Tópicos | Ninho do Urubu

A 36ª Vara Criminal do Rio de Janeiro decidiu manter ação penal contra oito dos 11 denunciados pelo incêndio no centro de treinamento do Flamengo, conhecido como Ninho do Urubu, em fevereiro de 2019. O juiz Marcos Augusto Ramos Peixoto rejeitou denúncia contra o ex-diretor de base, Carlos Noval, e o engenheiro Luiz Felipe Pondé. O monitor Marcus Vinícius Medeiros foi absolvido da acusação de envolvimento no incêndio.

Os outros oito denunciados continuam como réus no processo, entre eles, o ex-presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, um ex-diretor e um engenheiro do clube. Eles vão responder por incêndio culposo qualificado pelos resultados de morte e lesão grave.

##RECOMENDA##

A justiça considerou que o clube preferiu pagar multas recorrentes ao poder público em vez de procurar se adequar às exigências feitas pelo Corpo de Bombeiros.

O incêndio, em fevereiro de 2019, resultou na morte de dez jovens atletas da base do Flamengo. Outros três adolescentes ficaram feridos.

E-mails obtidos pela UOL Esporte, e divulgados em reportagem nesta quarta-feira (9), revelam trocas de mensagens que comprovam que o Flamengo sabia dos riscos no Ninho do Urubu, em função da precariedade das instalações elétricas no local. O clube tinha parecer sobre a situação desde 11 de maio de 2018, nove meses antes do incêndio no alojamento do centro de treinamento, onde dez meninos das categorias de base morreram. A causa principal do incêndio foi um curto circuito em um dos aparelhos de ar-condicionado.

O e-mail com dados da vistoria interna nas instalações elétricas do CT é de Luiz Humberto Costa Tavares, gerente de administração do clube, para Marcelo Helman, diretor executivo de administração. As mensagens são internas, trocadas entre os então responsáveis cotidianos do centro. Além dos autos de infração da Prefeitura, já notificados, as mensagens também comentavam inconformidades nas instalações e destacaram situação grave. 

##RECOMENDA##

Semanas antes, os problemas na parte elétrica foram verificados e um técnico de segurança do trabalho do clube foi chamado ao centro, no dia 10, para a emissão de um novo relatório técnico, enviado aos responsáveis no dia seguinte. Há registros das irregularidades, revelando gambiarras no quadro elétrico atrás dos contêineres, e necessidade imediata de manutenção.

"A avaliação foi realizada na presença do Sr Adilson, da empresa CBI, este indicado pelo Sr Luiz Humberto [Gerente de Administração do Flamengo], sendo comprovado as não-conformidades e suas gravidades. Conforme a avaliação do Sr Adilson e relatório anterior, a situação é de alta relevância e grande risco, ficando este de apresentar uma proposta ao Sr Luiz Humberto para atendimentos emergenciais de alguns pontos: quadro elétrico (poste ao lado do refeitório), disjuntores e fiação no jardim, quadro elétrico atrás do alojamento da base", alertou o relatório enviado pelo funcionário do departamento pessoal Wilson Ferreira ao gerente de administração do Flamengo, Luiz Humberto Costa Tavares, à gerente de recursos humanos Roberta Tannure e a um funcionário identificado como Douglas Silva Lins de Albuquerque em 11 de maio de 2018.

A conclusão parcial foi de que as irregularidades não seriam tratadas “no momento”, pois “conforme informação, o local será demolido e substituído por novas instalações até o final do ano de 2018, deixando claro que caso haja fiscalização e autuação o argumento mesmo que evidente não justifica a irregularidade, ficando a critério do órgão fiscalizador a penalidade ou intervenção". O plano do clube era mudar o CT de alojamento, deixando o então endereço para a construção de um estacionamento.

Oito pessoas vão ser denunciadas pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ) pelo incêndio no Ninho do Urubu, o centro de treinamento do Flamengo, na zona oeste do Rio, que ocorreu em 8 de fevereiro de 2019 e causou a morte de dez atletas das categorias de base, além de ferir outros três.

Segundo o MP-RJ divulgou nesta segunda-feira, as oito pessoas vão responder por incêndio culposo (sem intenção), com o resultado de dez homicídios culposos e três lesões corporais culposas.

##RECOMENDA##

Eduardo Bandeira de Mello, que presidiu o Flamengo entre janeiro de 2013 e dezembro de 2018, será um dos indiciados. Também devem ser denunciados dirigentes e funcionários do Flamengo, além de prestadores de serviço contratados para adaptação de contêiner ao uso como dormitório e para manutenção da rede de eletricidade no Ninho do Urubu, o CT do clube no bairro de Vargem Grande.

O MP-RJ considera que não ficou comprovado que os envolvidos tenham tido a vontade nem mesmo assumido o risco de provocar a morte dos atletas, e por isso eles não serão acusados pelo crime doloso. "Não há como afirmar a ocorrência de dolo eventual no resultado morte - não sendo viável deduzir ou intuir que os indiciados tivessem a potencial certeza da possibilidade do fato ocorrido no alojamento".

Para o MP-RJ, no entanto, "não restam dúvidas de que uma série de condutas imprudentes e negligentes, por ação e omissão, em tese praticadas pelos indiciados, de fato concorreram para a ocorrência do incêndio, bem como das mortes e ferimentos dele decorrentes".

Antes de apresentar a denúncia contra os oito acusados, o MP-RJ cumpriu nesta segunda-feira um protocolo necessário: por meio do Grupo de Atuação Especializada do Desporto e Defesa do Torcedor (GAEDEST), recusou um acordo para evitar o processo penal. Para justificar a recusa, o MP-RJ alegou, entre outros motivos, a falta de confissão. "Nenhum dos indiciados confessou conduta de relevância penal em favor da investigação, limitando-se a negar a prática de qualquer conduta concorrente para o incêndio", afirma a instituição.

Segundo o GAEDEST/MP-RJ, "apesar da gravidade do caso, que expôs a forma negligente com que um dos maiores clubes do país tratava seus atletas de base, o Flamengo vem permanentemente procurando mitigar pagamentos de indenizações às famílias das vítimas do incêndio, aumentando o desespero das mesmas, numa nítida tentativa de não sofrer qualquer prejuízo econômico decorrente do grave fato a que o próprio clube deu causa".

"O delito praticado tornou-se emblemático e merece ser submetido ao crivo do Poder Judiciário para que, através do devido processo legal e garantida a ampla defesa, haja o julgamento final do mérito e a devida atribuição de responsabilidades. Superada a fase de notificação dos indiciados e eventuais impugnações, conforme previsto na lei", o MP-RJ vai oferecer a denúncia.

RESPOSTA - Procurada pela reportagem, a direção do Flamengo informou que não vai se manifestar sobre a decisão do MP-RJ.

Apesar da recomendação contrária da Prefeitura do Rio de Janeiro, o Flamengo realizou nesta quinta-feira (21) mais um dia de atividades no Ninho do Urubu, no Rio de Janeiro, na retomada dos treinos em meio à pandemia do coronavírus, após o período de férias coletivas.

Na última terça-feira, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, havia liberado apenas a realização de trabalhos na sala de fisioterapia aos jogadores dos clubes de futebol da cidade. O time defende, porém, que o decreto tem pontos subjetivos, o que permite a interpretação de que esses trabalhos não são ilegais.

##RECOMENDA##

Dos 30 jogadores do elenco do Flamengo, apenas dois ainda não treinam no Ninho do Urubu, pois ainda se recuperam do coronavírus. Eles estão divididos em grupos, sendo dois deles de dez atletas cada, que treinam em campos diferentes do CT - um outro, com oito jogadores, trabalha em horário diferente.

Na última terça-feira, em uma articulação política para a volta do futebol, o presidente do clube, Rodolfo Landim, o médico Márcio Tannure e o diretor de marketing do clube, Alexsander Santos, se reuniram em Brasília com o presidente da República, Jair Bolsonaro.

Além do Flamengo, apenas times de Minas Gerais e Rio Grande do Sul estão de volta aos treinos, mas com autorização governamental. Grêmio e Internacional estão na terceira semana de trabalhos. Já o Atlético-MG treina desde terça.

O último jogo do Flamengo ocorreu em 14 de março. Já sem a presença do público no Maracanã por causa das medidas de isolamento social, derrotou a Portuguesa por 2 a 1, em partida válida pela Taça Rio.

O Flamengo tenta, junto às autoridades cariocas, retornar aos treinamentos no dia 21 abril, quando se encerram as férias dos atletas. Mas a atitude recebeu duras críticas de um integrante do comitê gestor do Botafogo, nesta sexta-feira (17). 

A ideia do clube da Gávea era retornar aos treinos garantido as medidas de seguranças e até a testagem de Covid-19, mas, para Carlos Augusto Montenegro, a atitude pode colocar o Flamengo diante de uma tragédia, relembrando o incêndio no Ninho do Urubu que levou a óbito 10 jogadores da base do rubro-negro. 

##RECOMENDA##

"O Flamengo, que já passou por uma tragédia com os garotos, a respeito da qual foi colocado que houve uma falta de atenção, está querendo arriscar de novo a vida dos atletas? Que maluquice é essa de querer jogar? Por que o Carioca é a coisa mais importante do mundo?", questionou em entrevista ao Globo.

"Se fizer isso, ele (Flamengo) está preparando uma outra tragédia. Agora, calculada. A anterior foi o acaso. Ninguém imaginava. O Flamengo deveria ser, até pelo trauma, o primeiro a defender a quarentena, mostrando que aprendeu a lição", completou Carlos Augusto. 

Dirigentes e ex-diretores do Flamengo foram convocados, mas não compareceram nesta sexta-feira na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) para prestar depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura o incêndio no CT Ninho do Urubu, que matou 10 jogadores das categorias de base e feriu outros três em 8 de fevereiro de 2019.

O Flamengo informa ter enviado o diretor jurídico Antonio Cesar Dias Panza e o advogado William de Oliveira como representantes do clube. Entre os intimados estavam o ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello e o atual mandatário Rodolfo Landim. Nenhum dos dois apareceu.

##RECOMENDA##

O presidente da CPI então ordenou a condução coercitiva dos dirigentes. O pedido ainda tem de ser protocolado para começar a valer. Landim, Bandeira de Melo e demais membros da diretoria envolvidos no inquérito deverão prestar depoimento na próxima sexta-feira. Se não comparecerem, oficiais de Justiça irão buscá-los em casa.

Além dos dirigentes, familiares de três das vítimas também foram convocados para a CPI. O pai de Pablo Henrique, Wedson Candido de Matos, compareceu como representante das vítimas. A família de Wedson e de outros seis jogadores ainda não fizeram acordo com o Flamengo.

Até agora, o clube rubro-negro indenizou três famílias. O clube ainda negocia com os familiares de Arthur Vinícius, Bernardo Pisetta, Christian Esmério, Jorge Eduardo, Samuel Rosa e Pablo Herique. Com a proximidade da conclusão do inquérito policial que apura a responsabilidade pelo incêndio, a tendência é de que mais famílias acionem judicialmente o clube.

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Incêndios na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) deve ouvir nesta sexta-feira (7) familiares das vítimas do incêndio no Ninho do Urubu, centro de treinamento do Flamengo, e representantes das diretorias atual e anterior do time. A sessão ocorrerá às 11h, no Palácio Tiradentes.

A tragédia, que deixou 10 adolescentes mortos e três feridos, completa um ano amanhã (8) e pode ter novos desdobramentos judiciais a partir deste mês, com novas ações sendo apresentadas pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ), a Defensoria Pública e a defesa das famílias das vítimas.

##RECOMENDA##

A reparação ao núcleo familiar dos atletas vem sendo tratada na esfera cível, e as responsabilidades sobre o incêndio, na criminal, que depende de novos esclarecimentos pedidos pelo MP-RJ à Polícia Civil.

Oito pessoas haviam sido indiciadas pela polícia por homicídio e tentativa de homicídio com dolo eventual no fim do primeiro semestre do ano passado, antes de o MP pedir investigações adicionais à Polícia Civil, que foram concluídas em agosto. O caso voltou ao MP e continuou até dezembro, quando foram solicitadas à polícia informações sobre fatos novos adicionados ao inquérito.

O prazo para a polícia devolver novamente o caso à promotoria é de 45 dias e acaba neste mês. A partir das provas colhidas e reunidas em 11 volumes de inquérito, o Grupo de Atuação Especializada do Desporto e Defesa do Torcedor do MP-RJ deve oferecer denúncia criminal à Justiça. Assim como o MP-RJ, parte das famílias desses adolescentes também havia decidido aguardar a conclusão do inquérito para entrar na Justiça com ações individuais contra o Flamengo. Somente uma mãe de vítima processou o clube até agora.

O incêndio ocorreu durante a noite, no alojamento das categorias de base, que ficava em contêineres no próprio centro de treinamento. A maioria dos atletas conseguiu sair com vida, mas morreram naquele dia Athila Paixão, de 14 anos, Arthur Vinícius de Barros Silva Freitas, de 14 anos, Bernardo Pisetta, de 14 anos, Christian Esmério, de 15 anos, Gedson Santos, de 14 anos, Jorge Eduardo Santos, de 15 anos, Pablo Henrique da Silva, de 14 anos, Rykelmo de Souza Vianna, de 16 anos, Samuel Thomas Rosa, de 15 anos, e Vitor Isaías, de 15 anos.

No processo que corre na 1ª Vara Cível da Barra da Tijuca, o Ministério Público e a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro conseguiram uma decisão em dezembro que obriga o Flamengo a pagar R$ 10 mil mensais a cada uma das famílias de mortos ou feridos na tragédia. O Flamengo já vinha pagando R$ 5 mil às famílias antes da decisão. Segundo o defensor público Eduardo Chow, do Núcleo de Defesa do Consumidor, a ação em questão é cautelar, e a defensoria trabalha agora em um pedido definitivo de reparação, que vai definir um valor indenizatório ao final do processo. Além do processo coletivo, a defensoria também é responsável pela defesa da família de Samuel Thomas Rosa.

Defensoria e MP-RJ chegaram a elaborar um modelo coletivo de indenização logo após a tragédia, propondo valores mínimos para a reparação, que foram considerados razoáveis pelas famílias na época. A iniciativa teve como base o programa indenizatório das vítimas do voo 447 da Air France, que caiu no oceano em 2009, e os órgãos defenderam que o Flamengo pagasse uma indenização de ao menos R$ 2 milhões a cada um dos núcleos familiares das vítimas do incêndio. Além disso, deveria pagar uma pensão mensal de R$ 10 mil a cada uma dessas famílias, até a data em que as vítimas completem 45 anos.

Acordos

O clube recusou a proposta e partiu para a negociação individual com cada família. Nesse processo, o Flamengo conseguiu fechar acordos de indenização com todos os sobreviventes do incêndio e com as famílias de Athila, Gedson e Vitor Isaias. Além deles, o pai de Rykelmo aceitou a proposta de acordo com o clube, enquanto a mãe decidiu processar o Flamengo. Entre os demais, existe a expectativa de que a conclusão das investigações pode trazer dados novos para as ações. Em alguns casos, os pedidos que serão enviados aos tribunais já estão prontos, somente à espera do encerramento da apuração.

É o que pensa a defesa da família de Pablo, um dos mortos na tragédia. A advogada Mariju Maciel afirma que a proposta do clube foi considerada insuficiente, e que, como não houve espaço para negociar outro acordo, o ajuizamento de ação se tornou a única opção.

"Não há como entender que foi acidente. O Flamengo foi notificado 31 vezes das irregularidades", argumentou, referindo-se às multas aplicadas pela prefeitura do Rio de Janeiro por problemas no licenciamento do Ninho do Urubu, que não tinha alvará de funcionamento na época. Mariju afirma que a ação que vai propor já está pronta: "Pablo trazia não só o sonho dele, como o de toda uma família. Ele saiu de casa com total segurança e foi entregue ao Flamengo, com o pensamento de que estava sendo entregue a alguém que ia cuidar de um adolescente".

A advogada conta que a família de Pablo mora em Oliveira, no interior de Minas Gerais, e, segundo ela, todo o dinheiro recebido até agora está sendo gasto com tratamentos psiquiátricos e remédios, já que o pai da vítima, que era motorista, não tem mais condições de trabalhar desde a tragédia.  

Quem também já está com o pedido de indenização redigido para levar à Justiça é Paula Wolff, que responde pela defesa da família de Jorge Eduardo Santos. A advogada aguardou a conclusão do inquérito até este ano, mas decidiu que vai propor a ação em fevereiro. "Como já vai para um ano sem uma finalização, a gente optou por entrar logo de uma vez, porque o clube deixou claro que não está mais interessado em negociação. Querem as coisas nos termos deles".

A mesma decisão foi tomada por Arley Carvalho, advogado da família de Christian Esmério, que também deve protocolar a ação neste mês. "A gente esperava uma celeridade maior [nas investigações], devido à proporção do caso e por se tratar de crianças. Agora, a gente optou por não esperar mais", disse ele, acrescentando que o seu último contato com o Flamengo foi em agosto.

Flamengo reconhece responsabilidade

Em vídeo publicado no último sábado (2) em suas redes sociais, o Flamengo classifica a tragédia como a maior da história do clube e afirma reconhecer sua responsabilidade, independentemente de culpa. "Para nós do Flamengo, nos aparenta ter sido um lamentável acidente, mas temos responsabilidade como guardiões dos adolescentes", disse o vice-presidente geral e jurídico do Flamengo, Rodrigo Dunshee de Abranches. No vídeo, além de Dunshee, o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, e o CEO, Reinaldo Belotti, respondem a perguntas de uma jornalista da equipe de comunicação do clube durante cerca de 28 minutos. Rodolfo Landim contou na entrevista que pretende homenagear as vítimas do incêndio com uma área dedicada a eles na futura capela de São Judas Tadeu, padroeiro do clube, que será construída no Ninho do Urubu.

Sobre a indenização, os dirigentes do Flamengo afirmam que o valor aceito nos quatro acordos já firmados é o teto, estabelecido em conversas internas. "Entendemos ser muito alto e muito acima dos precedentes da Justiça brasileira. Esse valor não levou em consideração quesitos como a estatística de que esses meninos dificilmente, percentualmente, chegariam a ser titulares do Clube de Regatas do Flamengo", disse Dunshee, que afirma que o clube está tentando adequar a proposta às necessidades das famílias e está aberto à negociação, mas não pode dar tratamento diferente em relação às famílias que já aceitaram o acordo. "É a nossa oferta. A gente tem um limite".

Outra informação confirmada pelo Flamengo no vídeo publicado é que alguns sobreviventes da tragédia já foram dispensados das categorias de base do clube. Segundo Landim, o critério para a dispensa foi técnico. "Esse critério foi pura e simplesmente técnico, da área técnica do clube, na qual eu não vou intervir, porque não é o meu papel. Acho que eles estão livres, a partir desse momento, para procurar outros clubes para jogar. A gente até espera que eles tenham sucesso na vida profissional, se eles resolverem seguir a carreira. Ou então que busquem outra atividade. A gente entende que, ao sair daqui, eles saem muito mais preparados para a vida do que quando chegaram".

O clube também afirmou que, às vezes, suas tentativas de contato com as famílias vêm sendo barradas pelas defesas. Os advogados ouvidos pela Agência Brasil contestam essa versão e afirmam que o clube não tentou contato com seus clientes.

'Meu filho já era uma realidade'

O pai de Christian Esmério, Christiano de Oliveira, de 40 anos, também questiona a alegação de que as chances de seu filho se tornar profissional eram pequenas. Segundo o pai do atleta e o advogado que representa a família, Christian estava prestes a assinar seu primeiro contrato profissional, com uma reunião marcada para a semana seguinte ao incêndio.

"O meu filho não era promessa do Flamengo mais. O Flamengo já tinha ele como uma realidade. Um garoto de 15 anos que foi Seleção sub-15 e sub-17, foi três anos titular no Flamengo, campeão na base", lembra o pai do adolescente, que tinha quatro irmãos.

Flamenguista, Christiano conta que não tem mais a mesma paixão pelo clube e relata que sua família e as outras vêm sofrendo muito com acusações de oportunismo por parte de uma minoria de torcedores.

"Com certeza, essa pequena minoria que fala coisas sem sentido machuca, e ninguém sabe a dor de um pai que perde um filho. Não desejo isso para nenhum deles, que acabam sendo muito emotivos por ser flamenguistas, acabam falando besteira. Isso dói muito", diz ele, que conta sofrer mais pelo fato de sua família ser do Rio. "É o Flamengo que tem que responder pelo erro que cometeu com nossas crianças. Agora, a gente acabar sendo julgado, sendo chamado de oportunista e que queremos enriquecer por meio da morte dos nossos filhos? Isso não tem lógica".

Para o autônomo, o primeiro ano sem Christian será igual a todos os outros que viverá daqui para a frente. "Não vai ter um ano em que não vou ter saudade do meu filho. Até o final da minha vida vou estar sofrendo, com o coração despedaçado. Não é porque vai fazer um ano, mas por toda a minha vida".

A chuteira laranja florescente exposta na estante da sala da casa de três cômodos em Limeira, interior de São Paulo, é uma das lembranças mais carinhosas que Rosana Souza tem de seu filho Rykelmo Viana. O menino gravou o nome de sua mãe e deu a chuteira para ela como presente dias antes de morrer no incêndio de grandes proporções que atingiu o CT Ninho do Urubu e matou 10 jovens entre 14 e 16 anos em 8 de fevereiro de 2019. "Sinto revolta, angústia, tristeza. O Flamengo tinha garantia de que poderia ter lucro com eles. Depois do que aconteceu, isso não tem mais valor", reclamou Rosana.

A maior tragédia da história do Flamengo completa um ano neste sábado ainda sem o apontamento de culpados, com poucos acordos selados - três famílias e o pai de Rykelmo Viana aceitaram a proposta do clube - e várias reclamações em relação ao Flamengo por falta de diálogo. O incêndio foi provocado por um curto-circuito em um aparelho de ar-condicionado. O fogo consumiu o contêiner onde dormiam os atletas.

##RECOMENDA##

"O que custa, com tanta contratação, indenizar essas famílias? Será que eles não têm filhos, netos? Entregamos nossos filhos saudáveis, confiando que eles seriam bem cuidados. Os meninos não são animais. Tiveram seus sonhos interrompidos. Houve negligência do Flamengo", disparou a mãe de Rykelmo.

Seu filho começou a carreira na Portuguesa Santista. O menino habilidoso era volante e jogava com a camisa 8. No próximo dia 26, completaria 18 anos. "O Flamengo hoje é como uma fruta. Por fora, está bonita, mas por dentro está podre e essa podridão contamina o resto", disse a mulher, indignada.

Rosana trabalhava coletando roupas em um hospital em Limeira, mas teve de largar o serviço com o trauma provocado pela trágica morte de seu filho. "Na coleta de roupa, tinha de entrar em todos os lugares do hospital, inclusive na ala de queimados. Meu filho acabou morrendo carbonizado. Não pude nem olhar o caixão, isso me traumatizou", explicou Rosana, que tem mais duas filhas, uma delas deficiente, e hoje está desempregada.

Rosana foi a primeira a mover uma ação judicial contra o Flamengo. Ela pede na Justiça R$ 6,9 milhões, sendo R$ 3 milhões por danos morais e R$ 3,9 milhões de pensão, além da anulação do acordo do clube com o pai de Rykelmo, José Lopes Viana, de quem é divorciada.

O segundo a processar o clube será Cristiano Esmério, pai do ex-goleiro Christian. O advogado de Cristiano, Márcio Costa, confirmou ao Estado que finaliza os últimos detalhes para entrar com a ação judicial. O valor pedido gira em torno de R$ 9 milhões, incluindo indenização e pensão, e foi calculado com base na carreira dos últimos goleiros revelados pelo time - Júlio César, Marcelo Lomba, Paulo Vitor e César.

"O que me revolta é a falta de respeito e sensibilidade com nós, familiares, que perdemos nossos filhos por causa da irresponsabilidade do clube", disse Cristiano, que é organizador de eventos. Seu filho era um dos mais talentoso das promessas. O jovem, que morreu aos 15 anos, era observado por clubes europeus e vinha sendo convocado para as seleções de base.

A rotina de dor e sofrimento de Rosana e Cristiano é compartilhada por outras oito famílias, que passaram a conviver com problemas de saúde. "Hoje a minha vida, da minha mulher e da minha filha é viver à base de remédios. Remédio para controlar a pressão, a glicose, o colesterol, para dormir e aliviar a depressão", relatou Wedson Cândido, pai de Pablo Henrique, que morreu aos 14 anos.

O pai do garoto era caminhoneiro e teve de largar o trabalho, assim como a mãe, Sarah Cristina, que era cozinheira em um asilo. Os dois moram em Oliveira, pequena cidade de Minas Gerais localizada a 150 quilômetros de Belo Horizonte. A família tem forte ligação com o futebol, já que o pai, o tio e o avô de Pablo foram jogadores. Hoje, porém, jogar bola ou até mesmo assistir a um jogo não é mais prazeroso.

DOR DOBRADA - O calvário de Marília Barros é ainda maior, de modo que o incêndio que vitimou seu filho no CT do Flamengo não é a primeira tragédia com a qual tem de lidar. Ela ficou viúva depois que seu marido foi assassinado a tiros. Dez anos depois, perdeu seu único filho, Arthur Vinicius, batizado com esse nome em homenagem ao maior ídolo da história do Flamengo, Arthur Antunes Coimbra, o Zico.

"Não tenho mais um telefonema, um abraço do meu filho. O que ficaram foram as recordações boas, as lembranças, mas é uma dor que a gente sabe que nunca mais vai passar. Nunca mais vou ser feliz novamente. Por que eles não resolvem essa pendência, para acabar com isso?", questionou Marília, que tatuou no braço esquerdo a imagem do filho trajado com a camisa do Flamengo.

Arthur faria 15 anos justamente no dia em que foi enterrado em Volta Redonda, sua cidade natal. Foi para comemorar o aniversário do colega que vários meninos dormiram na concentração naquela noite. "Lembro que quando fui falar com o diretor da base, eu chorei. Eu disse que tinha medo de levar meu único filho para uma cidade violenta como o Rio. Essa era minha única preocupação. E olha só, no lugar onde meu filho deveria estar mais seguro foi onde ele perdeu a vida", recordou Marília. A mãe de Arthur desenvolveu ansiedade, teve alguns problemas de saúde e hoje se apega à fé para atenuar a angústia.

INSENSIBILIDADE - A principal reclamação das famílias no caso é quanto à inexistência de diálogo do Flamengo. Eles alegam que o clube só se mostrou presente nos dias seguintes à fatalidade. Depois disso, os dirigentes, dizem os familiares, sequer mantêm contato. Eles entendem que falta sensibilidade por parte do clube.

"O que faltou dessa diretoria é a sensibilidade. Se após o acidente tivessem ido à casa de cada familiar, já estaria tudo resolvido. Queremos um abraço, nos sentir acolhidos", pontuou Darlei Pisetta, pai do ex-goleiro Bernardo, morto aos 14 anos. "A gente já perdeu nosso maior bem que a gente tinha. Mexer com essa ferida é difícil. Até tentei uma aproximação, mas o clube não conversa com as famílias", acrescentou o gerente de compras, que reside em Indaial (SC).

A fala de Darlei é corroborada por Alba Valéria, mãe de Jorge Eduardo, que morreu aos 15 anos. "Não tenho nenhum contato com eles. Nunca recebemos um telefonema. Do presidente e dessa diretoria do Flamengo esperamos justiça e que eles sejam mais humanos", opinou a auxiliar de serviços de educação básica, moradora de Além Paraíba (MG).

O defensor público do Rio, Eduardo Chow, também criticou a conduta flamenguista. "É uma situação desigual, mesmo com as instituições públicas presentes, porque o Flamengo tem toda a estrutura e as famílias não. O clube tem uma postura de não dialogar. Não compreendemos as razões dessa postura intransigente", ressaltou. A Defensoria Pública do Rio representa a família de Samuel Rosa e também atua no caso na ação coletiva.

Procurado pelo Estado, o Flamengo não quis falar sobre o assunto. O clube preferiu se pronunciar a respeito das negociações por meio de um vídeo divulgado pela Fla TV em que os dirigentes rubro-negros responderam a perguntas previamente selecionadas.

"O clube esteve sempre aberto a negociação, mas, depois de muito discutir internamente, nós estabelecemos um teto. Nós estamos dispostos a dentro desse teto discutirmos com as famílias, tentarmos adaptar a cada necessidade específica de família, uma forma de atendê-los dentro daquele teto estabelecido pelo clube", afirmou o presidente Rodrigo Landim, na ocasião.

"Esse valor que nós oferecemos, três famílias e meia aceitaram. Não podemos tratar a tragédia de uma forma para uma família e de outra forma para outra família. O nosso valor oferecido, que nós consideramos satisfatório, e três famílias e meia também consideraram, é a nossa oferta. A gente tem um limite", disse o vice-jurídico, Rodrigo Dunshee.

A Polícia Civil do Rio de Janeiro indiciou nesta terça-feira (11) o ex-presidente do Flamengo Eduardo Bandeira de Mello pelas mortes dos 10 atletas de base do clube no incêndio que ocorreu no Centro de Treinamento (CT) "Ninho do Urubu".

No incêndio, ocorrido no dia 8 de fevereiro em um dos alojamentos do CT George Halal, popularmente conhecido como "Ninho do Urubu", morreram 10 atletas da categoria de base do Flamengo. Outros três sobreviveram.

##RECOMENDA##

Assinado pelo delegado Márcio Petra, da 42ª Delegacia de Polícia (Recreio), o inquérito também pede que outras sete pessoas sejam indiciadas por dolo eventual, entre elas engenheiros do clube e da empresa NHJ, responsável pelos contêiners, um técnico de refrigeração e um monitor do Flamengo.

De acordo com o portal "G1", o clube carioca ainda não foi informado e só se posicionará sobre o caso quando ter conhecimento do relatório.

Bandeira, de 66 anos, comandou o Flamengo entre 2013 e 2018. Sob sua gestão, o time conquistou dois Campeonatos Cariocas e uma Copa do Brasil.

Da Ansa

Três meses e meio depois da tragédia que matou dez jogadores da base do Flamengo no último dia 8 de fevereiro, quando um alojamento no Ninho do Urubu, o CT rubro-negro, foi consumido por um incêndio, o clube conseguiu na Justiça a liberação completa do local, que estava parcialmente interditado desde fevereiro.

Uma sentença assinada na última quinta-feira pelo juiz Pedro Henrique Alves, da 1ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso no Rio de Janeiro, homologou o Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com o Ministério Público (MP) e anulou um processo, aberto ainda em 2015 e motivado pelas condições do centro de treinamento, que continha uma série de irregularidades.

##RECOMENDA##

O Flamengo aguardava apenas a oficialização desta sentença, o que ocorreu nesta sexta-feira, três dias depois de ter entrado em acordo com o MP em uma audiência ocorrida na última terça. Anteriormente, em decisão tomada no dia 16 de abril, o mesmo juiz Pedro Henrique Alves havia liberado o uso parcial do Ninho do Urubu por jogadores das divisões de base do clube.

Naquela ocasião, a decisão do magistrado acatou pedido do MP do Rio, ainda que sob algumas condições a serem cumpridas, que foram as seguintes: disponibilização de assistência médica integral e oportuna em caso de incidente de urgência, realização de vistoria no local e de uma audiência, que foi justamente esta ocorrida na última terça.

Após a tragédia que matou dez jovens da base rubro-negra, o CT do Flamengo chegou a ficar interditado de 27 de fevereiro a 11 de março, mas o Flamengo conseguiu liberá-lo após a realização de vistorias e a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta junto ao Corpo de Bombeiros com medidas regularizadoras contra incêndio e pânico.

ALOJAMENTOS EM 'ÓTIMO PADRÃO' - Na sentença expedida na última quinta-feira, o magistrado Pedro Henrique Alves destacou que o Termo de Ajuste de Conduta homologado com o MP do Rio "assegura a observância dos direitos e garantias fundamentais das crianças/adolescentes que frequentam o CT do Flamengo" e enfatizou que este TAC foi garantido após uma vistoria feita por um comandante do Corpo de Bombeiros verificar que "os alojamentos estavam em ótimo padrão para funcionamento, não existindo nenhum óbice (impedimento), exceto documental - suprido".

No fim de sua sentença, o juiz avisou que, caso haja o descumprimento de algumas cláusulas do TAC que acaba de ser homologado, o Flamengo será punido com multa cuja aplicação já está prevista no acordo firmado com o MP. Uma das exigências a serem cumpridas pelo clube para que o CT seja mantido em funcionamento é a obrigatoriedade de manter dois monitores no CT durante a noite.

Vale lembrar que o incêndio que matou dez garotos da base do clube, em fevereiro, ocorreu de madrugada, quando eles dormiam no alojamento que foi consumido rapidamente pelo fogo. E a parte final da decisão expedida pelo magistrado informa que "está autorizada, sem restrições, a entrada e permanência de crianças e adolescentes no CT do Flamengo, assim como o pernoite dos atletas na estrutura ali existente".

No último dia 13 de maio, dois dos três sobreviventes do incêndio, Francisco Dyogo e Cauan, voltaram a treinar no Ninho do Urubu na primeira atividade que realizaram após a tragédia. Um terceiro sobrevivente foi Jonatha Ventura, que continua o seu processo de recuperação após ter 30% do seu corpo queimado.

Aquele dia, por sinal, foi marcado pelo retorno dos times da base do clube aos treinos no Ninho do Urubu. Naquela ocasião, as equipes sub-14, sub-15, sub-17 e sub-20 trabalharam nos campos 4 e 5 do CT, que anteriormente só vinham sendo utilizados pelo elenco profissional. E o time sub-16 só não trabalhou no local porque naquele 13 de maio disputou uma partida na Gávea, a sede social rubro-negra.

O juiz Pedro Henrique Alves, da 1ª Vara da Infância, Juventude e Idoso do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, liberou, nesta terça-feira, o uso parcial do Ninho do Urubu, o CT do Flamengo, por jogadores das divisões de base do clube.

A decisão do juiz acata pedido do Ministério Público do Rio, ainda que sob algumas condições. De qualquer forma, a liberação permitirá que as divisões de base do Flamengo voltem a treinar no CT, onde ocorreu incêndio que provocou a morte de dez jovens atletas, em fevereiro.

##RECOMENDA##

O magistrado definiu que os atletas das divisões de base do Flamengo não poderão pernoitar no Ninho do Urubu. "Libero parcialmente o Centro de Treinamento Ninho do Urubu, para ingresso dos menores integrantes das categorias de base do CRF, com vistas, exclusivamente, à realização de treinamentos e demais atividades esportivas e correlatas, conforme área limite de trânsito, bem como frequentar os vestiários, centro médico e restaurante", determina o juiz.

A decisão do magistrado tem três condicionantes. São elas: disponibilização de assistência médica integral e oportuna em caso de incidente de urgência, realização de vistoria no local e de uma audiência, marcada para 21 de maio.

Durante o período em que não podia utilizar o Ninho do Urubu, as divisões de base do Flamengo vinham treinando no CT do Audax, localizado em São João do Meriti, na região metropolitana do Rio.

O Ninho do Urubu chegou a ficar interditado de 27 de fevereiro a 11 de março, mas o Flamengo conseguiu liberá-lo após realização de vistorias e a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) junto ao Corpo de Bombeiros com medidas regularizadoras contra incêndio e pânico.

Quarenta e um dias após o incêndio que matou dez atletas no Centro de Treinamento George Helal, o Ninho do Urubu, advogados que representam sete famílias das vítimas reclamaram hoje (19) da falta de diálogo com a direção do clube sobre as indenizações. Confirmado oficialmente, o clube fechou acordo com apenas uma família. Não é revelado o nome do atleta nem o valor da indenização.

“O que a gente pleiteia? A gente quer sentar com o Flamengo, conversar dentro de parâmetros mínimos. O valor estipulado pelo MP [Ministério Público] como base para a gente iniciar uma conversa”, disse a advogada Mariju Maciel.

##RECOMENDA##

Ao lado dos advogados Arley Carvalho e Paula Wolff, que representam as famílias de Christian Esmério, Gedinho, Pablo, Jorge Eduardo, Arthur, Samuel e Rykelmo, eles reclamam que o clube não está negociando com as famílias.

“Quem foi o causador da tragédia? Quem foi o negligente na tragédia? Foi o Flamengo. Não foram os familiares. Quem deve ter por obrigação procurar é o Flamengo. E isto não tem sido feito. Não é só para negociar. Não está sendo feito nenhum movimento de carinho”, afirma o advogado Arley Carvalho.

Inicialmente, as famílias de todos os atletas mortos recusaram a indenização proposta pelo clube na reunião de mediação, realizada no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. A oferta inicial do clube foi entre R$ 300 mil e R$ 400 mil, além de um salário mínimo mensal por 10 anos para cada família dos atletas mortos.

Outro lado

Em nota, o Flamengo informou que fechou acordo com uma família e que vem negociando com outras três. O clube esclarece que a advogada do atleta Rykelmo chama-se Gisleine Nunes, e que já se reuniu com advogados do clube. “O Flamengo lembra que em reunião no Tribunal de Justiça, no dia 21/2/2019, os advogados não concordaram com os termos propostos e encerraram as conversas”, diz a nota.

O Flamengo também contesta a falta de apoio às famílias. “Nestes 39 dias, o clube procurou estar sempre ao lado das famílias dos atletas, dando suporte financeiro e psicológico. Todas as despesas com transporte, alimentação e hospedagem ficaram a cargo do clube, que não mediu esforços para atender a todas as demandas.”

O clube conclui, informando ter gasto R$ 222.580,30, em passagens aéreas e hospedagem de parentes, advogados e empresários dos jogadores. No texto diz que segue dando uma ajuda de custo mensal de R$ 5 mil para as nove famílias que ainda não acertaram as indenizações.

Segundo o Flamengo, em relação aos 16 atletas sobreviventes, o clube já fechou acordo com 13 famílias e está em negociação com as três restantes.

O incêndio que atingiu o CT do Flamengo, em 8 de fevereiro, no começo da manhã. Na ocasião, vários atletas dormiam. Investigações indicam que houve um curto-circuito no ar-condicionado do alojamento em que estavam os adolescentes provocando o fogo e, consequemente, o incêndio.

O boletim médico divulgado na tarde deste domingo (24) pela Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro informa que o paciente Jhonata Cruz Ventura encontra-se estável e com boa evolução clínica. Jhonata, de 15 anos, é um dos três atletas da categoria de base do Flamengo que sobreviveram ao incêndio que matou outros dez adolescentes, no Centro de Treinamento do clube, conhecido como Ninho do Urubu, em Vargem Grande, no último dia 8.

Os outros dois sobreviventes, Cauan Emanuel e Francisco Dyogo, já receberam alta.

##RECOMENDA##

O boletim da SMS informa ainda que Jhonata permanece tomando antibiótico e já anda no Centro de Tratamento de Queimados (CTQ). “Passou por novo banho com troca dos curativos específicos, apresentando boa cicatrização da maior parte das lesões. Na mão direita, porém, há sinais de infecção e cicatrização mais lenta”, informa o boletim. O atleta continua sob cuidados do CTQ.

O boletim é assinado pelo diretor médico da unidade, Carlos Alberto Jr., e pela chefe do Centro, Bianca Ohana.

Após a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, o Ministério Público Estadual e o Ministério Público do Trabalho informarem que não chegaram a um acordo com o Flamengo sobre o valor das indenizações a serem pagas às dez vítimas fatais do incêndio no Ninho do Urubu, o clube se pronunciou sobre o fim das negociações, rebatendo esses órgãos.

O Flamengo afirmou ter oferecido um valor de indenização acima dos padrões e vítimas em situações semelhantes e citou o incêndio na boate Kiss, ocorrido em 2013, em Santa Maria, no interior do Rio Grande do Sul, para tentar referendar a sua argumentação.

##RECOMENDA##

Por meio de nota oficial, o Flamengo informa que "teve o cuidado de oferecer valores maiores dos que estão sendo estipulados em casos similares, como, por exemplo, o incêndio da boate Kiss, ocorrido em 2013". O clube ressalta que "até hoje, vale lembrar, famílias não receberam a indenização".

Outro trecho do documento diz que "a atuação do Flamengo, no Brasil, é praticamente inédita, até onde se tem notícia". Por fim, o clube afirmou que instaurar um procedimento de mediação. "Diante disso, o Flamengo reitera o propósito de se antecipar e informa que vai instaurar procedimento de mediação no Núcleo de Mediação do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, coordenado pelo Desembargador Cesar Cury, e para o qual convidará as famílias - e deixando claro que as autoridades também serão convidadas", finaliza a nota.

Um incêndio deixou dez mortos, no CT do Flamengo, em Vargem Grande, zona oeste do Rio, em 8 de fevereiro. As vítimas foram atletas das categorias de base do clube, que dormiam no local. O incêndio também deixou três feridos, sendo que um segue internado em um hospital. Diante do impasse, as famílias das vítimas vão receber orientações dos órgãos públicos para buscar reparação pelas perdas do incêndio no Ninho do Urubu.

A diretoria do Flamengo pediu mais um dia de prazo para informar se aceita a contraproposta formulada conjuntamente pelo Ministério Público, pelo Ministério Público do Trabalho e pela Defensoria Pública para indenizar as vítimas da tragédia no Ninho do Urubu, em Vargem Grande. A informação foi divulgada em nota pela Defensoria. A decisão de pedir mais tempo foi tomada após reunião do Conselho Administrativo do clube, na tarde desta segunda-feira (18).

Os promotores e defensores públicos haviam feito uma contraproposta ao Flamengo, que ficou de dar uma resposta até o final do dia de hoje, mas pediu extensão do prazo para até o meio-dia de amanhã (19). Neste primeiro momento, são definidos apenas os parâmetros das indenizações. Os valores serão tratados em um segundo momento, junto com as famílias. Elas terão liberdade de aceitar o acordo, comprometendo-se a não mover novo processo contra o clube, ou rejeitar e seguir com um processo individual.

##RECOMENDA##

Os acordos serão diferenciados, abrangendo as famílias dos dez atletas mortos, levando em conta a projeção das carreiras profissionais que poderiam atingir, os três feridos e mesmo aqueles que conseguiram escapar do incêndio, mas que possam vir a ter algum tipo de reação ou mesmo trauma do incêndio no centro de treinamento do clube.

"Teve início nesta segunda-feira, em reunião realizada na sede da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, a negociação sobre os parâmetros para a indenização das vítimas e das famílias dos 10 jovens que morreram no incêndio no Ninho do Urubu. A Defensoria, em conjunto o Ministério Público e o Ministério Público do Trabalho, apresentou uma contraproposta aos valores apresentados pela diretoria do Flamengo. O clube ficou de dar resposta até o fim desta segunda. No entanto, pediu a extensão do prazo para amanhã, até as 12h”, informou a nota.

A Defensoria destacou ainda que, uma vez definidos os termos do acordo de indenização, o texto será apresentado às famílias e vítimas sobreviventes: “A Defensoria Pública informa que prestará assistência a todas as famílias que desejarem, seja para aderir ao acordo ou não”.

Prefeitura

O prefeito do Rio, Marcelo Crivella, afirmou hoje que, depois de várias multas aplicadas pelos fiscais da prefeitura, o Flamengo prometeu cumprir todas as exigências para obter o alvará de funcionamento do Centro de Treinamento Ninho do Urubu. Segundo a prefeitura, como havia sido indeferido o alvará, por falta de apresentação do certificado do Corpo de Bombeiros, iniciou-se o procedimento de emissão de multas e de edital de interdição do CT do Flamengo. Só neste ano, oito multas já foram aplicadas ao clube.

Uma semana depois do incêndio que matou dez atletas adolescentes da categoria de base do Flamengo, o Grupo de Força-Tarefa, criado para investigar as causas acidente no Centro de Treinamento George Helal, o Ninho do Urubu, que pertence ao clube, reúne-se nesta sexta-feira (15) para analisar os resultados da vistoria feita há três dias no local.

No último dia 12, integrantes do Corpo de Bombeiros, da prefeitura do Rio de Janeiro, da Polícia Civil, da Defensoria Pública e do Ministério Público estaduais, além do Ministério Público do Trabalho vistoriam o CT do Flamengo por mais de três horas. A imprensa não pôde acompanhar a vistoria.

##RECOMENDA##

A partir da vistoria, os especialistas pretendem identificar possíveis irregularidades no centro de treinamento do Flamengo. As condições das instalações e os serviços oferecidos no local também seriam analisados.

Depoimentos

Na 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes), que investiga a tragédia, são aguardados para hoje depoimentos relacionados ao incêndio. O mais esperado é do representante da empresa fabricante do material utilizado no alojamento onde dormiam os adolescentes no momento em que o fogo começou. 

Há dois dias, o juiz Pedro Henrique Alves, da 1ª Vara de Infância, da Juventude e do Idoso da capital, determinou a proibição de crianças e adolescentes no Ninho do Urubu. Os menores não poderão entrar, permanecer, nem participar de atividades do centro de treinamento até o julgamento do mérito da ação, proposta pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. 

O descumprimento da decisão pode gerar uma multa de R$ 10 milhões ao clube e de R$ 1 milhão ao presidente do Flamengo, Rodolfo Landim.

Irregularidade

A prefeitura do Rio informou, em nota, que a área de alojamento atingida pelo incêndio não consta do último projeto aprovado pela área de licenciamento cuja data é de 5 de abril de 2018. O documento diz ainda que “em nenhum pedido feito pelo Flamengo existe a presença de um alojamento na área em questão”.

Também não há registros do certificado de aprovação do Corpo de Bombeiros. A prefeitura multou o Flamengo mais de 30 vezes. Em reunião com representantes das mesmas entidades, o presidente do Flamengo, Rodolfo Landin, informou que os pernoites no CT do clube estão suspensos.

A tragédia ocorreu por volta das 5h, do último dia 8, momento em que a maioria dos jovens dormia. Três atletas conseguiram escapar com vida e foram hospitalizados com queimaduras e dificuldades para respirar.

 

Com base no comparativo de duas imagens do Centro de Treinamento Ninho do Urubu, do Flamengo, em Vargem Grande, Rio, onde o clube montou os contêineres para alojar 36 garotos das categorias inferiores, é possível constatar que o projeto original do CT não tinha espaço para aquele setor onde os meninos moravam.

A maquete do Ninho, divulgada antes mesmo de ele ser inaugurado, mostrava um jardim e um estacionamento bem cuidado para receber os convidados do Flamengo, profissionais de outras áreas e parceiros do clube.

##RECOMENDA##

Na gestão do presidente Eduardo Bandeira de Melo, quando o Ninho foi idealizado e entregue, uma vez que a atual administração assumiu em 1º de janeiro, como ela mesma ressaltou neste fim de semana, não havia alojamento em contêineres naquele setor. No dia no incêndio, ocorrido na sexta-feira passada, havia 24 meninos dormindo no local, dez morreram queimados e três precisaram de socorros médicos.

Nas imagens mostradas do incêndio, ainda com os contêineres em chamas, dava para ver as passagens impedidas na frente da porta do alojamento, com objetos que mais pareciam estar em um depósito de entulhos. A aparência antes do incêndio era mesmo essa.

No projeto original, nada disso deveria estar ali. Maquete e planta do Ninho do Urubu foram enviadas para a prefeitura do Rio em 2010, portanto, há mais de oito anos. Elas foram aprovadas em 2011 e depois modificadas dentro do CT, muito provavelmente sem mais vistorias de órgãos competentes do Estado.

O Ninho foi inaugurado em dezembro de 2018, já com o alojamento que pegou fogo na sexta-feira. Dirigentes do Flamengo informaram que o local era provisório e que ele seria desativado em breve.

O meio-campista Lucas Paquetá marcou neste domingo (10) seu primeiro gol com a camisa do Milan e na comemoração homenageou os 10 jovens mortos no centro de treinamento do Flamengo, o "Ninho do Urubu".

Aos 21 minutos, o brasileiro recebeu cruzamento na área e só empurrou a bola para a rede, marcando o segundo tento rossonero na partida contra o Cagliari. Após marcar, Paquetá tirou a braçadeira de luto, a beijou e a ergueu para o céu.

##RECOMENDA##

O meio-campista viveu dos nove aos 21 anos no "Ninho", até ser vendido para o Milan, onde já é titular absoluto. O incêndio da última sexta-feira (8) atingiu um contêiner que servia de alojamento para atletas da base do Flamengo.

Todos os 10 jovens já foram identificados e liberados para sepultamento.

Da Ansa

O incêndio no alojamento das categorias de base do Flamengo, sexta-feira, no Rio, colocou um prematuro ponto final em dez promissoras carreiras no futebol. Jovens de 14 a 16 anos de cinco Estados do Brasil moravam em contêineres, longe das suas famílias, mas ainda assim estavam realizados - jogavam em um grande clube do futebol brasileiro e sonhavam com o estrelato profissional.

O zagueiro Arthur Vinícius completaria 15 anos neste sábado, dia que seria de folga para ele celebrar a data com a família. Recém-promovido à categoria sub-17 do Flamengo, o defensor só não deixou o alojamento antes porque resolveu participar de uma partida no Maracanã que serviu como teste para aplicação do árbitro de vídeo (VAR) no Campeonato Carioca. Assim, ele entrou em campo e depois dormiu no alojamento.

##RECOMENDA##

O volante Felipe Melo, do Palmeiras, nasceu em Volta Redonda, no interior do Rio, a mesma cidade de Arthur, e era amigo de infância do pai do garoto, que foi assassinado há 11 anos em um crime cometido na frente do próprio filho. "Não acredito, que triste tudo isso, e pensar que amanhã (sábado) comemoraríamos o seu aniversário", escreveu o jogador do Palmeiras.

Uma das maiores apostas das categorias de base do Flamengo era o goleiro Christian Esmerio, de 15 anos, também morto. Monitorado por clubes do exterior, ele tinha passagens pelas categorias de base da seleção brasileira. Exibia com orgulho aos colegas uma foto tirada no fim do ano passado com o técnico Tite. O encontro foi na Granja Comary. Da mesma idade que ele, o lateral-direito Samuel Rosa era de São João de Meriti, onde morava em uma comunidade mais carente com a família.

Durante a tarde de sexta-feira, o trabalho de identificação dos corpos no Instituto Médico Legal (IML) foi acompanhado à distância pelas famílias. Os parentes não tiveram forças para ir ao local. O primeiro familiar a aparecer foi um jogador do Vasco. O zagueiro Werley chegou ao IML no fim da tarde para cuidar dos trâmites do corpo do primo Pablo Henrique da Silva, de 14 anos, que também sonhava em ser zagueiro como ele.

O Flamengo enviou ao IML seus funcionários. Alguns levavam pastas com documentos e exames médicos para auxiliar no trabalho de reconhecimento, feito principalmente com análises das impressões digitais e arcadas dentárias.

"O Flamengo está dando todo suporte na parte psicológica e médica aos familiares", explicou o médico da equipe, João Marcelo Amorim. Os corpos foram transportados por três diferentes veículos, que chegaram ao IML às 12h20, 14h e 14h45.

A presença dos familiares será crucial para tratar da liberação dos corpos nos próximos dias. São aguardados parentes do Sergipe, Santa Catarina e interior de São Paulo para cuidar do trâmite. Eles estavam em viagem. Quem tinha a origem mais distante era o sergipano Áthila Paixão, de 14 anos. Natural da cidade de Lagarto, sonhava em ser um atacante tão bom quanto seu conterrâneo, Diego Costa, do Atlético de Madrid.

O paulista Gedson Beltrão tinha 14 anos e estava no alojamento há dois dias. O garoto havia acabado de deixar Curitiba para se apresentar ao novo clube. Junto com ele, morreram dois amigos que se conheciam há anos, tinham a mesma idade e se transferiram do Athletico-PR para o Flamengo em um curto espaço de tempo: Vitor Isaías e Bernardo Pisetta.

Para o lateral-esquerdo Jorge Eduardo, poder morar no Flamengo já era um sonho. Com 15 anos, ele havia se mudado para o Ninho do Urubu há um ano, quando completou idade permitida para poder fazer do alojamento sua casa. Mineiro da cidade de Além-Paraíba, ele se destacou no futsal e chegou ao Rio graças à indicação de olheiros.

O mais velho das vítimas tinha nome em homenagem a um craque do futebol mundial. O volante Rykelmo Viana, de 16 anos, foi batizado como referência ao ex-meia argentino Juan Román Riquelme e era de Limeira (SP). Apelidado de Bolívia, jogou na Portuguesa Santista antes de ser descoberto pelo Flamengo, onde estava há três anos. Faria aniversário no próximo dia 26, Nas redes sociais, costumava publicar fotos com atletas do elenco profissional do clube.

A 5ª Promotoria de Justiça da Infância e da Juventude, do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), instaurou nessa sexta-feira (8) procedimento administrativo para apurar responsabilidades do Flamengo no tratamento aos adolescentes das categorias de base no centro de treinamento do clube, conhecido como Ninho do Urubu, na Vargem Grande, zona oeste do Rio. Ontem (8), um incêndio no final da madrugada provocou a morte de 10 jovens atletas do clube, que dormiam nos alojamentos.

Além disso, o MP oficiou o presidente do clube,  Rodolfo Landin, para que informe, em um prazo máximo de 48 horas, os nomes dos atletas que estavam alojados no Centro de Treinamento, se as famílias dos atletas estão recebendo assistência material e psicológica e se o clube está viabilizando a vinda dos familiares dos atletas que residem fora do estado.

##RECOMENDA##

Na área criminal, a investigação está a cargo da 42ª Delegacia de Polícia (Recreio dos Bandeirantes) e conta com o apoio do Grupo de Atuação Especializada do Desporto e Defesa do Torcedor.

Ação Civil Pública

A 5ª Promotoria de Justiça da Infância e da Juventude já havia ajuizado, em 23 de março de 2015, ação civil pública com pedido de tutela antecipada contra o Clube de Regatas do Flamengo, em que solicitou a adoção de medidas para correção de diversas irregularidades constatadas no tratamento dado aos atletas adolescentes residentes no Ninho do Urubu bem como melhorias na respectiva instalação da entidade, sob pena de fechamento do local.

Na ação, o MP pediu que fossem observadas pelo clube todas as peculiaridades inerentes ao serviço de acolhimento de crianças e adolescentes, desde o acompanhamento pedagógico, social, psicológico e médico, passando pela adequação das instalações do alojamento.

Páginas

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando