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Do dia 11 ao dia 16 de setembro, acontecerá na Concha Acústica da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a 12ª edição do Congresso Brasileiro de Pesquisadores Negros (Copene). O evento irá reunir intelectuais, professores, pesquisadores, e estudantes de diversas instituições acadêmicas de todas as regiões do Brasil e da América Latina.

O Copene contará com apresentações artísticas e shows de artistas como Jorge Riba + Isaar e convidados: Maciel Salú, Bione, Orun Santana, Valdir Afonjah, Gabi do Carmo e Odalita Alves. O evento será realizado de forma remota, mas também terá atividades presenciais. Sessões temáticas, mesas redondas, minicursos e oficinas serão realizadas virtualmente.

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O encontro do Fórum Nacional de Articulação de Psicólogos/as Negros/as e Pesquisadores/as (ANPSINEP), a reunião do Fórum Nacional de Professores/as Africanos/as no Brasil e o Fórum de Educação Básica serão presenciais.

As apresentações culturais serão abertas ao público, gratuitas e presenciais.

Na quarta-feira (14), às 18h30, haverá a apresentação do Afoxé Oyá Alaxé, em sua sede no Pátio de São Pedro, no bairro de Santo Antônio, no centro de Recife. Nesse mesmo local, no dia 15, às 19h, o Grupo Bongar faz seu show com a participação de Pirão Bateu, Xambá das Yabás e Afoxé Oyá Alaxé.

O encerramento, no dia 16, fica por conta do Afoxé Alafin Oyó, que fará uma apresentação às 16h em sua sede, no bairro do Carmo, em Olinda.

Não é necessário se inscrever no evento para curtir as apresentações.

O congresso é uma iniciativa da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as. Realizado de dois em dois anos, esta edição do Copene conta com a correalização do Consórcio Nacional de Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros (Conneabs) e da rede de universidades pernambucanas composta pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade de Pernambuco (UPE, Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e Instituto Federal do Sertão Pernambucano - IF Sertão.

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Por Joice Silva, com informações de assessoria

O Itaú Unibanco, em parceria com a Academia Rafael Toro, está com inscrições abertas para a Iniciativa Impulsione, que oferece 1000 bolsas de treinamento destinadas às pessoas negras e com deficiência. As certificações CPA-10 e CPA-20 são focadas para quem deseja ingressar no setor financeiro.

Para participar da iniciativas, os interessados precisam ter concluído o ensino superior completo ou em andamento e ter experiência na área comercial. As cadidaturas devem ser feitas através dos site da Iniciativa Impulsione. Os candidatos selecionados, de acordo com a ordem de inscrição, serão distribuídos em 16 turmas.

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O período do treinamento vai de setembro de 2022 a dezembro de 2023. As certificações CPA-10 e CPA-20 serão emitidas pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Ambima). 

Pretos e pardos representam a maioria dos inscritos confirmados no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2022. De acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), pretos são maioria na versão impressa, enquanto partos dominam as candidaturas do Enem digital.

Na modalidade impressa, o número de pretos com inscrições confirmadas totaliza 1.434.820. em seguida, estão os que se autodeclaram brancos (1.360.923), pardos (391.666), amarelos (63.114), não declarados (61.903) e indígenas (19.140).

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Já no Enem digital, a maioria dos inscritos se autodeclaram pardos (27.408). Em seguida, estão os brancos (25.324), pretos (8.937), não declarados (1.508), amarelos (1.443) e indígenas (446).

Veja também: São Paulo é o estado com mais inscritos no Enem 2022

A Ânima Educação, grupo educacional voltado para o ensino superior, está com vagas abertas exclusivas para professores de todo o país que se autodeclaram pretos ou pardos. A iniciativa é da Ânima Plurais, uma política institucional que possui o objetivo de construir e a fortalecer a cultura de diversidade e inclusão da companhia.

As oportunidades são para diversas áreas de conhecimento. Para concorrer às oportunidades, é necessário possuir mestrado completo, que é exigido para todas as vagas docentes da organização educacional. Além disso, o doutorado será um diferencial na seleção.

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O Processo seletivo é divido em três partes: análise de currículo, vídeo-entrevista e avaliação técnica com o gestor da vaga. As inscrições devem ser feitas por meio do site da instituição até o dia 4 de agosto. 

“Para a Ânima, a representatividade racial é um dos principais pilares para o desenvolvimento de uma sociedade mais igualitária, justa e inclusiva. Por isso, inciativas como essa, têm sido cada vez mais prioritárias para a companhia. Queremos que nosso ecossistema seja um ambiente de mais equidade, diversidade e inclusão”, comenta Luiz Carneiro, analista de Diversidade e Inclusão da Ânima.

O Geledés - Instituto da Mulher Negra, em parceria com a Zoom Cares, abriu inscrições para o curso de multimídia gratuito, que irá capacitar 100 jovens negros da cidade de São Paulo.

A capacitação tem como objetivo preparar os participantes para o mercado de trabalho e estimular a produção em diferentes áreas da comunicação com enfoque nas temáticas de raça e gênero.

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Para a primeira turma, 30 vagas serão disponibilizadas no segundo no segundo semestre de 2022, enquanto outros 30 estudantes integrarão a turma no primeiro semestre de 2023 e os restantes no segundo semestre do próximo ano.

A formação acontecerá de maneira híbrida em quatro módulos, com 30 horas destinadas para as aulas teóricas, 60 horas voltadas ao ensino prático e 20 horas para que os participantes efetuem a entrega final do projeto, que pode ser uma reportagem multimídia, podcast ou um vídeo documentário.

O curso está dividido em módulos para uma formação teórica dentro do campo dos direitos humanos, da comunicação e produção artístico-cultural; além de oferecer oficinas formativas sobre produção de roteiro, luz e imagem (direção de fotografia para o vídeo), direção de arte, áudio e edição, produção de texto e release para imprensa.

Os requisitos são residir em São Paulo, ter entre 18 e 29 anos, ter concluído o ensino médio ou estar cursando o terceiro ano, e ter disponibilidade para participar das atividades online e presenciais.

As inscrições devem ser feitas através do formulário do programa até o dia 10 de julho. Os selecionados receberão auxílio alimentação e transporte para comparecer aos encontros.

A Digital House, em parceria com o Mercado Livre e a Globant, está oferecendo 65 vagas para o programa de bolsas Black Power Dev, que garantem bolsa de 95% do valor da primeira etapa do Certified Tech Developer. É um curso completo de programação digital exclusivo para pessoas negras. Entre as vagas, 50% serão destinadas às mulheres cis e trans. 

O Certified Tech Developer oferece conhecimentos técnicos e as soft skills necessárias para atuação em empresas de tecnologia. Para esta edição, a Globant está conectando seu programa interno, denominado Black in Tec, e vai doar equipamentos, como laptops e desktops, para 50 selecionados pelo programa.

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A bolsa parcial cobre a primeira etapa, que dura um ano e nove meses, e concede o título de “Professional Developer”. Ao término, o aluno já estará apto a trabalhar na área como analista júnior, com salário médio de R$ 3.866,00, de acordo com o Glassdoor.

O aluno poderá ainda fazer a segunda etapa e se especializar em front ou back-end, com possibilidades de dobrar seus rendimentos.

As aulas são realizadas em formato remoto, ao vivo e online, de segunda a sexta-feira, das 19h às 23h, totalizando 25 horas semanais.

Os alunos aprenderão fundamentos digitais, front-end, back-end, infraestrutura, banco de dados, além de learning agility, colaboração e trabalho em equipe, gestão do tempo, comunicação eficaz e postura profissional.

As inscrições devem ser feitas através do site da Digital House até o dia 27 de julho. Os candidatos devem cumprir as fases de seleção e realizar o pagamento dos 5% do valor total do curso para garantir sua vaga até a data final de inscrição, ou enquanto houver vagas disponíveis.  

A Fundação Lemann, a partir desta terça-feira (28), recebe candidaturas para o processo seletivo de concessão de bolsa de estudos para mestrado e doutorado em universidades estrangeiras. A iniciativa é destinada para estudantes brasileiros negros e indígenas e as inscrições, por meio de formulário on-line, seguem até 12 de julho.

Entre as instituições que fazem parte do programa Alcance, ligado à fundação, estão Universidade Harvard (EUA), Universidade Cambridge (Reino Unido), Universidade de Toronto (Canadá), Universidade Oxford (Reino Unido), Swiss Federal Institute of Technology Zurich (Suíça), entre outras.

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“Com mais pessoas que representam a diversidade racial do Brasil em centros de excelência, levamos cada vez mais discussões importantes sobre o país para esses espaços e formamos pessoas que vão exercer liderança para termos um futuro com mais justiça e equidade”, afirma Anna Laura Schmidt, diretora de Desenvolvimento de Liderança da Fundação Lemann através de assessoria de comunicação.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) usou uma expressão racista durante conversa com apoiadores no "cercadinho" da Palácio do Alvorada na última quinta-feira (12). "Conseguiram te levantar, pô? Tu pesa o quê, mais de sete arrobas, não é?", disse ele a um homem negro.

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Na conversa, o chefe do Executivo ri e ironiza o fato de ter sido alvo da Justiça por ter usado a expressão de cunho discriminatório. "Sabia que já fui processada por isso? Chamei um cara de 8 arrobas", afirmou.

Na tarde de quinta, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) anunciou que ele e a presidenta de seu partido, a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), devem entrar com representação na Procuradoria-Geral da República sobre o caso. "O presidente Bolsonaro, ao dizer que 'negros são pesados por arrouba' , comete crime de racismo. O PT através da presidenta Gleisi e eu iremos representá-lo na PGR", afirmou Teixeira.

Antes de assumir a Presidência, Bolsonaro foi denunciado pela Procuradoria e condenado pela Justiça de primeira instância por ter afirmado que visitou uma comunidade quilombola e que "o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas" e que "nem para procriador ele serve mais". A acusação da PGR foi rejeitada pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2018.

Indignação

Congressistas negros da oposição protestaram contra mais uma declaração de teor racista do presidente. Entre as manifestações públicas, estão as publicações feitas por Benedita da Silva (PT-RJ) e Talíria Petrone (PSOL-RJ).

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Aparelhamento da Fundação Palmares

Bolsonaro nomeou para chefia do órgão federal de promoção da cultura afrobrasileira um jornalista que não considera o Brasil um país racista e que já se referiu ao movimento negro como “escória maldita”. À frente da Fundação Palmares até o último dia 1º de abril, Sérgio Camargo não atendeu nenhuma liderança quilombola em mais de três anos de gestão e é acusado de assédio moral.

Quilombolas

Quilombolas são descendentes e sobreviventes de comunidades formadas por escravizados fugitivos, os quilombos. Eles têm direito à propriedade dessas terras, conforme a Constituição de 1988. Mais de 200 territórios quilombolas não reconhecidos aguardam parecer da fundação para avançar no processo de titulação.

Por Paulo Motoryn, para o Brasil de Fato

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O Cine Líbero Luxardo exibiu, na quinta-feira (21 de abril), a sessão de estreia em Belém do longa-metragem “Medida Provisória”, dirigido pelo ator e cineasta Lázaro Ramos. No cenário de um Brasil autoritário, o filme trata de uma realidade distópica em que o governo ordena que todos os afrodescendentes, com nacionalidade brasileira, sejam deportados para o continente africano, com a justificativa de reparar o período histórico da escravidão. A decisão causa desordem, medo e movimentos de resistência ilegais que trazem esperança ao país.

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Graduado e licenciado em História pela Universidade Federal do Pará (UFPA, 2010),  mestre em História Social da Amazônia pela Universidade Federal do Pará (UFPA, 2013)  e doutorando na Universitat de Barcelona, o professor Diego Pereira Santos, coordenador do curso de História da UNAMA - Universidade da Amazônia, tem dedicado suas pesquisas ao tráfico interno de escravos das capitanias e províncias após a criação da Companhia Geral de Comércio do Grão Pará e Maranhão e da Companhia Geral de Comércio de Pernambuco e da Paraíba, destacadamente no último quartel do século XVIII até a primeira metade do século XIX. Em entrevista ao LeiaJá, o historiador falou sobre a relação da temática do filme com a realidade histórica brasileira.

O Brasil é uma nação racista?

Quando a gente pensa essa noção de racismo é importante que a gente entenda de onde ela vem. O intelectual africano Achille Mbembe, em um livro chamado "A crítica da razão negra", vai construindo essa ideia de como o racismo se processou e se processa na contemporaneidade. Ele fala que o racismo nasce de vários processos de efabulação (ato ou efeito de fabular, fantasiar), de criação de visões de negação, até da negação do eu. O racismo é essa negação profunda; você não coloca o outro apenas como inferior, mas você nega a sua própria existência. Nesse ponto, a gente entende, dentro das ciências sociais, sim, o Brasil é um país racista, porque há diversas práticas de negação desses sujeitos ao longo do tempo, especialmente dos negros. O Brasil é um país racista porque esse racismo que vem se constituindo, especialmente a partir do momento em que a Europa começa a se consolidar enquanto continente, se processa como uma ideia de negação, e o tráfico consolida esse processo de inferiorização do negro, que hoje ainda temos como um elemento negativo dentro da sociedade brasileira.

O que é racismo estrutural?

Ele está baseado numa estrutura de poder. Ao longo do tempo, quando a gente entende a formação da sociedade brasileira, ela se dá nesse encadeamento de relações, na qual você passa a pensar o branco positivando e você passa a pensar o negro, seja a partir de questões históricas, culturais, interpessoais, como negação. O racismo estrutural está presente em vários momentos. Não há apenas a ideia de um racismo institucional, na relação direta. Há uma compreensão de grande parte da sociedade, a gente não pode falar do todo, que reconhece privilégio de um grupo social ou, nesse caso, um grupo étnico, ainda que etnia seja um pouco mais profundo da gente pensar, sobre outro. Nesse caso, se privilegiou o branco em detrimento do negro.

O que você pode falar sobre desigualdade racial?

A desigualdade racial é manifesta. Eu poderia falar da sociedade americana como um todo, americana no sentido do continente América, porque essa ideia de descobrimento acaba manifestando uma negação do outro. Quando você descobre, você privilegia o descobridor, não o descoberto, e muito menos aqueles que são arrancados, desterritorializados, desenraizados das suas etnias, reinos, famílias, e seus grupos sociais são colocados dentro de uma outra relação de poder. O Brasil é um exemplo muito claro disso, no Estados Unidos isso acontece muito, não é uma realidade única, ainda que seja uma realidade complexa e diferenciada nesses estados nacionais. Existe sociedade igual? Não. Acho que o termo mais adequado hoje, para nós pensarmos isso, é equidade. Hoje não se fala de igualdade, porque a igualdade é você dar as mesmas oportunidades para os diferentes. Quando você entende que há desigualdade o sentido muda, porque você passa a oportunizar as diferenças para os diferentes. Então é fundamental compreender que não se pensa, hoje, numa sociedade que vá ser igual, porque brancos e negros não são iguais no Brasil. A ideia, quando você pensa as relações étnico-raciais, é você compreender que essas oportunidades têm que se dar compreendendo as diferenças de cada grupo social. 

Existe relação entre o racismo e o descobrimento do Brasil pelos portugueses?

Sim, sem dúvida. Porque quando você pensa a raiz dessa ligação, o sentido do descobrimento é da negação, mas ele não é da negação do outro no sentido de compreender a alteridade. O descobrimento é pautado numa visão ocidental, racista, branca, europeia, então tudo o que era diferente disso passava a ser negado, tudo o que não era europeu, ocidental ou que não casava dentro de uma ideia de civilidade europeia passa a ser visto como inferior. Além disso, é muito interessante a gente pensar antes desse descobrimento, por exemplo, os contatos que houve da Europa com a África, principalmente a partir do século XV. Em 1415, tem a Conquista de Ceuta, onde hoje é o Marrocos. Esse entreposto comercial passa a ser fundamental para que os europeus, em particular os portugueses, passassem a ter um domínio do continente. A partir dali eles vão tentar fazer a circunavegação do continente, vão tentar rodear, porque a ideia era chegar nas Índias, mas esse contato com a África já passava a necessidade de ser um contato econômico. Muito se pensa que o objetivo era já num primeiro momento a escravidão, e não era. No primeiro momento os europeus estavam mais interessados na prata e no ouro, principalmente, mas a partir desse contato com os africanos eles entendem a possibilidade de ter ganhos com a questão da venda desses seres humanos. É dali que começa uma série de negócios que todos ganhavam dentro do que a gente chama de tráfico de escravos. Nessa ideia do descobrimento, o africano é visto como outro, como um sujeito inferior. Não à toa, nas crônicas desse período, do século XVI e do XVII, era muito comum que se falassem dos africanos que usavam rabos, que eram “tão pequenos que sumiam”, porque havia todo um imaginário e ele acabou se condensando dessa negação. O que nós vamos ter posteriormente a isso é um quadro de negações, de inferiorizações e, como Mbembe fala, ‘de objetificações’.

Como as pessoas brancas podem contribuir para a luta antirracista?

A luta antirracista não é de uma cor só. A luta antirracista é de todos, eu acho que isso também é um ponto que a gente precisa entender, para além dos lugares de fala que são muito complexos na sociedade brasileira. É preciso que a gente entenda que essa relação precisa ser compreendida por todos. Quando a gente entende o que é o racismo, quando a gente compreende que muitas vezes as falas presentes no nosso racismo estrutural estão nas brincadeiras menos oportunas, num tratamento ou num olhar preconceituoso, manifesto numa ação discriminatória, aí eu tenho exatamente que compreender que esse não é um problema só dos negros, mas é um problema da sociedade brasileira.

Filmes como “Medida Provisória”, com grande repertório histórico, cultural e artístico, com exibição em um ano de eleições, são importantes para o debate político?

É decisivo, porque muitos desses conceitos estudados pela ciência foram negados. Foi negado o racismo, alguns negaram o fato de haver escravidão. Essa negação de um passado, silenciamento, uma censura, isso é extremamente problemático, diante desse cenário. O fato de vir à tona agora um filme como esse, com uma dimensão que busca problematizar, em essência, situações que acontecem no nosso cotidiano, reforça aquilo que estava sendo negado, especialmente no atual governo, em que há a ideia de naturalizar o racismo, o preconceito, a ditadura, as torturas. Toda a perspectiva histórica é pautada em relações de poder, não tem como nós pensarmos de forma diferente. Injúria racial é crime, racismo é crime. São diferentes? São. Injúria racial é quando você manifesta isso numa ação direta com um indivíduo. O racismo é manifestado em relação à ideia da raça como um todo. Esse questionamento, isso é fundamental em ano de eleição, porque amplia nossas possibilidades de uma escolha democrática. A arte é um palco privilegiado da crítica social no Brasil, e sempre foi assim desde a década de 60, 70, 80. Lembro dos movimentos ligados aos negros, muito fortes, e que vinham, então, tentar buscar soluções ou a repensar a sociedade a partir da arte e da cultura. É fundamental que a gente tenha esse tipo de debate neste ano de 2022.

No filme existe um governo autoritário, que limita a liberdade dos cidadãos. Na sua opinião, quais são os impactos sociais desse tipo de regime?

O impacto social direto é você ter um controle das mentes. Isso faz parte da cultura brasileira. Entre 1964 e 1985, o Brasil viveu uma ditadura, hoje compreendida como uma Ditadura Civil Militar, em que havia esse processo de negação. Analisemos, então, o nosso quadro político contemporâneo. Eu tenho pelo menos dois impeachments, nessa breve, nova República. A nossa primeira eleição é indireta, que eu tenho o Tancredo Neves, depois o Collor, tenho um impeachment, vem o Itamar Franco, que era vice dele, depois vêm os dois governos de Fernando Henrique, depois os dois governos Lula, o governo Dilma impedido, tem um governo e meio, depois vem o Temer, depois vem o Bolsonaro. A nossa República é uma República com traços autoritários. O próprio Jair Bolsonaro, atual presidente da República, disse que o seu voto era em nome de um torturador, quando ele fala do impedimento da Dilma, naquele contexto. Então, o voto dele para um ditador, uma pessoa que foi um torturador, isso mostra que a gente tem aí na nossa República traços autoritários, isso não está distante de nós.

No longa eles mostram um ativismo forte contra um governo opressor. Você pode dar exemplos de situações que retratem essa realidade no Brasil?

Esse ativismo é bem compreendido hoje, os movimentos negros são bem organizados. Aqui, inclusive, na nossa região, tem um órgão que é o CEDENPA (Centro de Estudos e Defesa do Negro no Pará) que tem um papel muito interessante. O movimento negro foi responsável por várias mudanças no âmbito educacional, que é um caminho interessante, ainda que seja a longo prazo. Há duas leis que foram editadas ainda nos idos dos anos 2000, que é a lei 10.639/2003, da obrigatoriedade do ensino de historia e cultura africana e afro-brasileira nas escolas da educação básica, e em 2008 a 11.645/2008, que vai pensar também os grupos indígenas. Você tem de 2010 para 2011 o Estatuto da Igualdade Racial, fundamental para legitimar que eu não tenho essa igualdade, porque ela nunca existiu. A Constituição de 1988 diz que todos são iguais, mas essa igualdade não era de fato. Quando você vai, por exemplo, para a LDB, alguns anos depois da Constituição de 1988, a Lei Diretrizes e Bases da educação, de 1996, ela fala sobre a pluralidade racial. Só que nos anos 2000, aí num momento de grande crescimento dos movimentos sociais, na época do governo do PT, importante que se diga, é que isso vai se tornar uma realidade mais clara. Ainda que hoje não haja um mecanismo de intervenção direta, em relação a se estar ministrando ou não essas aulas nas escolas públicas ou particulares, há, pelo menos, a lei que nos indica esse caminho, e houve diversas produções bibliográficas a partir dessas duas leis e do Estatuto da Igualdade Racial.

Com as novas mídias que surgem, especialmente nas redes sociais, com seus canais abertos a todas as manifestações, você acha que o racismo pode se agravar?

É complexo, porque quando você abre os canais isso não é ruim, naturalmente, você tem liberdade de expressão no Brasil, isso é uma realidade constitucional. Mas a internet abre as portas para a ignorância, para discursos do período colonial, de negação, contra aquilo que já está, de alguma maneira, consolidado dentro de uma visão universitária, científica. Há um caso que foi retratado agora no Big Brother. Uma das participantes, a Natália, fez um comentário falando sobre a questão de que os negros vieram para cá porque eram fortes. A questão aqui não está tanto no comentário dela, mas como essa visão é enraizada na sociedade brasileira, o quanto ainda hoje o olhar da sociedade em geral é esse. Essa visão era a que o traficante de escravo tinha quando ele tirava o escravo da África, quando ele negociava o escravo na África e o colocava na condição de escravizado, é o mesmo discurso. A internet banaliza de certa maneira determinados pontos de vista, porque eles não são alicerçados numa base cientifica, eles são abalizados no ‘eu acho’, no ‘o que eu compreendo’, no ‘o que eu penso’. As fake news são um retrato muito claro disso. Você amplia, dá a vazão para milhões de pessoas compartilharem o mesmo conteúdo. Esses discursos, muitas vezes anacrônicos, fora do seu tempo, vão circular. Em ano de eleição, nem se fala. A ampliação é positiva, os canais são positivos, você ter as suas mídias, construir mídias sociais sem a necessidade de um aparelhamento dessa reflexão, desses aparelhos televisivos, dos programas televisivos, isso é interessante. O que é problemático é quando você tem um desfavor, por determinados canais, por determinados apresentadores.

De que forma o entendimento da política brasileira pode ajudar na luta por direitos?

Eu vejo muito hoje esse movimento político dentro de um quadro que é claramente ocidental, da polarização. A polarização dos olhares, ‘só tem um ou outro’ ou ‘você é de uma cor ou de outra’. A realidade humana não é tão simples. Ela é subjetiva, complexa. Olhar para essa realidade e compreender para além disso, procurar estudar, olhar realmente quais são os programas políticos de cada candidato, ter uma percepção melhor daquilo que foi, que é e que será, eu acho que são pontos fundamentais. A história não se repete, não há historiador que vai dizer que a história vai ser a mesma, isso é muito reproduzido na sociedade, ‘vai acontecer igual’. Não, nunca vai ser igual, mas há ecos, há reverberações desses momentos históricos. É fundamental, especialmente para os jovens, já que a gente está abrindo esse canal, a possibilidade de um questionamento a tudo isso que a gente colocou aqui, ao filme, à sociedade, a toda complexidade desses elementos formativos da sociedade brasileira. A juventude informada precisa dizer não, precisa se informar para que ela possa criar seus próprios olhares. Ela precisa entender o que é essa política, porque entendendo a gente tem também a nossa possibilidade de arbitrar sobre isso, de construir o nosso posicionamento, em direção a uma democracia, consolidação desse estado democrático, que é falho, e muitas vezes abre margem para a corrupção, mas ainda é a melhor opção do que viver em um estado ditatorial, no qual você tenha uma sociedade do controle, no qual se pense a retirada daqueles que são ou que podem ser considerados indesejados, como o filme propõe em relação aos negros. As elites no Brasil se incomodam, sim, com essa presença de negros, pardos, índios, dentro da universidade, porque há uma sociedade construída em bases, e são bases brancas, elitistas, com visões sectárias de separação. É preciso votar. É preciso fazer parte desse movimento de mudança.

Por Giovanna Cunha e Vinicius D. Reis (sob a supervisão do editor prof. Antonio Carlos Pimentel).

A Johnson & Johnson anunciou a criação do programa SoulAfro Axé, destinado ao desenvolvimento educacional e profissional de pessoas negras. A iniciativa reúne oportunidades de treinamento, empregabilidade e carreira e as inscrições seguem até 20 de abril.

Neste primeiro momento, o programa selecionará 60 estudantes negros, do ensino médio e superior, e 30 profisisonais, que já atuam na empresa. Podem participar da iniciativa pessoas autodeclaradas pretas ou pardas, com renda familiar per capita de zero a três salários mínimos, ser morador ou moradora da cidade de São Paulo, entre outros requisitos.

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Os participantes selecionados terão suporte 360°, com ferramentas necessárias para o crescimento profissional e pessoas (treinamentos, apoio econômico, aulas de inglês, mentoria). De acordo com a Johnson & Johnson, o SoulAfro Axé “visa desmontar a pirâmide de desigualdade e promover equidade racial”.

Nesta quarta-feira (24), o Procon-SP e o Ministério Público Federal (MPF) solicitaram explicações ao LinkedIn sobre a plataforma ter barrado anúncios de empregos com preferência a candidatos negros e indígenas. 

De acordo com o MPF, um ofício foi encaminhado para a plataforma solicitando informações sobre a exclusão de seleção, feita pelo Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo (Laut), em que seria dada preferência a candidatos negros e indígenas. Ainda conforme com o MPF, a decisão da plataforma contraria os esforços realizados no Brasil, com base na Constituição Federal, para a inclusão de minorias por meio de ações afirmativas. 

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O MPF solicitou ao LinkedIn que esclareça, no prazo de dez dias úteis (contados a partir de 23 de março), qual regra seguiu a exclusão do anúncio, detalhando seus fundamentos jurídicos, além de quantas vagas foram retiradas da plataforma nos últimos dois anos, com base na mesma argumentação. Também foi enviado um ofício ao Laut, pedindo mais informações sobre o anúncio. 

O Supremo Tribunal Federal entendeu essas medidas “não somente como reparação histórica em favor de grupos subalternizados, mas como forma de beneficiar toda a sociedade, por meio da construção de espaços menos excludentes”. Já de acordo com o Procon, a empresa foi notificada a explicar se há publicação de vagas, aplicação de políticas específicas e como os anunciantes são informados das mesmas.

O Procon também quer saber como a informação é passada ao anunciante no caso de recusa da publicação, em que condições e situações ocorre a exclusão de anúncio já publicado e, em caso positivo, como o anunciante é informado. 

Além disso, o LinkedIn deve informar se qualquer tipo de vaga e publicação pode ser anunciada e, em caso negativo, quais critérios são necessários para serem aceitas até esta quinta-feira. 

 

 

 

 

 

O Nubank, startup do ramo financeiro, anunciou, nesta quarta-feira (2), a abertura de novo programa com a finalidade de contratar profissionais negros com diferentes níveis de experiência. As candidaturas são realizadas on-line e seguem até 15 de fevereiro.

Além disso, a instituição disponibilizará aos cinco mil primeiros inscritos treinamento técnico de negócios que ocntará com cálculo, lógica, conceitos de mercado financeiro, resolução de problemas e dicas práticas de comunicação. A formação será entre os dias 22 e 29 de fevereiro, no entanto, esta etapa é opcional.

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A seletiva para o programa é composta por testes on-line e entrevistas, ambos serão realizados em março de 2022. As vagas deste processo seletivo são para São Paulo e para o cargo de analista de negócios.

O Fundo Baobá, organização que busca mobilizar pessoas e recursos, a fim de promover a equidade para a população negra no Brasil, comunicou que em parceria com a General Mills, alterou a exigência de CNPJ ativo até 2019 para que empreendedores negros possam se inscrever no edital “Negros, Negócios e Alimentação”. A decisão se deu pelo aumento de casos de Coronavírus e da sua variante, Ômicron, que reacende a necessidade de oferecer suporte aos empreendedores negros do país.

Com a mudança, qualquer pessoa negra que tenha algum empreendimento formal ou informal, com 3 anos ou mais de funcionamento na Região Metropolitana do Recife, nas áreas de alimentação, gastronomia ou culinária, poderá se candidatar ao fundo.

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Os interessados podem se dirigir ao Hotel Central, no bairro da Boa Vista, para tirar dúvidas e se inscrever com o apoio da equipe do Baobá, no dia 24 de janeiro, das 9h às 17h, ou realizar as inscrições até o dia 27, por meio do formulário.

Além disso, a direção do Fundo irá se encontrar com lideranças locais e potenciais candidatos ao edital vigente na estadia em Recife, além de pessoas e organizações que já foram apoiadas pelo projeto em editais passados. O objetivo é apoiar 12 empreendimentos no ramo de alimentação de consumo imediato, instalados e em funcionamento há mais de 3 anos na Região Metropolitana de Recife.

Os participantes selecionados terão 8 meses para realizar seus projetos e 30 dias para apresentar a prestação de contas final. Para o desenvolvimento das propostas, os empreendedores receberão um apoio financeiro de R$ 30.000, além de assessoria e suporte técnico.

De acordo com o Fundo Baobá, serão priorizados negócios de gastronomia negra formalizados com CNPJ, além das inscrições feitas por mulheres negras cis ou trans e empreendedores que nunca foram apoiados pelo fundo.

As inscrições vão até as 17h do dia 27 de janeiro, por meio do formulário eletrônico disponibilizado pelo Fundo Baobá. O processo seletivo contará com três etapas eliminatórias e o resultado será divulgado no dia 31 de março de 2022, no site oficial do Fundo Baobá.

Com informações da assessoria

Visando a capacitação e diversidade no ambiente corporativo, as empresas Carrefour, iFood e XP ofertam cursos 100% online nas áreas de tecnologia, mercado financeiro e habilidades de nova economia. Ao todos, são oferecidas 1,1 mil oportunidades para maiores de 18 anos.

Por meio do programa 'Vem Transformar', a financeira XP disponibiliza formações de educação financeira e preparatórios para tirar a certificação da Ancord (Associação Nacional de Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias), necessária para ser um agente autônomo de investimento.

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As inscrições vão até esta sexta-feira (7), por meio do site da iniciativa. Para concorrer a uma das 600 vagas é preciso ter 18 anos ou mais e residir em São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Brasília ou Salvador.

Para os programas Transforma TEC e Talentos da Nova Economia, respectivamente, do Grupo Carrefour e iFood, trazem cursos com foco em desenvolvimento fullstack Java, React, Administração, Contabilidade, Economia, Direito, Engenharia, Comunicação, Relações Públicas, Relações Governamentais, entre outros.

As inscrições para a iniciativa do Carrefour vão até 30 de janeiro e podem lançar candidaturas pessoas com renda renda familiar per capita igual ou inferior a 1,5 salário mínimo, ter concluído, no mínimo do Ensino Fundamental II, ter acesso a um computador para realização das atividades e disponibilidade para participar das aulas, que serão entre março e outubro de 2022.

Já para o programa Talentos da Nova Economia, as bolsas de estudo auxiliam no desenvolvimento de habilidades como tomada de decisão, adaptabilidade, gestão ágil e banco de dados. Podem realizar incrições jovens negro, a parti dos 18 anos, das áreas de administrção, contabilidade, economia direito, engenharia, comunicação, entre outras.

Uma pesquisa realizada pela PageGroup e pela Dom Cabral revelou que uma em cada dez mulheres ou pessoa negra ocupa posição de CEO em empresas. O levantamento ainda explicitou que cerca de 90% dos cargos de liderança de 149 empresas respondentes da pesquisa são ocupados por homens e brancos.

“O mercado de trabalho reflete as transformações da sociedade. A falta de políticas organizacionais e de interesse no passado fez com que tivéssemos muito menos diversidade hoje. Vivemos o resultado da construção de gerações. Agora as empresas estão focadas na diversidade, dando oportunidades de desenvolvimento para isso”, comenta Ricardo Basaglia, diretor geral da Page Executive, segundo nota divulgada pela assessoria de imprensa. 

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Segundo a mesma pesquisa, 8% dos CEOs são mulheres e 89% se identificam como brancos. Além disso, a equipe na linha direta com os líderes são pequenas e pouco diversas. Cerca de 70% são com até 20 pessoas. Em 80% dos casos, menos da metade das pessoas que se reportam ao CEO são mulheres.

O levantamento ainda detalha a seguinte realidade: as mulheres representam 23% de Executives (Executivos), 29% Senior Managers (Gerentes Senior), 37% Managers (Gerentes), 42% Professionals (Profissionais) e 47% Support staff (Equipe de Suporte).

Além dos dados supracitados, a pesquisa faz ainda uma raio-X das CEOs no Brasil, que são mulheres brancas, entre 41 e 60 anos de idade, com graduação nas áreas de negocios ou engenharia, com MBA, mestrado profissinal ou outra pós-graduação lato sensu. Segundo o levantamento, elas demoraram cerca de dez anos para se tornar CEO e não teveram experiencia fora do Brasil. Nos dados coletados, suas formações são equivalentes às dos CEOs homens. Além do perfil descrito, a maior parte das mulheres em cargo de CEO estão em São Paulo e grande parte é lider da própria empresa.

Diante de todos as adversidades sofridas no dia a dia, as mulheres ainda têm jornada dupla com cuidados com filhos e casa. Quando comparados aos homens, apenas 1,5% dos CEOs executam os trabalhos domésticos.

A baixa presença de mulheres no pipeline de liderança dificulta a sucessão para a posição de CEO. Com volumes equiparados entre homens e mulheres na base da pirâmide organizacional, as mulheres avançam para os níveis de primeira gestão e a representatividade vai perdendo força nos cargos de média liderança.

Por Samuel D' Paulla

Recentemente foi realizada a 52ª edição do São Paulo Fashion Week (SPFW). O evento aconteceu de forma híbrida e marcou pela diversidade, já que foram apresentados modelos de todos os tamanhos, cores e gêneros, o que agitou as redes sociais. Assim, abre-se a discussão sobre o papel da moda e como ela pode servir para abraçar todos os tipos de pessoas, desconstruindo estereótipos de beleza.

De acordo com Beatriz Garcia Damasceno, especialista da moda no Senac Lapa Faustolo (SP), não existe apenas uma definição sobre o conceito da moda. “Não podemos dizer que a moda é definida por uma única palavra, ela é múltipla e abrange várias áreas do saber humano. Moda é comportamento, arte, negócio, dinheiro, política, tendência e movimento. É a expressão cultural de um determinado período”, explica.

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A especialista conta que todos querem se sentir bem vestidos e olhar para o espelho com o desejo de sentir a autoestima elevada. Desta forma, a moda tem o papel de pensar em soluções que atendam às demandas dos múltiplos corpos, a fim de abraçar de vez a diversidade que compõe uma sociedade.

Vale lembrar que, a moda não tem o poder de decidir o que é politicamente certo, nem ao menos definir um padrão de beleza. Segundo Beatriz, a arte de se vestir, conhecida também como indumentária, é apenas um dos elementos que ajudam a trazer uma tendência para uma próxima estação ou ano. “O certo e o belo, é aquilo que te faz bem. Aquilo que funciona para o seu estilo e aquilo que te faz sorrir”, esclarece.

Portanto, pode ser considerada uma contradição quando a moda passa a não valer para determinados grupos sociais ou ser excludente. “No mundo atual, a exclusão de um grupo não faz sentido, não temos a possibilidade de apertar um botão ‘delete’ e fazer com que pessoas sejam apagadas do mundo. Excluir qualquer tipo de grupo é fora de moda”, afirma.

Inclusão na moda

Não é de hoje que grandes eventos procuram abraçar todos os tipos de pessoas na moda. O SPFW por exemplo, desde 2009 estabeleceu uma cota mínima de 10% para modelos negros, afrodescendentes e indígenas nos desfiles, e segundo a especialista, esta é uma medida importante para estimular a participação racial no evento, para confirmar de vez um compromisso com classes de pessoas consideradas minorias.

Vale lembrar que em 2020 também o SPFW determinou que pelo menos 50% dos modelos deveriam ser compostos por negros, indígenas e asiáticos. “Foi um movimento inédito no cenário da moda e repercutiu no mundo inteiro. O resultado dessas iniciativas é nítido: uma passarela mais verossímil e condizente com a nossa realidade”, finaliza.

 

 

A luta por igualdade racial no Brasil é um debate histórico. Presente em diversos âmbitos da sociedade, na política, parlamentares tentam viabilizar espaços dentro dos Três Poderes, nos quais possam ser debatidas pautas de interesse social — uma vez que o combate ao racismo deve ser um objetivo de toda a sociedade e não somente de pessoas negras ou não-brancas, diretamente afetadas por esse sistema. Apesar dos debates pela luta contra o racismo terem ganhado mais espaço ao longo dos anos, e de personalidades negras terem ocupado posições de destaque, a representatividade negra ainda é menor do que 20% no Congresso Nacional, e o número engloba ativistas raciais e não ativistas.

Neste Dia da Consciência Negra, o LeiaJá faz uma menção honrosa a algumas das presenças negras na política brasileira e que seguem na ativa por um debate mais justo no país da miscigenação e da “democracia racial”. Confira: 

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Paulo Paim

Senador da ala gaúcha do Partido dos Trabalhadores, foi eleito um dos 100 afrodescendentes mais influentes do mundo. O parlamentar foi agraciado com o Prêmio Most Influential People of African Descent (Mipad), realizado desde 2017 em Nova York com o apoio da ONU. O Mipad sempre ocorre após a abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas. O objetivo é homenagear artistas e cidadãos que se posicionam contra o racismo e lutam a favor do direito dos negros.  

Paim nasceu em Caxias do Sul (RS). Está no terceiro mandato de senador da República, tendo sido, também, quatro vezes deputado federal. Seu projeto mais recente foi aprovado em plenário do Senado há dois dias, na quinta-feira (18), e deve seguir para análise da Câmara dos Deputados. O PL 4.373/2020, relatado por Romário (PL-RJ), tipifica a injúria racial como crime de racismo no Brasil. 

Erika Hilton 

A paulista nascida em Franco da Rocha fez história ao ser eleita a primeira vereadora trans e negra em São Paulo, nas eleições municipais de novembro de 2020; e a mulher mais votada no Brasil naquelas eleições, com 50.508 votos. Em 24 de março, foi nomeada presidenta da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Vereadores de São Paulo, a maior cidade do Brasil. Sua militância começou ainda na adolescência. Em 2015, enfrentou na justiça uma empresa de transporte público que se recusava a aceitar seu nome social. A ação foi vitoriosa para a vereadora, que acumulou mais de 100.000 assinaturas a uma petição online pela sua causa e, assim, atraiu a atenção do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), que a convidou a se juntar às suas listas de candidatos. Pouco depois, Erika criou um curso pré-vestibular na Universidade Federal de São Carlos para pessoas trans.

Benedita da Silva

Silva foi nascida e criada na favela da Praia do Pinto, no Rio de Janeiro. Com uma vida repleta de dificuldades, insistiu na carreira acadêmica e formou-se aos 40 anos de idade em Estudos Sociais e Serviço Social. Em 1982 tornou-se a primeira negra a ocupar uma cadeira na Câmara de Vereadores da Cidade do Rio de Janeiro. Foi eleita Deputada Federal por duas vezes. Em seu primeiro mandato, durante a reforma da Constituição do Brasil, ela garantiu às mulheres presidiárias o direito de permanecerem com os seus filhos durante a amamentação. 

Foi autora de 84 projetos de leis de grande importância para a população. Sua atuação ajudou a escrever a história recente do país. Foi também a primeira negra a chegar ao Senado Federal, o mais alto escalão do Poder Legislativo brasileiro. Disputou o Governo do Estado do Rio de Janeiro onde foi vice-governadora e desenvolveu todos os projetos sociais da gestão. Em 2010 foi eleita mais uma vez para Câmara Federal. 

Marina Silva

Na política desde a década de 80, a ativista ambiental Marina Silva, atualmente, faz parte da Rede Sustentabilidade, partido fundado por ela. É um rosto conhecido e respeitado da política, já tendo sido ministra e senadora, e também candidata à presidência da República. A última vez que disputou as presidenciais foi em 2018, mas a candidatura não foi muito longe. 

Aos 60 anos, Silva foi eleita para seu primeiro cargo público em 1988, quando se elegeu vereadora de Rio Branco pelo PT. De lá para cá, ela ocupou cargos de deputada estadual e senadora pelo Estado do Acre nos anos 90 e 2000, além de ter sido ministra do Meio Ambiente entre 2003 e 2008, sob o governo Lula. Após deixar o PT em 2009, Marina filiou-se ao Partido Verde (PV), passando depois pelo PSB — quando resolveu disputar a Presidência no lugar de Eduardo Campos, morto em acidente aéreo em 2014. Após isso, fundou o Rede. Atualmente, a política já não é mais tão esperançosa sobre ocupar o assento presidencial, mas ainda tem consigo o sonho que tinha quando disputou o cargo pela primeira vez: ver uma mulher negra e de origem pobre ser presidenta do Brasil, fato ainda inédito na democracia brasileira. 

Robeyoncé 

A presença da co-deputada Robeyoncé Lima na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) é um marco histórico para o país. A psolista é a primeira mulher trans a fazer parte da casa legislativa e uma das únicas no Brasil inteiro a ocupar um cargo do tipo. Advogada, Robeyoncé o coletivo “Juntas”, que optou por uma candidatura compartilhada, tendo representantes de diferentes minorias sociais. Ela também foi a primeira advogada trans, negra e nordestina a conseguir o nome social na carteirinha da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). 

Subrepresentação ainda domina casas legislativas 

De todos os parlamentares no Congresso, apenas 17,8% são negros. Isso quer dizer que, entre os 594 deputados federais e senadores, 106 declararam ser da cor preta ou parda. O cenário não muda se as duas Casas forem analisadas separadamente. Na Câmara, dos 513 deputados em exercício, 89 são pretos. Em contrapartida, 344 são brancos. Os dados são da própria Câmara Federal. No Senado, a diferença é ainda mais evidente. A proporção de brancos é quase quatro vezes maior do que a de pretos — 64 para 17. Observados apenas os parlamentares que se elegeram no ano passado e se autodeclararam pretos, o número é ainda menor. Apenas três senadores negros foram eleitos em 2018. 

O cenário das duas Casas fica longe de representar a diversidade brasileira. Segundo dados do IBGE, mais da metade da população é de pretos e pardos — 9,3% e 46,5%, respectivamente. Já os brancos representam 43,1%. 

Candidaturas negras cresceram em 2020

Em 2020, pela primeira vez, os candidatos negros passaram a ser o maior grupo de postulantes a cargos eletivos no país desde que o TSE passou a coletar informações de raça, em 2014. Ao todo, 276 mil candidatos pretos ou pardos se registraram para concorrer no pleito, o equivalente a 49,9%.

Nas últimas eleições, em outubro de 2020, os negros aumentaram sua participação no comando das prefeituras e no número de cadeiras nas câmaras de vereadores, segundo dados do TSE. Dos mais de 5,4 mil prefeitos eleitos, aproximadamente 1,7 mil candidatos se declararam pretos ou pardos, o que corresponde a 32% do total. O número é superior a 2016, quando 29% dos candidatos eleitos eram negros segundo a classificação do IBGE.

Antigamente, "quando nascia uma criança mais clara era motivo de comemoração", lembra Bianca Santana. Mas hoje, aos 37 anos, ela se reconhece plenamente como mulher negra.

Quando era pequena, sua avó, baiana, com a pele mais escura do que a dela, pediu que ela prendesse o cabelo em um coque muito apertado "senão ficava parecendo essas neguinhas".

"Às vezes, ela colocava o braço dela ao lado do meu mostrando o clareamento" resultante da miscigenação, conta à AFP. Foi só aos 30 anos que Bianca finalmente decidiu usar um penteado afro.

Autora do livro "Quando me descobri negra", publicado em 2015, Bianca afirma que cada vez mais pessoas pardas estão adquirindo essa consciência no Brasil.

"Os pardos estão cada vez mais negros, cada vez menos alisam o cabelo, cada vez mais assumindo uma identidade negra", analisa.

O Brasil, com 213 milhões de habitantes e a maior população negra fora da África, celebra no sábado (20) o Dia da Consciência Negra.

O país, o último das Américas a abolir a escravidão, em 1888, é marcado pelo racismo estrutural, com menos de 5% de executivos negros nas 500 maiores empresas brasileiras, apesar de representarem a maioria da população. Além disso, há diferenças salariais significativas com os brancos, ainda que com as mesmas qualificações.

Os negros são, ainda, a grande maioria entre os desempregados e os moradores das favelas.

- O mito da "democracia racial" -

Para o IBGE, a população negra é a soma dos pretos e pardos. Estes dados se baseiam na "autoidentificação", forma como as pessoas se definem a si próprias nos formulários oficiais.

O último censo oficial, de 2010, mostrou pela primeira vez que a população negra era majoritária no país, com 43,4% de pardos e 7,5% de pretos. No censo do ano 2000, mais de 53% dos brasileiros disseram ser brancos.

As pesquisas trimestrais realizadas pelo IBGE com uma amostra representativa da população confirmam essa tendência nos últimos anos.

A mais recente, do segundo trimestre de 2021, reporta 45,9% de pardos, 8,8% de pretos e 44,2% de brancos.

"Tem um trabalho muito importante dos movimentos negros de ampliar a conscientização sobre a negritude no Brasil, porque o Brasil foi fundado sobre esse mito da democracia racial, de que não há racismo, que estamos todos misturados", diz Djamila Ribeiro, filósofa e autora do livro "Pequeno manual antirracista".

Esse mito, acrescenta, "dificultou inclusive o entendimento das pessoas negras se verem como negras".

- "A cor do pecado" -

Para Roberta Calixto, analista de treinamentos e ações afirmativas no Instituto de Identidades do Brasil (ID_BR), que trabalha por uma maior inclusão da população negra no mercado de trabalho, as políticas de cotas implementadas gradualmente nos últimos 15 anos marcaram um ponto de inflexão.

"Até então, a gente tem dentro do cenário brasileiro uma ideologia de branqueamento porque crescemos com uma ideologia de que ser branco é a meta, que precisa se identificar como branco porque ser uma pessoa negra é pejorativo", explica.

"Com as cotas, passamos a ter um reconhecimento maior das pessoas negras. Sem dúvida houve uma inversão de valores. Passamos a ter um reconhecimento maior das pessoas negras; pela primeira vez, passa a ser interessante se dizer negro", insiste esta mulher parda de 30 anos, que lembra ter ouvido sua mãe dizer que ela tinha que "ser três vezes melhor do que qualquer pessoa para ser considerada igual" em uma sociedade marcada pelo racismo.

Henrique Vieira, pastor evangélico de 34 anos, filho de uma mulher branca e um homem negro, reconheceu tarde sua negritude, assim como Bianca Santana.

"Tinha um livro de evangelização quando era criança que dizia que a cor preta era a cor do pecado e a cor branca, a cor da santidade", lembra.

"Até a minha adolescência, não me identificava como negro, mas como 'moreno'. Mas me reconhecer como um homem negro foi uma conquista ao longo da vida (...) e pude identificar melhor o peso do racismo sobre o meu corpo, minha memória e minha subjetividade", reflete.

O Fundo Baobá para Equidade Racial está lançando o edital Negros, Negócios e Alimentação, iniciativa que vai apoiar 12 empreendedores negros do ramo da alimentação de consumo imediato formalmente instalados há dois ou mais anos na Região Metropolitana do Recife (RMR). As inscrições começam nesta quinta-feira (18) e seguem até 15 de dezembro.

O edital contempla microempresas, microempresas individuais e empresas de pequeno porte. Os selecionados vão receber um aporte financeiro de R$ 30 mil, além de assessoria e suporte técnico. Eles terão nove meses para executar seus projetos e apresentar a prestação de contas final.

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Segundo o Fundo Baobá, a iniciativa é uma forma de contribuir na recuperação econômica dos negócios e promover a ampliação das capacidades de planejar, fazer gestão, inovar, ampliar ou estabelecer uma infraestrutura mínima para sustentabilidade do negócio. "(...) com a crise econômica agravada pela pandemia do COVID-19, muitos pontos de venda fixos foram impactados negativamente, em especial, os negócios cujos donos eram mulheres", declara o fundo. 

Serão priorizadas propostas que envolvam negócios negros situados em Recife, Jaboatão dos Guararapes, Olinda, Paulista, Cabo de Santo Agostinho e Camaragibe, dado que essas cidades concentram 90% dos negócios do setor. Também serão priorizadas propostas apresentadas por mulheres negras cis ou trans e de empreendedoras e empreendedores negros que nunca foram apoiados pelo Fundo Baobá.

Os interessados devem preencher um formulário eletrônico. O processo contará com três etapas eliminatórias. O resultado final será divulgado em 18 de fevereiro de 2022 no site oficial do Fundo Baobá. O edital Negros, Negócios e Alimentação tem o apoio da General Mills.

Criado em 2011, o Fundo Baobá para Equidade Racial é dedicado exclusivamente para a promoção da equidade racial para a população negra no Brasil, mobilizando recursos financeiros e humanos, dentro e fora do país, e investindo em iniciativas da sociedade civil negra para o enfrentamento ao racismo e promoção da justiça social.

A plataforma de delivery iFood anunciou, nesta quinta-feira (11), o novo programa de recrutamento para promoção da diversidade na empresa. A iniciativa, chamada de iFood Inclui Pessoas Negras, abre 300 vagas de emprego para profisisonais negros e negras de todo o Brasil.

As oportunidades são para as áreas de tecnologia, comercial e corporativa em diversos níveis de experiência. O programa oferece postos de trabalho em formato remoto ou híbrido, por isso, interessados de todos os estados brasileiros podem lançar candidaturas.

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As inscrições são realizadas, exclusivamente, por meio do site da iniciativa. O processo seletivo conta ainda com triagem de currículos, entrevistas, entrevistas técnicas, testes e cases, e conclusão da seletiva.

Os profissionais selecionados receberão, além do salário, benefícios como vale alimentação/refeição, assistência médica e odontológica, seguro de vida, auxílio creche, participação nos lucros, vale transporte, seguro de vidas, entre outros.

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