes (SALC). O objetivo da iniciativa seria o de utilizar o espaço de uma das casas em que morou para oferecer oficinas culturais. “Só que a vida dele era de muitas fases e as doenças atrapalharam um pouco esses planos. Apesar disso, ele foi padrinho de várias bandas aqui em Candeias e um verdadeiro embaixador da arte e da cultura de Jaboatão dos Guararapes”, frisa.

Contrastes: o Lula "rocker" foi o mesmo Lula que conquistou o título de cidadão Jaboatonense e assumiu a gerência de cultura da cidade. (Nemo Côrtes/cortesia e Xexéu/cortesia)

O ativismo rendeu ao artista o Título de Cidadão Jaboatonense, concedido no dia 3 de dezembro de 2004, pela Câmara Municipal de Jaboatão dos Guararapes. Aos 55 anos, Lula recebeu a homenagem em estado de profunda emoção, segundo relatam amigos. “Para ele, isso daí foi tudo. Lula abraçou esse lugar como se fosse filho do litoral de Candeias”, completa Xexéu.

Retomada

A todo vapor entre seus últimos anos de vida, 2010 e 2011, Lula Côrtes conciliava o novo cargo de gestor de cultura de Jaboatão dos Guararapes com a conclusão dos livros “Aparição”, “Na Casa de Praia” e “Jardim do Éden”, montava novas exposições e pretendia lançar um álbum triplo intitulado “Tarja Preta Lula Córtex Mil Miligramas” com a “Má Companhia”. O trabalho teria nada menos do que 36 músicas, mas não foi concluído nem lançado. “Ele descobriu uma hepatite e a urgência de parar de beber e fumar, então parecia que ele sabia que ia partir e queria deixar muita coisa encaminhada. Após algumas tentativas se viu mal, não estava conseguindo encarar o caminho do cuidado. Foi muito importante para mim quando ele disse: ‘eu vou morrer de viver’”, lembra Nemo Côrtes, filho caçula do artista com a médica Alcione Móes.

Em sua casa, no bairro da Várzea, Zona Oeste do Recife, Nemo ainda guarda um violão antigo, quadros e vários manuscritos do pai". (Chico Peixoto/LeiaJá Imagens)

Diante do estado de saúde do pai, Nemo tomou, aos 21 anos, a decisão de se mudar para Candeias. “Eu e minha mãe morávamos no Janga e meu pai tinha tido um ‘bocadinho’ de ausência na minha criação, acho que por causa dessa vida de artista e da própria imagem do homem que reproduz essa alienação. Nosso contato acabou sendo de final de semana”, completa. Para Nemo, o processo de “reconexão” com o pai foi mais do que bem-sucedido. “Foi lindo. Era acordar de manhã, fazer um cafezinho, cuscuz e ovo, para dar aquela força e aí começava o dia. Talvez a pintura fosse o principal eixo de trabalho dele, desde as questões de subsistência à dedicação de horas por dia. Ele tem uma produção que alguns pesquisadores estimam ser de mais de mil obras”, comenta Nemo.

Dentre as temáticas do pai, que iam de coleções como o “Diário Político Poético”- que retratava o cotidiano de localidades como Candeias- a telas que retratavam o zodíaco, Nemo escolhe a dos “atípicos” como predileta. “Nos anos 1970, meu pai e Kátia Mesel, sua esposa na época, fizeram uma viagem por países como Marrocos, onde ele descobriu o tricórdio e a temática musical do nordeste oriental, Portugal e Espanha, inclusive passando por Girona, cidade em que Salvador Dalí morava. Meu pai bateu na porta dele e passou um tempo morando lá”, conta.

De fato, o mestre catalão do surrealismo costumava receber artistas de todo o mundo em sua excêntrica mansão. Talvez tenha sido ele uma das maiores influências do Lula Côrtes pintor. “Meu pai dizia que a coisa mais importante que aprendeu com Dalí foi a limpar os pincéis, que era essencial saber fazer isso. O tema dos atípicos vem desse encontro. É uma viagem com as plantas, os órgãos sexuais, umas coisas meio fálicas ou vulvas”, explica.

Versátil também na pintura, Lula ia do surrealismo a composições paisagísticas. (Betânia Gomes/cortesia)

Agora, Nemo inicia, com alguns parceiros, os trabalhos da Rede Lula Córtex, cujo objetivo é o de resgatar inéditos e divulgar a obra de seu pai. “Ele já tinha demonstrado interesse na criação de um instituto ou algo que perpetuasse o trabalho dele. O projeto leva o nome do trabalho inacabado com a Má Companhia. Na área de literatura já temos três romances revisados”, coloca. Além disso, o grupo se prepara para lançar o “Atípicos”, um mapeamento que objetiva fazer uma cartografia da produção de Lula nas artes plásticas. “Aproveito para pedir a quem tiver alguma obra dele para entrar em contato com a rede, porque vamos catalogar esse material e disponibilizar tudo em um acervo virtual”, apela Nemo.

Peixaria de Candeias

Uma semana antes de morrer em consequência de um câncer na garganta combinado à hepatite, em março de 2011, Lula participou, junto com o músico Zé da Flauta, do show “Vivo!”, de Alceu Valença, em São Paulo, com a proposta de relembrar a estética udigrudi pela qual os três militaram nos anos 1970, ao lado de nomes como Flaviola, Zé Ramalho e da banda Ave Sangria. Sua relevância inquestionável para a música brasileira e mundial (até hoje, seus discos são disputados às tapas por colecionadores estrangeiros) lhe rendeu uma estátua que eterniza sua postura contemplativa diante do mar. Acomodada em um dos batentes que circundam a atual peixaria de Candeias, a estrutura de 1,30m é assinada pelo artista plástico Junior Bola e foi inaugurada no dia 11 de março de 2017. Apesar disso, as partes do concreto que representavam o tricórdio e os braços do artista foram arrancadas por vândalos.

Estátua está em más condições e Peixaria sofre com falta de estrutura e insegurança. (Júlio Gomes/LeiaJá Imagens)

Em termos gerais, a destruição da estátua é só mais um signo do abandono enfrentado pelo tradicionalíssimo Mercado do Peixe, onde atualmente resistem seis peixeiros. Um deles, sem se identificar, disse à reportagem do LeiaJá que as condições de trabalho são atrapalhadas por fatores como a insegurança e a falta de banheiro químicos. No local, a reportagem do LeiaJá encontrou apenas um banheiro químico, que é compartilhado com os transeuntes. “Eles demoram muito para higienizar. Além disso, já fomos vítimas de dois arrombamentos e três assaltos. Por isso, tivemos que começar a fechar a peixaria mais cedo”, lamenta o trabalhador.

Há dez anos, durante a gestão do prefeito Newton Carneiro, os peixeiros foram transferidos para um box a alguns metros da estrutura original, para viabilizar a construção do calçadão de Candeias. Jaboatão, cujo nome vem de “Yapoatan” (do indígena, uma árvore comum na região, utilizada para construir barcos), viu um voraz processo de urbanização substituir as vilas de pescadores por arranha-céus à beira mar, alterando completamente a cadência de Candeias, dentre outros bairros. “Não existe mais a festa do Dia do Pescador, no dia 29 de junho, que era super tradicional na Peixaria. Era dia de sair uma procissão marítima que ia até a Igreja de Piedade e voltava com a imagem de São Pedro. Eu acredito que acabou por falta de incentivo e pelo fato de os pescadores estarem sendo cada vez mais segregados”, comenta o produtor Leonardo Batista, um dos membros do movimento Ocupe Peixaria, cuja pauta gira em torno da revitalização do espaço e sua utilização para finalidades culturais.

Produção do Ocupe Peixaria em reunião de planejamento para organização de evento no espaço. (Júlio Gomes/LeiaJá Imagens)

Amigo e músico parceiro de Lula Côrtes, Allen Jerônimo é um dos moradores de Candeias que está elaborando um projeto de revitalização para a estátua e a Peixaria. “Isso aqui passou muitos anos abandonado, então criamos um grupo chamado 'Somar'. No apanhado que estamos construindo, constam todas as ocupações culturais que estamos promovendo para chamar atenção da prefeitura para o espaço. É nossa forma de mostrar que é viável e que o local pode ser frequentado”, explica Allen.

O sonho de transformar a Peixaria em um espaço cultural que conviva com os peixeiros parece ter sido herdada pela juventude do bairro de seu mais prodigioso mestre. “Lula conversava muito comigo sobre o sonho de criar um palco aberto para os artistas de Candeias. Ele adoraria isso aqui”, conclui Xexéu.

Eduardo depende do sistema de transporte coletivo para seus deslocamentos diários; José Cristóvão guia um ônibus levando milhares de passageiros todos os meses; Fernanda usa seu carro diariamente; José Neto passa boa parte do seu tempo em cima de uma moto; Ubiratan há 25 anos usa a bicicleta para se deslocar no trânsito do Grande Recife; Karina, moradora do centro, faz seus principais deslocamentos a pé. Juntos, cada um no seu modal, eles disputam tempo e espaço nas vias da metrópole.

Sem motores, armaduras, pedais ou buzinas, os seis falam da sua experiência em vivenciar um trânsito violento, estressante, agressivo. E mostram que por trás de cada carro, moto, ônibus ou bicicleta há uma pessoa, que merece respeito e cuidado.

##RECOMENDA##

[@#video#@]

LeiaJá Também

--> O motorista de ônibus e os desafios do caos urbano

--> O trânsito pelo olhar do passageiro de ônibus

--> Mulheres ao volante e o combate ao machismo no trânsito

--> Motociclistas: vítimas e vilões de um trânsito desordenado

--> 'Há uma vida em cima de uma bicicleta'

--> Mais frágil, menos respeitado: vida de pedestre

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando