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Os morros sempre foram sinônimos de precariedade nas grandes metrópoles. No Recife, onde eles correspondem a cerca de 70% da área da cidade, não é diferente. Aproximadamente, um terço da população da capital vive em bairros onde há pontos com risco de desabamento de barreiras, escadarias quebradas, dificuldades de acesso e falta de infraestrutura. Mas em muitos casos, nada disso impede a construção de uma identidade cidadã, muito menos causa a necessidade de se ver como uma pessoa menor.
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O Ibura, localidade composta por vários morros e que, vez por outra, figura nos noticiários policiais, faz parte do imaginário popular como um lugar onde a violência predomina. “Nós vemos jovens morrerem na droga quase toda semana”, relata Meire Matias, 56 anos, sendo 50 deles na UR-2. Ela preside o conselho de moradores. Em uma rápida andada pelas redondezas, é cumprimentada por quase todo mundo que passa. “Amo isso, sei o nome de todas as nossas 96 ruas”, garante
A associação oferece várias atividades culturais e esportivas para manter os jovens afastados da rua e auxiliar os moradores mais necessitados. “Antigamente quando se falava do Ibura na televisão faziam barulho de tiro “pei, pei, pei”, isso ofendia, mas não tenho problema nenhum em viver aqui. Dou minha vida por esse bairro”, orgulha-se.
Os morros e altos, porém, não tiveram uma origem que orgulhasse seus primeiros habitantes. “A medida em que o centro e bairros como Madalena, Torre e Espinheiro foram ficando mais valorizados, os moradores dos mocambos da planícies foram pressionados pelo Governo a se deslocarem dessas áreas”, explica o historiador Thiago Pereira.
Em sua dissertação de mestrado, publicada em 2013, ele pesquisou sobre a habitação popular, a reforma urbana e a periferização no Recife, especificamente entre os anos 1920 e 1945. “Essas pessoas encontraram nas regiões de morro da zona norte uma ocupação sem pressão do Estado e que, ainda por cima, lhe proviam recursos naturais como madeira, já que havia uma vegetação intensa nessa época”, afirma.
Início
Distante 17 quilômetros da UR-2, o Morro da Conceição foi uma das primeiras ocupações em áreas elevadas. Adelson França, 42 anos, assim como seu pai e sua mãe, nasceu no bairro (que antes fazia parte de Casa Amarela). Hoje, mora e trabalha lá. “Na mesma escola que estudei, ensino matemática. Sou morador e funcionário da própria comunidade, que tem vários segmentos culturais e muitos atrativos”, elogia.
Local do Santuário de Nossa Senhora da Conceição, uma das maiores festas religiosas do Brasil, o bairro ostenta um progresso que se não se vê em qualquer bairro da periferia recifense. O que não significa que não tenha problemas. “A maloqueiragem é muita, mas o Morro é bom. Criei seis filhos aqui. Quero que o pessoal venha conhecer, aqui não é o bicho papão”, brinca Pedro de Alcântara, 65 anos.
Ainda de acordo com a pesquisa de Thiago Pereira, o que contribuiu para a desigualdade de condições dentro da capital foi a displicência das autoridades, ausentes em todos os aspectos. “No momento em que o governo permite essa ocupação, ele também é negligente com serviços básicos como água e luz. Houve também gente vindo do Sertão e do Agreste, pois Recife era uma das maiores cidades do Brasil e tinha muitas ofertas de empregos, mas os trabalhadores não achavam moradia perto das fábricas. A cidade cresceu rápido sem estar preparada”, relata.
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Chuvas
Na época de chuvas no Recife, os morros precisam de uma atenção especial, afinal são 15 mil pontos de risco espalhados por esses bairros. Segundo a Prefeitura do Recife, a Operação Inverno 2017 começou a ser executada já em janeiro, com mais de 400 servidores, entre técnicos, engenheiros civis e arquitetos, assistentes sociais e pessoal de apoio. A meta da Defesa Civil é, ao final, ter colocado 3.165 milhões de metros quadrados de lonas plásticas, além de realizar 12.500 ações porta-a-porta, orientando as famílias sobre medidas preventivas.
Escolas das comunidade serão beneficiadas com 250 ações educativas para os jovens estudantes. A previsão é de 45 mil vistorias e implantação de geomanta em 29 localidades. O Programa Parceria nos Morros ainda prevê 71 obras de médio e pequeno porte, como construção e recuperação de escadarias e corrimãos. A Operação Inverno contempla, também, a capinação, poda e remoção de árvores não recomendadas para áreas de risco; retirada de entulho e limpeza de canaletas.