Tópicos | Mostra de Tiradentes

Em meio à pandemia de Covid-19, a tradicional Mostra de Cinema de Tiradentes terá sua 24ª edição realizada de forma predominantemente virtual, com apenas ações pontuais na cidade histórica mineira. A programação do evento, que começa amanhã (22) e vai até o dia 30, foi divulgada na semana passada e é totalmente gratuita. Os filmes poderão ser assistidos por meio do site do evento, onde também já é possível conferir as datas de exibição e as sinopses

Nos debates, um dos temas que estará em evidência diz respeito aos impactos da pandemia do novo coronavírus no cinema, a começar pela reflexão sobre a própria produção do evento. A programação online, experimento inédito na história da mostra, poderá servir de base inclusive para se repensar o modelo dos próximos anos.

##RECOMENDA##

O coordenador curatorial do evento, Francis Vogner, acredita que o online está vindo para ficar. "Ainda iremos discutir as próximas edições, mas acho que caminharemos pra um modelo híbrido. O presencial é fundamental, porque oferece uma experiência particular de vivenciar o festival. Mas acredito que o formato virtual tende a se estabelecer também. Pelo menos em parte da programação, porque é a oportunidade de alcançar novos públicos. Há pessoas que querem estar em Tiradentes, mas às vezes não têm essa oportunidade. Isso nunca havia sido feito em nenhum dos grandes festivais no Brasil. E agora estamos sendo obrigados pela realidade a pensar sobre esse formato".

A opção inédita pelo online também foi feita por outros eventos que são referência no calendário cinematográfico brasileiro, como o Festival de Gramado, em setembro do ano passado, e o Festival de Brasília, que ocorreu há pouco menos de um mês. A Universo Produções, que organiza a Mostra de Tiradentes, também adotou o modelo em eventos que organizou no segundo semestre de 2020: as mostras de Ouro Preto (CineOP) e de Belo Horizonte (CineBH).

De acordo com Raquel Hallak, diretora da produtora e coordenadora geral dos três eventos, a aposta na edição virtual parte da compreensão de que assegurar a realização dos festivais se tornou ainda mais importante, em meio a um contexto onde os filmes enfrentam dificuldades de acesso a recursos financeiros devido à paralisação de editais públicos e têm menos espaços para visibilidade. Seria uma forma de garantir a circulação das obras, diante da quarentena do público e da interrupção do funcionamento de muitas salas de cinema no país.

"O online tem o potencial de ampliar o alcance do evento. Deixa de ter uma restrição geográfica para acessar o conteúdo. É uma oportunidade de levar produções recentes do cinema brasileiro a todos os cantos do país, e também a outros países. É também uma forma de democratização, até porque há filmes que muitas vezes não chegam ao circuito comercial, mesmo em um contexto normal. Então, será uma forma de mais pessoas conhecerem os realizadores", avalia Hallak. Segundo ela, o que será levado ao público é um recorte da produção cinematográfica brasileira de um período muito peculiar.

A Mostra de Tiradentes foi criada em 1998 com a proposta de colaborar com o chamado "cinema de retomada", expressão usada na historiografia para se referir ao reaquecimento da produção nacional, ocorrido na segunda metade da década de 1990. Rapidamente se consolidou como responsável por abrir anualmente o calendário audiovisual brasileiro, o que faz com que suas discussões influenciem outros festivais ao longo do ano. O evento conta com o apoio da Secretaria de Cultura e Turismo de Minas Gerais e do Ministério do Turismo, por meio de sua Secretaria Especial da Cultura.

Mesmo com a edição virtual, as principais características estão mantidas. A Mostra Aurora, ponto alto do evento por abrir espaço para diretores que estão lançando o primeiro ou o segundo longa-metragem, vai exibir este ano sete obras de cineastas de cinco estados: Bahia, Santa Catarina, Minas Gerais, Paraná e Rio de Janeiro. Foi quando completou dez anos que o evento decidiu criar uma categoria específica para exibição de filmes inéditos de novos realizadores. De 2008 para cá, essa mostra competitiva foi atraindo mais interesse e se firmou como uma das mais importantes vitrines do evento.

Vogner destaca a força do cinema baiano nesta edição. Três trabalhos do estado, sendo um em coprodução com Minas Gerais, foram selecionados. Ele também observa que são obras que souberam encontrar boas saídas para lidar com o baixo orçamento, já que não foram contempladas por editais. Para cada um dos sete filmes, será disponibilizada uma janela de 48 horas em que o público poderá assisti-lo online. Haverá um debate com o diretor da obra sempre na manhã seguinte ao dia em que se inicia esse período de acesso.

"O público irá encontrar na Mostra Aurora trabalhos muito distintos, que estão olhando para coisas muito diferentes. Se você me perguntar se todos os filmes estão focados nos traumas deste momento histórico, eu respondo que não. Cada um olha para um lado e se relaciona de forma diferente com esse contexto, inclusive pelo humor. A sensação de que o mundo está acabando, por exemplo, não é compartilhada por todas essas obras. Os filmes poderiam estar monotemáticos, mas felizmente isso não tem acontecido. Eles oferecem diferentes perspectivas e mostram que o universo vai além das nossas obsessões mais pontuais. O olhar não ignora este momento, mas alcança um horizonte mais longe", diz Vogner.

Temática

Além da Mostra Aurora, o festival tem muitas outras categorias. Oito delas são somente para os curtas-metragens: 79 títulos foram escolhidos em um universo de 748 inscrições. Em relação aos longas-metragens, serão exibidas 27 obras. Ao todo, são 114 filmes de 19 estados. A programação online de nove dias inclui outras atividades, como as mesas de debate e os shows musicais de Arrigo Barnabé, Chico César, Adriana Araújo, Sérgio Pererê, Fernanda Abreu e Johnny Hooker.

A temática da 24ª edição da Mostra de Tiradentes é "Vertentes da criação". De acordo com Francis Vogner, serão debatidas questões como desejos que guiam e dão origem aos filmes e os métodos particulares que vêm sendo usados para converter experiências pessoais em obras cinematográficas e para lidar com as mais variadas circunstâncias.

"A discussão da criação geralmente está muito concentrada na figura do diretor ou da diretora. Buscamos uma perspectiva mais ampla: o ato de elaborar novos pontos de partida e novos conceitos para criar novas formas. A participação cada vez mais ativa de um ator, uma diretora de fotografia ou de um montador em todo o processo de produção confere um discurso novo aos filmes. É a criação como algo vivo, que não tem um receituário, e que leva a novas elaborações estéticas".

Ele cita o filme Ilha, dirigido por Ary Rosa e Glenda Nicácio e exibido na Mostra de Tiradentes de 2019. "O diretor de fotografia disse que movimentava a câmera de acordo com o que ele considerava ser o orixá de cabeça de cada personagem. Ele criou um critério próprio que não está nos livros. Claro que as hierarquias continuam existindo no processo de produção, mas acho que muitas vezes elas não funcionam mais do mesmo modo. E isso tem gerado outros trabalhos e outros sentidos".

A homenageada deste ano é a cineasta e artista plástica Paula Gaitán, que tem trabalhos com prêmios importantes como o longa-metragem Exilados do Vulcão, eleito o melhor filme do Festival de Brasília de 2013. Ela é também viúva do cineasta Gláuber Rocha, com quem teve dois filhos. "Foi uma escolha sintonizada com a temática".

É uma multiartista, com uma obra consolidada e reconhecida que inclui videoclipe, curta, longa, filmes com dinheiro, filmes sem dinheiro. Ela lida bem nos variados contextos e não tem medo de arriscar. Seus trabalhos são frutos de uma ousadia expressiva e impressionam por sua variedade criativa", diz Raquel Hallak. Serão exibidos oito filmes da diretora, três deles inéditos: o curta Ópera dos Cachorros e os médias-metragens Se hace camino al andar e Ostinato. Este último abrirá a programação nesta sexta-feira (22) à noite.

Confira a lista dos sete filmes concorrentes na Mostra Aurora:

Açucena (BA), de Isaac Donato

Oráculo (SC), de Melissa Dullius e Gustavo Jahn

Rosa Tirana (BA), de Rogério Sagui

Kevin (MG), de Joana Oliveira

A Mesma Parte de um Homem (PR), de Ana Johann

O Cerco (RJ), de Aurélio Aragão, Gustavo Bragança e Rafael Spíndola

Eu, Empresa (BA/MG), de Leon Sampaio e Marcus Curvelo

Começa nesta sexta-feira - e vai até o dia 26 - a 16.ª Mostra de Tiradentes, que ocorre na cidade histórica mineira, distante 180 km de Belo Horizonte. O evento sedia a Mostra Aurora, que virou a mais importante vitrine do cinema de autor no País e, por isso mesmo, atrai olheiros dos maiores festivais do mundo, interessados no reconhecimento dos novos talentos brasileiros. A mostra também presta homenagens e a homenageada deste ano é a atriz Simone Spoladore, que terá três filmes na programação geral - "Sudoeste", de Eduardo Nunes, "Nove Crônicas para Um Coração aos Berros", de Gustavo Galvão, e "A Memória Que Me Contam", de Lúcia Murat.

Crítico e professor de cinema, Cléber Eduardo é o curador da mostra competitiva - a Aurora - que começa na segunda-feira e vai exibir sete longas. No total, a programação consta de 131 filmes - 34 longas e 97 curtas, que serão projetados em 54 sessões distribuídas entre o Cine-Tenda e o Cinema da Praça. Nos últimos anos, além das projeções, Tiradentes tem recebido debates decisivos para a compreensão e estímulo ao ato de fazer cinema no Brasil. Como disse a homenageada - Simone -, o fato de esse cinema de autor não ser o que mais fatura na bilheteria não inibe a constatação de que contribui para a memória brasileira. "São histórias com universos muito particulares e que revelam outras formas de olhar o Brasil."

##RECOMENDA##

Os debates deste ano privilegiam o tema Fora do Centro, como o próprio festival, que fica fora do eixo Rio/São Paulo. "A cada ano, a Mostra Tiradentes tem demonstrado sua capacidade de se renovar e estabelecer diálogo entre as diversas esferas da sociedade", explica Raquel Hallak, da Universo Produções, coordenadora do evento. "Nesta edição o público vai conhecer a produção brasileira de todos os cantos do Brasil." A abertura, sexta à noite, será com o longa paraibano "Onde Borges Tudo Vê", de Taciano Valério, que venceu o Festival Lume no ano passado.

Havia quase 40 filmes inscritos com o perfil da Mostra Autora. "Poucas vezes vi a 'Aurora' com tanta personalidade própria", avalia Cléber Eduardo. Aurora privilegia jovens diretores com até três longas no currículo. São filmes de autores que primam pela inquietação formal ainda não legitimada. "A programação deste ano tem algo de estratégia política de percepção, de visibilidade e de discussão", diz o curador.

Dos sete concorrentes deste ano, cinco são documentários - "Ventos de Valls", de Pablo Lobato; "Matéria de Composição", de Pedro Aspahan; "Nas Minhas Mãos Eu Não Quero Pregos", de Cris Ventura; "Flutuantes", de Rodrigo Savastano, e "Os Dias com Ele", de Maria Clara Escobar. Há também duas ficções - "Ferrolho", de Taciano Valério, que integra com "Onde Borges Tudo Vê" a "Trilogia Sem Cor" do autor, e "Linz - Quando Todos os Acidentes Acontecem", de Alexandre Veras. Minas participa com o recorde de três produções na seção competitiva, mas Cléber Eduardo descarta que tantos filmes mineiros sejam um arreglo por ser a Universo uma empresa de Minas. Existem mais duas mostras - a Autorias traz diretores, fotógrafos ou produtores que propõem um modo próprio de olhar, com alta mediação estilística. Da seleção participa "Jards", o documentário de Eryk Rocha sobre Jards Macalé. A Mostra Sui Generis contempla propostas de estilo próprio, que fogem do senso comum e quebram expectativas. Vai exibir três filmes, entres eles "Claun - Parte 1: Os Dias Aventurosos", de Felipe Bragança, que já ganhou a Mostra Aurora com "A Fuga da Mulher Gorila". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Estão abertas as inscrições para a 16.ª Mostra de Cinema de Tiradentes 2013, marcada para o período entre 18 e 26 de janeiro. Serão selecionados filmes para a Mostra Aurora, dedicada aos primeiros ou segundos longas de novos diretores.

O concurso, promovido pelo Ministério das Relações Exteriores, vai premiar com R$ 50 mil a obra vencedora. As inscrições podem ser realizadas até o dia 31 deste mês. Não há restrição de formato, entretanto, somente serão aceitos filmes com duração superior a 60 minutos e realizados em 2012.

##RECOMENDA##

Mais informações, como fichas de inscrições, podem ser obtidas no site www.mostratiradentes.com.br. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando