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“Isso aqui é teatro?” A pergunta surge no centro da tela do smartphone, logo após algumas instruções ditadas por um narrador para o espectador da peça (In) Confessáveis, do Coletivo Impermanente. Essa é mais uma das várias experiências teatrais que estão transformando plataformas digitais - como Zoom, Google Meet, Instagram e até mesmo WhatsApp -, em caixa cênica. A migração, motivada pela quarentena instaurada nesse ano pandêmico de 2020, tem transformado os fazedores de teatro e, como não poderia deixar de ser, seus apreciadores também. Um movimento que parece estar apenas se iniciando e se acomodando para ficar. 

A ida dos profissionais de teatro para os meios digitais nos leva a questionar os limites e possibilidades da arte. O fazer teatral - algo que demanda presença física - parece ter sido levado ao extremo em um dos momentos mais delicados da humanidade, em que o contato presencial ficou terminantemente proibido. Como permanecer fazendo teatro sem um de seus pilares mais básicos? “É uma experiência nova. Uma mistura de teatro com audiovisual. Os maiores desafios são manter a experiência teatral para o público, levando a mensagem e arte da melhor maneira”, explica o cantor e ator Victor Camarote, um dos integrantes do Coletivo Impermanente, em cartaz no espetáculo acima citado. 

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Para Camarote, a ausência do contato físico com o público é sentida durante e após o espetáculo, no entanto, a experiência parece estar surtindo bons resultados. “A resposta tem sido maravilhosa. As pessoas estão se emocionando e se divertindo com essas experiências”, diz o ator que se dedica a essa arte desde a infância. 

Victor camarote em cena no espetáculo '(In) Confessáveis', que tem direção assinada por Marcelo Varzea. Foto: Cortesia. 

Os três toques que soam antes do início da peça, tal qual acontece em uma sala de teatro, parecem conduzir a platéia a esse universo, ainda que cada um esteja em um espaço diferente. A possibilidade de atrair espectadores dos mais longínquos CEPs talvez seja um dos maiores ganhos das companhias teatrais que migraram para o digital. Em cena, os atores de (In) Confessáveis parecem tão à vontade que é possível esquecer-se por qual mídia se está assistindo ao espetáculo. A ausência da reação de ‘vizinhos’, que estariam sentados ao lado de quem assiste, pode causar uma pequena estranheza, no entanto, a interação com os próprios atores por meio de enquetes e até de um bate papo no final da sessão é capaz de substituir a sensação de estar sozinho na plateia. 

Uma outra experiência que tem sido bem sucedida é a peça Se eu não vejo, dirigida por Natali Assunção e encenada pelos atores Analice Croccia e Raphael Bernardo, no aplicativo de troca de mensagens WhatsApp. A plataforma pode parecer um tanto inusitada para tal finalidade, porém, a escolha teve total relação com a premissa do espetáculo. “Optar por essa rede social de troca de mensagem nos põe diretamente na dinâmica de ‘concorrência da atenção’ uma vez que propomos uma pausa para a poesia nesse mesmo meio que nos tirou um pouco o limite do horário das atividades, por exemplo”, explica Natali. 

A diretora foi pega de surpresa pela pandemia do novo coronavírus enquanto estava em cartaz com o monólogo Ainda escrevo para elas (direção de Analice Croccia e Hilda Torres), e a paralisação das atividades a fez buscar outros caminhos, ainda que mantendo a rota original. “A princípio veio uma espécie de suspensão que nos põe em dúvida sobre muita coisa, mas com o tempo vamos voltando à nós mesmes, ainda que esteja tudo um pouco fora do lugar, aguardando uma reorganização, talvez. Vão surgindo novos olhares. A criação e as pesquisas foram traçando novos caminhos. Nesse turbilhão todo não paramos. Estamos sofrendo inúmeras consequências como artistas da cena sem a presença física e sem as maneiras conhecidas de criação, mas ao mesmo tempo estamos buscando maneiras outras de seguir. (sic)”

Natali Assunção é a diretora de 'Se eu não Vejo'. Foto: Fernanda Misao.

Nessa busca, ela se encontrou com o ator Raphael Bernardo que, a partir de suas pesquisas sobre teatro relacional, decidiu trabalhar os dilemas atuais, que vão desde a impossibilidade do encontro presencial até meios de como subverter às dificuldades e prosseguir no presente contexto. Juntos, eles chegaram a esse modelo “cênico digital”. “Ele (Raphael) convidou a atriz Analice Croccia para compor a cena e me convidou para colaborar com a criação. Partimos portanto do encontro e da experiência para trabalhar a memória e o afeto a fim de construir, a cada sessão, nossa rede de carinhos e reflexões. Tem sido interessante, para nós e para o público, descobrir esse contato via Whatsapp e essa nova posição da plateia”. 

‘Novo normal’

A integração dos novos e antigos modos  de ‘ser’ e ‘fazer’ determinadas coisas nesse contexto pandêmico - batizada de ‘novo normal’, termo que faz muitos torcerem o nariz -, tem se apresentado cada vez mais ao passo que a flexibilização dos protocolos de segurança vai sendo implementada no cotidiano. Com o funcionamento, ainda que parcial, de casas de shows, cinemas e também teatros, os profissionais que estavam imersos nesse movimento de adaptação e criação de linguagens se viram diante de outro impasse: voltar ou não.

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A dúvida coloca em cheque também o futuro do teatro em ambiente virtual, algo que, pelo visto, parece ter vindo para ficar. Para Victor Camarote, pelo menos, será assim. “Os planos (agora) são manter os projetos virtuais e segurar a onda dessa maneira, até me sentir seguro de verdade para aderir à flexibilização. Porém, pretendo manter a experiência virtual para sempre, conciliando com as experiências tradicionais presenciais, pós pandemia”. 

Já para a diretora Natali Assunção, a modalidade permanecerá como uma ferramenta a mais para as atividades cênicas: “Com a flexibilização, algumas montagens presenciais já estão acontecendo (com todos os cuidados necessários e indicados, obviamente), mas acredito que esse novo portal aberto ainda reverberará como possibilidade de estudo e proposta de linguagem e divulgação”.

Serviço

Se eu não vejo

Apresentado via WhatsApp, o espetáculo tem um número limitado de ‘cadeiras’ na platéia. Nesta sexta (4), sábado (5) e domingo (6), as sessões acontecem às 18h, 19h30 e 21h. Os ingressos estão à venda pelo Sympla. 

(In) Confessáveis

As próximas sessões de (In) Confessáveis acontecem nos dias 8 e 9 de dezembro, às 21h,  pelo aplicativo Zoom. Os ingressos são gratuitos, porém já estão esgotados . É possível entrar em uma lista de espera pelo @coletivoimpermanente. 

A impossibilidade de se apresentar presencialmente, por conta da pandemia do novo coronavírus, fez com que artistas de diferentes linguagens pensassem em novas maneiras de estarem próximos ao público e, sobretudo, continuarem fazendo arte. Para a diretora Natali Assunção, e os atores Analice Croccia e Raphael Bernardo, foi o aplicativo de mensagens WhatsApp que despontou como possibilidade de virar um palco e, sendo assim, eles estreiam nesta sexta (27) o espetáculo Se eu não vejo. 

A ideia é oferecer ao público uma experiência online, realizada via Whatsapp, que busca estabelecer redes e conexões reavivando memórias e resgatando carinhos. No palco virtual, Analice Croccia e Raphael Bernardo fazem um paralelo entre as coxias do teatro e as funções de ‘desligar a câmera’ e ‘visto por último’ do aplicativo para refletir sobre encontros, afetos e conexão. 

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O espetáculo cênico-digital foi resultado de uma pesquisa em teatro relacional. As sessões contarão com número limitado de pessoas e serão realizadas na sexta (27), sábado (28) e domingo (29), às 18h, 19h30 e 21h. Também haverá apresentações nos dias 4, 5 e 6 de dezembro, nos mesmos horários. Os ingressos estão à venda pelo Sympla. 

 

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