Tópicos | Montanha dos Sete Abutres

Nesta semana completam-se 70 anos desde que “A Montanha dos Sete Abutres” (1951) chegou aos cinemas pela primeira vez. O longa-metragem de Billy Wilder (1906 – 2002) é protagonizado pelo astro do cinema Kirk Douglas (1906 – 2020), e conta a história de um repórter que está disposto a ir além dos limites da ética, para conseguir grandes matérias e assim conquistar lugar de destaque no concorrido mercado de trabalho jornalístico em Nova York.  Mesmo após 70 anos, o filme está presente em inúmeras listas de recomendações cinematográficas, seja pela temática ou pelo estilo da narrativa.

Lislei Carrilo é mestre, professora do curso de Jornalismo na Universidade Guarulhos (UNG) e consultora em comunicação organizacional. Ela conta que apesar do filme ter sido “um fracasso de crítica e público” à época em que foi lançado, o tema da obra ainda é muito atual: “Qual o poder da mídia? O filme aborda a manipulação de informação, o controle das massas e as notícias como forma de espetáculo”. A professora ressalta que esses acontecimentos são decorrentes da discussão em torno da ética jornalístca. Ela lembra que a mensagem mais importante da trama é que “subestimar a sociedade com algo fake ou manipulativo não é o caminho”. 

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Quando se trata da prática jornalística, Lislei explica que existe um tipo de dever social que o profissional da comunicação precisa seguir. “Temos responsabilidades como jornalistas. Responsabilidade em veicular algo que seja fato real,  que seja bem apurado. Nós prestamos serviços à sociedade e como tal, devemos ter o mínimo de responsabilidade com ela [sociedade]”. 

Segundo Paulo Camargo, professor do curso de jornalismo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), com experiência na área de artes, inclusive cinema. O personagem de Kirk Douglas (o jornalista Charles Tatum) vive o drama de tentar dar uma guinada na carreira, mas perde o controle sobre os padrões da ética e transforma a notícia em um espetáculo, com dimensões nacionais. “A ética é a espinha dorsal na coluna vertebral do jornalismo. Ela está associada ao respeito da dignidade humana, o direito da privacidade, e a questão é que existem limites para tudo”, explica.

De acordo com o professor, existe uma máxima no jornalismo mundial, de que notícias sobre crises, crimes e tragédias tendem a repercutir mais que notícias positivas. “É dentro dessa lógica, do jornalismo popular e sensacionalista, que o filme retrata a história. Quanto pior, melhor. Isso obviamente esbarra numa questão de ética, em que você coloca a mercantilização sobre o interesse humano”. 

Camargo cita como exemplo deste tipo de espetacularização da notícia, os casos de Isabella Nardoni e Eloá, ou seja, histórias que tinham uma continuidade de investigação. “É importante frisar que a espetacularização tem como princípio uma espécie de contágio. Pode-se iniciar com um veículo, mas outros acabam seguindo. Isso acaba contaminando toda a imprensa. Esses casos que nós conhecemos se tornam verdadeiras novelas dentro dos veículos de imprensa. É uma espécie de coro que se forma. Uma orquestra de veículos que acabam fazendo com que isso se torne onipresente”, explica.

Responsáveis pelo longa-metragem

O professor Camargo explica que Billy Wilder foi um dos mais potentes e polivalentes diretores do cinema norte-americano. “Ele foi capaz de fazer grandes dramas como ‘Crepúsculo dos Deuses’ [1950], filme noir que conta a história de uma atriz decadente, um retrato definitivo de uma fase de transição do cinema.  Também fez comédias deliciosas como ‘Quanto Mais Quente, Melhor’ [1959], estrelado por Marilyn Monroe, e ‘Se Meu Apartamento Falasse’ [1960]”. O especialista ressalta que dentre suas principais características estão a capacidade de conduzir atores e o interesse nas condições humanas.

Desta forma, Billy Wilder era capaz de colocar subtextos e tramas envolvendo temáticas sociais em suas produções. Em “A Montanha dos Sete Abutres” não foi diferente. “É um filme, que para o jornalismo, é um marco. É estudado em todas as escolas de jornalismo do mundo, justamente porque ele é um dos pioneiros na discussão desse tema, dos limites éticos da profissão, e da questão da espetacularização”, afirma o professor.

Como rosto principal nesta produção, o ator Kirk Douglas foi o escolhido para viver o repórter. Camargo comenta que ele é desses atores que têm uma força e impacto como ator principal, mas que tem uma complexidade emocional e uma capacidade de emprestar aos seus personagens, uma tridimensionalidade. “Ele não é um ator que encarna um herói infalível, ele tem essa ambiguidade perfeita para esse tipo de papel”, exalta.

Recomendações de filmes com a mesma temática

Existem diversos filmes que abordam o jornalismo como tema central e, como recomendação, Camargo cita o longa “Rede de Intrigas” (1976), que mostra uma história sobre os bastidores da televisão, e “Spotlight: Segredos Revelados” (2015), filme que traz uma série de reportagens investigativas sobre abusos sexuais cometidos por integrantes da igreja católica. E ainda, com um tom mais leve, levemente pendendo para a comédia, o professor cita o filme “O Jornal” (1994), estrelado por Glenn Close. “Tem muita coisa interessante a respeito da imprensa no cinema”, finaliza.

 

 

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