Tópicos | Negros Trançados

O ano era 2015. Cansado de ter o seu potencial desacreditado e cheio de força de vontade para dar a volta por cima, Eduardo Oliveira, 25 anos, decidiu que havia chegado a hora de empreender. Com talento, mas sem recursos, conseguiu convencer o seu namorado Isaias Santana, 22 anos, a investir o pouco dinheiro que tinha no seu negócio. 

Na época, foi o suficiente para que o casal comprasse alguns cabelos sintéticos para atender a demanda que chegava. Na cozinha de uma casa bastante simples, localizada no bairro da Bomba do Hemetério, Zona Norte do Recife, eles começaram a dar forma ao “Negros Trançados”. 

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Como não poderia ser diferente, enfrentaram muita dificuldade para fazer o negócio decolar. Além dos poucos recursos, tiveram que bater de frente com o racismo das pessoas. Quando a gente começou, o pessoal falava: ‘olha, aqueles meninos que trabalham com o cabelo de boneca’. Era um preconceito que a gente passava junto com o pessoal que usava [o cabelo sintético]”, lembra Eduardo. 

Isaías também recorda que durante bom tempo, alguns clientes pediam para não ficar “parecendo com uma ‘nega maluca’, associando o cabelo crespo dela a algo que foi imposto no passado”, diz.

Dois anos de persistência e superação foram suficientes para que o casal afroempreendedor transformasse o Negros Trançados em algo maior. Em 2017, conseguiram sair da cozinha e alugar uma loja no local mais movimentado da comunidade. No entanto, mantendo os pés no chão e buscando novidades para os seus clientes, queriam investir em algo maior. Não queriam só fazer tranças na Bomba do Hemetério, o sonho agora era se tornar referência na venda - em atacado e varejo - de cabelos sintéticos, naturais, orgânicos e perucas. 

“Nós trouxemos uma diversidade para melhorar a visão que tinham sobre os apliques de descendência afro. Isso proporcionou o nosso crescimento”, garante Eduardo. 

E conseguiram. 2019 foi o ano em que os afroempreendedores alçaram novos voos e  tiveram como direção a área central da capital pernambucana. Quem começou com poucos pacotes de cabelos num salão improvisado, hoje conta com três lojas, sendo uma para a venda dos produtos, um salão de beleza e uma loja que serve apenas para estocar as mercadorias. 

Tudo isso para atender cerca de 100 clientes que passam pela loja e salão todos os dias. Para dar conta de tudo e oferecer a maior variedade possível, o casal acredita ter disponível cerca de cinco toneladas dos mais diversos tipos de cabelos. ”A vontade é crescer ainda mais”, garantem.

Saiba mais sobre Eduardo, Isaias e o seu Negro Trançados

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Preto que cresce, não cresce sozinho

Segundo último levantamento do SEBRAE, 10% dos afroempreendedores do Brasil são responsáveis por empregar entre 6 a 19 pessoas. Isaías e Eduardo fazem parte desse grupo seleto, já que 8 pessoas pretas trabalham no Negros Trançados atualmente. Três delas com a Carteira de Trabalho assinada e as outras cinco colaborando como pessoas jurídicas.

O casal está possibilitando mais trabalho que 7% dos empreendedores brancos do país. 

“Isso também agrega para que o nosso crescimento seja voltado ao público periférico e jovens que a gente dá muita oportunidade”, destaca Isaias Santana. 

“Eu olho para trás e vejo todo o percurso que a gente percorreu, com estoque pequeno e apenas uma pessoa trabalhando. Hoje, a gente tem uma equipe. Ver todo esse crescimento é muito emocionante e todo meu esforço foi válido”.

Negros trançados possibilitou oportunidades para Francielly. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJá Imagens

Francielly Carvalho, 21 anos, foi a primeira funcionária trancista do Negros Trançados. Para a jovem, fazer parte da equipe colaborou na autoaceitação. Mas nem sempre foi assim. Francielly lembra que a primeira vez que teve o cabelo alisado com produtos químicos foi aos 10 anos e durou por boa parte de sua adolescência. 

Tanto alisamento resultou na queda dos seus cabelos. A partir daí veio a transição. "Eu tinha muita vergonha. Eduardo sempre dizia para eu colocar o cabelo, mas eu tinha muita vergonha do que iriam achar", destaca.

A parceria com o Negros Trançados facilitou que a trancista não só entendesse e aceitasse os seus traços, como a colocou em uma situação de destaque, sendo uma das responsáveis por auxiliar que outras garotas se enxerguem e contemplem a própria beleza negra. 

"É muito satisfatório trabalhar nessa área. Chega muita gente triste, com muito desânimo. Mas a gente está aqui para auxiliar. É um prazer imenso trabalhar aqui", pontua.

Onde encontrar?

O Negros Trançados está localizado na rua do Riachuelo, 105, Edif. Círculo Católico, loja 7. 

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