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O norueguês Jon Fosse, laureado com o Prêmio Nobel de Literatura, é um escritor multifacetado para quem o silêncio, às vezes, tem mais impacto que as palavras.

Romancista, ensaísta, poeta, escritor de livros infantis e, sobretudo, dramaturgo, Fosse nasceu em 29 de setembro de 1959 em Haugesund, na costa oeste da Noruega, que abriga alguns dos fiordes mais emblemáticos do país.

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Ele cresceu em uma família que seguia o pietismo, uma forma rígida de luteranismo. Um de seus avôs era quacre, pacifista e esquerdista.

Fosse estabeleceu distância das crenças e se declarou ateu na juventude. O escritor foi membro do grupo "Rocking Chair", onde tocava guitarra, antes de se converter ao catolicismo em 2013.

Depois de estudar Literatura, estreou em 1983 com "Vermelho, Negro", romance em que um jovem estabelece um ajuste de contas com o pietismo.

Seu estilo é caracterizado por avanços e recuos no tempo, além de pontos de vista diferentes, quase uma marca registrada.

Fosse também é conhecido por "Naustet" (1989), muito elogiado pela crítica, e "Melancolia" I e II (1995-96), outro de seus grandes trabalhos.

Sua obra mais recente, "Septologia" - sete capítulos distribuídos em três volumes - narra o encontro de um homem com outra versão de si mesmo para apresentar questões existenciais, com uma pontuação esparsa e imprevisível.

As obras de Fosse rompem com as regras clássicas, reduzem a trama ao mínimo e usam uma linguagem simples, sem adornos, em que a chave da compreensão está no ritmo, na musicalidade e nas pausas.

- O teatro como necessidade -

Fosse conquistou fama mundial com suas obras para o teatro.

Sem uma renda regular, ele concordou em escrever o começo de uma peça no início dos anos 1990. Mais tarde, decidiu concluir a obra. A peça, 'Nokon kjem til å komme' ("Alguém vai chegar"), o coloca no mapa do teatro europeu.

Após um intervalo de 10 anos, Fosse voltou ao gênero em 2021 e surpreendeu com a obra "Sterk Vind".

A editora norueguesa Samlaget informa que seus textos foram traduzidos para quase 50 idiomas e que suas obras já foram encenadas mais de 1.000 vezes ao redor do mundo.

O dramaturgo foi casado três vezes e tem seis filhos.

Seus personagens não falam muito. As frases se repetem e permanecem em suspense. Os silêncios são fundamentais e demonstram que, mesmo juntas, as pessoas continuam sozinhas.

"Não escrevo sobre personagens no sentido tradicional da palavra. Escrevo sobre a humanidade", declarou Fosse ao jornal francês Le Monde em 2003.

Lista dos vencedores do Prêmio Nobel de Literatura dos últimos 15 anos. O vencedor da edição 2023 é o dramaturgo norueguês Jon Fosse.

2023: Jon Fosse (Noruega)

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2022: Annie Ernaux (França)

2021: Abdulrazak Gurnah (Tanzânia, Reino Unido)

2020: Louise Gluck (EUA)

2019: Peter Handke (Áustria)

2018: Olga Tokarczuk (Polônia)

2017: Kazuo Ishiguro (Reino Unido)

2016: Bob Dylan (EU)

2015: Svetlana Alexievich (Belarus)

2014: Patrick Modiano (França)

2013: Alice Munro (Canadá)

2012: Mo Yan (China)

2011: Tomas Transtromer (Suécia)

2010: Mario Vargas Llosa (Peru)

2009: Herta Mueller (Alemanha)

O prêmio Nobel de Literatura 2023 foi concedido nesta quinta-feira (5) ao dramaturgo norueguês Jon Fosse por suas obras "inovadoras", anunciou o júri.

Fosse, 64 anos, foi premiado "por suas obras de teatro e prosa inovadoras que dão voz ao indizível", destacou a Academia Sueca.

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Nascido em 29 de setembro de 1959 na cidade de Haugesund, Fosse é um escritor multifacetado e pouco acessível para o grande público. O norueguês, no entanto, é um dos autores vivos cujas peças de teatro mais são encenadas na Europa.

Comparado com frequência a Samuel Beckett, a obra de Fosse é minimalista, baseada em uma linguagem simples que transmite sua mensagem através do ritmo, da melodia e do silêncio.

Fosse ganhou fama como dramaturgo com 'Nokon kjem til å komme' ("Alguém vai chegar").

Quando foi informado sobre o prêmio, "ele estava dirigindo pelo campo, em direção ao fiorde ao norte de Bergen, na Noruega", disse Mats Malm, secretário permanente da Academia Sueca, após o anúncio.

"Tivemos a oportunidade de começar a falar sobre questões práticas e a semana do Nobel em dezembro", acrescentou.

A escritora francesa Annie Ernaux, conhecida por seus romances sobre classe e gênero baseados em sua experiência, foi anunciada nesta quinta-feira (6) como a vencedora do Prêmio Nobel de Literatura.

A escritora, de 82 anos, foi premiada pela "coragem e acuidade clínica com que descobre as raízes, os distanciamentos e as restrições coletivas da memória pessoal", explicou o júri do Nobel.

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Ela receberá o prêmio de 10 milhões de coroas (pouco mais mais de 900.000 dólares).

No ano passado, o prêmio foi atribuído ao britânico de origem tanzaniana Abdulrazak Gurnah, por sua obra sobre os refugiados, o colonialismo e o racismo.

Ernaux, que era um nome citado há muitos anos entre possíveis vencedores do Nobel, é a 17ª mulher a receber a honra, entre os 119 laureados desde a criação do prêmio em 1901.

Professora universitária de Literatura, Annie Ernaux escreveu quase 20 livros, nos quais aborda o peso da dominação das classes sociais e a paixão do amor, dois temas que marcaram sua trajetória.

Entre suas obras estão "Os Armários Vazios" (que não foi lançado no Brasil, 1974), "O Acontecimento" (2000) e "Os Anos" (2008).

Elas representam metade da humanidade, mas apenas 16 dos 117 Prêmios Nobel de Literatura foram atribuídos a mulheres, após a vitória da americana Louise Glück na edição 2020.

Lista de laureadas pela Academia Sueca desde a criação do prêmio em 1901:

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2020: Louise Glück (Estados Unidos)

2018: Olga Tokarczuk (Polônia)

2015: Svetlana Alexiévich (Belarus)

2013: Alice Munro (Canadá)

2009: Herta Müller (Alemanha)

2007: Doris Lessing (Grã-Bretanha)

2004: Elfriede Jelinek (Áustria)

1996: Wislawa Szymborska (Polônia)

1993: Toni Morrison (Estados Unidos)

1991: Nadine Gordimer (África do Sul)

1966: Nelly Sachs (Suécia)

1945: Gabriela Mistral (Chile)

1938: Pearl Buck (Estados Unidos)

1928: Sigrid Undset (Noruega)

1926: Grazia Deledda (Itália)

1909: Selma Lagerlöf (Suécia)

A poeta americana Louise Glück, de 77 anos, é a vencedora do Prêmio Nobel de Literatura de 2020 - anunciou a Academia Sueca nesta quinta-feira (8), reconhecendo uma carreira iniciada nos anos 1960.

Glück foi premiada por sua "inconfundível voz poética, que, com uma beleza austera, torna a existência individual universal", afirmou a instituição.

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A infância e a vida em família, a relação estreita entre os pais e os irmãos e irmãs são alguns dos temas abordados em sua obra.

"Averno" (2006) é a sua coleção magistral de poemas, uma interpretação visionária do mito da descida ao inferno de Perséfone, raptada por Hades, deus da morte. Outro trabalho marcante é sua mais recente compilação, "Faithful and Virtuous Night" (Noite Fiel e Virtuosa), de 2014.

Dois anos depois do prêmio para a polonesa Olga Tokarczuk, Louise Glück é a 16ª mulher premiada com o Nobel de Literatura, em um ano de forte presença feminina.

Com três premiadas nas categorias científicas do Nobel, esta temporada pode bater o recorde de mulheres laureadas (cinco em 2009). Dois prêmios ainda serão anunciados: o da Paz, na sexta-feira (9), e o de Economia, na segunda (12).

Após uma série de escândalos e de polêmicas que abalaram o prêmio literário mais famoso do mundo nos últimos anos, a escolha de 2020 da Academia Sueca era especialmente imprevisível, segundo os críticos.

O prêmio de 2019 foi concedido ao escritor austríaco Peter Handke, mas suas opiniões favoráveis ao falecido líder sérvio Slobodan Milosevic provocaram grande polêmica.

Há três anos, um escândalo sexual abalou a Academia Sueca, o que provocou o adiamento do anúncio do prêmio de 2018 para 2019.

Peter Handke recebeu o prêmio Nobel de Literatura nesta terça-feira (10) em Estocolmo, onde manifestantes e personalidades denunciaram as posições pró-Sérvia do escritor austríaco durante as guerras da antiga Iugoslávia nos anos 1990.

Ao anunciar o prêmio ao romancista austríaco de origem eslovena, em outubro, a Academia Sueca provocou indignação nos Bálcãs e em vários países pelo apoio de Handke ao falecido homem forte de Belgrado, Slobodan Milosevic.

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Até o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, disse estar indignado com o prêmio Nobel que, aos seus olhos, "não tem valor". "Entregar o Prêmio Nobel de Literatura no dia dos direitos humanos a um personagem que nega o genocídio na Bósnia-Herzegovina é como recompensar violações dos direitos humanos", afirmou em depoimento à televisão turca.

A polêmica quase ofuscou o anúncio da vencedora de 2018, a polonesa Olga Tokarczuk, psicóloga de formação e ativista de esquerda, ecologista e vegetariana, que se tornou a quinta mulher a receber o prêmio desde sua criação, em 1901.

Aos 77 anos, Peter Handke recebeu o prêmio das mãos do rei Carl XVI Gustaf durante uma cerimônia formal com os vencedores das outras categorias, exceto o Nobel da Paz, que foi dado em Oslo ao primeiro-ministro etíope Abiy Ahmed, pela conduzir a reconciliação entre seu país e Eritreia.

- Boicotes e pedidos de demissão -

A Academia Sueca decidiu premiar Handke por sua obra que, com "engenho linguístico, explorou a periferia e a singularidade da experiência humana", elogiado como "um dos escritores mais influentes da Europa desde a Segunda Guerra Mundial".

A instituição que sempre defendeu que trabalha para que a política não influencie sua atividade, atuou para tentar reconstituir sua credibilidade nos últimos dois anos, após o escândalo de agressões sexuais que provocou sua implosão em 2017. O caso provocou o adiamento do anúncio do prêmio de 2018, que finalmente foi atribuído a Olga Tokarczuk.

"Handke não é um escritor político", insistiu o presidente do comitê Nobel de Literatura, Anders Olsson.

Mas a escolha de Peter Handke não parece ter acalmado a situação, muito pelo contrário.

Uma integrante do comitê Nobel de Literatura anunciou sua renúncia no início do mês por causa da vitória do austríaco. E na sexta-feira, horas antes de Peter Handke conceder uma entrevista coletiva, o eminente acadêmico Peter Englund anunciou que não compareceria à cerimônia de entrega do prêmio.

"Não participarei na semana do Nobel este ano. Celebrar o prêmio Nobel de Peter Handke seria pura hipocrisia da minha parte", anunciou Peter Englund, historiador e escritor, no jornal Dagens Nyheter.

Secretário perpétuo da Academia Sueca entre 2009 e 2015, Englund cobriu os conflitos dos anos 1990 nos Bálcãs para jornais suecos.

Os embaixadores do Kosovo, Albânia, Turquia e Croácia também anunciaram um boicote à cerimônia.

Em 1996, um ano após o fim dos conflitos na Bósnia e na Croácia, Peter Handke publicou um panfleto, "Justiça para a Sérbia", que gerou muita polêmica. Em 2006, ele compareceu ao funeral de Milosevic, que faleceu antes de ouvir a sentença por crimes de guerra no Tribunal Penal Internacional.

- Manifestações em Estocolmo -

Após a cerimônia de premiação, entre 500 e mil pessoas se reuniram no centro de Estocolmo para uma manifestação contra a escolha de Handke, exibindo bandeiras da Bósnia e usando pulseiras brancas, como as que os não-sérvios eram obrigados a portar na Bósnia em 1992.

Premiar Handke foi "uma péssima decisão", disse à AFP Ernada Osmic, refugiada da Bósnia que chegou à Suécia em 1995 com a filha.

"Ele tem o direito de escrever o que quiser. O problema é que ele está sendo homenageado por seus textos", reagiu a organizadora de uma das manifestações, Teufika Sabanovic, entrevistada pela AFP.

Em uma entrevista coletiva na sexta-feira passada, o escritor queria evitar controvérsias e disse que gosta de "literatura, não opiniões".

Mas, numa entrevista ao semanário alemão Die Zeit, em novembro, Handke defendeu seu controverso apoio à Sérvia. "Nenhuma das palavras que escrevi sobre a Iugoslávia é de denúncia, nem uma. É literatura", disse.

Um incansável caminhante em busca da linguagem, o austríaco Peter Handke, coroado Prêmio Nobel de Literatura nesta quinta-feira (10), é um escritor prolífico lutando contra as convenções, ao preço de grandes polêmicas, principalmente em razão de suas posições pró-sérvias.

O Nobel de Literatura? "Deve ser excluído. É uma falsa canonização" que "não traz nada ao leitor", disse uma vez o escritor de 76 anos, silhueta elegante, cabelos grisalhos jogados para trás e olhos penetrantes por trás de óculos finos.

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No mundo editorial, muitos foram os que pensaram que o prêmio lhe escaparia para sempre, apesar de um trabalho de renome mundial, devido ao seu engajamento durante a guerra na ex-Iugoslávia.

De origem eslovena por parte materna, o escritor nascido em 6 de dezembro de 1942 em Caríntia (sul da Áustria), aparece como um dos poucos intelectuais ocidentais pró-sérvios.

No outono de 1995, alguns meses após o massacre de Srebrenica, viajou para a Sérvia e relatou suas impressões em um livro polêmico, "Eine winterliche Reise zu den Flüssen Donau, Save, Morawa und Drina oder Gerechtigkeit für Serbien" ("Uma viagem de inverno aos rios Danúbio, Save, Morava e Drina", em tradução livre).

Em 1999, recebeu um importante prêmio literário alemão, o Büchner, e deixou a Igreja Católica para protestar contra os ataques da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em Belgrado, evocando um "novo Auschwitz".

Sete anos depois, causou alvoroço ao participar do funeral do ex-presidente iugoslavo Slobodan Milosevic, acusado de crimes contra a Humanidade e genocídio.

Ele é forçado a desistir de um prêmio que lhe seria concedido pela cidade de Düsseldorf, e a Comédie-Française cancela uma de suas peças.

Intelectuais, incluindo sua compatriota Elfriede Jelinek, Nobel da Literatura em 2004, saíram em sua defesa. Por um tempo, contudo, a polêmica oculta o trabalho de Peter Handke.

- "A força de ser universal" -

O autor austríaco, que assinou mais de 80 obras, é, no entanto, um dos autores de língua alemã mais lidos e interpretados do mundo.

"Eu tenho o sonho e a força para ser universal", resumiu Handke durante a recepção na Alemanha de um prêmio de Literatura europeia, dizendo ao júri: "Não tenham medo de mim!".

Ele também foi recompensado no Festival de Cinema de Veneza no mesmo ano, onde seu amigo Wim Wenders apresentou "Os belos dias de Aranjuez", de um de seus roteiros. "Sem ele, eu poderia ter-me tornado um pintor", disse então o cineasta alemão.

Feito cidadão honorário da cidade de Belgrado, em fevereiro de 2015, Peter Handke nunca renegou seu compromisso pró-sérvio.

Premiado com o prêmio Ibsen de teatro em 2014, dedicou parte do dinheiro à construção de uma piscina pública em um enclave sérvio do Kosovo.

"Pai, perdoai-os jamais", disse ele no ano passado, durante uma visita a Belgrado, parafraseando a Bíblia para criticar os líderes ocidentais dos anos 1990. Ele os aponta como responsáveis pela guerra.

Profundamente marcado aos 15 anos pela leitura de "Sob o Sol de Satã", de Georges Bernanos, ele publicou seu primeiro romance, "Die Hornissen", em 1966.

Ex-estudante de Direito, foi influenciado pelos franceses Claude Simon e Alain Robbe-Grillet.

"Sempre corri o risco de cair na autoanálise. O 'Nouveau roman' me ajudou a exteriorizar, a olhar", explicou, referindo-se a um movimento literário francês dos anos 1950.

No mesmo ano, fez sucesso com sua primeira peça, "Der Jasager und der Neinsager", onde confronta insultos ao público, mensagens de desordem e críticas radicais à literatura engajada.

O autor, então com 24 anos, ataca os princípios estéticos do "Grupo 47", que domina as letras alemãs do período Pós-Guerra, opondo-se com uma rejeição radical ao uso pré-estabelecido da língua. O tema estará no centro de sua obra.

Mestre da prosa, desenvolve um estilo nítido e intenso, dizendo "não buscar o pensamento, mas a sensação".

"Die Angst des Tormanns beim Elfmeter" ("A ansiedade do goleiro na hora do pênalti", em tradução livre) em 1970, depois "Wunschloses Unglück" ("O infortúnio indiferente", em tradução livre) em 1972, réquiem dedicado à mãe, trazem-lhe notoriedade.

A migração e a solidão pontuam um trabalho abundante: 40 romances, ensaios e coletâneas, 15 peças de teatro, além de roteiros.

Desde 1991, Peter Handke vive em Chaville, um subúrbio de Paris, em uma casa abrigada por cedros à margem de uma floresta, onde se inspira.

Prêmio Nobel de Literatura 2018, Olga Tokarczuk, considerada a romancista mais talentosa de sua geração na Polônia, transporta o leitor em uma busca pela verdade através de universos policromáticos, misturando com delicadeza o real e o metafísico.

Politicamente engajada à esquerda, ecologista e vegetariana, a escritora de 57 anos, cuja cabeça é coberta de dreadlocks, não hesita em criticar a política do atual governo nacionalista conservador de Direita e Justiça (PiS).

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Nascida em 29 de janeiro de 1962, em uma família de professores em Sulechow, no oeste da Polônia, é autora de uma dúzia de livros.

Formada em Psicologia na Universidade de Varsóvia, estudou os trabalhos de Carl Jung. Por um tempo, trabalhou como psicoterapeuta em Walbrzych (sudoeste) e lançou-se à escrita. Publicou então uma coletânea de poemas, antes de embarcar na prosa.

Após o sucesso de seus primeiros livros, passou a se dedicar inteiramente às letras e se mudou para a cidade de Krajanow, nas montanhas Sudeten (sudoeste). Hoje, seus livros são best-sellers na Polônia, traduzidos para mais de 25 idiomas, incluindo catalão e chinês. Muitas de suas obras foram levadas aos palcos e telas.

Sua obra, extremamente variada, vai de um conto filosófico "Zielone dzieci" ("As crianças verdes", em tradução livre, 2016), a um romance policial ecologista engajado e metafísico "Prowadź swój pług przez kości umarłych" ("Guie seu arado sobre os ossos dos mortos", em tradução livre, 2010), passando por um romance histórico de 900 páginas "Ksiegi Jakubowe" ("Escrituras de Jacó", em tradução livre, 2014).

No Brasil, foi publicado em 2014 apenas um título em português da escritora, "Os Vagantes" ("Bieguni").

- Enorme quebra-cabeça -

Em seu universo poético, o racional se mistura com o irracional. Seu mundo está em movimento perpétuo, sem ponto fixo, com personagens cujas biografias e características se entrelaçam e, como um quebra-cabeça gigante, criam uma imagem geral esplêndida.

Tudo é descrito em uma linguagem rica, precisa e poética, atenta aos detalhes.

"Olga é uma mística na busca perpétua da verdade, verdade que só pode ser alcançada em movimento, transgredindo as fronteiras. Todas as formas, instituições e idiomas concertados é a morte", explica à AFP uma de suas amigas, Kinga Dunin, também escritora e crítica literária.

A própria Tokarczuk se descreve como uma pessoa sem biografia: "Eu não possuo uma biografia muito clara, que possa contar de uma maneira interessante. Sou composta desses personagens que saíram da minha cabeça, que eu inventei. Sou composta por todos, tenho uma biografia com muitas molduras, enorme", afirmou a escritora em entrevista ao Instituto Polonês do Livro.

Lançado em 2014, "Ksiegi Jakubowe" conquistou o mais prestigioso prêmio literário polonês Nike, o segundo de sua carreira.

O livro se tornou best-seller na Polônia, mas também foi alvo de fortes ataques dos círculos nacionalistas.

Após uma entrevista à televisão pública em 2015, onde denunciou o mito de uma Polônia tolerante e aberta, ela recebeu ameaças de morte por "difamar o bom nome da Polônia e dos poloneses".

Durante uma semana, sua editora contratou um segurança para ela.

O mesmo livro rendeu - a ela e a seu tradutor sueco - a primeira edição do Prêmio Literário Kulturhuset Stadsteatern de Estocolmo.

"Sinto como se tivesse o Nobel", disse na ocasião.

Olga Tokarczuk também é coautora do roteiro do filme "Spoor", dirigido por Agnieszka Holland e inspirado em seu romance "Prowadź swój pług przez kości umarłyc". Lançado em fevereiro de 2017, o filme ganhou o Prêmio Alfred Bauer na Berlinale no mesmo ano e representou a Polônia na disputa pelo Oscar de melhor filme estrangeiro.

Olga Tokarczuk tem um filho adulto. Ela divide seu tempo entre seu apartamento em Wroclaw, sua casa no campo e as muitas viagens.

Lista dos 15 últimos vencedores do Prêmio Nobel de Literatura, atribuído nesta quinta-feira à polonesa Olga Tokarczuk pela edição 2018 e o austríaco Peter Handke por 2019.

2019: Peter Handke (Áustria)

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2018: Olga Tokarczuk (Polônia)

2017: Kazuo Ishiguro (Reino Unido)

2016: Bob Dylan (Estados Unidos)

2015: Svetlana Alexievich (Belarus)

2014: Patrick Modiano (França)

2013: Alice Munro (Canadá)

2012: Mo Yan (China)

2011: Tomas Tranströmer (Suécia)

2010: Mario Vargas Llosa (Peru)

2009: Herta Müller (Alemanha)

2008: Jean-Marie Gustave Le Clezio (França)

2007: Doris Lessing (Reino Unido)

2006: Orhan Pamuk (Turquia)

2005: Harold Pinter (Reino Unido)

A Academia Sueca anunciou nesta quinta-feira (10) a polonesa Olga Tokarczuk e o austríaco Peter Handke como vencedores do prêmio Nobel de Literatura em 2018 e 2019, respectivamente.

Os ganhadores das duas edições da honraria foram divulgados juntos porque não houve Nobel de Literatura no ano passado devido a um escândalo de estupro e conflito de interesses.

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Tokarczuk, 57 anos, foi escolhida por ter uma "imaginação narrativa" que, aliada a uma "paixão enciclopédica", representa o "cruzamento de fronteiras como uma forma de vida". Já vencedora do Man Booker Prize com o romance "Flights" ("Voos", em tradução livre), a polonesa é conhecida pelo tom mítico de sua escrita.

Em "Flights", ela faz reflexões sobre a vida de nômade com histórias que vão do século 17 ao 21. Entre os casos relatados no romance estão o da irmã de Frédéric Chopin, que levou o coração do músico de Paris a Varsóvia, o do anatomista holandês que descobriu o tendão de Aquiles e de um menino nigeriano que era mascote da corte imperial austríaca e foi empalhado após sua morte.

Já Handke, 76, foi laureado por causa de seu "trabalho influente que, com ingenuidade linguística, explorou a periferia e a especificidade da experiência humana". Ele é considerado um dos mais importantes escritores contemporâneos de língua alemã.

"A arte peculiar de Peter Handke é a extraordinária atenção às paisagens e à presença material do mundo, fazendo do cinema e da pintura duas de suas maiores fontes de inspiração," disse o comitê do Nobel de Literatura.

O austríaco também ganhou notoriedade por criticar os bombardeios da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na Sérvia, no fim dos anos 1990, e discursou no funeral de Slobodan Milosevic, ex-presidente da Iugoslávia acusado de crimes de guerra e contra a humanidade na Bosnia, na Croácia e no Kosovo.

Tokarczuk e Handke dividirão um prêmio de 9 milhões de coroas suecas, equivalentes a cerca de R$ 3,7 milhões.

Escândalo

A edição de 2018 do Nobel de Literatura foi adiada para 2019 após diversas renúncias no conselho da Academia Sueca em função de denúncias contra o fotógrafo Jean-Claude Arnault, marido de uma das integrantes do comitê na época, Katarina Frostenson.

Arnault foi condenado no ano passado por dois estupros cometidos em 2011 e é acusado de ter vazado o nome do vencedor do Nobel de Literatura em sete ocasiões. Além disso, seu clube literário recebia patrocínio da Academia Sueca, evidenciando um conflito de interesses com Frostenson.

Essa foi a primeira vez desde 1943, na época da Segunda Guerra, que o Nobel de Literatura não foi entregue. Entre as mudanças promovidas pela Academia para 2019 estão a possibilidade de renúncia dos atuais membros e de eleição de novos integrantes - até então, as nomeações eram vitalícias.

Da Ansa

O prêmio Nobel de Literatura de 2010, o peruano Mario Vargas Llosa, disse neste sábado que há na Venezuela uma ditadura totalitária que leva seus cidadãos a buscar a própria sobrevivência.

"O trágico caso da Venezuela é que agora não há eleições livres, não há liberdade de expressão, agora uma ditadura totalitária foi estabelecida", disse Vargas Llosa em entrevista ao jornal peruano La República.

O escritor de 82 anos disse que o modelo venezuelano não é uma fórmula que traga prosperidade, justiça ou que sirva de exemplo na América Latina.

"Você acha que alguém pode pensar que o modelo venezuelano é a fórmula para atrair prosperidade, justiça? O terrível fracasso daquela sociedade, aquela sociedade potencialmente tão rica que hoje é um país miserável, aquela sociedade potencialmente tão rica que hoje é um país miserável que está jogando os pobres venezuelanos nas estradas em busca de sobrevivência", disse o escritor da cidade de Arequipa, no sul do Peru.

"Os venezuelanos estão pagando terrivelmente por esse erro", disse o autor de "A cidade e os cachorros" e de "Conversa no Catedral".

O escritor também falou sobre os casos de corrupção nos países sul-americanos.

"Temos uma democracia muito corrupta, vivenciamos a corrupção brasileira muito diretamente através da Odebrecht e através de Lula", disse Llosa, após criticar duramente o ex-presidente e amigo Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018) por ter indultado a prisão por corrupção do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000).

"Sua imagem política não tem salvação, ele será como um presidente que desapontou", disse ele, que pediu aos peruanos para evitar a escolha de um congresso fujimorista nas próximas eleições de 2021.

"Fizemos o terrível erro, nas recentes eleições, de escolher um parlamento fujimorista, sabendo que o fujimorismo está relacionado à corrupção", acrescentou.

Vargas Llosa participa de um evento literário em Arequipa com 130 escritores.

A Academia Sueca anunciou nesta sexta-feira (4) que o Prêmio Nobel de Literatura não será entregue neste ano em decorrência do escândalo sexual envolvendo a entidade. Esta é a primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial que o prêmio não será concedido.

"O Prêmio Nobel 2018 de Literatura será designado e anunciado ao mesmo tempo que o premiado de 2019", diz o comunicado da instituição.

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    A decisão foi tomada durante a reunião semanal realizada em Estocolmo e foi motivada pelo escândalo de assédio sexual, bem como relacionada a crimes financeiros.

De acordo com a Academia, será necessário destinar um tempo maior para recuperar a confiança e "reputação" pública na Academia antes de que o próximo vencedor do prêmio seja anunciado. "Os membros ativos da Academia Sueca estão, é claro, plenamente conscientes de que a atual crise de confiança representa um importante desafio em longo prazo e requer um trabalho sólido de reforma", acrescenta o secretário permanente da Academia, Anders Olsson, citado na nota.

Em 19 de abril, outro membro da Academia anunciou sua renúncia, elevando para seis o número total de membros que deixaram a instituição nas últimas semanas, em meio a um escândalo que abalou a imagem da entidade.

As divisões no interior da Academia Sueca foram evidenciadas depois que três membros entregarem seus cargos por conta da não expulsão de Katarina Frostenson, acusada de revelar ao marido, o fotógrafo Jean Claude Arnault, os nomes de ganhadores do Nobel de Literatura, violando a regra de confidencialidade.

Além disso, ela também é suspeita de corrupção por ser sócia do clube literário do esposo, que recebia apoio financeiro da Academia. Arnault, por sua vez, foi alvo de 18 acusações por assédio, sendo que uma das vítimas relatou ter sido estuprada.

Os casos teriam acontecido, inclusive, em apartamentos cedidos pela entidade.

Da Ansa

Após meses de suspense, Bob Dylan recebe neste fim de semana, em Estocolmo, o Nobel de Literatura, das mãos dos acadêmicos suecos, que o homenagearam por sua poesia.

Como Thomas Mann, Albert Camus, Samuel Beckett, Gabriel García Márquez e Doris Lessing, o cantor, 75, entrará no panteão dos homens e mulheres das letras premiados pela Academia sueca desde 1901.

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O júri sueco entregará o diploma e a medalha a Dylan durante uma reunião cujo local e hora não foram divulgados.

O mistério é ainda maior em torno do discurso de recepção, que também poderia ser uma música. Ele deve ser pronunciado por todos os premiados até seis meses após a cerimônia de entrega; neste caso, até 10 de junho.

"A Academia Sueca e Bob Dylan concordaram em se reunir neste fim de semana. A reunião será pequena e íntima, e nenhum meio de comunicação estará presente, apenas Bob Dylan e membros da Academia, respeitando a vontade de Dylan", publicou a secretária permanente da Academia, Sara Danius, em seu blog.

"Não será pronunciado nenhum discurso Nobel. A Academia tem razões para pensar que será enviada uma versão gravada posteriormente", explicou.

O discurso é o único requisito para se receber as 8 milhões de coroas suecas (870.000 dólares) que acompanham o prêmio.

Até o momento, a única certeza é de que Dylan fará dois shows em Estocolmo, hoje e amanhã, para iniciar uma turnê europeia por ocasião do lançamento de "Triplicate", um álbum triplo de versões de Frank Sinatra.

No dia 10 de dezembro, no tradicional banquete do Nobel na capital sueca, Dylan transmitiu o discurso de agradecimento, lido pela embaixadora americana na Suécia, no qual admitiu a surpresa por ver seu nome ao lado do de autores como Rudyard Kipling, Albert Camus ou Ernest Hemingway.

A atitude de Dylan desde o anúncio do prêmio, especialmente sua insistência em não falar nada a respeito do assunto durante um show em Las Vegas no dia em que a Academia revelou seu nome como vencedor do Nobel de Literatura, confundiu algumas pessoas, mas está em sintonia com seu caráter discreto.

Para Martin Nyström, crítico musical do jornal "Dagens Nyheter", os ausentes nem sempre se equivocam. "O músico tem uma agenda inacreditável. É um artista, escreve livros, textos, música e está em turnê com sua banda sem parar", comentou o jornalista.

Nesta sexta-feira, o cantor de Minnesota (norte dos Estados Unidos) lançou o álbum "Triplicate", em que homenageia a idade de ouro da composição americana com versões de clássicos dos anos 1940 e 1950.

"Eu não nasci dissidente", diz a nova Prêmio Nobel de Literatura, a bielorrussa Svetlana Alexijevich, em uma entrevista publicada em um livro que reúne a maior parte de seu trabalho, publicado nesta quarta-feira na França.

"Como todas as estudantes soviéticas, eu lia a literatura autorizada, que incluía um monte de histórias de guerra em um tom muito mais vitorioso e heroico", conta a escritora questionada pelo filósofo Michel Eltchaninoff.

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Esta entrevista acompanha três das maiores obras de Svetlana Alexijevich publicadas em um volume único da coleção thesaurus da editora Actes Sud.

Trata-se de três "romances de voz" que combinam os mais terríveis testemunhos e os aspectos mais íntimos das duas tragédias do século soviético: a Segunda Guerra Mundial, contada a partir da perspectiva das mulheres que vivenciaram a experiência ("La guerre n'a pas un visage de femme") e daqueles que eram apenas crianças na época ("Derniers témoins") e o desastre nuclear de Chernobyl ("La supplication").

Ao se concentrar no cotidiano, nos detalhes prosaicos que fazem uma vida, a romancista compõe polifonias singulares distantes da doxa patriótica, heroica e sacrificial dos livros lidos durante a sua infância.

Como em cada um de seus livros, ele restitui as emoções humanas em toda a sua complexidade e mostra, por trás do espelho, o grande afresco trágico do século soviético.

"Eu não estou tentando produzir um documento, mas esculpir a imagem de uma época", explica a escritora em sua entrevista. "É por isso que eu levo entre sete e dez anos para escrever cada livro", diz ela.

"Eu não sou jornalista. Não permaneço no nível da informação, mas exploro a vida das pessoas, sua compreensão da vida", acrescenta. "Também não faço o trabalho de um historiador, porque tudo começa para mim no ponto de término da tarefa do historiador: o que se passava pela cabeça das pessoas após a batalha de Stalingrado ou após a explosão de Chernobyl? Eu não escrevo a história dos fatos, mas a história das almas", insiste.

A vencedora do Nobel de Literatura de 2015, a bielorrussa Svetlana Alexievich, retrata o império soviético de Chernobyl ao Afeganistão, em livros que não são encontrados em seu país, que não perdoa sua visão do "homo sovieticus", incapaz de ser livre.

A obra da ex-jornalista de 67 anos é rica em depoimentos ouvidos com paciência ao longo do tempo e já foi traduzida para várias idiomas. No entanto, nenhum livro da bielorrussa foi publicado no Brasil até hoje.

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"O fim do homem vermelho ou a era do desencanto", um retrato sem concessões, embora compassivo, do "homo sovieticus" mais de 20 anos depois da implosão do império da URSS, recebeu em 2013 o prêmio Medicis de ensaio na França.

"Conheço bem aquele 'homem vermelho': sou eu, as pessoas que me cercam, meus pais", explicou em uma ocasião.

"Não desapareceu. E o adeus será muito demorado", disse em outra oportunidade.

Por este motivo, ela diz que tem muito respeito pelos ucranianos que, com seus protestos, expulsaram do poder o ex-presidente pró-Rússia Viktor Yanukovich em 2014.

"Hoje o modelo para todos é a Ucrânia. Seu desejo de romper por completo com o passado é digno de respeito", opinou a vencedora do Nobel sobre o país devastado pelo conflito entre separatistas pró-Rússia e as forças ucranianas.

"Penso que o império ainda não desapareceu. E, pessoalmente, tenho a inquietante impressão de que não desaparecerá sem derramamento de sangue".

Nascida em 31 de maio de 1948 no oeste da Ucrânia em uma família de professores rurais, formada em Jornalismo pela Universidade de Minsk, Svetlana Alexievich trabalhou nos anos 1970 na editoria de cartas à redação do "Selskaya Gazeta", o jornal das fazendas coletivas soviéticas.

Na época ela começou a registrar em seu gravador os relatos de mulheres que lutaram durante a Segunda Guerra Mundial. Inspiraram seu primeiro livro "War’s Unwomanly Face", algo como a "A Guerra não tem uma face feminina".

"Tudo o que sabíamos da guerra foi contado pelos homens. Por quê as mulheres que suportaram este mundo absolutamente masculino não defenderam sua história, suas palavras e seus sentimentos?", questionou a escritora.

Censura

Ela foi acusada de "romper a imagem heroica da mulher soviética" e seu livro teve que esperar pela Perestroika, a reforma do sistema aplicada por Mikhail Gorbachev, para ser publicado em 1985. Com a obra, alcançou fama em toda a União Soviética e no exterior.

Desde então, sempre recorreu ao mesmo método para seus romances documentais, entrevistando durante muitos anos pessoas com experiências dramáticas: soldados soviéticos que retornaram da guerra no Afeganistão ("Os caixões de zinco") ou suicidas ("Encantados com a morte").

"Vivemos entre carrascos e vítimas, os carrascos são difíceis de encontrar. As vítimas são nossa sociedade, e são muito numerosas", declarou Alexievich à AFP sobre os protagonistas de seus livros.

Após a catástrofe nuclear de Chernobyl em 1986, a escritora trabalhou durante mais de 10 anos em "Vozes de Chernobyl: A História Oral de um Desastre Nuclear" (1997). O livro inclui depoimentos de milhares de homens enviados para trabalhar na central e outras vítimas da tragédia.

Belarus, presidida por Alexander Lukashenko desde 1994, um dos países mais afetados pelas consequências de Chernobyl, onde o tema continua sendo tabu, proibiu o livro.

Segundo a vencedora do Nobel, sua obra "não agrada" o presidente.

"Vivemos sob uma ditadura, há opositores na prisão, a sociedade tem medo e, ao mesmo tempo, é uma vulgar sociedade de consumo. As pessoas não se interessam pela política. É um período difícil", resumiu a escritora na entrevista que concedeu à AFP em 2013.

Os intelectuais bielorrussos também não parecem apreciar as opiniões de Svetlana, que reivindica a "cultura russa" da qual eles desejam distinguir-se e, ao mesmo tempo, passa a maior parte do tempo na Europa ocidental. Sua obra acaba por provocar uma mescla de atração e repulsa no país.

A bielorrussa Svetlana Alexievich é a vencedora do prêmio Nobel de Literatura em 2015, por sua "obra polifônica, memorial do sofrimento e da coragem em nossa época", anunciou a Academia Sueca.

A jornalista e escritora, de 67 anos, é a 14ª mulher premiada com o Nobel de Literatura desde sua criação, em 1901.

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"Acabo de informá-la", afirmou Sara Danius, secretária da Academia Sueca, ao canal público SVT. "Ela disse apenas uma palavra: Fantástico!", completou.

"É uma grande escritora, que encontrou novos caminhos literários", disse Danius.

Svetlana Alexievich, que era apontada como favorita há alguns anos, é autora de livros impressionantes sobre a catástrofe de Chernobyl ou a guerra do Afeganistão, proibidos em seu país, que não a perdoa pelo retrato que fez do "homo sovieticus", um ser incapaz de ser livre.

Sua obra, composta com o auxílio de múltiplos testemunhos, foi traduzida para vários idiomas. Mas nenhum livro da vencedora do Nobel foi publicado no Brasil até hoje.

Alguns de seus livros foram adaptados para o teatro na França e Alemanha, onde recebeu o prestigioso prêmio da Paz na Feira Literária Frankfurt em 2013.

Alexievich sucede o francês Patrick Modiano, vencedor do Nobel de Literatura em 2014, e receberá uma recompensa de oito milhões de coroas suecas (860.000 euros, 973.000 dólares).

O rei da Suécia, Carl XVI Gustaf, entregou nesta quarta-feira, em Estocolmo, o Nobel de Literatura ao escritor francês Patrick Modiano, e o prêmio de Economia ao também francês Jean Tirole.

"Estes dois prêmios Nobel são um orgulho para a França. É muito importante que o governo esteja presente nesta cerimônia", disse à AFP a secretária francesa de Pesquisa, Geneviève Fioraso.

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"A cerimônia que acaba de ocorrer me emocionou profundamente e é um testemunho da generosidade e do carinho com o qual me receberam. Jamais esquecerei", declarou Modiano.

"Tenho a sensação de que me colocaram no panteão dos heróis da minha juventude, que me fizeram querer escrever.

Tirole declarou: "nossa incapacidade de prever a crise financeira (de 2008) é uma poderosa lembrança do pecado do orgulho". "Há muita coisa para aprender, e o mundo muda muito rápido, talvez mais rápido que nossa compreensão".

O Nobel de Química foi entregue aos americanos Eric Betzig e William Moerner e à alemã Stefan Hell, enquanto o prêmio de Medicina foi para o pesquisador britânico-americano John O'Keefe e para os noruegueses May-Britt e Edvard I. Moser.

Após a cerimônia de entrega dos prêmios, ocorreu um banquete para 1.250 convidados na prefeitura de Estocolmo, com a presença da família real.

Segue abaixo a lista dos vencedores nos últimos 15 anos do Prêmio Nobel de Literatura, atribuído nesta quinta-feira, em Estocolmo, ao francês Patrick Modiano:

2014: Patrick Modiano (França)

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2013: Alice Munro (Canadá)

2012: Mo Yan (China)

2011: Tomas Tranströmer (Suécia)

2010: Mario Vargas Llosa (Peru)

2009: Herta Müller (Alemanha)

2008: Jean-Marie Gustave Le Clezio (França)

2007: Doris Lessing (Grã-Bretanha)

2006: Orhan Pamuk (Turquia)

2005: Harold Pinter (Grã-Bretanha)

2004: Elfriede Jelinek (Áustria)

2003: J.M. Coetzee (África do Sul)

2002: Imre Kertész (Hungria)

2001: V.S. Naipaul (Grã-Bretanha)

2000: Gao Xingjian (França)

O Prêmio Nobel de Literatura terá seu resultado divulgado, nesta quinta-feira (9), pelo secretário da Academia Sueca, Peter Englund. Mesmo com os habituais favoritos ao título, o resultado é imprevisível.

Foram indicados 210 nomes e 36 deles aparecem pela primeira vez entre os possíveis premiados. Publicações internacionais e críticos suecos indicam potenciais surpresas deste ano, como o dramaturgo norueguês Jon Fosse, a escritora e jornalista investigativa Svetlana Alexievich e a nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. Todos possíveis ganhadores do prêmio de 8 milhões de coroas suecas, equivalente a US$ 1,1 milhão.

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Escritores antigos continuam na expectativa pelo prêmio. Entre os que permanecem entre os possíveis ganhadores, o israelense Amos Oz, Philip Roth e Milan Kundera. O jornal inglês The Guardian já fez duas apostas: para a publicação o párea está entre o japonês Haruki Murakami (possível ganhador já há algumas edições) e o queniano Ngugi wa Thiong’o.

O japonês é sucesso de público e crítica, com verdadeiros best-sellers e se consagrou como o nome mais importante da literatura japonesa conteporânea. Já Ngugi wa Thiong’o é pouco conhecido e não possui nenhum título publicado no Brasil. 

As tradicionais casas de leilão britânicas já deram seu aval. Inclusive a inglesa Ladbrokes, que põe Murakami como o principal nome.

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