Tópicos | Orson Welles

Neste mês de junho, completam-se 80 anos desde que “Cidadão Kane” (1941) chegou aos cinemas de todo o mundo. A figura principal por trás do projeto foi Orson Welles (1915 – 1985),  responsável pela direção e também por interpretar o protagonista da trama, Charles Foster Kane. O longa-metragem chegou a figurar entre os filmes de maior repercussão da época, foi indicado em nove categorias, mas ganhou apenas uma: melhor roteiro original.

De acordo com Philippe Leão, crítico de cinema e fundador do site Cineplot, existem elementos que se destacam no filme por estarem relacionados à forma como é organizada a narrativa. “São técnicas empregadas que já tinham sido usadas anteriormente, mas Cidadão Kane as emprega de maneira tal, que se estabelece como um cinema moderno e não mais o cinema clássico, como antes”. Leão ressalta que estes elementos são perceptíveis na comparação entre o primeiro e o segundo atos.

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O magnata Charles Foster Kane é apresentado no começo do filme em uma estrutura clássica. Já na segunda etapa do longa, o espectador passa a observar a história desse homem a partir de uma variação de elipses temporais, sem falar em outras estratégias narrativas.  “O uso do claro e escuro, os posicionamentos de câmera, angulação e profundidade de campo como uso de valor narrativo. Tudo isso já havia sido utilizado antes na história do cinema, mas Cidadão Kane passa a usar de maneira diferente, de forma narratológica”, explica o crítico de cinema.

Para Leão, a obra de Orson Welles demarcou a virada do cinema na era clássica para a era moderna e foi um dos responsáveis por contribuir com a Nouvelle Vague na França, movimento artístico que aconteceu entre as décadas de 1950 e 1960. “Cidadão Kane é esse lugar, que além de modificar as estruturas do próprio cinema na forma de contar histórias, fortifica a ideia do cinema de autor, que seria tão debatido nos anos seguintes”, conta.

Apesar desta contribuição histórica do filme para o cinema, o crítico comenta que “Cidadão Kane” foi um filme resgatado e mais valorizado ao longo do tempo. Precisou de uma averiguação temporal para que o filme fosse consolidado como um dos maiores do cinema de todos os tempos. “Quando a gente vê um filme que muda tanto as estruturas da forma, geralmente a gente não enxerga como um filme fruto de seu tempo, ele nos parece um filme muito diferente, e isso às vezes acaba sendo ruim para quem assiste na época”.

Segundo Leão, este foi o caso de “Um Corpo Que Cai” (1958), filme do cineasta Alfred Hitchcock, que na época de lançamento sofreu diversas críticas e hoje é considerado um dos maiores filmes da história. “Precisou também desse distanciamento temporal para perceber a importância desse filme. É mais ou menos o que aconteceu com Cidadão Kane, guardadas as devidas proporções”. O crítico acredita que o filme de Orson Welles extrapola os limites do seu tempo, no que se diz respeito às discussões que a obra é capaz de propor, em termos de conteúdo, de técnicas e de linguagem.

Como recomendação de outro filme que apresenta elementos estruturais semelhantes a “Cidadão Kane”, o crítico de cinema indica “Os Renegados” (1985), filme de Agnès Varda. “É um filme bastante interessante para perceber isso. O longa conta a história de uma mulher, a partir do ponto de vista de outras pessoas também. A diferença é que Cidadão Kane se trata de um magnata, um homem do capitalismo. Enquanto a personagem de "Os Renegados", Mona, é uma mulher pobre, viajante pelas estradas, que está buscando um rumo para a vida. A estrutura narrativa, ou seja, o como contar, é o mesmo”, ressalta.

 

Após divulgação das novas regras para competir no Festival de Cannes, a Netflix optou por não exibir seus filmes na mostra. A empresa tinha selecionado diversos filmes, incluindo um documentário sobre Orson Welles, mas a empresa retirou todos os seus filmes de Cannes por medo de retaliações após se recusar a exibir seus filmes nos cinemas franceses.

Em entrevista à Variety, Ted Sarandos, o executivo da empresa de streaming, disse que temia por seus filmes e cineastas serem desrespeitados durante o festival francês: “Nós queremos que nossos filmes em um território justo com todos os cineastas. Existe um risco de irmos até lá e nossos filmes e cineastas serem desrespeitados no festival. Eu não acho que seria bom pra gente ir lá”, opinou.

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Sarandos também aproveitou para comentar as novas regras de Cannes para “manter a integridade” do festival, entre elas proibir tirar selfies no tapete vermelho:” Não é uma coincidência que Thierry também baniu selfies [no tapete vermelho] esse ano. Eu não sei quais outros avanços em mídia Thierry vai querer endereçar”. Thierry Fremau é o presidente do festival.

A partir de 2018, o Festival de Cannes adotou uma política de inclusão que proíbe filmes não exibidos em circuito comercial de participarem das competições. A Netflix poderia exibir seus filmes, mas não para concorrer à Palma de Ouro e outros prêmios do júri.

Orson Welles disse certa vez que um grande filme não depende necessariamente de direção nem montagem. Parece estranho que o ator e diretor do cultuado Cidadão Kane tenha afirmado isso, mas, às vezes, reiterou Welles, um grande filme não precisa mais do que de uma grande história, e de um grande ator. A prova é A Mulher do Padeiro, que a Cult Classics está lançando em DVD. Adaptado de Jean le Bleu, de Jean Giono, o filme conta a história do padeiro e sua mulher. Ela o abandona, ele entra numa crise profunda e não consegue mais produzir o pão. A comunidade ressente-se e se une para trazer a mulher de volta.

No Dicionário de Cinema, Jean Tulard diz que Marcel Pagnol teve tudo - pois é ele o diretor de La Femme du Boulanger. Na literatura e no cinema, Pagnol foi um autor completo - teve a glória, dinheiro, fama, grandes tiragens e a Academia Francesa. Ele nasceu com o cinema, em 1895, e morreu em 1974. Desde cedo atraído pelas imagens em movimento, criou a revista Cahiers du Film, em que atacava o cinema mudo. Nada sai da câmera, disse numa entrevista aos Cahiers du Cinéma. O que é preciso é um diretor que saiba escolher e orientar os atores. Orson Welles o amava por isso.

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Pagnol irrompe na tela com o advento do sonoro. Seu cinema se beneficia do regionalismo, das paisagens da Provence e, principalmente, do sotaque meridional. César, Topaze, A Mulher do Padeiro, La Fille du Puisatier, Topaze (de novo), Manon des Sources. Pagnol amava os atores e o teatro, e como diz Tulard muitas vezes rompe com as convenções para arejar seus filmes. Fala-se muito em seus filmes, mas ele consegue evitar o verborrágico. O mérito tem de ser compartilhado com Raimu, Charpin, Fernandel. Privado de seus atores míticos - Raimu morreu nos anos 1940, aureolado como o maior e mais popular ator francês de seu tempo -, o cinema de Pagnol começa a decepcionar.

Mas ele nunca saiu de cena. Em 1990, Yves Robert realiza um díptico - A Glória de Meu Pai e O Castelo de Minha Mãe. Pouco antes, em meados dos anos 1980, Claude Berri adaptou Jean de Florette e A Vingança de Manon (Manon de Sources). Yves Montand é César, Gérard Depardieu faz Jean e Daniel Auteuil é um inesquecível Ugolin. Esse último tem tentado reativar o encanto do linguajar de Pagnol. Para sua estreia na direção, Auteuil escolher A Filha do Pai/La Fille du Puisatier. E ele adapta agora a trilogia marselhesa do autor - Marius e Fanny já estão em pleno processo. César, mais caro, vai esperar pelo resultado dos dois primeiros na bilheteria.

A trama do filme de Pagnol, que depois virou peça, se passa num vilarejo no sul da França que não tem muita sorte com seus padeiros. O anterior se enforcou quando Aimable chega para substituí-lo. Aimable não tem esse nome por acaso, é o mais amável dos homens e talvez seja por isso que sua mulher o abandona para ficar com o pastor fogoso. Ela se chama Aurélie e é interpretada por Ginette Leclerc. A releitura do texto original talvez valha a Pagnol, via Giono, uma acusação de machismo. Tradicionalmente, ele sempre foi o autor da França profunda, ligado à terra e a valores essenciais.

Essa ausência de sofisticação se manifesta em diálogos e situações veristas, e a tal ponto que Pagnol, como o próprio Jean Renoir dos anos 1930 - de obras como La Chienne e Toni -, é considerado precursor do movimento neorrealista, que só surgiu no cinema italiano na década seguinte. É interessante que todos esses diretores tenham tido atores fetiches. O de Renoir, foi Michel Simon. O de Pagnol, Raimu, pseudônimo de Jules Auguste Muraire. Ator de teatro, Raimu protagonizou, ou coprotagonizou a maioria dos grandes filmes do diretor. Seu registro tragicômico o leva a limites de intensidade cômica e dramática na mesma cena, e era isso que fascinava Orson Welles.

Consagrado no rádio e no teatro, Orson Welles chegou a Hollywood para provar - se é que ainda era necessário - que o cinema era uma arte autônoma. Pagnol não acreditava nessa autonomia. Existem cenas que são antológicas. As tentativas de diálogo de Aimable com a mulher, no fim de noite, na cama, quando ela foge com evasivas e a conspiração em marcha, quando o marquês, o professor e os demais notáveis do lugarejo definem sua estratégia para devolver a trânsfuga Aurélie ao marido. O importante é que essa história simples não era ingênua. Na França dos anos 1930, um pouco por influência da Espanha, que vivera sua Guerra Civil, a Frente Popular coloca o socialista Léon Blum no poder e ele, mesmo se distanciando dos republicanos espanhóis, promove importantes mudanças sociais. Blum e o Front Populaire permanecem no poder até 1938, que não por acaso é o ano de A Mulher do Padeiro. O movimento popular, mesmo apartidário - pelo pão de cada dia -, não deixa de ter uma dimensão política. Dois anos mais tarde, lançado nos EUA, La Femme du Boulanger foi o melhor filme estrangeiro para o The New York Times e o National Board of Review. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Um arquivo de filmes da Itália anunciou a descoberta de um filme perdido de Orson Welles. Trata-se de um filme mudo rodado por Welles em 1938, pouco antes de ir a Hollywood dirigir Cidadão Kane.

Giuliana Puppin, do arquivo italiano Cineteca del Friuli, disse hoje tratar-se de uma comédia intitulada Too Much Johnson. Ela contou que a película foi encontrada em um galpão em Pordenone, região nordeste da Itália, onde passou anos guardada antes de ser identificada. Não se sabe como o filme foi parar ali.

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O filme foi identificado há cerca de três anos por Ciro Giorgini, um especialista italiano na obra de Orson Welles. "É como encontrar uma importante obra de arte perdida, é como encontrar um Caravaggio que ninguém sabia existir", comparou ele.

O filme vai estrear em outubro no festival de cinema mudo de Pordenone. Fonte: Associated Press.

O filme mudo inédito "Too Much Johnson" (1938), do diretor Orson Welles, considerado perdido e encontrado na Itália, foi restaurado e será lançado em outubro, anunciou o Museu Internacional de Fotografia e Cinema George Eastman House, nesta quarta-feira. "Too Much Johnson" é um filme que Welles pretendia usar de forma conjunta para a adaptação de uma obra teatral, mas que nunca chegou a estrear, nem foi concluído, explicou o museu, que fica em Rochester (norte do estado de Nova York).

O filme do genial cineasta e ator americano foi encontrado em um depósito em Pordenone (Venezia-Friuli, nordeste da Itália) por funcionários do centro de arte Cinemazero, acrescentou a George Eastman House. "Too Much Johnson" foi produzido para a Mercury Theatre, a célebre companhia teatral fundada por Orson Welles (1915-1985) e pelo produtor John Houseman. Joseph Cotten e a então mulher do cineasta, Virginia Nicholson, estão no elenco.

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O Cinemazero entregou a cópia do filme a um dos grandes arquivos italianos de cinema, La Cineteca de Friuli. De lá, o material foi transferido para a George Eastman House para ser restaurado. Até hoje, acreditava-se que a única cópia conhecida de "Too Much Johnson" havia sido perdida em um incêndio que destruiu a casa de Orson Welles, na periferia de Madri, em 1970.

O filme será exibido em estreia mundial em 9 de outubro, na "La Giornata del Cinema Muto", primeiro festival mundial de cinema desse tipo, que acontece em Pordenone desde 1982.

"Essa é de longe a restauração mais importante de um filme realizada em muito tempo pela George Eastman House", declarou o curador responsável pelo projeto, Paolo Cherchi Usai.

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