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Com o objetivo de promover a alfabetização para pessoas idosas, a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) conta com um projeto de extensão vinculado ao Proidoso: Universidade Aberta à Terceira Idade (Unati). O programa, além de oferecer curso de alfabetização, conta com aulas de automassagem, bordado em fita, crochê, espanhol básico, desconstrução da velhice, teatro e entre outros. 

Para participar de um dos cursos é necessário que o estudante tenha no mínimo 60 anos. O curso de alfabetização é realizado das 8h às 11h30, todas as terças-feiras no Núcleo de Atenção ao Idoso (NAI), localizado na Cidade Universitária. Vale ressaltar que o curso de alfabetização é exclusivo para os idosos que, por algum motivo, não tiveram acesso aos estudos. Por diversas vezes os alunos comentam que boa parte do conhecimento adquirido em sala de aula é utilizado tanto no dia a dia, quanto para iniciar um empreendimento, como, por exemplo, o crochê que pode ser comercializado, resultando em uma renda extra. 

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Luzinete Silva tem 68 anos e frequenta as aulas de alfabetização do NAI há três anos. A idosa comenta que o curso tem agido de maneira positiva em diversas áreas da sua vida. “Sempre tive o sonho de estudar e antes não tinha condições e nem oportunidades eram oferecidas, assim que a instituição abriu vagas para o curso, logo me interessei. Quando iniciei as aulas sabia ler pouquíssimas coisas e escrever não sabia, atualmente consigo escrever meu nome, ler um letreiro de ônibus, nome de um colégio, enfim, palavras que vejo diariamente.” A aluna ainda comenta que trabalha como empregada doméstica, participa de um grupo de interação de idosos, faz caminhada, aula de natação e hidroginástica. “Hoje me sinto mais realizada e com mais força de vontade. Antes eu era muito tímida, não falava  muito e agora sou bem comunicativa. Hoje posso dizer que sou outra Luzinete”. 

A procura dos idosos por aulas de alfabetização mostra que nunca se é tarde para adquirir conhecimentos. O momento além de promover o aprendizagem, contribui para uma boa qualidade de vida. “A aquisição dos conhecimentos é um processo lento devido à idade dos alunos, mas os resultados acontecem mesmo que um pouco demorado. Quando conseguem ler e entender algum assunto é como se fosse um sonho que demorou anos para ser realizado. Aqui é um trabalho de mão dupla, tanto compartilho meus conhecimentos como também aprendo com eles”, comenta Rosa Maria, professora de alfabetização da projeto extensionista da UFPE.  

Alfabetizar pessoas da terceira idade significa devolver, mesmo que com o atraso da indiferença, a oportunidade de um reencontro ou encontro dessa população com os infinitos conhecimentos que o prazer do saber ler e escrever proporciona ao ser humano.

No ano de 1968, o país contou com um órgão do governo brasileiro: Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral). O objetivo do programa foi promover a alfabetização funcional, tendo em vista conduzir jovens e adultos a adquirir técnicas de leitura, escrita e cálculo como meio de integrá-la a sua comunidade, permitindo melhores condições de vida. 

Na época era considerada uma pessoa alfabetizada aquela que conseguisse compreender algum texto e escrever. Moradores das zonas rurais das regiões do nordeste tinham o objetivo de aprender a ler e escrever para enviar cartas para amigos e familiares que moravam em outra cidade. 

As aulas do Mobral realizadas na Zona Rural do município de Belo Jardim, no estado de Pernambuco, eram realizadas durante a noite. As turmas eram formadas por agricultores familiares ou pessoas que trabalhavam como empreitada, meada e foreiro, que eram modos de produção anteriormente dos produtores que não possuíam terra. De modo geral, de alguma maneira todos viviam da agricultura.

O LeiaJá entrou em contato com a pedagoga Erica Mota, que vivenciou em sua infância o procedimento de alfabetização do programa Mobral. Sua mãe, Maria Aparecida, foi professora, atuante na região rural do município de Belo Jardim.

Quando o projeto chegou na cidade, sua mãe foi convocada para ensinar, pois conhecia a comunidade. Na época não existia escola gratuita nem escola para todos, muito menos educação básica, fundamental, nem tão pouco universidade. “Acompanhei minha mãe no processo de alfabetização desses alunos. A maior dificuldade que ela encontrou no período foi fazer com que eles segurassem o lápis, pois não tinham condições motoras, já que passavam o dia trabalhando com a enxada. Eu ficava encarregada de enrolar fita crepe nos lápis para poder aumentar o diâmetro, para que os agricultores conseguissem utilizar”, relata, Erika, emocionada. Ela ainda comenta que sua mãe chegou a alfabetizar mais de 200 pessoas através do Movimento Brasileiro de Alfabetização. 

Em um levantamento realizado no ano de 2018 pela Pesquisa Nacional Amostragem Domiciliar (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela-se  que 81,4% da população com idade a partir de 60 anos é alfabetizada, número superior em comparação ao ano de 2017, em que contava com 80,8% de pessoas alfabetizadas em uma faixa etária a partir de 60 anos. 

Veja, abaixo, o vídeo:

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