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Sete em cada dez pessoas transgênero enfrentaram insegurança alimentar durante a pandemia de covid-19. Para um quinto do grupo minoritário, o quadro foi severo, já que não tinha condições de fazer todas as refeições do dia, nem como comprar alimentos, passando fome.

É o que comprova estudo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Universidade Federal do Paraná, Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Universidade Federal da Paraíba (UFPB), publicado hoje (10), no periódico científico Plos One.

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Como forma de averiguar o cenário, a equipe de cientistas analisou relatos de experiências de 109 pessoas, por meio de um questionário. Os participantes, que responderam de modo voluntário, eram de todas as regiões do país, sendo a maioria negra.

O critério aplicado para se definir o estado de insegurança alimentar foi o da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), que entende como contextos em que o acesso ao alimento está sob ameaça. Isso significa quantidades insuficientes de comida, medo de o alimento acabar e a falta de estabilidade no fornecimento. Também se enquadra na classificação a inadequação da comida disponível, do ponto de vista cultural e/ou nutricional.

Mortes

Sávio Marcelino Gomes, autor principal do artigo,  nutricionista e docente da UFPB, destaca que a comunidade trans é uma das mais vulneráveis. "O Brasil, apesar de a gente ter alguns avanços na saúde, como o processo transexualizador e de existir uma política nacional de saúde para a população LGBTQIA+, de forma geral, é também o país que mais mata pessoas trans em todo o mundo", assegura.

O pesquisador comenta que, ao não poder entrar no mercado de trabalho, por conta da discriminação, chamada, nesse caso, de transfobia, as pessoas trans acabam em uma circunstância de suscetibilidade quanto à alimentação, camada que se soma à da fragilização por meio da violência. Gomes faz, ainda, uma crítica aos dados sobre a população trans que se tem, atualmente, à disposição no Brasil.

"À medida que sofrem rejeições de empregos, sofrem violências dentro do mercado de trabalho, do setor da educação e também na área de assistência em saúde, quando tentam acessar a atenção primária, essas pessoas sofrem também experiências de estigma, e tudo isso junto, coloca essas pessoas em uma posição social de vulnerabilidade aos piores males que nossa sociedade tem. E a fome é um deles, apesar de a gente não [ter] esse resultado de forma nacional, porque nossos inquéritos, por muito tempo, também não mostram essa população. É uma população que está invisibilizada", afirma Gomes, que é doutor em saúde pública.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, foi internada na sexta-feira passada (5) em um hospital de São Paulo após testar positivo para a Covid-19.

A paciente "continua sob cuidados médicos e sua condição clínica mantém-se estável e com boa evolução", informou o boletim divulgado na tarde de domingo (7) pelo Hospital das Clínicas, da Universidade de São Paulo.

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A ministra testou positivo após ter feito uma viagem à Terra Indígena Yanomami, no estado amazônico de Roraima, junto com suas colegas Sônia Guajajara, titular da pasta dos Povos Indígenas, e Nísia Trindade, da Saúde.

Marina Silva, de 65 anos, é acompanhada por uma equipe formada por cardiologista, infectologista e pneumologista, informou o centro médico.

Em comunicado divulgado no sábado (6) nas redes sociais, Marina afirmou estar recebendo atendimento médico adequado e que os sintomas que apresentava estavam sob controle.

Além disso, recomendou a todos que estiveram com ela em Roraima que realizassem o teste para o coronavírus.

Da Ansa

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, afirmou neste domingo (7) que infecções pelo vírus Sars-COV 2, responsável pela Covid-19, vão continuar ocorrendo e que o momento é de fortalecimento dos sistemas de vigilância, diagnóstico, assistência e vacinação.

Segundo ela, o vírus ainda sofrerá mutações e, por isso, os cuidados devem ser mantidos.

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“É hora de intensificar a vacinação. As hospitalizações e óbitos pela Covid-19 ocorrem principalmente em indivíduos que não tomaram as doses de vacina recomendadas”, destacou a ministra em cadeia de rádio e televisão.

"Por esta razão, o Ministério da Saúde, ao lado de estados e municípios, realiza desde fevereiro um movimento nacional pela vacinação de reforço para covid- 19. Esta é a forma mais eficaz e segura de proteger nossa população. Precisamos estar unidos pela saúde, em defesa da vida", acrescentou.

Na última sexta-feira (5), a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou o fim da emergência de saúde pública de importância internacional. “Depois de termos passado por um período tão doloroso, nosso país recebe essa notícia com esperança”, afirmou Nísia.

“O momento é de transição do modo de emergência para enfrentamento continuado como parte da prevenção e controle de doenças infecciosas.”

Durante o pronunciamento, a ministra lembrou que o Brasil perdeu 700 mil vidas durante o surto sanitário.

"Outro teria sido o resultado se o governo anterior, durante toda a pandemia, respeitasse as recomendações da ciência. Se fossem seguidas e cumpridas as obrigações de governante de proteger a população do país. Não podemos esquecer. Precisamos preservar esta memória para construir um futuro digno", reforçou.

Ela agradeceu os cientistas e os laboratórios que desenvolveram os imunizantes e fez uma referência especial aos trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS). 

"Apesar do negacionismo, dos ataques à ciência e da política de descaso, muitas vidas foram salvas devido ao SUS e ao esforço sem limites dos trabalhadores e das trabalhadoras da saúde", destacou a ministra. 

"A eles, agradeço em meu nome e em nome do presidente Lula, que tem se dedicado desde o primeiro dia de nosso governo à política do cuidado e ao fortalecimento do SUS", reforçou Nísia.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) suspendeu nesta sexta-feira (5) o nível máximo de alerta sobre a pandemia de Covid-19, que deixou "pelo menos 20 milhões" de mortos no mundo, ao considerar que a doença está suficientemente controlada.

“Com grande esperança declaro que a Covid-19 já não é mais uma emergência sanitária de alcance internacional”, afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Ele calcula que a pandemia deixou “pelo menos 20 milhões” de mortos, quase três vezes mais do que o balanço oficial de sua organização.

Em 3 de maio, o quadro de indicadores da OMS mostrava pouco menos de sete milhões de mortes registradas oficialmente.

Os especialistas ouvidos pelo diretor-geral consideraram "que é o momento de passar para uma gestão a longo prazo da pandemia de Covid-19", apesar das incertezas que subsistem sobre a evolução do vírus.

O nível máximo de alerta da organização foi declarado em 30 de janeiro de 2020, poucas semanas após a detecção na China dos primeiros casos da doença viral respiratória contra a qual não havia tratamento específico na época.

Crianças que frequentaram o segundo ano da pré-escola em 2020, com nove meses de atividades remotas devido à pandemia de Covid-19, tiveram perda de 6 a 7 meses de aprendizagem em linguagem e matemática se comparadas àquelas que vivenciaram o mesmo período da pré-escola em 2019, com ensino presencial.

O dado sobre o ritmo de aprendizagem das crianças antes, durante e depois da pandemia mostra ainda que aquelas que frequentaram o segundo ano da pré-escola em 2022, com a volta das atividades presenciais, tiveram ganho de 1 a 2 meses, na comparação com os alunos do mesmo período letivo em 2019.

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As informações são do estudo Recomposição das aprendizagens e desigualdades educacionais após a pandemia Covid-19: um estudo em Sobral/CE, produzido por pesquisadores do Laboratório de Pesquisa em Oportunidades Educacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LaPOpE).

Embora os dois grupos de crianças (2020 e 2022) tenham vivido ao menos parte da pré-escola com ensino remoto, os resultados sugerem que as ações realizadas pela rede de ensino para mitigar os impactos da pandemia surtiram efeito nas crianças que concluíram a etapa em 2022.

Apoiada pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, a pesquisa estimou os efeitos da pandemia no curto e médio prazo e traz evidências inéditas sobre a recuperação do aprendizado, com destaque para a qualidade da educação ofertada.

Para chegar aos resultados, o estudo acompanhou o desenvolvimento de 1.364 crianças matriculadas na rede pública municipal de Sobral (CE), que frequentaram o segundo ano da pré-escola entre 2019 e 2022.

A pesquisa observou que o grupo de crianças que vivenciou o segundo ano da pré-escola em 2020 – com maior período remotamente – aprendeu o equivalente a 39% em linguagem e 48% em matemática, se comparado àquele que frequentou esta etapa em 2019, de modo presencial. Já o grupo que terminou a pré-escola em 2022 aprendeu o equivalente a 111% em linguagem e 115% em matemática, na comparação com o grupo que frequentou o segundo ano da etapa em 2019.

De acordo com os pesquisadores, os resultados mostram os efeitos da reabertura das escolas sobre os ritmos de aprendizagem. As crianças do grupo de 2020, por exemplo, que vivenciaram o primeiro ano da pré-escola presencialmente, sofreram com a interrupção das atividades presenciais e a oferta remota na conclusão da etapa educacional.

Segundo Mariane Koslinski, pesquisadora do LaPOpE e uma das responsáveis pelo estudo, as incertezas da pandemia, as interrupções nas atividades, presenciais ou não, e todo o período de adaptação ao modelo remoto impactaram diretamente no ritmo de aprendizagem dessas crianças, que tiveram aprendizagem aquém daquelas que concluíram a etapa em 2019.

A pesquisadora destacou, no entanto, que a recuperação do ritmo de aprendizagem das crianças que concluíram a educação infantil em 2022 chama ainda mais atenção. “É curioso porque, como as crianças do grupo de 2020, as do ano passado também viveram parte da etapa no regime remoto”, disse Mariane, em nota.

“O que os resultados indicam é que, provavelmente, as ações da rede de educação de Sobral foram importantes para mitigar os efeitos da pandemia e acelerar o ritmo de desenvolvimento dessas crianças”, completou.

Entre as ações, a pesquisadora destacou programas de busca ativa, ampliação da oferta de tempo integral e a implementação de novo currículo para a Educação Infantil alinhado àBase Nacional Comum Curricular (BNCC).

Os pesquisadores reforçam ainda que os resultados do estudo não devem ser interpretados como um retrato do que aconteceu no resto do país. “A ausência de coordenação nacional nos anos de pandemia gerou um cenário extremamente desafiador para os gestores municipais e as respostas para os desafios da pandemia foram muito desiguais e inconsistentes quando comparamos estados e municípios pelo país”.

Para a gerente de Conhecimento Aplicado e especialista em educação infantil da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Beatriz Abuchaim, o desafio neste momento ultrapassa as esferas educacionais. “Diversas evidências mostram que a pandemia afetou desigualmente as famílias em questão de renda, acesso a serviços e a redes de apoio. Tudo isso trouxe impactos para o desenvolvimento e aprendizagem das crianças”, afirmou Beatriz, em nota.

“Nesse sentido, as ações devem ser integradas e contemplar diversas esferas e níveis de governo. A responsabilidade por montar essa estratégia não pode ser só da área de educação”, acrescentou.

Recomendações

Os pesquisadores apresentam uma série de recomendações para os gestores de diferentes níveis a fim de mitigar os problemas apontados. Para o Ministério da Educação é recomendado que haja um protagonismo na elaboração de um plano nacional de recuperação de aprendizagem com aporte de recursos e apoio técnico para guiar as ações das secretarias estaduais e municipais de educação.

Já as secretarias estaduais de educação devem, entre outros pontos, oferecer apoio técnico e financeiro para que os municípios elaborem e implementem suas estratégias. As secretarias municipais de educação, por sua vez, devem implementar programas de busca ativa de crianças com foco na educação infantil e elaborar diagnósticos sobre os efeitos da pandemia no desenvolvimento das crianças e nas taxas de abandono e evasão escolar.

Os diretores e professores podem promover maior integração entre famílias e escolas incorporando estratégias bem-sucedidas de comunicação com famílias utilizadas durante a pandemia.

O Comitê de Emergência para a Covid-19 se reunirá no próximo dia 4 de maio para sua 15ª sessão que definirá, entre outras coisas, se a Organização Mundial da Saúde (OMS) deve manter a pandemia de Covid-19 ainda como uma Emergência Sanitária Pública de Interesse Internacional (Pheic).

O grupo, que foi convocado pelo diretor geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, teve sua primeira reunião em 22 e 23 de janeiro de 2020, logo após os primeiros casos serem notificados formalmente pela China. No dia 30 do mesmo mês, o Comitê informou o diretor de que o novo coronavírus Sars-CoV-2 era uma Pheic.

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Os especialistas, desde então, encontram-se a cada três meses para analisar as orientações para a crise sanitária.

Da Ansa Brasil

Nos últimos anos, muitas pessoas estão optando pelo estudo à distância, online. Segundo o Censo da Educação Superior de 2021, a quantidade de alunos inscritos em cursos superiores de graduação na modalidade à distância aumentou 474% entre 2011 e 2021.

É possível ligar a situação da pandemia com o número gritante de inscritos no sistema remoto em 2021. Ao todo, foram 3,7 milhões de pessoas matriculadas, um número que representa 41,4% do total. O formato presencial sentiu esse aumento, tendo uma queda de 8,3% das matrículas entre 2011 e 2021.

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Com grande impacto no setor da educação, projetos e plataformas digitais se desenvolvem para trazer para o on-line a experiência de ensinar e aprender que existia no presencial. Os profissionais também se reinventam, para trabalhar o foco e participação dos alunos em suas aulas.

“Mesmo sendo uma escola de idiomas online há mais de 6 anos, é impossível não perceber a crescente procura dos alunos por esse formato. O primeiro ponto a ser entendido é que cada aula é única. Em seguida, precisamos compreender que as aulas são desenvolvidas para pessoas, que devem ser vistas menos como números ou clientes”, afirma Helaman Fernandes, CEO da Aliança.

O empresário menciona como a crescente procura pelas aulas EAD demanda uma resposta de tratamento pela empresa, sabendo lidar com a questão humanitária, não só robotizada, e a dinâmica no processo das aulas.

“Prezamos muito para que os estudantes estejam confortáveis em suas aulas, conciliando esse tempo com suas as demandas pessoais para que esse momento de aprendizado de uma nova língua não seja um peso, mas um momento de troca de experiências e desenvolvimento pessoal e profissional”, destaca Helaman Fernandes.

Há pouco mais de três anos a pandemia da Covid-19 teve início no mundo, e muita coisa mudou na vida de milhares de pessoas. Além das mudanças sociais que vieram com a crise sanitária, diversos relatos mostraram, com o passar do tempo, que quem contraiu a doença ficou com sequelas persistentes, e até mesmo permanentes - consequência que ficou conhecida como Covid longa.

Foi o que aconteceu com Renata Ferreira*, assistente social que mora no Recife. Ela contraiu a doença logo no início da pandemia, em março de 2020. “Desde então percebo que fiquei bem esquecida. Não tenho um diagnóstico fechado sobre isso”, relatou ao LeiaJá. 

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“Quando fui ao médico depois, eles ainda não sabiam exatamente nem tratar a Covid, e nem quais eram as sequelas pós Covid. Mas procurei um neurologista. Ele achava que era esquecimento 'corriqueiro', por mais que eu dissesse que não era, o conhecimento pós-covid era muito pouco”, ela conta.

Ainda no início da pandemia, pouco se sabia sobre a doença e as possíveis sequelas. Como Renata teve Covid ainda nos primeiros meses, não existiam estudos comprovando o que estava sendo apresentado pelos pacientes. “Depois, alguns estudos foram divulgados, e ficou comprovado a confusão mental, esquecimento, queda de cabelo, fadiga”, explica a assistente social.

Muitas pessoas recorreram a profissionais das mais diversas áreas para entender o que poderia ser feito para reverter o quadro. Renata sofre até hoje com lapsos de esquecimento, característica que acarreta uma boa parcela dos pacientes. “O neuro que eu fui me indicou a fazer sudoku, jogar jogo da memória e assistir filmes que eu não gostava, para ativar o outro lado cérebro, com isso melhorei bastante. Mas, não fiquei 100%. 3 anos depois e sinto que minha memória não é a mesma antes da Covid. Sei distinguir o que é corriqueiro, do que não é”, relata.

Cuidados permanentes

Para lidar com as sequelas da Covid-19, médicos recomendam atividades parecidas com as que foram passadas para Renata. Segundo o professor Eduardo Jorge, são diversos os sintomas apresentados pelos pacientes. “A doença tem se revelado uma caixa de surpresas e muitas pessoas apresentam manifestações da COVID longa, como astenia, prejuízo cognitivo, ansiedade, etc.”, explicou o médico pediatra.

O doutor, que representa em Pernambuco a Sociedade Brasileira de Imunizações, recomenda procurar os centros especializados em tratamento pós-Covid. “Os ambulatórios de seguimento pós Covid estão sendo essenciais para este olhar de sequelas das doenças, e precisam urgentemente ser ampliados neste momento que a pandemia foi controlada mas deixou um quantitativo significativo de pessoas que precisam de fisioterapia, acompanhamento psicológico, entre outros”, declarou.

No Recife, um hospital de rede privada possui um ambulatório com essa finalidade, funcionando desde maio do ano passado. Uma equipe de pneumologia atende pacientes com sequelas da Covid. O LeiaJá procurou saber com a Secretaria Estadual de Saúde se existe algum local desse seguimento na rede pública, mas não obteve resposta até o fechamento da matéria.

Riscos ainda existem

Graças às campanhas de vacinação, os números de contaminação da Covid-19 estão bem menores, mas Eduardo Jorge alerta que os riscos ainda existem, e não são tão pequenos assim. “Os riscos de se contaminar pelo vírus da Covid-19 permanecem os mesmos, pois contraímos Covid -19 por meio de contato com pessoas infectadas. O coronavírus ainda circula entre nós. O que mudou, graças especialmente às vacinas,  foi a diminuição de formas graves da doença, e de óbitos. A doença ainda pode ser grave em pessoas idosas e/ou com comorbidades”, alerta o especialista.

“Temos que manter a vacinação contra a Covid-19 atualizada, para evitarmos as formas graves da doença. Outras medidas: evitar contato com pessoas com sintomas respiratórios, evitar aglomerações em ambientes fechados , especialmente e higiene das mãos.  Pessoas de risco para evolução grave da doença devem  ainda ser mais rigorosas nas medidas de proteção e seguir as recomendações de reforços das vacinas indicadas para os grupos específicos”, finaliza o médico.

Em nota, a "Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES-PE) informa que a assistência aos pacientes com sequelas de covid é direcionada conforme a especialidade envolvida, a depender do tipo da sequela. Por exemplo, a rede estadual de saúde dispõe de neurologistas, que atendem às pessoas com sequelas neurológicas por Covid-19, no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC) e no Hospital da Restauração (HR). São oferecidos, ainda, serviços de pneumologia aos pacientes com sequela causada pelo novo coronavírus, no Hospital Otávio de Freitas (HOF).  Por fim, a SES-PE reforça que mantém a assistência necessária aos pacientes com diferentes sequelas de Covid-19".

*O nome foi alterado a pedido da entrevistada para preservar sua identidade.

A pandemia de Covid-19, que teve início em março de 2020, trouxe uma grande transformação para o mercado de trabalho brasileiro. Muitos profissionais, que antes trabalhavam no modelo presencial ou híbrido, migraram para o home-office como forma de se proteger contra o contágio do vírus.  

No entanto, a pesquisa “O Futuro do Trabalho no Brasil”, divulgado em 2022 pela Cortex Intelligence, aponta que a maioria dos trabalhadores já voltaram a atuar presencialmente: 25% vão à empresa todos os dias, 56 % optaram o formato híbrido, e apenas 19% continuam em regime virtual. Em 2021, 73% dos entrevistados já havia voltado ao trabalho presencial em 2021 e 27% estavam trabalhando de forma remota.  

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Os números reforçam que as empresas estão cada vez adeptas ao presencial. “Muitos gestores acreditam que o modelo de convivência em escritório facilita a comunicação entre áreas e aumenta a interação social entre os profissionais”, explica Larissa Gonçalves, Gerente de Recursos Humanos da Luandre, uma das maiores consultorias de RH do país.

O tema da modalidade ideal ainda é controverso. Por um lado, profissionais colocam a qualidade de vida como um fator determinante para a manutenção do trabalho remoto. Em contrapartida, líderes entendem que a gestão mais próxima é um fator decisivo para melhoria da produtividade.

Desta forma, o trabalho híbrido ainda permanece como o ponto de equilíbrio entre as modalidades. “O modelo que alia o presencial e o remoto se tornou uma forma de manter a sinergia entre as diferentes opiniões. Na Luandre, por exemplo, permanecemos neste modelo e percebemos que conseguimos manter a produtividade e a interação, o que é fundamental já que nosso negócio gira em torno do cuidado com as pessoas”, declara. 

O Brasil alcançou, nesta terça-feira (28), a marca de 700.000 mortes por Covid-19, três anos após o registro do primeiro caso da doença no país, o segundo com mais óbitos no mundo durante a pandemia, informou o ministério da Saúde.

O número "compreende todas as trajetórias interrompidas e famílias enlutadas. Milhares dessas pessoas poderiam ter histórias diferentes com uma ação simples: a vacinação", destacou a pasta em um comunicado.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país com maior número de falecimentos na América Latina e o segundo no mundo (em números absolutos, nos dois casos), atrás dos Estados Unidos, que acumulou 1,1 milhão de vítimas.

A covid matou um total de 6,8 milhões de pessoas no mundo, de acordo com o último registro da OMS, em 21 de março de 2023.

Mais de 85% da população brasileira tomou ao menos uma dose da vacina anti-covid desde o início da campanha de vacinação em janeiro de 2021. Já foram aplicadas, aproximadamente, 510 milhões de doses de imunizantes, de acordo com dados do ministério da Saúde.

A pandemia começou no Brasil no final de fevereiro de 2020, durante o governo de Jair Bolsonaro (2019-2022), um negacionista que comparou o covid a "uma gripezinha", se negou a usar máscara e se opôs à vacinação.

O atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e outros opositores a Bolsonaro defenderam a vacinação no combate ao vírus, que desacelerou a multiplicação dos casos e evitou milhões de mortes.

Lula chegou a chamar o então presidente de "genocida" devido à sua gestão na pandemia.

"A vacina que hoje está disponível gratuitamente em todas as unidades de saúde do Brasil poderia ter mudado a vida das famílias que perderam pessoas queridas durante a pandemia", indicou o ministério na nota.

O Brasil disponibilizou recentemente vacinas bivalentes contra as diferentes variantes da doença.

Uma mulher processou a empresa de teleatendimento que trabalhava pedindo o ressarcimento pelas despesas que ela teve com internet durante o período em que trabalhou de home office na pandemia da Covid-19. A Justiça do Trabalho de Minas Gerais condenou a empresa a ressarcir a ex-empregada pelas despesas, por decisão do juiz André Barbieri Aidar, da 38ª Vara do Trabalho de Belo Horizonte. 

A empresa sustentou, na defesa, que a empregada foi selecionada para trabalhar na modalidade remota depois de responder a um questionário e informado que tinha condições de trabalhar nessa forma e que possuía equipamentos necessários para isso. A empregadora também afirmou que não havia prometido auxílio com internet, energia ou equipamentos para a colaboradora e que apenas os empregados que recebiam sim às perguntas dos questionários eram selecionados para trabalhar na modalidade remota, como no caso da trabalhadora que apresentou a ação. 

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Ao decidir o caso, o juiz considerou que o empregador deve ressarcir os gastos de internet, mas não com a compra de computador. Isso porque a trabalhadora comprovou que teve que arcar com despesas de serviços de conexão à internet, os quais eram indispensáveis à execução das atividades.

“A assunção pela empregada de gastos com internet, para a realização de suas atividades em favor do empregador, como no caso dos autos, fere o princípio da alteridade”, registrou o magistrado, explicando que esse princípio vigora no Direito do Trabalho e implica que o empregador responde com os riscos e custos da atividade econômica, conforme prevê o artigo 2º da CLT.

Entretanto, o pedido de ressarcimento pela compra do computador foi rejeitado. O recibo apresentado pela trabalhadora indicou que o equipamento foi adquirido em data anterior ao início do trabalho em home office e antes mesmo da decretação da pandemia no país. Para o magistrado, ficou evidente que a aquisição do computador não teve relação com o trabalho.

A condenação ficou restrita à indenização pelas despesas com internet, no valor médio de R$ 50,00 mensais, no período de 1º/4/2020 até o encerramento do contrato de trabalho. A decisão mencionou, ainda, os princípios da razoabilidade e proporcionalidade ao fixar a reparação.

A sentença foi confirmada em segundo grau. No acórdão, foi ressaltado que o artigo 75-D da CLT, com a redação dada pela Lei 13.4672/2017, estabelece que "as disposições relativas à responsabilidade pela aquisição, manutenção ou fornecimento dos equipamentos tecnológicos e da infraestrutura necessária e adequada à prestação do trabalho remoto, bem como ao reembolso de despesas arcadas pelo empregado, serão previstas em contrato escrito".

Para os julgadores da Oitava Turma do TRT-MG, o fato de a despesa com a contratação de plano de internet compatível com o trabalho não ter sido assumida contratualmente e formalmente pela empresa, como apurado no processo, não é capaz de afastar a condenação. 

No caso, o que se levou em conta foi que a empregadora se beneficiou do plano de internet contratado pela trabalhadora porque imprescindível à realização do trabalho remoto. A decisão ressaltou que é obrigação do empregador arcar com os riscos do empreendimento, os quais não podem ser transferidos aos empregados.

O processo ainda cabe recurso de revista.

Três anos após o surgimento da Covid-19, os debates sobre a origem da doença voltam à tona. Um estudo recente reforça a hipótese majoritária de transmissão de um animal, mas os defensores de um vazamento de laboratório na China não jogam a toalha.

"Não podemos dizer categoricamente como a pandemia começou", declarou recentemente Maria Van Kerkhove, epidemiologista americana da Organização Mundial da Saúde (OMS), em meio a um debate renovado sobre o assunto.

O mundo científico estima, principalmente, que a pandemia começou no início de 2020, porque um animal selvagem transmitiu o vírus para humanos meses antes, provavelmente no mercado de Huanan, na cidade chinesa de Wuhan.

Alguns pesquisadores defendem, no entanto, a hipótese de vazamento do laboratório de um instituto científico da mesma cidade.

A China rejeita firmemente essa teoria, mas também nega que o mercado de Huanan abrigasse animais suscetíveis à transmissão do vírus.

O debate foi retomado em fevereiro, depois que o diretor do FBI (a Polícia Federal americana), Christopher Wray, garantiu que essa teoria do vazamento do laboratório é "muito provável".

Embora tenham causado grande comoção na mídia, as declarações não tiveram grande impacto na opinião científica majoritária.

"Essas propostas não parecem se basear em novos elementos e [a teoria do vazamento] continua sendo a menos convincente das duas hipóteses", disse a cientista britânica Alice Hughes, especialista em biodiversidade, ao Science Media Center.

- O cão-guaxinim -

Semanas depois, os defensores da transmissão natural recuperaram a vantagem midiática, após um estudo que analisou as amostras coletadas no início de 2020 no mercado de Wuhan.

Vários veículos de comunicação americanos, especialmente o jornal The New York Times, noticiaram este trabalho antes mesmo de ser publicado online, apresentando-o como um avanço para apoiar esta tese.

Depois de fechar o mercado de Huanan no início de 2020, as autoridades chinesas coletaram inúmeras amostras no local. Cientistas liderados pela francesa Florence Débarre trabalharam com base nesses dados.

Neles, encontraram o DNA e o RNA de inúmeros mamíferos silvestres, o que permite atestar sua presença no mercado antes de seu fechamento.

Chama a atenção o caso do cão-guaxinim. Este animal, que pertence à família canina mas se parece com um guaxinim, pode ter sido infectado pelo coronavírus e ter sido um elo de contágio entre morcegos e humanos.

Este trabalho, que não foi publicado em revista científica, não prova, porém, que o cão-guaxinim esteja na origem da pandemia, nem permite afirmar categoricamente que estes animais foram infectados, porque as amostras não foram retiradas diretamente deles.

- Dados inacessíveis -

Mas essa teoria parece plausível, já que, em alguns mercados, o DNA desses animais estava muito presente junto com o do vírus e quase não foram encontrados vestígios do genoma humano.

E, mesmo que a infecção seja admitida, é impossível determinar se eles transmitiram o vírus para um ser humano, ou se a transmissão foi invertida.

Este estudo constitui "uma nova peça do quebra-cabeça que sustenta um vínculo entre o mercado de animais de Wuhan e a origem da pandemia", mas "não é uma prova irrefutável", disse o virologista Connor Bamford, da Universidade Queen's, de Belfast.

Para ele, seria preciso ter amostras mais antigas, do final de 2019, quando a covid surgiu sem fazer barulho, e retiradas diretamente desses animais.

Mas esse é um grande obstáculo na investigação da origem da covid: é quase impossível acessar os dados originais. Mesmo os dados com os quais a equipe de Débarre trabalhou não estão mais acessíveis.

Eles estavam inicialmente disponíveis em uma plataforma para pesquisadores, a Gisaid, mas foram removidos a pedido dos cientistas chineses que os publicaram online.

"Temos dados absolutamente cruciais que nos permitem esclarecer o início da pandemia, mas não podemos compartilhá-los, porque não são nossos", lamenta esta pesquisadora em conversa com a AFP. "Quanto mais pessoas estudarem esses dados, mais informações poderemos extrair", afirma.

Os casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) - associados à Covid-19 - mantiveram a tendência de alta já registrada nas últimas semanas no Amazonas e São Paulo e também apresentam tendência clara de aumento no Ceará e no Rio de Janeiro.

É o que revelam informações divulgadas nessa sexta-feira (10) no último Boletim Infogripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Os dados de 26 de fevereiro a 4 de março apontam, ainda, para sinais iniciais de aumento em Mato Grosso do Sul e no Pará.

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O avanço da SRAG por Covid-19 - que gera hospitalizações - está mais associado a casos na população adulta. O InfoGripe também registra crescimento de casos entre crianças e adolescentes, mas não há uma associação viral clara, segundo o coordenador do boletim, Marcelo Gomes.

"Na Bahia, em Mato Grosso do Sul, no Paraná, em Santa Catarina e, em menor escala, em São Paulo, existe aumento nos casos positivos para rinovírus nas crianças até 11 anos", disse o pesquisador, em texto divulgado pela Agência Fiocruz de Notícias. 

Vacinas

Ele destaca que o novo cenário de crescimento reforça a importância da campanha de vacinação iniciada no dia 27 de fevereiro pelo Ministério da Saúde, em que os grupos prioritários já podem receber as vacinas bivalentes contra covid-19, atualizadas para conferir maior proteção contra a variante Ômicron. 

Ao todo, 18 unidades da federação apresentam tendência de crescimento nos casos de SRAG, porém, apenas nas destacadas pelo estudo o movimento já pode ser considerado realmente uma expansão. No Amazonas, além da covid-19, as hospitalizações por SRAG também estão associadas a casos de influenza A. 

Apesar disso, o boletim informa, também, que em Alagoas, Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina há um crescimento de casos de SRAG concentrado entre crianças e adolescentes, que, até o momento, não se reflete na população adulta. 

A pandemia deixou muitos impactos nas vidas dos sobreviventes da Covid-19 e dos familiares que perderam alguém para a doença. Para essas pessoas, o pesadelo ainda não passou. No caso da enfermeira Heloísa Garcia Claro Fernandes, por exemplo, a doença assombrou durante todo um ano.

Heloísa contraiu Covid-19 três vezes em 2022. Na primeira, estava no sétimo mês de gestação de seu terceiro filho. “Frequentava muitos serviços de saúde por conta do pré-natal. Provavelmente peguei enquanto fazia ultrassom”. Por estar no grupo de risco, ela teve muito medo.

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“No Brasil teve uma gravidade maior de letalidade entre as gestantes. Obviamente, não foi fácil quando eu descobri que estava com Covid. Tenho certeza que se eu não tivesse me vacinado teria sido muito pior, porque a gente vê os dados. A vacina impediu os casos graves”.

Ela conta que, além da baixa saturação, teve outros sintomas mais pesados de Covid-19 na primeira vez que contraiu no ano passado. “Passei a gravidez inteira evitando sair, de estar junto da família, pois era do grupo de risco. Então me privei de várias coisas e acabei pegando [Covid-19] quase no final da gestação. E eu tenho sinusite e rinite alérgica, o que ficou bem ‘atacado’. Eu fiquei praticamente de janeiro até o final do ano passado com tosse o tempo todo”.

A enfermeira, que também é professora de saúde mental na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), relembra também que os conhecimentos de sua profissão a ajudaram durante uma viagem. “A gente tinha ido a passeio numa cidade pequena do litoral, mas tive os primeiros sintomas ainda em São Paulo. Quando estava lá [no litoral], fiz o teste no segundo dia, mas não tinha como ir para o pronto-socorro ali, afastada de tudo. Como eu sou enfermeira, pedi ajuda para os meus amigos que são profissionais da saúde, pois sei que nem toda medicação pode ser tomada na gestação. Então fiz a consulta por telefone, foi o que me ajudou, passar com um profissional para me orientar”.

Além de Heloísa, a família toda, o marido e os dois filhos, testou positivo. “Depois ainda tive [covid] em junho, quando o meu bebê era pequenininho, e também em novembro, mesmo depois de tomar todas as doses da vacina. Se eu tive alteração de saturação quando estava grávida, mesmo vacinada, imagina se eu não tivesse tomado?”.

Sequelas

O presidente do Conselho Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul (CES-RS), Claudio Augustim, de 66 anos, já defendia protocolos mais efetivos de proteção à Covid-19 quando ele mesmo, em dezembro de 2020, pegou o vírus, mesmo tomando todas as precauções. Entrou no hospital com pneumonia bacteriana e dias depois foi diagnosticado com o coronavírus. A partir de então, sua situação de saúde só piorou.

“Fiquei muitas semanas entubado. Peguei 20 pneumonias no hospital. Acordei da sedação em fevereiro, mas só me dei conta que estava vivo, que tinha consciência, em abril. Vim para casa em agosto [de 2021] e só me alimentava por sonda, nem água podia tomar”, relata.

O período no hospital foi pesado, ele conta. “Tomei muita morfina para a dor. Como tive câncer no pulmão, só tenho parte do pulmão esquerdo, com isso eu não podia virar para o lado esquerdo, e com as pneumonias, meu pulmão direito também estava comprometido”. Muitas vezes, ele pensou que ia morrer. “Minha filha dizia: pai, você já passou por tanta coisa e chegou até aqui, não é agora que vai morrer. E eu seguia vivo!”.

“Mesmo assim, depois de todos as vacinas, peguei novamente a covid”, relembra. Em novembro do ano passado, foi infectado mais uma vez, em casa, apesar de todos os protocolos continuarem firmes na residência: quem o visita precisa estar de máscara, lavar as mãos e passar álcool, além de manter a distância mínima.

Para Claudio, as informações oficiais com os números dos recuperados da covid não significam exatamente um dado positivo. “Recuperada é aquela pessoa que não está mais transmitindo a doença. Mas tem muitas sequelas que atingem as pessoas. Muita gente, por exemplo, desenvolveu diabetes depois, problemas mentais e outras doenças. São as sequelas da Covid. Até em pessoas que tiveram a doença, mas ficaram assintomáticas, elas apareceram”.

Ele mantém as atividades do conselho ainda de casa. Faz tudo de forma virtual, não participa de mais nada presencialmente. Um das propostas foi o Comitê Estadual em Defesa das Vítimas da Covid, que trabalha nas reivindicações e ampliação dos recursos públicos para atendimento às vítimas com sequelas da doença. O comitê entrou com uma ação, em 2021, junto aos deputados, para aprovar uma emenda garantindo a aplicação de 12% de arrecadação de impostos na área da saúde, como previsto na Constituição Federal.

“O Estado deve destinar 12% para a área da saúde pública, mas não estava destinando o percentual. A emenda não foi aprovada. Este ano, vamos tentar novamente, para que esses recursos sejam usados na recuperação das pessoas com sequelas da covid e para a atenção básica, o que é muito importante. Porque, se há atenção e prevenção, as pessoas não adoecem tanto”, destaca.

Claudio conversa bem, ainda que tenha uma tosse entre as falas, mas já precisou fazer sessões de fonoaudiologia quase diárias. Hoje, faz fisioterapia cinco vezes por semana, acompanhamento psicológico e o serviço de enfermagem é 24 horas. A filha, que é médica neurologista, o visita com frequência para avaliá-lo também e ele segue acompanhado pelo médico que o assiste há 20 anos, onde mora, em Porto Alegre (RS).

“Até hoje eu não consigo sair de casa sozinho. A minha mão direita está caída, sem força, e com isso eu não consigo escrever, pois sou destro. Nem sei se conseguirei um dia”, lamenta. Outra sequela, ele diz, são as crises de ansiedade. “Tem hora que não consigo respirar, é mais uma sequela bastante ruim”, completa Claudio.

Legados perdidos

Legado pode ser definido como algo que fica para a posteridade após o fim de um ciclo, de uma vida, sejam obras materiais ou não. Ou seja, como alguém será lembrado pela história, amigos e familiares. Uma dessas vítimas da covid-19 deixou um legado de estudos sobre os tubarões na costa pernambucana.

O professor e pesquisador Fábio Hissa Vieira Hazin morreu em 2021, vítima de covid-19, em Recife, aos 57 anos. Hazin era referência em pesquisa sobre a megafauna marinha. Graduado em Engenharia de Pesca pela Universidade Federal Rural do Pernambuco (UFRPE), o professor possuía mestrado e doutorado em Marine Science and Technology/ Fisheries Oceanography na Tokyo University of Marine Science and Technology; e pós-doutorado em Avaliação de Estoques de Recursos Pesqueiros Pelágicos Migratórios no Southeast Fisheries Sience Center, em Miami (EUA).

Também obteve especialização em Direito Internacional do Mar, pela Rhodes Academy (Center for Oceans Law and Policy/ University of Virginia School of Law). Em 2015, exerceu o cargo de Secretário Nacional de Pesca do Ministério da Pesca e Aquicultura e, interinamente, de Ministro de Estado da Pesca e da Aquicultura.

Sua atuação principal era em Oceanografia Pesqueira e Engenharia de Pesca, com ênfase em grandes peixes pelágicos (atuns, agulhões, tubarões), atuando principalmente em biologia reprodutiva, distribuição, comportamento, migração; Gestão Pesqueira e Direito Internacional do Mar e exerceu diversos cargos relevantes no Brasil e no mundo.

Hazin foi professor associado da UFRPE, no Curso de Engenharia de Pesca e no Programa de Pós-graduação em Recursos Pesqueiros e Aquicultura, e na UFPE, no Programa de Pós-graduação em Oceanografia. Até adoecer, era coordenador Geral Científico do Programa Arquipélago de São Pedro e São Paulo.

O currículo é ainda mais extenso, com diversas participações em palestras, comitês e comissões. Mas, sua atuação como professor era singular, conta um de seus ex-alunos e atual professor e pesquisador do Departamento de Pesca e Aquicultura da UFRPE, Paulo Oliveira. “Ele era incrível em sala de aula! Extremamente didático, usava exemplos e analogias simples para explicar diversos processos oceanográficos. As aulas ministradas por ele eram sempre riquíssimas e repletas de informações, tanto que era muito comum os alunos gravarem para não perder nenhuma informação”.

Na opinião do ex-aluno e colega de profissão, o oceanógrafo foi um dos legados perdidos para a covid. “Infelizmente. Mesmo sendo muito cuidadoso, o professor usava sempre duas máscaras, mesmo assim foi infectado, testou positivo cinco dias antes da vacina ser liberada para a sua faixa etária e ele estava consciente disso”, lamentou.

Para Paulo, a genialidade de Hazin e sua dedicação incessante à pesquisa geraram contribuições preciosíssimas para a ciência e gestão marinha no Brasil e no mundo. Ele acredita que o trabalho do pesquisador fortaleceu a ciência e abriu caminhos para a pesquisa brasileira no cenário mundial. “Seu comprometimento com a transmissão deste conhecimento e capacidade extraordinária de transbordar o amor pela ciência em sua oratória encantou e inspirou seus alunos e a todos que o ouviam”.

Hazin também ficou conhecido pelo trabalho de pesquisa sobre a presença de tubarões no litoral pernambucano e foi presidente do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit) entre 2004 e 2012.

“No litoral pernambucano as pesquisas foram desenvolvidas durante duas décadas, de 1994 até 2014. Quando as pesquisas começaram não sabíamos nem quais eram as espécies envolvidas. Hoje, sabemos confirmar quais as espécies envolvidas nos ataques, o tamanho, as áreas e períodos mais propícios para ocorreram os incidentes, a existência de um canal adjacente à linha de praia”, explica Paulo. As pesquisas em andamento conduzidas por Hazin continuam sendo desenvolvidas pela equipe que trabalhou com ele.

“O seu legado segue inspirando e orientando, e será sempre lembrado como uma referência na formação de futuras gerações de pesquisadores. Estamos certos de que sua ausência será sempre apenas física. Ele permanece vivo em tudo que enriqueceu na pesquisa e gestão pesqueira e na vida de todos que com ele conviveram”, finalizou Paulo, que também teve Hazin como seu orientador de mestrado e doutorado.

Órfãos da Covid

As mortes causadas pela pandemia de covid-19 deixaram 40.830 crianças e adolescentes órfãos de mãe no Brasil, em 2020 e 2021, segundo estudo publicado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O estudante Lucas Luis Ferreira da Silva, de 11 anos, é um desses. Ele perdeu a mãe para a doença em 2021. A educadora social Clébia Kelly Ferreira Paiva morreu repentinamente aos 37 anos, contou a avó do menino, a auxiliar de limpeza Nilza Ferreira Henrique da Silva.

“Ela sentiu os sintomas e foi para ao hospital. E a morte foi muito rápida, ela não chegou a ficar internada, a ficar ruim. Ela passou mal na madrugada, foi para o hospital e não deu 20 minutos, teve um infarto e morreu”. Ela não tinha comorbidades conhecidas, disse Nilza, que está criando os netos. Clébia, que era separada do marido, ainda tinha outros dois filhos, Yasmin, de 18 anos e Pedro, de 7.

Nilza diz que durante o período que Lucas fez acompanhamento psicológico, ele “deu uma melhorada”, mas não apresenta mais progressos. “De repente ele fica ansioso. Só no período do tratamento que ele mudou um pouco. Mas, de sofrimento, ainda continua a mesma coisa”. A criança descontinuou o tratamento e para voltar tem que aguardar na fila.

Lucas passou por atendimento no Programa de Acolhimento ao Luto (Proalu). A iniciativa faz atendimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para todo o país.

O medo da pandemia ainda ronda a vida da criança, conta Nilza. “Se ele for na esquina, ele coloca a máscara. É um trauma que ele ficou e uma culpa, porque foi ele que primeiro [da família] que sentiu os sintomas, depois todos fizemos testes e deu positivo. Mas falo com ele que não é assim, que ele não tem culpa”.

A mãe, que perdeu a filha, também sofre e se emociona ao lembrar da dor imposta pela morte precoce de Clébia. “É difícil, quero tentar normalizar, mas eu crio eles, que sempre dizem ‘estou com saudade da minha mãe’. Sofremos todos juntos, é uma dor que não passa”.

Pessoas idosas

O risco de contrair covid-19 é igual para todos, mas, para os idosos, por terem mais comorbidades e a queda da imunidade comum à faixa etária, a probabilidade de desenvolver a forma grave da doença é maior.

Por essa razão, idosos e idosas são os primeiros a receberem a vacina bivalente contra a covid-19, que melhora a imunidade contra o vírus da cepa original, contra a variante Ômicron e tem perfil de segurança e eficácia semelhante ao das vacinas monovalentes, de acordo com o Ministério da Saúde.

No primeiro ano da pandemia, em setembro de 2020, quando a vacina ainda não estava disponível, a vendedora aposentada Maria Enedina da Silva, então com 80 anos, contraiu covid-19 em Fortaleza (CE). Sua filha, a comerciante Juliana Mara da Silva Morais, contou que a idosa ficou um mês internada em estado grave.

“Ela pegou covid logo na primeira etapa, no pesado mesmo da pandemia. Ficou muito mal mesmo, foi internada em UTI, entubada, traqueostomizada e tudo mais que você imaginar”, detalha a filha. “Além do mais, ela tinha pressão alta, diabetes tipo 2, o kit completo”, brinca hoje, passado o susto.

Mas, apesar de ter passado vencido a doença, Maria Enedina ainda sente sequelas deixadas pela covid. “Nunca mais ela foi a mesma. É uma dor de cabeça que não passa com medicação nenhuma, ela amanhece o dia com dor. Todos os médicos que ela consulta dizem que é sequela da covid”.

Passada a covid, Maria Enedina, ainda foi internada e operada, tirou uma pedra na vesícula. “Tudo consequência da pancreatite aguda, de muita medicação que foi introduzida nela”, diz Juliana. Maria Enedina já tomou todas as doses da vacina, só falta a bivalente da Pfizer, afirma a filha.

A aposentada diz que tem esperança de que a pandemia acabe. “Agora que a pandemia está indo embora meu sentimento é de alívio. Quando peguei covid fiquei muito doente, só não fiz morrer”. Com o fim da pandemia, ela deseja também o fim das sequelas. “É uma dor de cabeça que eu sinto diariamente, já acordo com dor de cabeça, é muito triste!”.

Dores de cabeça, insônia, dificuldade para respirar, tosse incessante e ansiedade são sintomas da chamada covid longa. Um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo mostrou que esses problemas são mais frequentes em pacientes que foram internados por covid-19 e tiveram perda muscular.

A pesquisa acompanhou 80 pacientes. Casos graves ou moderados que ficaram internados no Hospital das Clínicas, em São Paulo, no ano de 2020, no período em que ainda não havia vacinas para todos. Os participantes foram acompanhados durante e após o período de hospitalização.

A perda de massa muscular costuma ser comum durante períodos prolongados de internação. Mas o estudo constatou que em pacientes por covid essa perda é mais acentuada a ponto de, em alguns casos, comprometer a mobilidade da pessoa.

A vacinação foi a ferramenta de prevenção que teve maior impacto no controle da pandemia de covid-19, que completa neste sábado (11) três anos. Apesar disso, grande parte das crianças brasileiras ainda não teve acesso a essa proteção e elas são consideradas por especialistas como vulneráveis a casos graves e mortes pela doença.

Segundo o Ministério da Saúde, entre os bebês e crianças de seis meses a quatro anos de idade, a cobertura vacinal contra a covid-19 é de 25% na primeira dose e de 2,5% na segunda.

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O esquema básico para essa vacina também prevê uma terceira dose, oito semanas após a D2, e só 0,1% do público-alvo recebeu essa aplicação. Essa faixa etária foi a última a ter acesso às vacinas, com a Pfizer baby, aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em setembro do ano passado. 

Antes disso, crianças de três e quatro anos podiam ser vacinadas com a CoronaVac, aprovada pela Anvisa para essa faixa etária em julho de 2022. Apesar disso, somente 22,87% das crianças com três e quatro anos foram imunizadas com a primeira dose, e 10,2% receberam a segunda dose, de acordo dados enviados pelo Ministério da Saúde à Agência Brasil. 

Já na faixa etária mais velha - de cinco a onze anos - a primeira vacina aprovada foi a Pfizer Pediátrica, ainda em dezembro de 2021. A vacinação propriamente dita começou apenas em janeiro de 2022, com mais de um mês de atraso, e, mais de um ano depois, a cobertura vacinal para a primeira dose é de 71,62% e a da segunda dose, de 51,58%.

Risco de infecção

Com coberturas tão abaixo da média da população brasileira, as crianças estão expostas à infecção pelo coronavírus, cuja circulação foi impulsionada pelas linhagens da variante Ômicron.

O presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, Clóvis Constantino, disse que não foi pequeno o número de crianças que adoeceu e morreu por covid-19 nesses três anos. Segundo o Laboratório de Saúde da Infância, da Fundação Oswaldo Cruz e da Faculdade de Medicina de Petrópolis do Centro Arthur de Sá Earp Neto (Unifase), o Observa Infância, mais de 1,8 mil crianças menores de cinco anos morreram de covid-19 entre o início da pandemia e outubro de 2022. 

"Ao contrário do que se dizia, que a criança não apresentaria formas graves da doença, ela apresentava com uma certa frequência, inclusive, com casos de síndrome inflamatória multissistêmica (SIM) e comprometimento cardíaco", disse Constantino, que também destaca os quadros de covid longa.

"Se a criança consegue sobreviver, tem a possibilidade de covid longa, principalmente nas que tiveram maiores comprometimentos, como a SIM, que é uma inflamação geral do organismo que tem um tempo muito longo de recuperação", afirmou.

Constantino vê a disseminação de fake news [notícias falsas] como ponto importante para a hesitação dos pais em vacinar seus filhos. Diante disso, o médico pediatra tranquilizou os responsáveis sobre algumas das dúvidas mais frequentes: os efeitos adversos causados por essas vacinas não fogem à normalidade do que já era previsto para outros imunizantes, e a tecnologia desenvolvida para elas não foi criada da noite para o dia, mas fruto de um salto tecnológico que levou muitos anos para estar pronto e poder ser usado na pandemia.

"O substrato biológico já estava pronto há muito tempo. Apenas faltava fazer o sequenciamento do vírus, identificar a parte do vírus que seria usada e fazer a adaptação dessa plataforma biológica que já estava pronta. Isso significa uma alta segurança do produto. Não havia necessidade nenhuma de se duvidar", explicou.  

O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Renato Kfouri, lamentou que, pela primeira vez, pais buscaram a imunização para se proteger, mas não fizeram o mesmo para proteger seus filhos. O médico vê as notícias falsas espalhadas sobre a vacinação como um elemento importante para esse problema.

"Isso impactou bastante na pediatria e na confiança das pessoas. É algo mais seletivo contra as vacinas de covid, mas acaba respingando nas outras vacinas, no conceito de vacinação, no valor das vacinas. E talvez o maior pilar de um programa de vacinação é a confiança, não só na vacina, mas no poder público", salientou.  

Idosos

Kfouri observou que, ao longo da pandemia, foi muito enfatizado o risco de agravamento da doença em idosos, e que essa comparação com outros grupos como as crianças contribuiu para a invisibilização dessa faixa etária. O problema cresce com a demora na chegada das vacinas para crianças, que só ficaram disponíveis em um momento em que a mortalidade da pandemia já havia passado da sua pior fase.

"O mais justo não é comparar a covid-19 na pediatria com a covid-19 no adulto e no idoso, mas, sim, a covid-19 na pediatria com as outras infecções pediátricas. Quando a gente vê isso, só a covid, sozinha, faz mais vítimas em crianças do que todas as doenças do calendário infantil de imunização. Se somar as mortes por todas as doenças imunopreviníveis, a covid-19, sozinha, faz mais vítimas", garantiu. 

Para o co-coordenador do Observa Infância, Cristiano Boccolini, a ideia de que as crianças não são do grupo de risco para covid-19 é falsa.

"As crianças, comparadas com adultos e idosos, têm um risco menor de ter a doença, mas elas não estão isentas de risco. Foi vendida para a sociedade a ideia de que criança não morre de covid. O ex-presidente falou isso, o ex-ministro falou isso. E isso entrou em um senso comum. As crianças têm, sim, risco, e hoje ele pode ser prevenido por medidas de vacinação. Cada morte de criança a partir de seis meses é uma morte prevenível", especificou. 

Também co-coordenadora do laboratório, Patrícia Boccolini lembrou que houve atraso na disponibilização da vacina pediátrica para a população e a criação de obstáculos, inclusive com o governo federal levantando a hipótese de exigir a assinatura de termo de consentimento e responsabilidade para a vacinação das crianças.

"O governo [anterior] fez de tudo para complicar. Ele não só não ajudou, como atrapalhou", avaliou Patrícia. "A figura central do Brasil [o ex-presidente Jair Bolsonaro] sempre defendeu que não iria se vacinar e que não iria vacinar sua filha, que era uma criança. Isso tudo para exemplificar que os pais têm a sua parcela de culpa, mas o cenário todo estava desfavorável e contribuindo para a hesitação desses pais" recordou Patrícia.

Para a pesquisadora, é muito importante a inclusão da vacina contra a covid-19 no calendário de vacinação da criança, estabelecendo como uma obrigação dos pais e responsáveis. 

"A vacinação está em destaque no Estatuto da Criança e do Adolescente como um direito da criança, e isso não foi respeitado. Só agora o governo está discutindo a entrada dela no calendário oficial. Se é um direito, ela tem que estar presente nesse calendário", acrescentou.

O Observa Infância destacou ainda que, além das mortes e sequelas da covid longa e os efeitos para a saúde mental do isolamento e do ensino remoto, as crianças e adolescentes sofreram também com a perda de seus pais durante a pandemia. Um estudo divulgado no fim do ano passado pelo grupo contabilizou 40 mil crianças e adolescentes que ficaram órfãos de mãe no Brasil por causa da covid-19. 

"Normalmente as mães têm um papel central na organização familiar. Então, ocorre uma relativa desorganização familiar, muitas vezes com as crianças tendo que ser adotadas ou tutoradas por parentes ou outras pessoas. E tem toda a questão da segurança social, como questões relacionadas à renda", destacou Cristiano Boccolini.

Crianças e adolescentes

Procurado pela Agência Brasil, o Ministério da Saúde adiantou que, na segunda etapa do Movimento Nacional pela Vacinação, que ocorre agora em março, será reforçada a importância da vacinação contra covid-19 com foco nas crianças e adolescentes.

O ministério afirmou, também, que trabalha em conjunto com estados e municípios para sensibilizar a necessidade da vacinação neste público e esclarecer os pais e responsáveis sobre a eficácia e segurança das vacinas e os riscos de doença e morte das pessoas não vacinadas. Segundo assessoria de imprensa do Ministério da Saúde, ainda em janeiro, a nova gestão iniciou as tratativas com laboratórios para antecipar as entregas dos imunizantes, que estavam em falta em todo o país.

"O Ministério da Saúde reforça que a vacinação é a forma mais eficiente de salvar vidas contra a covid-19.  A redução de óbitos e casos graves que o país vem registrando é reflexo da vacinação. Para que se mantenha essa tendência de queda, é necessário que a população se vacine e complete o esquema vacinal com todas as doses recomendadas para cada faixa etária. Para mobilizar o país sobre a importância da vacinação, o Ministério da Saúde lançou o Movimento Nacional pela Vacinação, que visa unir o país no propósito de ampliar as coberturas vacinais em todas as faixas etárias. As vacinas são seguras e eficazes, protegem crianças, adultos e idosos contra a doença", esclareceu o ministério.

Em 26 de fevereiro de 2020, o Brasil registrava o primeiro caso de infecção por covid-19. O paciente, um homem de 61 anos, deu entrada no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, com histórico de viagem pela Itália.

De lá para cá, quase 700 mil brasileiros morreram com diagnóstico da doença. Dentre os óbitos, 1,3 mil eram profissionais de medicina e enfermagem. As primeiras ondas da doença impactaram fortemente a saúde física, mental e emocional dos que atendiam na linha de frente das emergências hospitalares.

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Nessa época, a cardiologista Ana Karyn Ehrenfried trabalhava na Santa Casa de Curitiba e na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Fazendinha, também na capital do Paraná. A chegada do vírus ao país suspendeu os planos de um doutorado em São Paulo e fez com que a médica assumisse uma carga de trabalho de até 120 horas semanais em diversas urgências e emergências, incluindo unidades de terapia intensiva (UTI) exclusivas para pacientes infectados pelo vírus.

Em meio aos picos de casos, internações hospitalares e óbitos, Ana Karyn chegou a enfrentar filas em uma empresa de material industrial da cidade para conseguir equipamentos de proteção individual (EPI), que estavam em falta nas unidades de saúde.

Amigos da igreja se reuniam para levar máscaras à médica, que passava apenas duas noites em casa e emendava um plantão ao outro. A cardiologista chegou a cogitar deixar uma mala com roupas no carro por medo de passar a doença para a família.

“Tenho duas filhas, mas, na época, tinha só uma, a Manuela. Ela era novinha, mas já entendia. Minha sogra mandava mensagem dizendo ‘Ana, por favor, pense na sua família, no seu marido, na sua filha. O que vai ser se você morrer? Saia daí’. Quando escolhi a medicina, foi porque queria fazer a diferença na vida das pessoas. Sabia que estava lá e podia salvar vidas. Falava pra minha filha que, se acontecesse alguma coisa, queria que ela se orgulhasse de mim por estar ali e não ter me acovardado.”

Três anos após a identificação do primeiro caso, o acolhimento de pessoas infectadas pela covid-19 no Brasil ocorre em meio a um cenário de menos incertezas e muitas lições para os sistemas de saúde público e privado.

Além da tendência de queda na transmissão do vírus, a vacinação de praticamente todas as faixas etárias abriu caminho para menos casos graves, internações e mortes. Mas o esgotamento físico e mental de médicos e enfermeiros deixou sequelas.

“Quem esteve lá dentro do hospital nunca mais vai ser a mesma pessoa. É impossível. As pessoas que entravam na UTI muitas vezes não sairiam mais. Você, como médico, era a última pessoa que elas veriam. Lembro de alguns pacientes que eu precisaria entubar e de falar pra lembrarem das pessoas que amavam. Se acontecesse alguma coisa e eles não voltassem, a última frase que tinham ouvido era que alguém os amava. Até hoje enche meus olhos de lágrima só de pensar que isso aconteceu tantas vezes.”

“Nós, médicos, temos uma facilidade, entre aspas, de encarar a morte porque é uma coisa com a qual a gente convive de maneira mais próxima. Mas não é pra isso que a gente é médico. Pelo contrário, é pra trazer vida, pra trazer cura. Durante a covid, a gente fazia tudo que estava ao nosso alcance e, mesmo assim, os pacientes morriam. Era uma carga emocional que não tem explicação. Chegamos ao final dos picos de transmissão esgotados emocionalmente. A gente queria ver vida e não morte. Quem viveu nunca mais vai ser o mesmo.”

Exaustão

Um estudo da Universidade Federal de São Carlos apontou a presença intensa de quadros de exaustão e estresse entre profissionais de saúde de todo o país, além de má qualidade de sono, sintomas depressivos e dores pelo corpo. Foram ouvidos 125 profissionais da rede pública, que responderam a questionários online ao longo de 2021 e 2022. Os resultados mostram que 86% deles sofrem de burnout, um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastantes.

De acordo com a pesquisa, 75% dos entrevistados avaliaram negativamente as demandas emocionais ligadas ao trabalho, 61% criticaram o ritmo do serviço e 47% reprovaram a sua imprevisibilidade. Dados relacionados a comportamentos ofensivos também chamaram a atenção dos coordenadores do estudo: 15% dos profissionais relatara terem sido afetados por atenção sexual indesejada, 26% foram ameaçados, 9% sofreram violência física de fato e 17% reportaram bullying.

Aos 40 anos e com duas filhas, Ana comemora a mudança de rumos proporcionada pela chegada da vacina. “A história da covid mudou totalmente depois da vacina. Mas, como médica e profissional de saúde, vejo que as consequências, as sequelas emocionais e físicas ainda são longas e vai levar muito tempo pra gente se recuperar. São três anos que passaram, mas parece muito mais. Foram vidas marcadas tanto na área profissional quanto no atendimento a pacientes. Graças a Deus, a gente está aqui pra escrever uma nova história depois da covid.”

Médicos

O país contabiliza, atualmente, 546 mil médicos ativos, uma proporção de 2,56 profissionais por mil habitantes. Dados da plataforma Demografia Médica no Brasil 2023 mostram que os homens representam 51% desse contingente.

A média geral de idade desses profissionais é 44,9 anos e a maioria permanece concentrada no Sul e no Sudeste, nas capitais e em grandes municípios.

Nas 49 cidades brasileiras com mais de 500 mil habitantes e que juntas concentram 32% da população brasileira estão pouco mais de 8% dos médicos ativos.

Enfermeiros

Já o Conselho Federal de Enfermagem contabiliza 1,8 milhão de profissionais, entre enfermeiros (23%), técnicos e auxiliares de enfermagem (77%). Desse contingente, 1,5 milhão são mulheres, o que representa 85% do total.

A maioria desses profissionais tem entre 26 e 50 anos e vive na Região Sudeste (49%). Ainda de acordo com o Perfil da Enfermagem no Brasil, 42% desses profissionais são brancos, 41% pardos e quase 37,7% têm outros profissionais de saúde na família.

Desde que a pandemia de covid-19 começou, em 11 de março de 2020, o sucesso de novas estratégias na contenção do coronavírus SARS-CoV-2 e as mutações que deram a ele maior capacidade de transmissão moldaram altos e baixos que criaram ondas, picos e momentos de relaxamento e tranquilidade.

Nestes três anos, o coronavírus descoberto em Wuhan, na China, já causou 759 milhões de casos de covid-19, que provocaram 6,8 milhões de mortes, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Cerca de 65% da população mundial está vacinada com duas doses, e 30% receberam doses de reforço. Esses percentuais, porém, escondem desigualdades: enquanto Américas, Europa e Leste da Ásia estão perto dessa média ou acima dela, menos de 30% da população da África recebeu duas doses da vacinas.

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No Brasil, os óbitos se aproximam dos 700 mil, em um universo de 37 milhões de casos já diagnosticados. Apesar de a pandemia não causar mais o colapso de unidades de saúde, ela ainda faz vítimas: foram 330 na última semana epidemiológica, segundo dados do DataSUS, o que mostra que ainda é necessária atenção à prevenção, ao diagnóstico e ao tratamento da doença.

No que diz respeito à vacinação, o Brasil possui uma cobertura acima da média do mundo e das Américas, com 82% da população com o esquema primário completo e 58% com ao menos uma dose de reforço, segundo dados do painel Monitora Covid-19, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A maior parte dessas doses aplicadas é de vacinas de terceira geração, com as tecnologias de vetor viral e RNA mensageiro, uma inovação posta em prática em massa pela primeira vez com a pandemia de covid-19 e acrescentada ao arsenal da ciência contra futuras ameaças de saúde pública.

Quais foram os marcos que moldaram a pandemia?

Ao contar a história da pandemia, o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Alberto Chebabo, destaca que há muitas formas de dividi-la, e um dos principais marcos temporais que se pode apontar é antes e depois da vacinação.

“Em 2020, a gente não tinha vacina, e, em 2021, a gente começou a vacinar muito lentamente no primeiro semestre. Foi o período em que a gente teve o maior número de mortes e a maior demanda por leitos hospitalares”, lembra. “A partir do segundo semestre 2021, quando a gente consegue avançar na vacinação, há uma mudança de característica da doença, que passa a ter uma gravidade muito menor do que foi durante esse primeiro período, com uma redução importante de mortalidade e no impacto sobre a rede hospitalar.”

O infectologista acrescenta que as mudanças do próprio vírus são outra variável que moldou essa história. A partir de 2021, as variantes do coronavírus, especialmente a Gamma e a Delta, trouxeram um grande aumento de casos no Brasil, que se tornou ainda mais expressivo em 2022, com a chegada da Ômicron. Além de o vírus se disseminar mais rápido, os testes se tornaram mais acessíveis, o que também ajudou a elevar o número de diagnósticos de covid-19, que antes estavam restritos a casos de maior gravidade.

“Uma terceira forma de dividir é que a gente teve, a partir do final de 2022 e início de 2023, a possibilidade de ter medicamentos incorporados ao SUS para que a gente possa tratar os casos com pior resposta à vacina”, diz Chebabo. “Apesar de a gente querer um tratamento precoce, rápido e específico para a doença, a gente demorou a achar. Precisou ter um desenvolvimento de novas drogas antivirais e anti-inflamatórias para que a gente pudesse ter a possibilidade de tratar precocemente a doença. Medicações que foram advogadas como salvadoras, como a cloroquina e a ivermectina, realmente não tinham nenhuma função.”

O conhecimento sobre o vírus, explica o pesquisador, foi outro ponto importante que reduziu a mortalidade da doença. Ainda no primeiro ano da pandemia, a descoberta de como manejar os casos de falta de oxigenação no sangue permitiu um tratamento clínico mais eficaz nas unidades de terapia intensiva (UTIs). A própria caracterização da covid-19 como doença respiratória mudou ao longo do tempo.

“A gente aprendeu o espectro todo da doença. Não é uma doença apenas com um quadro respiratório agudo, é uma doença com quadros muito mais amplos, com quadros cardiovasculares, com risco de trombose, e com a covid longa. Também tem impactos a médio e longo prazo”, explica ele, que cita mudanças neurológicas e também sequelas pulmonares como condições pós-covid que podem necessitar de tratamento especializado.

A chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios, Exantemáticos, Enterovírus e Emergências Virais do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Marilda Siqueira, destaca que a colaboração de cientistas de diferentes áreas se deu de forma acelerada durante a pandemia, e esse foi um fator fundamental ao longo da emergência sanitária. O laboratório chefiado pela virologista foi referência da OMS no continente americano e também participou do desenvolvimento de testes diagnósticos em tempo recorde.

“Assim que a OMS disse que se tratava de um coronavírus, um laboratório em Berlim disponibilizou o desenho de como seria o teste diagnóstico PCR. Então, Bio-Manguinhos contactou nosso laboratório e, em colaboração conosco, produziu em menos de um mês um kit diagnóstico. Com coordenação do Ministério da Saúde, fizemos um treinamento de todos os laboratórios centrais de Saúde Pública [Lacens], e, em 18 de março, os 27 estados brasileiros já estavam com um profissional treinado e com kit para diagnóstico de SARS-CoV-2. Poucos países conseguiram isso, que foi fruto de investimentos de décadas do Ministério da Saúde e Ciência e Tecnologia em Bio-Manguinhos”, conta ela.

Da mesma forma que os testes, a pesquisadora explica que as vacinas também foram fruto de investimentos e esforços cumulativos, o que desmonta a falácia de que foram produzidas “rápido demais”. “Isso aconteceu em um curto espaço de tempo porque já vínhamos com experiências e conhecimento científico acumulado de décadas. Imagina se a introdução do coronavírus tivesse sido há um século, como aconteceu com a gripe espanhola. Teria sido arrasador, porque as ferramentas não estavam naquele momento prontas como estavam neste momento, em 2020. O uso dessas ferramentas que a humanidade vem desenvolvendo foram pontos cruciais para diminuir o impacto da pandemia em um ano.”

Maior colapso sanitário e hospitalar

O virologista da Fiocruz Amazônia Felipe Naveca conta que, assim como a agilidade e articulação dos pesquisadores, a capacidade de transmissão do coronavírus foi crucial para determinar as diferentes fases da pandemia. Desde sua descoberta, no fim de 2019, o vírus impressionou pesquisadores com seu potencial de disseminação, chegando a todos os continentes em poucos meses. Conforme o número de infectados cresceu, aumentou também a pressão seletiva sobre o vírus, que sofreu mutações para escapar do sistema imunológico das pessoas já infectadas e continuar se multiplicando.

“As variantes que tiveram maior sucesso e suas linhagens, ou eram mais transmissíveis, ou escapavam mais do sistema imunológico, ou as duas coisas”, define Naveca, que liderou o grupo responsável pelo sequenciamento da variante Gamma, no Amazonas, causadora do pior momento da pandemia no Brasil.

Foi a variante Gamma que causou as infecções durante o colapso hospitalar no Amazonas em janeiro e se espalhou no país nos meses seguintes a ponto de lotar hospitais em todas as regiões ao mesmo tempo. Menos de 15% da população estava vacinada com a primeira dose naquele momento, e o Brasil chegou a ter mais de 3 mil mortes por dia entre março e abril de 2021, quando enfrentou o maior colapso sanitário e hospitalar de sua história, segundo o Observatório Covid-19, da Fundação Oswaldo Cruz.

Desde 2022, entretanto, as descendentes da variante Ômicron dominam o cenário epidemiológico. “Do vírus ancestral à Ômicron foi um salto muito grande. Inclusive, algumas teorias sugerem que esse vírus ficou evoluindo de uma maneira silenciosa em alguns países com menor vigilância. Pode ser que ela tenha circulado de maneira silenciosa no continente africano, e quando se detecta a Ômicron, ela já era muito diferente de todas as que a gente conhecia.”

O sucesso da variante Ômicron em escapar da imunidade faz dela um marco na pandemia, na visão do vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Renato Kfouri, que concorda que o outro grande marco é a proteção coletiva obtida com as vacinas, a partir de 2021.

“A gente tem três momentos na pandemia. Um momento sem vacina; um momento com vacina antes da Ômicron, em que a proteção era mais elevada, inclusive contra as formas leves da doença; e um momento pós-Ômicron, em que a perda da proteção contra as formas leves aconteceu, mas foi conservada a proteção contra as formas graves da doença. Hoje, os vacinados continuam muito bem protegidos dos desfechos mais graves, mas não conseguem estar protegidos contra a infecção.”

O que poderia ter sido diferente?

O Brasil é o segundo país do mundo que contabiliza mais vítimas da covid-19, apesar de ter a quinta maior população mundial. A mortalidade da doença, medida em óbitos por 100 mil habitantes pela Organização Mundial da Saúde, também atinge no país uma média desproporcional: quase quatro vezes maior que a média mundial.

Para o epidemiologista e professor da Universidade de Illinois Urbana-Champaign, nos Estados Unidos, Pedro Hallal, comparar a mortalidade no Brasil com a média mundial requer uma série de ponderações – e elas podem ser ainda mais desfavoráveis para o país. O cientista é coordenador-geral da pesquisa Epicovid-19, que busca medir a prevalência do coronavírus e avaliar a velocidade de expansão da covid-19 no país.

Hallal explica que a população brasileira é, em média, mais jovem que a mundial, o que faz com que haja um percentual menor de pessoas no grupo de risco da covid-19. Além disso, o Brasil é um país de renda média que tem um programa nacional de vacinação muito superior ao da maioria dos países, e um sistema de saúde público e universal com capacidade de realizar atendimentos de alta complexidade, como os casos graves de covid-19. Em relação às subnotificações de outros países que possam puxar a média mundial para baixo, o epidemiologista argumenta que a literatura já construída sobre a covid-19 mostra que as mortes são muito menos subnotificadas do que os casos.

“Eu acho justo, por conta de todas essas explicações, dizer que o Brasil tem, no mínimo, quatro vezes mais mortes do que deveria ter”, diz Hallal, que enviou um estudo com essa metodologia no formato de carta ao editor para a revista The Lancet, um dos mais importantes periódicos científicos do mundo, e também apresentou o mesmo levantamento na Comissão Parlamentar de Inquérito da Pandemia, no Senado Federal. “Não estou comparando se o Brasil fosse o exemplo do melhor enfrentamento. Se o Brasil tivesse sido apenas mediano, ele teria 184 mil mortes, e não 699 mil.”

O especialista destaca que os erros do Brasil no enfrentamento à covid-19 vieram desde o começo da pandemia. Os investimentos em testagem e rastreamento de contatos foram insuficientes, aponta. Além disso, o governo Jair Bolsonaro apostou em uma estratégia de imunidade de rebanho por infecção, na qual havia a expectativa de que um número grande de infectados bloquearia a circulação do vírus em algum momento. "Um erro gravíssimo de quem fez uma leitura equivocada desde o primeiro dia sobre o que que era essa pandemia”, classifica. Ele argumenta que houve uma confusão sobre como deveriam ser implementadas as políticas de distanciamento social, por parte do governo federal, estados e municípios.

“O Brasil nunca fez um lockdown. O Brasil fez fechamentos seletivos de longuíssima duração, que destruíram não só a saúde pública, porque não conseguiram impedir a circulação do vírus, como também destruíram a economia do país”, diz. “A ciência mostra que, nos momentos mais agudos, é útil fazer um lockdown extremamente rigoroso e curto. A maioria dos lugares do mundo usa três semanas como referência.”

O presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Alberto Chebabo, é cauteloso em relação a comparações da mortalidade no Brasil com a média mundial, pelo risco de subnotificações ou confiabilidade dos dados de todos os países. Apesar disso, ele não tem dúvidas de que houve um excesso de mortalidade por covid-19 no Brasil.

“Certamente, a gente foi um dos países mais afetados. E a gente errou muito na pandemia, principalmente nos primeiros dois anos. O Ministério da Saúde não teve uma atuação coordenada, deixando a cargo de cada município e de cada estado a implementação de medidas, com uma politização e polarização infundadas que levaram a um número muito grande de casos e de óbitos relacionados à não implementação adequada a medidas de controle, principalmente as não farmacológicas [como distanciamento e máscaras], que eram as que gente tinha para oferecer no início”, avalia Chebabo. “Isso fragilizou muito o controle da doença no país, aumentando de forma acentuada o número de óbitos.”

Outro ponto que o infectologista destaca é que houve atraso no início da vacinação contra a covid-19 no momento em que a disseminação da variante Gamma causava a fase mais letal da pandemia, com até 3 mil mortes em um único dia.

“A vacinação contra a covid foi muito lenta e se arrastou durante quase todo o primeiro semestre de 2021, só ganhando força mesmo no segundo semestre”, afirma, lembrando que o país demorou a fechar a compra das vacinas de RNA mensageiro, exportadas pela Pfizer. “O Brasil tem capacidade de vacinar até 1,5 milhão de pessoas por dia, e vacinava 10 mil, 20 mil, ou 100 mil, no máximo. A gente talvez tivesse salvado mais vidas.”

Para o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Renato Kfouri, além da demora, houve falta de empenho em campanhas de estímulo à vacinação e até contrapropaganda por parte do governo à época. Ele considera que uma mortalidade por covid-19 acima dos países desenvolvidos já era esperada para o Brasil, porque isso também ocorre com outras doenças, mas acredita que fatores como os problemas na vacinação agravaram essa diferença.

“Essa poderia ter sido a grande bandeira do governo, que infelizmente trabalhou desfavoravelmente ao uso das vacinas. Atrasou, contraindicou, criou brigas políticas com produtores e questões xenófobas, só dificultando o processo.”

Kfouri destaca que, apesar disso, o Brasil alcançou uma alta cobertura nas duas primeiras doses, mas não conseguiu repetir o feito nas doses de reforço, que são consideradas indispensáveis para a proteção contra as cepas Ômicron. O médico avalia que a pandemia foi o ponto de partida do fortalecimento de movimentos antivacina no Brasil, e que as crianças foram as maiores afetadas.

“Pela primeira vez, a gente vê pais vacinados com até quatro doses que não vacinaram seus filhos. Em geral, a gente protege os filhos e depois pensa na nossa proteção. De uma maneira geral, isso impactou bastante na pediatria. Apesar de ser algo que é mais seletivo, contra as vacinas covid, acaba respingando nas outras vacinas”, afirma. “A pandemia trouxe à luz os grupos contrários à vacinação, que aproveitaram das vacinas contra a covid-19 para disseminar conceitos equivocados e a insegurança na vacinação. Os antivacinistas são muito poucos no Brasil e não prosperavam aqui porque não havia um campo fértil. A covid-19 criou essas condições.”

Quatro em cada dez pais ou responsáveis consideram que o avanço na alfabetização de estudantes das escolas públicas, no retorno às aulas presenciais após a pandemia de covid-19, evoluiu de forma mais lenta do que esperavam.

É o que mostra a pesquisa Educação na Perspectiva dos Estudantes e suas Famílias, encomendada ao Datafolha pela Fundação Lemann, Itaú Social e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), com apoio da Rede Conhecimento Social.

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No levantamento, os pais ou responsáveis revelaram que as crianças e os jovens em idade escolar estão avançando com dificuldades (34%) ou não estão avançando no processo de alfabetização (6%). Além disso, segundo os responsáveis, 10% dos estudantes de alfabetização estão em nível muito abaixo do esperado em leitura e escrita e 11% em nível inadequado.

A pesquisa foi feita em dezembro de 2022 e ouviu 1.323 responsáveis por 1.863 estudantes matriculados em escolas públicas, entre 6 e 18 anos, e foi feita para avaliar o primeiro ano de retorno presencial às aulas após a pandemia de covid-19.

A apuração revelou ainda que oito em cada dez entrevistados (78%) consideram que a educação deve ser a prioridade dos novos governos, seguida pela saúde (66%) e pela segurança pública (21%). Para que a educação seja priorizada, os entrevistados disseram que os novos governos devem garantir maior oferta de formação de professores, ampliar o uso de tecnologias nas escolas e promover programas de reforço e de recuperação a estudantes.

Outros dados apresentados mostraram que 66% dos estudantes estão em escolas que fazem avaliações para conhecer as suas dificuldades de aprendizagem e 50% deles tiveram oferta de reforço escolar, o maior índice observado desde maio de 2021. O estudo também revelou que 44% dos estudantes estudam em escolas que oferecem apoio psicológico.

Desigualdades regionais

O estudo evidenciou que há grande desigualdade regional entre os estudantes da rede pública no país. Por exemplo, entre os estudantes da Região Norte, o uso de tecnologias foi apontado como necessidade maior (28%) do que entre os estudantes das regiões Sul e Sudeste do país (18%).

As entrevistas revelaram que há desigualdades de renda: nas escolas de menor nível socioeconômico, o número de estudantes com problemas no processo de alfabetização chega a 50%, sendo que 14% deles não estariam avançando no processo e 36% estão avançando, mas com dificuldades.

“A retomada das aulas presenciais nas redes de ensino foi um marco na vida de crianças e jovens em idade escolar, após o período mais crítico da pandemia. Agora é preciso ter um olhar atento e propor ações ágeis e eficientes para mitigar o alto índice de evasão escolar, a defasagem na aprendizagem e os desafios relacionados à saúde mental que atingem nossos estudantes. Importa ainda que isso seja feito em todo o território nacional, com ações estruturadas de forma conjunta, garantindo a equidade e qualidade, requisitos básicos para a efetivação do direito à educação”, disse Patricia Mota Guedes, superintendente do Itaú Social, por meio de nota.

O Departamento de Energia dos Estados Unidos mudou seu posicionamento sobre a origem da pandemia de covid-19 e avalia, agora, que o vírus se espalhou provavelmente a partir de um vazamento acidental em um laboratório de Wuhan, na China. A informação consta em um relatório de inteligência confidencial recentemente fornecido à Casa Branca e aos principais membros do Congresso.

Até então, o Departamento de Energia manifestava dúvidas sobre a origem do vírus. A nova posição aparece em uma atualização de um documento de 2021 do escritório da diretora de Inteligência Nacional Avril Haines.

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O novo relatório destaca como diferentes partes da comunidade de inteligência chegaram a julgamentos díspares sobre a origem da pandemia. O Departamento de Energia agora se junta ao Departamento Federal de Investigação (FBI, na sigla em inglês) ao dizer que o vírus provavelmente se espalhou por um acidente em um laboratório chinês. Quatro outras agências, juntamente com um painel nacional de inteligência, ainda julgam que foi provavelmente o resultado de uma transmissão natural; duas estão indecisas.

A comunidade de inteligência dos EUA é composta por 18 agências, incluindo escritórios nos departamentos de Energia, Estado e Tesouro. Oito deles participaram da revisão das origens do covid, junto com o Conselho Nacional de Inteligência.

A conclusão do Departamento de Energia é relevante porque a agência possui considerável conhecimento científico e supervisiona uma rede de laboratórios nacionais dos EUA. No entanto, o departamento fez seu julgamento com "baixa confiança", de acordo com pessoas que leram o relatório confidencial. Já o FBI, que havia chegado à mesma conclusão antes, tem "confiança moderada" nesta visão.

Telegramas do Departamento de Estado dos EUA escritos em 2018 e documentos internos chineses mostram que havia preocupações persistentes sobre os procedimentos de biossegurança da China, que foram citados pelos proponentes da hipótese de vazamento de laboratório. O vírus covid-19 circulou pela primeira vez em Wuhan, na China, até novembro de 2019, de acordo com o relatório de inteligência dos EUA de 2021.

Autoridades dos EUA se recusaram a dar detalhes sobre as novas informações que levaram o Departamento de Energia a mudar de posição. Eles acrescentaram que, embora o Departamento de Energia e o FBI digam que um vazamento não intencional do laboratório é mais provável, eles chegaram a essas conclusões por diferentes razões.

Apesar das análises divergentes, a atualização reafirma um consenso de que a pandemia não foi resultado de um programa chinês de armas biológicas, ressaltaram as fontes. Um alto funcionário da inteligência dos EUA confirmou que a comunidade de inteligência conduziu a atualização à luz de novas informações, estudos mais aprofundados da literatura acadêmica e consultas a especialistas de fora do governo.

A atualização, que tem menos de cinco páginas, não foi solicitada pelo Congresso. Parlamentares, principalmente os republicanos da Câmara e do Senado, vêm realizando suas próprias investigações e pressionando o governo Biden e a comunidade de inteligência para obter mais informações.

As autoridades não disseram se uma versão não confidencial da atualização será apresentada.

Um porta-voz do Departamento de Energia se recusou a discutir os detalhes da avaliação. O FBI também se recusou a comentar. A China contesta que o vírus possa ter vazado de um de seus laboratórios e sugere que ele surgiu fora do país. O governo chinês não respondeu a pedidos de comentários sobre se houve alguma mudança em sua avaliação.

Em maio de 2021, o presidente Biden disse à comunidade de inteligência do país para intensificar as investigações sobre as origens da pandemia e ordenou que a revisão se baseasse no trabalho dos laboratórios nacionais e agências dos EUA. O relatório de outubro de 2021 dizia que havia consenso de que a covid-19 não resultava de um programa chinês de armas biológicas. Mas não resolvia o debate sobre se resultou de vazamento de laboratório ou se veio de um animal, apontando que mais informações eram necessárias das autoridades chinesas.

Fonte: Dow Jones Newswires.

Ana Maria Braga está positivada para Covid-19 novamente. Esta é a terceira vez que a apresentadora contrai o vírus e, por esse motivo, se afastará do programa matinal que comanda na TV Globo durante esta semana, o ‘Mais Você’. Ela própria deu a notícia para os fãs através de um vídeo publicado em seu perfil no Instagram.

Demonstrando estar bem, Ana tranquilizou os fãs e disse que não estava com sintomas graves. Segundo a apresentadora, ela sentiu-se gripada na noite da última segunda (20) e decidiu fazer um teste de Covid. Este é o terceiro positivo que ela apresenta. “Infelizmente essa doença ainda está rondando por aí. Não é igual à primeira covid que tive. Sinto que é mais fraca porque estou vacinada", disse.

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Ana aproveitou o anúncio para falar sobre a importância da vacinação. Ela deixou um apelo para aqueles que porventura tenham deixado passar alguma fase do cronograma vacinal corra atrás de uma atualização. “Espero que quem não tenha tomado vacina vá tomar. Nem se compara agora com a primeira vez que tive. Se cuidem”. 

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