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Luísa Sonza saiu para curtir um rolê clássico na cidade de São Paulo. Na última segunda-feira, dia 25, a cantora surgiu em fotos ao lado dos amigos em Perus, na Zona Noroeste da capital paulista.

Nos cliques, Sonza aparece curtindo um clássico baile funk, mas não parou por aí! Em momentos mais tranquilos, Luísa até soltou a voz em uma roda de música e fez pose com um copo na mão.

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Aos 25 anos de idade, Luísa acaba de lançar uma série documental na Netflix sobre os últimos anos de sua vida. Durante os episódios, ela fala sobre como o ódio que recebe nas redes sociais afeta sua vida.

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A Associação Sociocultural Outros Nativos (Ason), a Cooperativa de Trabalhadores Recicladores das Águas Lindas (Cootaral), a Associação de Catadores da Coleta Seletiva de Belém (ACCSB) e a Associação de Moradores da Área Dois das Malvinas (Amad) realizam neste sábado (17), em Belém, o I Fórum Comunitário Meio Ambiente Cultura e Cidadania da Sacramenta. As entidades querem tirar diretrizes comuns para encaminharem às autoridades municipal e estadual.

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A intenção é propor ações e políticas para setores que impactam a periferia da cidade de Belém. “A Sacramenta, como o Dasac como um todo, é um bairro onde a atividade comercial e industrial cresce a cada dia e isso impacta diretamente a qualidade de vida da população”, explica Marco Antonio Pinheiro, da Amad.

Além da qualidade de vida dos mais de 45 mil habitantes da Sacramenta e mais de 225 mil do Dasac (Distrito Administrativo que engloba ainda outros seis bairros, incluindo o Telégrafo, Pedreira, Fátima e Barreiro), as ações da Sacramenta podem contribuir para toda a cidade. “Trata-se de um distrito estratégico porque pode conter espaços e soluções para problemas importantes como a coleta de lixo, a arborização e a criminalidade na cidade”, pondera Elielton Alves, também conhecido como Nicobates, presidente da Ason.

No bairro estão sediadas, por exemplo, os galpões das duas maiores cooperativas de reciclagem da cidade, a Cootaral e a ACCSB. “Políticas de infraestrutura, mas também políticas que envolvam as pessoas, como catadores e agentes comunitários podem ajudar a solucionar, ou pelo contribuir muito para solucionar problemas como os resíduos domésticos”, observa Sarah Ferreira Reis, presidente da Cootaral e da Rede Recicla Pará.

Além do Fórum, ocorre no mesmo dia, após a mesa de debate, a V Mostra Nativa, organizada com artistas do Coletivo Outros Nativos. Apresentam-se a cantora Believe MC (Brenda Believe), as bandas Nicobates e Os Amadores e Superself, o cantor Buscapé Blues, o rapper Fartura Flame e o grupo de carimbó Grão Pará. Em parceria com a Batalha da Dorothy Stang haverá apresentação de pocket shows de rappers e batalha de MCs.

A programação do Fórum terá início às 16 horas de sábado e a programação cultural começa às 18 horas. O acesso à quadra da Dorothy Stang é gratuito.

Serviço

I Fórum Comunitário Meio Ambiente Cultura e Cidadania da Sacramenta.

V Mostra Nativa.

Dia 17 de Junho de 2023 – Praça Dorothy Stang – Sacramenta.

A partir das 16h.

Mais informações: (91) 9 8168 7474.

Da assessoria do evento.

 

Cerca de 500 pessoas tiveram de ser retiradas de suas casas, nesta sexta-feira (20), na zona metropolitana de Seul, devido a um grande incêndio às vésperas do feriado do Ano Novo Lunar — informaram as autoridades.

Um vídeo que circula na Internet mostra o avanço das chamas na localidade de Guryong, periferia próxima aos arranha-céus do luxuoso bairro de Gangnam, na capital sul-coreana.

O incêndio começou por volta das 6h30 locais e foi totalmente extinto ao meio-dia, disseram as autoridades, acrescentando que pelo menos 60 casas foram queimadas. Por enquanto, não há informações sobre vítimas.

As causas do incêndio ainda são desconhecidas.

"Estamos considerando abrir uma investigação adicional neste caso", disse à AFP Choi Jae-young, funcionário do serviço de combate a incêndios e desastres da zona metropolitana de Seul.

O incêndio não surpreendeu os moradores.

"Houve muitos problemas de segurança na comunidade em relação aos incêndios e parece que eles nunca foram seriamente reconhecidos" pelas autoridades, disse Lee Woon-chul, de 65 anos, que vive nesta comunidade há 30 anos.

“As casas estão muito velhas, e os cabos elétricos são perigosos e estão mal colocados. Com frequência, há faíscas dentro das casas”, acrescentou.

Desde 2012, oito incêndios ocorreram no bairro, de acordo com o escritório do bairro de Gangnam, em Seul.

A comunidade de Guryong foi criada por volta de 1988, depois que moradores dos arredores foram despejados de suas casas, devido ao desenvolvimento da capital, que sediaria os Jogos Olímpicos.

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O Festival Outros Nativos está com inscrições abertas para a seletiva da sua terceira edição. Os candidatos, artistas solo e bandas com autores das canções de até 45 anos de idade, podem se inscrever até esta quarta-feira, dia 11 de janeiro, pelo site www.outrosnativos.com.br.

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Dos inscritos, cinco participarão da mostra competitiva que vai ocorrer no próximo sábado, dia 14, na Praça Dorothy Stang, bairro da Sacramenta, das 18 às 22 horas. Os selecionados disputam uma vaga em outro projeto do coletivo, o Incubadora Outros Nativos, que vai dar a produção de um EP com até três músicas e um videoclipe para o vencedor.

O Festival Outros Nativos surgiu em 2019 com a proposta de dar voz e visibilidades aos artistas da periferia de Belém, especialmente do Distrito Administrativo da Sacramenta (Dasac), onde o Coletivo de mesmo nome atua. Artistas de qualquer bairro de Belém podem se inscrever.

Paralelamente à mostra competitiva, haverá a Mostra Nativa, que é formada por artistas do coletivo e artistas convidados. Entre estes, estão confirmadas as participações das cantoras Bárbara Alves e Brenda Believe, do cantor Álvaro Júnior e dos rappers Fartura Muk e Fartura Flame. O vencedor da última edição do Festival, apresentada de forma on-line durante a pandemia em 2021, o rapper Moraes MV será a atração convidada desta seletiva.

O Festival Outros Nativos Seletiva tem o patrocínio da Suzano, por meio do Instituto Peabiru, Edital Sacramenta Socioambiental de Apoio a Ações Comunitárias. A produção executiva do Festival este ano é de Nicobates, André Xavier, Taisse Naiade e Bárbara Alves. A produção musical é de Otávio Silva.

Serviço

Festival Outros Nativos Seletiva 2023.

Seis artistas convidados e mais cinco artistas selecionados.

Inscrições até 11/01/2023 no site www.outrosnativos.com.br

Data da Mostra: 14/01/2023.

Informações: (91) 98168-7474.

Da assessoria do evento.

Entre memórias, histórias reais misturadas com a ficção e situações que seriam cômicas se não fossem trágicas, o Grupo de Teatro Trupe Teia apresenta o espetáculo “Brincádiquê”, montagem que se cria e se apresenta pelas ruas da periferia de Belém, especificamente nos bairros do Jurunas, Guamá e Terra Firme. Com poesia, comicidade e palhaçaria, o espetáculo quebra rotinas de espaços tradicionais dos bairros para discutir o direito à cidade, acesso à cultura e à cidadania.

A partir das linguagens da palhaçaria, da brincadeira de rua e bebendo na fonte da cultura popular, o espetáculo se define como teatro de cortejo, linha de pesquisa e de atuação em que o grupo Trupe Teia desenvolve desde 2021. “Brincádiquê” é um espetáculo brincante para todos os públicos, mas especialmente para os que moram nas periferias e sentem diariamente o que é viver na cidade mas não acessá-la.

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Para Alana Lima, uma das coordenadoras e atriz do projeto, o centro da cidade é cheio de programações culturais, mas infelizmente a periferia carece de acesso à cultura. “A gente trabalha e mora na periferia e muitos dos nossos indutores de criação partem da relação com os bairros. Pra gente não faz sentido ir pro centro apresentar algo que é criado a partir da periferia e pra ela. Nós queremos, junto com tantos outros movimentos culturais e sociais periféricos, construir uma cultura de acesso ao teatro e de formação de plateia com pessoas pretas, periféricas, que muitas vezes nunca assistiram a um espetáculo”, explica Alana.

“Brincádiquê” apresenta críticas sociais por meio das diversas histórias reais do dia a dia da comunidade que serão misturadas com a ficção, comicidade e a palhaçaria, linguagem que está presente em todos os espetáculos do grupo. “A gente junta um pouco das nossas próprias histórias com o que ouvimos de amigos, vizinhos, parceiros e pessoas que nos cederam seus relatos para a pesquisa. São histórias de quem nasceu e cresceu no Guamá, Jurunas e tantas outras periferias. Há histórias com profundas críticas sociais e outras com uma relação bem sensível com o território e a cidade”, afirma a atriz e produtora Alana.

Os artistas foram para as ruas de Belém conversar com moradores e vivenciar os bairros. “Durante o processo de criação, a gente conversou com os moradores, e tudo isso foi base para a criação dos personagens que vão ser apresentados, sempre com diálogo com a comunidade e com a rua”, enfatizou a atriz Victoria Myuke.

O Espetáculo “Brincádiquê” foi selecionado pelo Prêmio FCP de incentivo à arte e à cultura 2022.

Sobre os realizadores

A Trupe Teia é um coletivo que desde 2019 desenvolve pesquisa e atuação em palhaçaria e teatro de rua nas periferias e comunidades de Belém, em especial o bairro do Guamá. Em 2021 começam a focar na pesquisa do Teatro de Cortejo enquanto uma linguagem cênica de rua que mescla a musicalidade da cultura popular e as comicidades das periferias. Entre os principais trabalhos da Trupe está o Projeto Biketeca, de 2021, uma biblioteca na bike que circula pelo bairro do Guamá distribuindo livros e desenvolvendo ações cênicas de rua.

Serviço

“Espetáculo Brincádiquê“.

14/11 - 17h30 - Passagem Limoeiro - Jurunas

15/11 - 9h - Biblioteca do Tucum - Guamá/Terra Firme

15/11 - 20h - Praça Benedito Monteiro - Guamá

19/11 - 17h - Praça Helena Dias – Jurunas

Entrada Gratuita.

Por Ariela Motizuki, da assessoria do evento.

 

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Cercada das mais variadas expressões artísticas desde a infância, no bairro da Sacramenta, periferia de Belém, a artista Fran Farias, de 23 anos, entrou no mundo da colagem em 2016. Atualmente, a jovem é dona de uma loja on-line, a Sagita Collage, e faz sucesso na internet com as postagens e a crescente venda de suas criações. Além de ter o trabalho reconhecido e requisitado em outros Estados do Brasil, a artista também oferece oficinas e participa de exposições com a temática de seu trabalho.

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Artistas do movimento surrealista, criado na década de 1920, como Salvador Dalí, Frida Kahlo e René Magritte, são as inspirações para a produção das colagens da empreendedora. “Eu a acho incrível [Frida], porque ela é uma artista-mulher que conseguiu muito reconhecimento em um tempo que a arte era dominada por artistas homens”, explica.

A ideia de criar a marca Sagita Collage surgiu em 2016, ainda como um hobby. De acordo com a artista, o projeto surgiu por meio de artes criadas no paint, software para desenhos e edições em imagens. A ideia inicial de Fran era apenas criar seus projetos artísticos e compartilhar no Instagram, sem o intuito de vendê-los.

Aos poucos, a conta teve um grande alcance e os clientes começaram a aparecer. “Logo no início vendi somente uma camisa e não tive mais retorno. Depois de um tempo, comecei a produzir algumas com estampas paraenses e, de um dia para o outro, eu comecei a vender muitas camisas”, explica.

A cultura paraense, ainda hoje, é a mais procurada pelos clientes, principalmente com a presença dos locais da cidade de Belém. Para além de camisas, a vendedora expandiu os produtos da sua loja e agora também vende ecobags, canecas e quadros com criações apresentando outras temáticas.

“Muitas pessoas me mandam mensagens querendo a arte com praias daqui, com a Estação das Docas. As minhas artes envolvem música, o que eu sinto, o que eu sou, mas envolve também política e milhões de outras coisas”, complementa.

A empreendedora demorou para compreender que o seu talento estava tornando-se uma forma de gerar renda. A jovem relata que somente após sair da casa da mãe para morar sozinha, vivendo unicamente das vendas de sua loja, é que teve a noção da proporção do seu trabalho.

No mês de abril, Fran Farias participou do evento ExpoFavela, uma feira de negócios em São Paulo, onde empreendedores artistas da periferia do Brasil tiveram a oportunidade de vender e ampliar a visibilidade do seu trabalho para apreciadores das artes no país.

“Venho de uma família que nunca teve condições financeiras e, hoje em dia, eu tenho, graças à minha arte. Ver que o Sagita cada vez mais se expande para tantos outros lugares me dá mais certeza de que eu estou no caminho certo e, claro, que tudo isso foi construído com muito trabalho, fé e sorte”, explica.

A artista já participou de várias exposições em Belém e teve a oportunidade de dar oficinas locais e em Santa Catarina, no Paraná. Para Fran Fariaz, esse momento significou bastante, pois ela pôde conversar e conhecer pessoas que admiravam seu trabalho.

“Para mim é incrível. Para quem vem da periferia, é muito mais complicado conseguir essa visibilidade, o que, basicamente, todo artista precisa. Sempre penso que o meu trabalho nunca chegaria em ninguém se não fosse pela internet. Imaginar que pessoas de outro Estado e, até mesmo do Pará, mas que jamais me conheceriam se não fosse pela internet, hoje me têm como referência, assim como eu tenho tantos outros artistas, é incrível”, ressalta.

Por Juliana Maia (sob a supervisão do editor prof. Antonio Carlos Pimentel).

 

Na última semana, organizações sociais lançaram no Recife um documento intitulado "Guia Prático sobre Abordagem Policial". O material, voltado aos jovens periféricos, orienta sobre como se portar durante o 'baculejo', quais são os direitos do abordado e a quem as vítimas de violência policial podem recorrer.

Entre o trabalho de ambulante, ajudante de pedreiro e tatuador, o autônomo José Carlos relata que vive uma rotina de constrangimento, a qual é ordenado a colocar as mãos na cabeça até quando vai comprar pão. Aos 26 anos, ele diz que perdeu as contas de quantas vezes foi abordado dentro ou fora do seu bairro, na comunidade do Detran, na Zona Oeste do Recife, onde os moradores observam o policiamento ser distanciar da preservação da ordem social. 

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"Uma vez teve um que me revistou e quando ele foi embora, coloquei a mão no bolso e vi que não tava o meu dinheiro. Eu chamei: 'Ei, senhor, e meu dinheiro?', ele começou a me ameaçar e disse: 'Tas me chamando de ladrão, é? Vai embora'", recorda, ao descrever o sentimento de incapacidade e humilhação. 

Ele recebeu o primeiro 'baculejo' quando tinha 13 anos. Assim como em outras oportunidades, José Carlos nunca decidiu denunciar os excessos, por medo de ameças como a citada.

O autônomo não generaliza a categoria e ressalta que há policiais que respeitam o dever junto à sociedade, mas enxerga o preconceito como motivação para o que insistem em se desviar da integridade da função. 

 Mais de 1.000 processos em andamento 

De 2019 a 2021, 506 policiais foram punidos em Pernambuco, aponta a Corregedoria Geral da Secretaria de Desenvolvimento Social (SDS). As queixas mais frequentes foram de 'agressão física' e 'ameaça', que representam 1.358 casos, 'abuso de autoridade' (355), 'trabalhar incorretamente' (1.143) e 'faltas/atrasos' (494). 

Atualmente, 1.414 processos estão em andamento no estado, informa o órgão, que garante a apuração rigorosa nas ações, que podem definir a suspensão ou até a exclusão dos agentes denunciados. 

 Informação contra a impunidade 

Para dar visibilidade ao assunto e emponderar quem se vê fragilizado com truculência das abordagens, o 'Guia Prático sobre Abordagem Policial' foi produzido pela Rede Comunitária de Santo Amaro, através do Grupo AdoleScER e do Ruas e Praças, em debate com a Caritas Alemã, o Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop), a Comissão de Direitos Humanos da OAB-PE e com o mandato do vereador Ivan Moraes (Psol). 

O material conta com 14 páginas e está disponível no formato online para alcançar mais leitores. O texto reúne os direitos da pessoa abordada como os limites do acesso da autoridade policial ao celular, a devolução de pertences, apresentação de documentos e a entrada em residências. 

Entre as recomendações, o Guia informa que não há obrigatoriedade de portar documentos, apenas informar os dados do registro, o nome dos pais e a data de nascimento.  O policial tamém não pode "mexer no seu celular sem autorização por escrito de um juiz. Se fizer isso, estará violando sua privacidade e sigilo da comunicação, assegurado pela Constituição"

"O policial pode revistar bolsas, sacolas e mochilas sem mandado judicial, desde tenha indício que justifique a suspeita [...] sem ameaças, agressividade, gritaria e/ou xingamentos. Se um policial ameaçar alguém para que confesse algo, isso é crime de TORTURA", ressalta.

Além da Corregedoria, que recebe queixas pelo telefone (81) 3184-2714 ou de forma presencial no endereço Avenida Conde da Boa Vista, 428, o Guia listou o contato das principais organizações que podem prestar assistência. Confira o material. 

Motivadas por acreditarem na necessidade de um espaço para diálogo, reflexão e experimentação de novas práticas pedagógicas, as professoras Lília Melo e Débora Ferreira criaram e estão lançando a obra “Letramentos no Ensino Médio: prática docente, resistência e sobrevivência na periferia da Amazônia”. O lançamento oficial vai ser nesta sexta-feira (14), às 19 horas, na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Brigadeiro Fontenelle, na Terra Firme, em Belém.

Lília Melo afirma que é importante entender o novo processo de ensino-aprendizagem e ter novas perspectivas acerca da educação. “Foi a partir da tese de doutorado defendida pela professora Débora Ferreira, na Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, que decidimos transformar em uma linguagem mais didática, mais acessível no livro”, explica.

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A educadora diz que a produção do livro se deu a partir da pesquisa que acompanha a prática pedagógica dela desde o início do projeto “Juventude preta periférica – do extermínio ao protagonismo”, e traz a perspectiva de uma narrativa contra-hegemônica dentro de um processo dialógico que considera saberes ancestrais e populares como saberes científicos, e que ao serem reconhecidos dessa forma devem ser levados à escola para serem aprendidos e respeitados.

Lília Melo acrescenta que as concepções pedagógicas de educadores como Paulo Freire, Lélia Gonzalez e de outras referências são importantes para despertar o protagonismo do aluno. “Os fazeres culturais, os dons artísticos de uma comunidade precisam estar presentes no cotidiano da escola”, ressalta.

O principal objetivo da obra, segundo a professora, é a desconstrução da ideia distanciada que existe de conhecimento acadêmico. Lília Melo afirma que é importante perceber que há uma prática pedagógica científica atuante dentro das periferias e das escolas públicas, e que ela precisa ser considerada dentro das academias.

“Ela precisa ser estudada, ser percebida e respeitada, e ao ser respeitada, reverberada por vários outros territórios. Nós estamos falando especificamente de um território da Amazônia, que pode se comunicar com outros territórios, tanto no Brasil, quanto fora dele. Então, esse é o principal objetivo: estabelecer diálogo e socializar experiências que já deram certo, e o que os resultados comprovam de que realmente deram certo”, reitera.

A educadora afirma que a obra tem muito a contribuir para a educação brasileira, considerando que estamos vivendo o retorno presencial das aulas em um contexto cheio de receios. A partir disso é possível perceber as necessidades da comunidade e da escola como um todo, especificamente da pública, com a finalidade de acolher essas demandas e trazer soluções para o enfrentamento desse contexto.

Lília Melo destaca que agora é necessário cuidar também da saúde mental, não somente dos alunos, mas dos responsáveis por eles, e das pessoas que se relacionam diretamente com eles. “Isso já deveria ter sido tratado, e isso já teria sido cuidado muito antes do momento pandêmico. Muito antes desse momento nós já deveríamos ter essa preocupação”, aponta.

Ela ressalta que o aluno que está dentro de sala de aula é um sujeito construído socialmente e essa comunidade com quem ele se relaciona diretamente precisa ser compreendida também. “Para que ela seja compreendida, é necessário perceber a identidade sócio-histórico e político-social de um território ao qual ele pertence”, afirma.

Para adquirir um exemplar, entrar em contato com Lília Melo:

Instagram: @liliamelotf

WhatsApp: (91) 99217-6292

Por Isabella Cordeiro.

O secretário estadual de Saúde André Longo afirmou nesta quinta-feira (5), que o processo de vacinação de Pernambuco está sendo bem democrático. "A gente tem buscado dar acesso. Inclusive, o governo fez uma parceria com a Uber para que as pessoas que não tinham acesso à vacina tenham suas corridas disponibilizadas", garantiu o secretário.

A declaração de Longo vai de encontro ao que foi constatado pelo LeiaJá. Usando o Recife, capital pernambucana, como parâmetro, foi verificado a disparidade no número de pessoas brancas e pretas que já foram imunizadas. Segundo atualização da Secretaria de Saúde na última terça-feira (3), cerca de 195.659 pessoas declaradas brancas concluíram o esquema vacinal, 174.410 declarados pardos também foram vacinados. Por outro lado, só 48.851 pessoas declaradas pretas foram imunizadas.

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O secretário estadual de Saúde revelou que vai procurar a Prefeitura do Recife para ver esta situação e saber se precisará tomar alguma medida para a diminuição dessa disparidade. "Se é preciso fazer um trabalho de agente comunitário da saúde, que é a busca ativa, isso tudo pode ser aperfeiçoado e nós vamos buscar o Recife e outros municípios para ver a questão desse perfil", assegura André Longo.

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Dados do Vacinômetro do 'Plano Vacina Recife' escancaram a disparidade na entrega de doses à população preta. Seja pela restrição de pontos de imunização na periferia ou por dificuldades de deslocamento, o recorte racial da campanha expõe uma realidade excludente.

O Recife iniciou o Plano em janeiro deste ano com a missão de garantir a cobertura vacinal para 1.237.614 pessoas aptas a receber as doses. Dessas, apenas 427.776 tomaram as duas ou a dose única da Janssen. Cerca de 34% da população foi protegida.

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O ritmo lento é sentido por todos os recifenses, mas, para os brancos, o imunizante é mais acessível.

A atualização da Secretaria de Saúde (Sesau) na terça-feira (3) mostra que 195.659 caucasianos concluíram o esquema vacinal e 174.410 pardos foram protegidos. No caso dos pretos, só 48.851 foram imunizados.

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Entre os recifenses que já encerraram o ciclo de vacinas, cerca de 45% são brancos, 40% são pardos e apenas 11% pretos.

O que diz a Prefeitura?

"A Sesau lembra que a informação de raça no cadastro é 'autodeclaratória'", apontou em nota enviada ao LeiaJá.

A gestão apresentou dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em que apenas 8,31% da população do Recife se considera preta. Partindo deste resultado, afirmou que 43% desse total completou o esquema até o último dia 28 de julho.

Falta de adesão à campanha

Outra motivação sugerida pela Prefeitura cita o desinteresse de quem se agendou e não compareceu para a aplicação.

"As pessoas que se consideram negras e ainda não completaram o esquema vacinal é porque ainda não estão no prazo para receber a segunda dose ou não compareceram na data agendada", complementou no comunicado.

Antes, o LeiaJá denunciou que apenas dois locais de vacinação foram montados em áreas periféricas. Além da “estratégica” escolha dos centros e drive-thrus, a gestão ressaltou uma parceria com transportes por aplicativos para atender gratuitamente ao público. Contudo, falta transparência sobre a quantidades de corridas realizadas, o que deixa em xeque a eficácia da proposta.

Com a pouca quantidade de postos de vacinação na periferia - apontada em reportagem do LeiaJá - a prefeitura do Recife afirmou que têm disponibilizado transporte gratuito aos centros do 'Plano Vacina', por meio de parceria com aplicativos de transporte. Porém, as informações sobre o uso desses ‘vouchers’ não são claras. Falta mais transparência sobre quem foi beneficiado e quantas viagens doadas foram utilizadas.

Questionada pelo LeiaJá, a prefeitura do Recife afirmou que são duas as parcerias que estariam ajudando no transporte para locais de vacinação. Segundo a gestão municipal, a parceria com a Uber - firmada pelo Governo de Pernambuco - seria para facilitar o deslocamento das cidadãos comuns para os pontos de vacinação, enquanto que a parceria com a 99 Táxi seria para voluntários que atuam nos pontos de imunização.

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Nossa equipe também tentou informações para detalhar os números e entender a efetividade destas parcerias na busca pela imunização de moradores de periferia. A prefeitura informou ao LeiaJá que “dados sobre a quantidade de viagens devem ser apuradas com a empresa”.

E o que diz a 99?

A 99 Pop explicou que doou aproximadamente 20 mil vouchers ao Recife no valor unitário de R$ 30. Entretanto, afirmou que não detém os números finais da iniciativa e enfatizou que a responsabilidade sobre a logística e o destino final das doações é da prefeitura do Recife.

"Em Recife, no caso do transporte de profissionais da saúde, as corridas doadas auxiliam no deslocamento até os centros de imunização”, pontuou a 99 em nota.

E o Uber?

Moradores do Recife e também das cidades de Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Paulista e Camaragibe também teriam sido beneficiados por vouchers da Uber, que firmou parceria com o Governo de Pernambuco.

O LeiaJá buscou a empresa para obter dados das viagens gratuitas ofertadas à capital. A plataforma comunicou que doou 120 mil códigos de R$ 25 para o “público idoso” dos cinco municípios do Grande Recife.

Perguntada sobre o quantitativo de corridas realizadas, a Uber respondeu que não abre os dados de quanto já foi utilizado em viagens. "A empresa só divulga o dado geral de doação que é de 480 mil viagens", afirmou.

A Uber detalhou que as viagens são doadas diretamente aos governos e o uso fica a critério de quem recebeu.

Os vouchers da Uber estão sendo usados?

A Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco não especificou as corridas feitas na capital e informou que esses dados são de responsabilidade do Uber.

O órgão afirmou que o aplicativo não doou determinado número de corridas, e sim, cupons com o desconto total de R$ 200 mil no serviço.

Na época do anúncio, o apoio foi descrito pelo secretário Geraldo Julio como essencial para avançar com a campanha estadual.

"De fevereiro para cá, já foram feitas 3.337 viagens, o equivalente a R$ 39.033 dos R$ 200 mil. Ou seja, foram utilizados apenas pouco mais de 20% da doação", estimou a secretaria em nota.

Desencontro de informações

O próprio material de divulgação da parceria com a Uber apresenta divergência, ao apontar que foram garantidas "7.500 viagens gratuitas de ida e volta". Neste caso, o número de corridas disponibilizadas pelo preço de cada cupom ficaria em R$ 187.500, menos do que a Secretaria de Desenvolvimento Econômico afirma ter recebido.

Sem considerar as áreas em que a Uber não costuma atender e as limitações na estrutura dos bairros mais vulneráveis, o material da parceria chega a acrescentar que "é muito importante que o local de vacinação escolhido para fazer o transporte seja o mais perto possível da residência do idoso. Assim, ninguém se prejudica e todo mundo se imuniza".

Vacina em casa

A Secretaria de Saúde afirmou também que pessoas acamadas estão sendo visitadas por enfermeiros e técnicos de enfermagem para a aplicação em domicílio. Segundo a prefeitura, 9.254 pessoas receberam uma dose em casa. Destas, 6.938 concluíram o esquema de proteção com as duas doses ou com a dose única da Janssen.

Sem plano para pontos de vacinação em periferias

Por hora, sem intenção de expandir os pontos para áreas de difícil acesso, a prefeitura do Recife entende que descontos em restaurantes, lanchonetes e em outros estabelecimentos, pode fazer com que a população mais carente receba as duas doses.

Para incentivar a conclusão do esquema vacinal, criou o Passaporte Recife Vacina, com os benefícios garantidos aos que já foram imunizados contra a Covid-19.

Total de vacinados no Recife

Ao todo, 1.237.614 pessoas estão aptas ao imunizante na capital, mas só 422.827 pessoas tiveram o esquema vacinal garantido. Dados atualizados pelo Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) mostram que o Recife acumula 145.838 casos e 5.067 mortes relacionadas à pandemia.

Os locais de vacinação contra a Covid-19 no Recife funcionam todos os dias, das 7h30 às 18h30, mediante agendamento.

Os centros informados pela Prefeitura são:

- Sest Senat (Porto da Madeira)*;

- Porto Digital (Bairro do Recife);

- Unicap (Boa Vista)*;

- Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), em Dois Irmãos*;

- Parque de Exposição de Animais, no Cordeiro;

- Unidade de Cuidados Integrais (UCIS) Guilherme Abath, no Hipódromo;

- Compaz Ariano Suassuna, no Cordeiro*;

- Ginásio Geraldão, na Imbiribeira*;

- Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), na Tamarineira*;

- Parque da Macaxeira, na Macaxeira*;

- UPA-E do Ibura;

- UniNassau, nas Graças.

*representam pontos híbridos que atendem como centro e drive-thru.

Os locais exclusivos na modalidade drive-thru são:

- Fórum Ministro Artur Marinho - Justiça Federal de Pernambuco (Avenida Recife), no Jiquiá;

- Juizados Especiais do Recife, na Imbiribeira;- Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), na Cidade Universitária;

- Tribunal Regional Federal da 5ª Região, no Bairro do Recife;

- BIG Bompreço de Boa Viagem;

- BIG Bompreço de Casa Forte;

- Carrefour (Torre).

Na campanha de imunização do Recife, a invisibilidade da periferia às vistas da gestão pública foi novamente exposta com a disposição de apenas dois dos 19 pontos de aplicação em regiões de maior vulnerabilidade social. Distantes das doses, distribuídas em locais de vacinação que poderiam ser distribuídos com equidade, o limite do acesso à Saúde ultrapassa a insegurança dos bairros e a frágil condição financeira da população, sobretudo da negra, que recebeu bem menos doses que brancos e pardos.

Com 1.237.614 adultos que precisam ser imunizados, nem 31,36% do público está devidamente protegido. O Vacinômetro da campanha, o qual a Secretaria de Saúde (Sesau) informa atualizar diariamente, apesar do último registro ser da terça-feira (27), mostra que só 388.047 recifenses concluíram o ciclo vacinal com duas doses ou com a dose única da Janssen.

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Baixa proteção aos negros

No recorte racial, o Plano Vacina Recife evidencia uma realidade largamente desproporcional. A desconfiança dos moradores de comunidades sobre um possível propósito discriminatório é apresentada na entrega do imunizante. Só 44.229 negros estão protegidos contra a Covid-19 na capital. O número é bem inferior aos 157.958 de pardos vacinados. A desigualdade é ainda maior em relação aos brancos, que representam 177.804.

Para exaltar o modo como trata a pandemia desde janeiro, o prefeito João Campos (PSB) forçou uma comparação dos índices do Recife aos de Nova York. A diferença é que, enquanto decretos de convivência com a pandemia ainda reprimem as atividades comerciais em Pernambuco, que acumulou 587.849 infectados e 18.702 óbitos na quarta (28), na metrópole norte-americana o fim das medidas restritivas foi anunciado por uma queima de fogos no dia 15 do mês passado.

Dentre a pouca oferta do auxílio municipal e a ampliação da entrega de imunizantes, uma das ações de maior orgulho da gestão é a disposição de 26 pontos de vacinação entre os oito distritos sanitários do município. Porém, sete deles são híbridos - funcionam como centros e drive-thrus - e atendem ao público da mesma região.

Na Zona Sul, apenas a Unidade Pública de Atendimento Especializado (UPA-E) do Ibura garante o imunizante aos bairros do entorno. Morador da UR-10, o quitandeiro Samuel da Silva, de 63 anos, precisou cruzar a cidade para conseguir tomar a segunda dose no bairro de Dois Irmãos, na Zona Norte.

"Foi meio contramão, mas valeu à pena ir para finalizar com a segunda dose. Tive que ir lá porque mais perto não tinha vaga", reclamou o comerciante.

Da UR-05, o feirante João Sobral, 62, conta que já deveria ter concluído o esquema vacinal. O prazo para a segunda dose expirou nessa terça e ele ainda não conseguiu o novo agendamento em nenhum centro. Para a primeira, desembolsou duas passagens de ônibus até o Geraldão, na Imbiribeira, mas ainda não sabe quando vai conhecer o sentimento de proteção. "Minha sobrinha não tá conseguindo. Só tá dizendo que não tem vaga", relatou.

Sem mais orientações no aplicativo Conecta Recife e desconectado do mundo digital, Seu João pretende ir a um posto de saúde na região para tentar marcar a dose complementar. A vizinha de bairro, Dona Lúcia de Souza, 71, já tentou informações em uma Unidade Básica de Saúde, mas saiu decepcionada sem saber ao certo o que fazer.

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"A vacina não tá muito boa não porque falta muita gente até para tomar a primeira. Tem um posto ali, mas não sabem informar nada a agente e a pessoa dá não sei quantas viagens, e 'diz eles' que não sabem", criticou. "Devia botar posto de vacinação e liberar logo para o pessoal com menos de 30 anos", acrescentou a idosa.

Com a mobilidade reduzida pela idade avançada, se não fosse o filho para levá-la de carro até o imunizante, Dona Lúcia estaria exposta ao vírus no transporte público ou enfrentaria uma longa caminhada entre a infraestrutura precária e as condições geográficas do Ibura. "Ia ter que ir de ônibus ou a pé porque ninguém vinha buscar. É longe. Daqui para lá é uma tirada medronha", aponta.    

Já na Zona Norte, o Parque da Macaxeira é o principal ponto para a população das áreas de morro. Apesar de morar em Casa Amarela, o dono de um box de reparos em eletroeletrônicos no Mercado Público, Romualdo Oliveira, 61, entende que a cobertura vacinal poderia ser expandida com a descentralização da campanha. "Devia ter aqui no posto, devia ter aqui no colégio. Lugares mais próximos, né?", questionou.

Ele sente na pele outro reflexo da pandemia, a desinformação. Sem ter tomado sequer uma dose, Seu Romualdo admite certo receio pelos possíveis efeitos colaterais e certo desinteresse em participar do Plano Vacina. No mesmo Mercado, a feirante do Alto Santa Izabel, Evânia Xavier, 43, aguarda a segunda vacina e confirma que muitas pessoas estão com medo dos imunizantes por falta de conscientização. Ela cobra por mais diálogo e propõe ações educativas da Prefeitura para convencer sobre os benefícios de se imunizar contra a Covid-19.

"Tem pessoas que não querem ser vacinadas. Tá faltando informação para o pessoal que tá achando que vai tomar e vai ficar doente [...] todo mundo já tomou vacina um dia e teve reação", incentiva Evânia, que ganhou um reforço com o depoimento de Seu Samuel, "tomei a primeira e não tive reação, e a segunda também não", garantiu.

Nesse ponto, Recife e Nova York se aproximam. Com cerca de dois milhões de nova-iorquinos que ainda não foram vacinados, o prefeito Bill de Blasio tenta meios para confrontar o negacionismo. Com apenas 60% dos cidadãos protegidos com as duas doses, nessa quarta (28), o gestor norte-americano anunciou que vai pagar US$ 100, equivalente a R$ 500, para quem participar da campanha anticovid.

Inclusas nos distritos sanitários VIII e VII, o levantamento da Prefeitura informa que 51.708 aplicações de segunda dose e dose única foram realizadas na área da Macaxeira, e o total de 31.191 na do Ibura.

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Procurada pelo LeiaJá, a Sesau não soube pontuar quais centros foram entregues em áreas consideradas como periferia, nem o porquê das áreas de morro da Zona Norte ficarem desassistidas pela campanha.

Sobre a escolha dos pontos, a Secretaria de Saúde explicou que os locais são escolhidos em centros exclusivos para evitar aglomeração, por isso não pretende utilizar as unidades de saúde. O objetivo é garantir o funcionamento dos demais serviços da rede municipal com menor risco de transmissão.

Em nota, a Sesau conta que os locais 'estratégicos' são definidos com "facilidade de acesso e com parada de ônibus próximas, contemplando tanto quem vais se vacinar a pé, quanto quem utiliza transporte público, carro, moto ou bicicleta", complementou.

Os locais de vacinação contra a Covid-19 no Recife funcionam todos os dias, das 7h30 às 18h30, mediante agendamento.

Os centros informados pela Prefeitura são:

- Sest Senat (Porto da Madeira)*;

- Porto Digital (Bairro do Recife);

- Unicap (Boa Vista)*;

- Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), em Dois Irmãos*;

- Parque de Exposição de Animais, no Cordeiro;

- Unidade de Cuidados Integrais (UCIS) Guilherme Abath, no Hipódromo;

- Compaz Ariano Suassuna, no Cordeiro*;

- Ginásio Geraldão, na Imbiribeira*;

- Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), na Tamarineira*;

- Parque da Macaxeira, na Macaxeira*;

- UPA-E do Ibura;

- UniNassau, nas Graças.

*representam pontos híbridos que atendem como centro e drive-thru.

Os locais exclusivos na modalidade drive-thru são:

- Fórum Ministro Artur Marinho - Justiça Federal de Pernambuco (Avenida Recife), no Jiquiá; 

- Juizados Especiais do Recife, na Imbiribeira;

- Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), na Cidade Universitária;

- Tribunal Regional Federal da 5ª Região, no Bairro do Recife;

- BIG Bompreço de Boa Viagem;

- BIG Bompreço de Casa Forte;

- Carrefour (Torre).

Fotos: Júlio Gomes/LeiaJáImagens

Tão brasileiro quanto o samba, o funk é quase unanimidade no país, podendo ser encontrado em inúmeras comunidades - e até casas de shows das mais nobres - do Norte ao Sul do país. A música que majoritariamente é produzida na favela traz consigo uma carga pesada de representatividade, senso de pertencimento e autoestima para aqueles que com ela convivem, a despeito de um expressivo preconceito que teima em marginalizar o gênero afastando-o da grande mídia e dos redutos tidos como de alta cultura. 

No Recife, capital de Pernambuco, o funk provou todo seu poder entre as décadas de 1990 e, sobretudo, 2000. Para o bem e para o mal. Na virada para o segundo milênio, quando na internet tudo ainda era ‘mato’, os envolvidos no segmento conseguiram impulsioná-lo através de fotologs - sites equivalentes ao que é hoje o Instagram. As lan houses instaladas nas comunidades, que vendiam acesso à internet por hora, geralmente a R$ 1 cada, transformavam-se em verdadeiros escritórios para que os funkeiros pudessem fazer o trabalho de divulgação, uma vez que computadores com acesso à rede eram artigos de luxo naquela época.

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Além da ‘world wide web’, outra ferramenta muito usada para espalhar a palavra dos MCs no auge da cena funk eram as carrocinhas de CDs piratas que circulavam pela cidade tocando os ‘batidões’, sem contar a influência causada por esses artistas em suas próprias comunidades. Mas o verdadeiro ápice da massa funkeira se dava mesmo nos bailes. Nas festas, os ‘bondes’ de cada comunidade se encontravam para exaltar a sua periferia e ‘duelar’ com outras ‘galeras’. A música dava o tom, tanto de valorização de cada bairro quanto da rivalidade entre eles, com letras sobre suas vivências que estimulavam a autoestima e o senso de pertencimento, porém, afloravam também uma agressividade que geralmente culminava em confronto. 

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MC Leozinho do Recife, um dos nomes de maior peso do movimento funk em Pernambuco. 

Os ‘bailes de galera’ ou ‘bailes de corredor’, que ‘bombaram’ nas periferias recifenses entre as décadas de 1990 e 2000,  reuniam milhares de pessoas e revelaram artistas que estão na cena até os dias atuais. Os MCs Boco, Schevchenko, Cego e Leozinho - esse último considerado um visionário do segmento e batizado como General -, começaram a construir suas carreiras nesse período, em festas que entraram para a história do funk pernambucano como o Baile do Rodoviário e Baile do Téo, todos realizados em bairros periféricos da Região Metropolitana da capital.

Outro funkeiro dessa época, ainda na ativa, é MC Pito, que guarda “na mente” boas lembranças dos antigos bailes: “Ficou em memória, toda a repercussão que o funk teve em Recife e em Pernambuco. Nós somos uma das capitais mais fortes no funk no Brasil, desde aquele tempo e ainda mais hoje”, disse em entrevista ao LeiaJá. No entanto, ao passo que o movimento se misturava a outros elementos do cotidiano das comunidades, como as torcidas organizadas e até mesmo o tráfico e disputas territoriais, a violência também aumentou nos eventos.

A polícia e a Justiça começaram a bater de frente com o movimento  e não era incomum que os eventos terminassem com batidas policiais. A violência em torno dos bailes contribuiu para que o estigma contra o gênero aumentasse e, consequentemente, sua maior marginalização. A pressão crescente em torno da cena, o preconceito instaurado e a falta de visibilidade de seus artistas para além de suas periferias, acabou colocando um ponto final na história das festas de galera. 

MC Pito é um dos veteranos da cena. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

Em meados de 2000, o famoso Baile do Rodoviário encerrou sua história em uma operação policial que contou com a intervenção das polícias civil, militar e até a Polícia de Trânsito da capital. “Quando veio do Rio pra cá não tinha essa ideia de funk consciente, funk de paz, era o funk de corredor, um som agitado e um bonde de cada lado, aquela selvageria. Toda ação traz uma reação, então acarretou em preconceito, uma má visão da sociedade e as autoridades tiveram que usar de força maior até que acabaram os bailes”, relembra MC Pito. 

Com o fim dos bailes e o já natural distanciamento das casas de show e programas populares da TV local, o funk estava fadado a desaparecer em Pernambuco. Foi aí que MC Leozinho acabou se jogando na cena ‘queridinha’ dos pernambucanos, o brega. O General, como é conhecido, já havia feito uma fundamental intervenção no movimento, ao lançar o Rap da Cyclone, música que homenageia não só o seu mas vários bairros periféricos da cidade e contribuiu para a diminuição da rivalidade existente entre eles. A música ganhou tanta força que ficou famosa até fora do Estado e é uma das mais pedidas nos shows do artista até hoje.

Mas foi por volta de 2008, ao lançar seu primeiro brega, Dois Corações, que o funkeiro acabou abrindo os caminhos para as boates mais badaladas do Recife e para a televisão. Provando ser possível uma coexistência saudável entre os dois estilos, ele passou a apresentar um pouco de cada em seus shows e a mistura acabou originando um terceiro gênero musical: o bregafunk. Leozinho é considerado o pioneiro no segmento que hoje domina as paradas do país e já chegou até ao exterior. Vários MCs de funk pegaram carona nesse ‘bonde’ e hoje ostentam carreiras consolidadas dentro e fora do Estado. “A tendência é crescer e chegou em um nível que não tem como cair mais, é um gênero que foi lançado no Brasil e no mundo, agora não volta mais”, disse Leozinho em entrevista ao LeiaJá.

MC Leozinho, o General, é considerado o precursor do bregafunk. Foto: Divulgação

No entanto, embora o bregafunk tenha conquistado tamanho reconhecimento, a força do funk ‘raiz’ parece mesmo ser imbatível ainda. Não há uma apresentação em que o General consiga terminar a primeira canção sem que o público já esteja pedindo por seus grandes sucessos, como o Rap da Cyclone e Cenário Louco. “Se eu não cantar funk no meu show a galera não gosta não. Meu público que vai ao show vai por causa do funk, eu acho. A galera curte o brega, mas o público vai pro show pra me ver cantar o funk. Se eu parar de cantar o brega e ficar cantando só os meus funks, acho que faço mais uns 20 anos de carreira”, brinca o MC que promete um EP de inéditas para agosto, além de lançamentos nos projetos Poesia Bregafunk e Invasão, esse último voltado ao funk consciente. 

Retomada na paz

Apesar do triunfo do bregafunk em meio a um aparente desaparecimento do funk raiz, um movimento de retomada da cultura dos bailes ganhou corpo no Recife por volta de 2016. O surgimento do Baile da PAZ, realizado pela equipe Funk Antigo de Pernambuco (FAPE), deu nova cara aos eventos e novos fundamentos à cena. “A rapaziada do funk antigo uniu todas as galeras, as galeras que eram rivais hoje se falam e vão pro baile curtir junto”, conta Leozinho. Com a chegada da pandemia, os eventos pararam de acontecer, no entanto, as articulações dos envolvidos na cena continuam através das redes sociais. 

Também somam força a esse movimento associações como a Relíquia da Pichação (RDP) e coletivos como o Pancada Funk PE, este último fundado por alguns MCs veteranos como o próprio MC Pito e MC Pato do Ibura, falecido em abril deste ano em virtude da Covid-19. O objetivo hoje, para além de voltar a curtir os bailes, é trabalhar em prol das comunidades e fortalecer a cultura do funk dentro do Estado, sobretudo para tirá-lo em definitivo da marginalização, como explica Pito. “A diminuição do preconceito vem de dia a dia, não acontece de imediato, mas esse momento do funk da paz aconteceu uma coisa muito importante que no passado não existia, que é o funk se mobilizar para ajudar a comunidade, fazer ação social, levantar meios de revitalizar uma praça, um campo de futebol em nome do movimento. Isso abriu o leque pra sociedade ter outra análise do que rolava antes, há 20 anos atrás e o que vem acontecendo agora”.

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Hoje, o funk tem se aliado a outras cenas, como a  do brega, rap, trap e até mesmo do samba com intuito de promover a autoestima das pessoas que o fazem e o consomem e provar para a sociedade que é uma cultura valiosa e tão poderosa quanto qualquer outra. Além de servir como instrumento de identificação e pertencimento dos moradores das comunidades, o funk também movimenta a economia local, gera empregos diretos e indiretos e consegue, através das letras conscientes, orientar os mais jovens a andarem ‘pelo certo’, longe das drogas e da criminalidade. 

Nesse caminho, o movimento conseguiu subverter a violência e aos estigmas mais negativos com apurado senso de coletividade dos seus fazedores e a força de vontade de quem acredita no funk como ferramenta de empoderamento e libertação, como bem coloca MC Pito. “É uma chama que até hoje não conseguiu se apagar, mesmo com justiça em cima, polícia em cima, sociedade discriminando mas a gente vai arrumando meios para ir se esquivando e segurando firme a bandeira do funk. O meu maior objetivo hoje em dia não é estourar, é somente que minhas músicas sejam eternizadas no cotidiano das pessoas que quando escutem elas digam; ‘poxa me inspirei nessa música e eu vi que como ele falou na música aconteceu na minha vida’;  é fazer a música para ser consumida verdadeiramente pelas pessoas”. 

Homenagem a MC Pato do Ibura

Neste sábado (27), o coletivo Pancada Funk PE promove uma live para homenagear um de seus fundadores, o MC Pato do Ibura. Participam da transmissão os MCs Tibiro, Feru, Rugal, Omago, Frenk, Beca e Pito. A live marca também o início da formulação de projetos que estão à espera do fim da pandemia para poderem acontecer. Segundo MC Pito, além de um CD de inéditas suas, já pronto e aguardando o melhor momento para lançamento, virão sites, clipes, e outras ações que visam promover os artistas e a cena do funk. A live será exibida nas redes sociais do coletivo a partir das 13h.

Até dentro das dificuldades impostas pela pandemia da Covid-19 existem grupos que conseguem se sair melhor ou pior que outros no Brasil. A população preta, desempregada - ou em trabalhos informais - que vive em áreas mais precárias e com difícil acesso aos serviços de saúde de qualidade é a mais impactada pelos resultados da doença que já matou mais de 362 mil brasileiros.

Segundo pesquisa da revista científica The Lancet, publicada neste mês de abril, as dificuldades socioeconômicas afetaram fortemente o curso da pandemia no país, mais do que a idade e as comorbidades das pessoas infectadas. Dentro dessas desigualdades, a população preta/parda do Brasil é a que mais morre em decorrência do vírus - podendo estas mortes estarem relacionadas às diferenças na sustentabilidade ao Covid-19 e no acesso aos cuidados de saúde, incluindo cuidados intensivos para essa população.

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A análise do The Lancet reforça que os negros e pardos brasileiros têm, em média, menos segurança econômica, são menos propensos a ficar em casa e trabalhar remotamente e representam uma proporção substancial de profissionais de saúde. Além disso, comparando os índices de vulnerabilidade socioeconômica dos estados aos registros de casos e mortes provocadas pelo novo coronavírus, o levantamento mostra que as regiões mais pobres do Brasil, como o Norte e o Nordeste, foram as mais impactadas.

A cidade de Manaus, Amazonas, por exemplo, viveu o pior cenário pandêmico do país entre os meses de janeiro e fevereiro deste ano. Sem oxigênio e com hospitais lotados, a grande demanda obrigou que as equipes de saúde precisassem realizar ventilações manuais para manter os pacientes vivos, enquanto familiares, amigos e até artistas de outros Estados lutavam para conseguir oxigênio para os manauaras que, sem esse suporte, iam morrendo ‘asfixiados’ por conta de um sistema de saúde colapsado. 

"Nossa análise apóia um esforço urgente por parte das autoridades brasileiras, para considerar como resposta nacional ao COVID-19, poder proteger melhor os pardos e os negros brasileiros, bem como a população dos estados mais pobres, de seu maior risco de morrer de COVID-19", publicou a revista.

Não bastasse os 13,7 milhões de infectados e mais de 362 mil pessoas que perderam a briga desigual para o vírus, no Brasil, a fome bate à porta de milhares de brasileiros que vivem o dilema diário sobre o que comer.

Pesquisadores da Universidade Livre de Berlim, na Alemanha, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e com a Universidade de Brasília (UnB) divulgaram que 59,4% dos lares brasileiros apresentaram algum grau de insegurança alimentar no último quadrimestre de 2020. 

Outros dois quintos dos lares diminuíram o consumo de alimentos importados, como carnes e frutas. Os pesquisadores mostram que a situação mais grave da insegurança alimentar está no Nordeste. Por aqui, 73% das casas não tinham o que comer, ou tiveram que diminuir drasticamente o que vinha na sua cesta básica.

Os resultados desta pesquisa, que considera a insegurança alimentar a incerteza do que irá comer, foram divulgados na última terça-feira (13), tendo sido feita entre novembro e dezembro de 2020. 

A insegurança alimentar só piora no Brasil. Foto: Fotos Públicas

O Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) também indica que nos últimos meses de 2020, cerca de 19 milhões de brasileiros passaram fome.

Além disso, do total de 211,7 milhões de brasileiros, 116,8 milhões conviviam com algum grau de insegurança alimentar e, destes, 43,4 milhões não tinham alimentos suficientes dentro de casa.

No Alto do Pascoal, periferia localizada na Zona Norte do Recife, Ruth* sentiu na pele as dificuldades impostas pela pandemia da Covid-19. Antes dos primeiros casos surgirem no Brasil, ela trocou as ruas do Recife e de João Pessoa, Paraíba, onde trabalhava como profissional do sexo, pelas cozinhas. Ela tinha conseguido um emprego, ainda na informalidade, mas que garantia um salário fixo, sem ter que ficar na espera de clientes.

“Todo mundo sabe que conseguir trabalho é difícil, ainda mais quando você é uma travesti. Ninguém quer dar oportunidade, então eu conseguia meu dinheiro com o meu corpo. Depois de um tempo a gente vai cansando e eu tinha conseguido a oportunidade de ser cozinheira - e como eu gosto de cozinhar - agarrei logo”, exclama Ruth. 

No entanto, depois de alguns meses nesse novo trabalho, ela lembra que os casos de Covid-19 começaram a crescer e a situação começou a “apertar”, não tendo mais garantido pelos seus patrões o salário. “A mulher só queria me dar comida, até quando eu pedia dinheiro para comprar o meu cigarro ela dizia que não tinha. Não estou podre pra ficar me humilhando, não. O jeito que eu encontrei foi voltar pras ruas, meu filho. Hoje mesmo eu fui pra um motel belíssimo, tô aqui com o meu dinheirinho e minhas duas carteiras de cigarro”, disse a profissional. 

Mesmo voltando para a prostituição, Ruth aponta que está passando por dificuldades, tendo que “correr atrás de comida”, seja ela ofertada pelo governo municipal ou por pessoas próximas que sabem das dificuldades que ela enfrenta dentro de casa. 

Neste momento de pandemia, o número de pessoas desempregadas no Brasil foi estimado em 14,3 milhões no trimestre encerrado em janeiro deste ano, o maior contingente desde 2012, início da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgado no dia 31 de março, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Em Pernambuco, entre janeiro e fevereiro 37.044 pessoas perderam o seu emprego. Além disso, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) mostra que, de abril até dezembro de 2020, 808.334 pessoas fizeram acordos trabalhistas no Estado. Esse número inclui contratos intermitentes, suspensão de trabalho e redução de 70%, 50% ou 25% do salário - tudo no período pandêmico.

O Auxílio Emergencial deve ser disponibilizado poucas pessoas, se comparado ao ano passado. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá Imagens/Arquivo

Auxílio Emergencial

Na nova fase do auxílio emergencial deste ano, apenas uma pessoa poderá acessar o benefício por família. Além disso, o valor médio das novas parcelas é de R$ 250, variando de R$ 150 a R$ 375, a depender do perfil do beneficiário e composição de cada família.

Segundo dados do Ministério da Cidadania, as famílias em geral vão receber R$ 250; a família monoparental, chefiada por uma mulher, vai receber R$ 375. Essa queda brusca nos valores recebidos pelas pessoas, que estão vivendo uma situação complicada com o desemprego e o desaquecimento da economia, deve ajudar, mas não como das primeiras vezes que o auxílio foi liberado, com valores variando entre R$ 300 e R$ 1.200.

Tendo que pagar água, luz, internet e aluguel, a manicure Sônia Pereira Barbosa, 47 anos, aponta estar vivendo um dos momentos mais difíceis de sua vida. Como não tem contrato com a empresa que trabalha, ela ganha pela quantidade de unhas que cuida. Na necessidade do isolamento social e das restrições impostas pelo governo de Pernambuco, Sônia se viu sem trabalho e sem dinheiro para comprar o básico.

“Desde quando a quarentena começou, pra mim ficou muito difícil porque eu trabalho como Microempreendedor Individual (MEI), então a empresa que eu trabalho não tem vínculo comigo. Eu ganho pelo que faço, então pra mim ficou muito difícil, principalmente por não ter minha carteira assinada”, explica.

Ela diz que junto com sua filha chegou a ter acesso ao auxílio emergencial prorrogado, que se encerrou em dezembro do ano passado. A junção do dinheiro recebido por mãe e filha ajudava a manter a casa onde moram, juntamente com mais duas crianças de 5 e 2 anos. 

Neste ano, sem trabalho certo, Sônia soube que apenas sua filha, de 22 anos, vai ter acesso ao auxílio, já que apenas um CPF por família vai ser beneficiado nesta nova rodada. O valor que a jovem deve receber é de R$ 375. A manicure está preocupada, sem saber como vai fazer para pagar o aluguel de R$ 400, pagar água, luz, internet, comprar o gás e ainda colocar comida na mesa com esse valor. “O que dá pra fazer com isso? É praticamente o valor do gás de cozinha”, lamenta a manicure. 

Essa segunda onda da pandemia deixa latente que as piores vítimas da crise sanitária são, ‘escancaradamente’, os trabalhadores temporários e mal pagos, aqueles que vivem na informalidade, não têm trabalho e vivem nas áreas mais pobres das cidades brasileiras, com destaque para o Norte e Nordeste do País.

*Nome fictício

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O rap tem se evidenciado como parte da identidade cultural do Estado do Pará, principalmente das periferias. O Coletivo Articulado do Tapanã – CARTA, da periferia de Belém, recorre à música para falar de cultura, ciência e história por meio das batalhas de rap que acontecem no bairro.

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Mailson Nogueira Alves, estudante do curso de Psicologia e membro do CARTA, conta que o histórico do rap no Pará remonta à cultura dos povos escravizados. “Com a popularização do rap no Brasil, isso acabou impactando também o Estado, fazendo nascerem diversas batalhas de rap pelos bairros que se mantém firmes até hoje”, explica.

O estudante cita as “guitarradas” e o carimbó como ritmos paraenses que influenciam na maneira de fazer rap, além do samba e do funk. Mailson também afirma que o rap é a voz da periferia e a poesia transformada em denúncia. “É o momento em que o MC bota no papel toda a angústia e a dificuldade que passa sendo preto e morador de periferia”, diz.

Mailson ressalta que para o rap ser ainda conhecido e reconhecido culturalmente no Pará é necessário mais investimento na própria cultura. Segundo ele, as batalhas de rima continuam sendo muito discriminadas. “Muitas vezes até a polícia chega do nada, mandando todo mundo ir embora por causa do estigma de que rap é coisa de bandido. O rap paraense precisa ganhar espaço para que seja valorizado socialmente”, salienta.

O estudante conta que o CARTA contribui para que isso aconteça através da divulgação cultural e dos artistas, da exposição da história do rap e como ele influencia a periferia. Segundo Mailson, o rap dá condições de mudança de vida para as pessoas. “O rap, assim como qualquer outro tipo de arte, tem um mercado que compra. Isso é muito importante porque o dinheiro investido permite que os MCs consigam dar condições melhores de vida para as suas famílias. Muitas vezes investem em ações nos bairros para tirar crianças das ruas quando eles têm o devido reconhecimento pela sua arte”, explica.

Mailson reforça o rap como uma ferramenta importante para a luta social. “É sobre o sofrimento que nós temos quando a polícia chega aqui e mata inocentes. Também é sobre a luta de vários pais que saem todo dia de casa buscando alguma alimentação para a família. Tudo isso você encontra no rap e ele denuncia toda essa opressão do Estado”, complementa.

Crescimento no interior

Conhecido como Pelé do Manifesto, Allan Roosevelt Miranda Conceição começou a trajetória no meio musical quando montou o grupo de rap Manifesto Negro com dois amigos, em 2008. “Minha história no rap se desenrola em 2008 quando eu resolvi montar um grupo de rap com dois amigos da minha rua e um amigo da minha escola, que foi o Manifesto Negro. A partir daí, eu senti aquela emoção de estar cantando pra alguém e nunca mais parei”, relata.

Hoje, aos 29 anos, o rapper tem um negócio, junto com a esposa, fruto do dinheiro ganho na música. Mas essa continua sendo a principal fonte de renda.

Allan percebe que o rap vem se desenvolvendo no Estado, com movimentos não só na capital, mas também no interior. “Parauapebas, Paragominas, Dom Eliseu, Barcarena, Ananindeua, Castanhal, Benevides – são alguns locais a que eu já fui e pude observar de perto o movimento e ver como ele se desenvolve com as batalhas de MCs”, conta.

Ele ainda aponta a importância de mostrar que o rap é versátil ao oferecer cultura e divertimento para o público. “É muito bom porque mostra que o rap é polivalente. A gente consegue estar em cima do palco, mostrando o nosso talento, e ao mesmo tempo a gente consegue estar na rua levando ao público um pouco de cultura com a batalha dos MCs e divertimento”, destaca.

Compositor e intérprete das músicas que canta, Allan acredita na filosofia presente no rap de que cada um deve cantar a própria música, falar da própria vivência. “O rap, mais que um estilo musical, é uma forma de o jovem periférico ser o protagonista da própria história. Já que tu és o protagonista da tua história, tu tens que cantar o que tu vives, o que tu pensaste, o que tu compôs”, explica.

Os temas das músicas são livres. Alguns tratam sobre amor, mas a maioria dos rappers fala sobre a realidade vivenciada, sobre como a sociedade brasileira é. “A maioria dos rappers é negra; então a gente fala muito sobre racismo, violência policial, o que um periférico preto passa, como é a realidade da nossa rua, como é a violência na nossa capital. São temas corriqueiros nas letras de rap e alguns também falam de amor”, conta Pelé do Manifesto.

Em abril do ano passado, Pelé do Manifesto lançou o disco “Gueto Flow, Preto Show”, porém o show de lançamento não ocorreu por causa da pandemia. Durante esse período, O rapper precisou migrar para a internet e trabalhar com lives, devido às proibições de shows e fechamento das casas de festa. Mesmo com todas as dificuldades, não pretende desistir. “A gente não pode desistir, tem que arranjar outros meios de conseguir dinheiro com a música e tocar o barco”, afirma.

Pelé do Manifesto conta que já utilizava as redes sociais, mas a frequência aumentou  no último ano. “Eu e outros artistas ficamos condicionados somente às lives, às apresentações nas redes sociais. Então a gente acabou aprendendo a utilizar todas as ferramentas nas redes e isso foi muito bom para o nosso trabalho nas mídias sociais”, comenta.

O rapper voltou a produzir após bloqueio criativo, em 2020. “Eu tive certo bloqueio criativo em relação à pandemia. Não consegui criar nada durante o ano passado, o que eu lancei era um que tinha sido gravado em 2019. Já vim fazer as coisas esse ano, em 2021 já estou lançando e produzindo umas paradas, fluindo meu trampo”, diz Allan.

No ano passado, além do disco, Pelé do Manifesto lançou a música “Só te digo, vai”, em parceria com Everton MC. Para esse ano traz novidades. “Gravei mais um clipe que ainda não saiu, de uma música com o Afonso Capello, que produzimos e ainda vamos lançar, que é “Uma nova escravidão”, anuncia.

“Fiz esse som com o Afonso Capello, e fechei uma parceria com o MC Ricardinho que é o projeto 'Camisa 10', que vai ter uma pegada totalmente diferente do que eu faço”, revela Pelé do Manifesto em relação a parcerias.

Salvador de vidas

  “O rap chegou para mim como um salvador de vidas”, descreve Maycon Pinheiro, também conhecido como Calangu. Nortista e afro-amazônico, Maycon conta que o rap veio como uma forma de expressar o que estava sentindo. “Eu conheci o rap há uns dez anos, com um álbum da ConeCrew. Esse álbum me tocou com verdades que eu já vivia mas não sabia como expressar. O rap veio como uma forma de expressão para mim. E através disso eu consigo me expressar, botar tudo o que eu sinto e as verdades que eu vejo e tudo que eu passo no dia a dia numa letra”, narra.

MCs como Marechal, Criolo, Emicida, ConeCrew, Don l são influências para Calangu, pois falam de fatos e vivências que acontecem no dia a dia dele. Além do rap, ele também encontra fontes de inspiração no graffiti, jazz, rock, R&B, pop e indie.

Maycon acredita que, assim como o salvou, o rap também muda a vida de muitas pessoas. “O rap fala sobre o que nós vivemos e passamos. Uma poesia marginal com verdades que acontecem no bairro. Assim como me salvou, ele ainda salva muita gente com verdades que vivemos e muitas vezes não queremos ver”, afirma.

Preocupado com as questões sociais, o coletivo de rap “Rua ao Norte”, do qual Maycon faz parte, é responsável pela batalha de rima da t2, no bairro Tapanã 2, e mobiliza a população a arrecadar alimentos para pessoas carente do bairro.

Evolução

O rapper Bruno B.O. revela que sua trajetória no mundo do rap começou cedo, aos 14 anos, com a formação da banda “Carmina Burana”, com o rap que costumava ser feito nos anos 90 por bandas como Biohazard, Rage Against The Machine e Helmet.

“Eu conheci o M.B.G.C (Manos da Baixada de Grosso Calibre) e depois de um tempo comecei a ir atrás dos caras e colar neles. Comecei a aprender sobre o hip-hop puro e diretamente com essa galera, DJ Morcegão, P-Jó, Marcelo Muslim e vários caras que fizeram parte do M.B.G.C e de todo o início do hip-hop. Foi assim a minha entrada no rap, como integrante do M.B.G.C e depois com os meus projetos solos”, conta.

Bruno mora em Conceição do Araguaia há seis anos e por causa disso já não participa diretamente do processo de evolução do rap no Pará, mas acompanha o movimento no Estado pela internet e por meio das redes sociais. “O que eu tenho visto é que o rap paraense está bem em evidência, nomes sendo bastante visualizados e disseminados como Anna Suav e Bruna BG, Pelé do Manifesto, Daniel ADR, enfim, muita gente nova que eu tenho acompanhado. Eu vejo que há uma evolução no rap, no grafitti, em todas as áreas, até no break”, diz.

O rapper revela que suas letras trabalham as espiritualidades africanas e afrobrasileiras e que fala de coisas sem contextos específicos e mostra como encara alguns problemas e situações da vida. “Há muito tempo a minha letra não tem mais relação com temas da periferia, coisas dessa natureza, e que eu realmente não vivo mais”, explica.

Por Carolina Albuquerque e Isabella Cordeiro.

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A PerifaCon, conhecida como a "Comic Con das favelas", começa nesta sexta-feira (26), a partir das 18h. O evento é online e gratuito e com o tema "Brotando nas Redes", que será transmitido pelas redes sociais e pelo YouTube durante o fim de semana. O festival tem na programação conteúdos gravados e lives, com debates sobre a importância da cultura pop e do universo geek aplicado no contexto social da periferia.

O primeiro painel é o "Nerds na Quebrada: A Ascensão PerifaCon", com apresentação e mediação da atriz e diretora Vaneza Oliveira, da série nacional "3%" (2016-2020, Netflix). A cineasta também foi premiada na IV Mostra de Cinema Negro do Mato Grosso, pela direção do curta-metragem "Mãe Não Chora" (2019).

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O evento terá a presença de quadrinistas e ilustradores brasileiros, que vão compatilhar o processo de criação de uma história em quadrinhos, do roteiro até a fase final, quando o projeto chega à gráfica para se tornar um produto físico, pronto para ser comercializado. Os debates também vão abordar a realidade desses profissionais no cenário da pandemia.

Mais informações sobre o evento em perifacon.com.br/brotando-nas-redes.

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Ao alcançar a realidade que mais caracteriza a desigualdade social no Brasil, a crise da Covid-19 reafirmou o histórico de abuso psicológico à população periférica e espalhou uma 'epidemia' de depressão nas comunidades. Frente ao desinteresse do poder público em ampliar o atendimento especializado nas favelas, populares se aglomeram na margem do arranjo socioeconômico enquanto tentam se defender dos impactos mais agressivos da pandemia. Sobrecarregados desde a infância, a renda mensal sempre foi insuficiente, mas o pouco cada vez mais se aproxima do nada. 

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Sem oportunidade, a pressão de alimentar a família e se deparar com a geladeira vazia, incapacita e dói, mas a perda de mais de 279.286 familiares realça o sentimento de solidão em todo o País. Uma pesquisa divulgada pela Ipsos aponta que o Brasil é o país que mais sente solidão. De acordo com o levantamento, metade dos mil entrevistados declarou se sentir sozinha e 52% disseram que o sentimento aumentou nos últimos seis meses. 

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A condição de exclusão ficou ainda mais evidente nesse pouco mais de um ano de pandemia no Brasil. Enquanto o vírus apela pelo reforço da higiene, o fornecimento de água ainda é precário. Enquanto a orientação sobre os métodos de prevenção é fundamental, a periferia ainda se vê vulnerável pela falta de educação sanitária. Empurrados para o contágio em um transporte público superlotado, a falta de controle financeiro é remediada com empregos informais. Ao passo que os recordes de mortes são atualizados diariamente, a fila por leitos de UTI tornou-se parte de um cenário onde a gravidade tenta ser abafada e a mente de quem não sabe como reagir à doença batalha consigo por soluções. 

Sem a escuta psicológica adequada, pouco a pouco a 'autodesvalorização' amarga e aumenta os índices de alcoolismo, violência doméstica, dependência química e nas recorrentes tentativas de suicídio. Na comunidade de Chão de Estrelas, no bairro da Campina do Barreto, Zona Norte do Recife, o braço social do Maracatu Cambinda Estrela (1935) funciona há 21 anos como um centro de acolhimento onde "o medo de não poder ter um amanhã" é afastado. Junto aos demais voluntários, a presidente do projeto, Wanessa Santos, reconforta os populares em meio à crise psicológica.

Ela lembra que as pessoas "começaram a se perder" logo nos primeiros meses da Covid-19. Por isso, montou uma frente com nove representantes de outras organizações para arrecadar alimentos e beneficiar mais de sete mil famílias. "As pessoas ficaram sem emprego, perderam suas rendas, adoeceram e perderam também seus entes queridos. Eu vi adolescente perdendo mãe e avô. A gente viu mãe perdendo os filhos. Desse início, até então, as pessoas vêm passando por surtos de ansiedade, medo, crises, pânico e, inclusive, chegaram situações para a gente de pedidos de socorro porque queria cometer suicídio", recorda a coordenadora, que classifica o Maracatu como "um grande quilombo com uma forte relação familiar" que estende o sentimento de união para comunidades vizinhas.

A condição delicada de Chão de Estrelas poderia ser revertida com mais apoio público, destaca Wanessa/Arthur Souza/LeiaJáImagens/Arquivo

Com a cesta básica nacional em R$ 696,71 -valor superior ao repasse do auxílio emergencial-, a projeção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) fixa o salário-mínimo ideal em R$ 5.495,52. Em janeiro, 12,8% dos brasileiros - equivalente a 27 milhões de pessoas - estavam na linha da miséria, ou seja, viveram com menos de R$ 246 mensais, aponta a pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) com dados das Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios (Pnads) Contínua. Com a suspensão do benefício em meio à piora da pandemia, a falta de comprometimento do poder público é amplificada pela baixa oferta de atendimento psicológico. "A gente tá vivendo um momento de extrema dor, muitas perdas, muitas mortes e uma falta de perspectiva futura", afirma a presidente do Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco (CRP-PE), Alda Roberta Campos.

"Nem é um problema religioso, nem é falta de força de vontade, nem a pessoa escolheu tá deprimida. Depressão é uma doença que vai precisar de um suporte psicológico, muitas vezes de um suporte médico também, de uma equipe multidisciplinar que possa ajudar essa pessoa a se cuidar", destacou a gestora, que acrescentou, "as desigualdades vão se destacar nessa situação. Quando você tem a possibilidade de uma reserva emocional, financeira, de segurança profissional, isso permite que você seja menos atingido".

Apesar de compreender que o atendimento descentralizado oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é um modelo para outros países, ela divide o sentimento de que falta mais compromisso com o sistema. De acordo com a Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS), do Ministério da Saúde, em dezembro de 2019 - às vésperas da pandemia no Brasil -, o Sistema de Informação em Saúde para Atenção Básica (SISAB) registrou 229.851 atendimentos no SUS para depressão e ansiedade. Um ano depois, já com a crise instalada, 302.060 atendimentos foram realizados. Em Pernambuco, os dados saltaram de 7.660 para 10.309 no mesmo período.









Alda pede atenção para diferenciar a tristeza das perdas da pandemia com um quadro mais sério de transtorno/Júlio Gomes/LeiaJáImagens/Arquivo







"O Brasil tem uma rede de atenção psicossocial. Cada município precisa ter essa rede, que é formada pelos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), pelos centros de convivência e por espaços de cuidado onde a população pode acessar", explica Alda Roberta. A Secretaria de Saúde do Recife (Sesau) disponibiliza 17 Caps - com quatro destinados às crianças e adolescentes -, que seguem abertos para atendimento individual mediante agendamento. A pasta comparou os meses de janeiro de 2020 e 2021, e não identificou aumento de demanda psicológica. Contudo, a queda de 21,6% na fila de espera por consultas foi observada.

Em uma aposta para democratizar o acesso ao acompanhamento profissional, desde maio do ano passado, a Coordenação de Saúde Mental do município passou a oferecer teleatendimento através do aplicativo Atende em Casa. Mais de três mil pessoas foram ouvidas pela equipe multidisciplinar do programa, estima a Prefeitura, que também posiciona 20 equipes de profissionais de sete especialidades no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf) para dar expansão ao suporte. 

Moradores do Córrego do Deodato, no bairro de Água Fria, Zona Norte do Recife, lutam há 13 anos pela construção de uma creche para atender a primeira infância na comunidade. Uma casa, desapropriada pela Prefeitura do Recife em 2010, está abandonada, servindo como ponto de lixo, garagem e propiciando o consumo de drogas. 

A luta pela creche começou em 2008, no último mandato de João Paulo (PT) na Prefeitura do Recife, quando os moradores votaram para que fossem construídas uma escola e uma creche por meio do Orçamento Participativo. Depois de aprovadas as construções, a Escola Alda Romeu recebeu prioridade e foi inaugurada em 2010, no primeiro mandato de João da Costa (PT).

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No entanto, mesmo com a casa - onde a creche deveria ser construída - desapropriada, o projeto não saiu do papel e atualmente o espaço, que fica ao lado da escola, segue sendo degradado pelo tempo e pelas pessoas. Fiação, janelas e tudo o que poderia ter sido levado e vendido não existem mais no local.

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Em 2019, quando o Prefeito Geraldo Júlio (PSB) visitou a comunidade do Alto Santa Terezinha, que fica próxima ao Córrego do Deodato, para inaugurar a Upinha do Alto do Pascoal, integrantes do Coletivo Fala Alto - que estão na luta pela construção da creche - entregaram uma carta ao chefe do Executivo municipal, que se comprometeu em analisar a situação. Nada foi feito.

Na época, o LeiaJá perguntou ao prefeito sobre essa dificuldade enfrentada pelos moradores, mas Geraldo se limitou em responder que a creche Zacarias do Rego Maciel, no Alto Santa Terezinha, estava suprindo as necessidades de vagas para as crianças de até 3 anos. O então prefeito do Recife ainda reforçou: "é natural o pedido por creches, já que no Brasil inteiro existe uma carência muito grande de creches".

Segundo informado pela estudante de Direito e integrante do Coletivo Fala Alto, Carolina Barros, 24 anos, ao menos 600 crianças da comunidade estão sem creche. A falta da creche no Córrego do Deodato ocorre em contraposição à Lei de Diretrizes Básicas da Educação Nacional, que no artigo 29 estabelece a necessidade da educação infantil, na primeira etapa da educação básica, que tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança, até os cinco anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.

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Prefeitura se posicionou

Em resposta ao LeiaJá, a Secretaria de Educação do Recife informou que a prefeitura tem como prioridade a ampliação das vagas nas creches e atualmente 12 unidades de ensino estão em processo de construção e ampliação. 

Destas, cinco são creches, sendo duas em construção e três em ampliação, nos bairros Santo Amaro, Coelhos, Coque e Jordão Alto.

Com relação ao Córrego do Deodato, a Secretaria de Educação informa que está "realizando uma avaliação estrutural do prédio para verificar a possibilidade de recuperação e com previsão de conclusão no final do mês de março. A pasta pontua também que está no seu planejamento a implantação de uma nova creche, que irá contemplar a comunidade do bairro de Água Fria e região".

Antes também não era fácil. Chegava-se no trabalho cansado do trajeto longo e apertado durante uma, duas, até três horas. A pandemia trouxe o temor do contágio a esse cenário já exaustivo, em que a ventilação é insuficiente, o tempo de exposição alto e o distanciamento social impossível de praticar. O paulistano que mora na periferia pouco teve a possibilidade de aderir ao "fique em casa" e, majoritariamente dependente do transporte coletivo, enfrenta dificuldades para escapar da transmissão do coronavírus.

Embora o isolamento social tenha reduzido em toda a São Paulo nos últimos meses, a distribuição é desigual. No caso de usuários de ônibus, por exemplo, um levantamento do laboratório de visualização urbana MedidaSP, com dados de todo 2020, mostra que linhas das zonas leste e sul estão com um número de passageiros próximo ao pré-pandemia, diferentemente da zona oeste. Em uma linha que vai do distrito da Pedreira até a Estação Jurubatuba, da CPTM, na zona sul, a quantidade de passageiros até superou a do período anterior à pandemia. Por outro lado, um coletivo que sai da Aclimação, no centro, até Perdizes, zona oeste, está atendendo 30,6% da demanda usual.

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O urbanista Bernardo Loureiro, criador do MedidaSP, lembra que o isolamento de passageiros de ônibus chegou a quase 70% no início da quarentena, mas ficou em 26% em dezembro, puxada para baixo especialmente pela periferia. Isso se torna um fator de maior destaque porque o transporte coletivo segue com redução de veículos em circulação (cerca de 88% do total em dia útil). "Se está mais ou menos a mesma quantidade de pessoas do que era antes da pandemia e a frota está menor, então vai estar mais lotado."

É o que relata o assistente financeiro Igor Esteves de Jesus, de 28 anos, que pega ônibus, trem e metrô para ir de São Miguel Paulista, na zona leste, até o trabalho, na Avenida Faria Lima, zona oeste. "Parece que o coronavírus só não existe para quem está de home office ou tem muito dinheiro."

Para ele, a situação é revoltante, tanto que postou imagens nas redes sociais de um vagão de trem em que os passageiros ficavam comprimidos. "O espaço em que caberia uma pessoa vai cinco. Em Itaquera, tem de entrar empurrando, não tem como se mover. Eu me sinto bem impotente, não acho justo. Não tive covid por sorte."

Uma pesquisa de setembro da Rede Nossa São Paulo com Ibope Inteligência mostra que a população com mais de 16 anos gasta 1h56 no transporte coletivo. Por outro lado, 35% não estão se deslocando para trabalhar, 52% com rendas de mais de 5 salários mínimos.

No caso da analista contábil Mariza Santos, de 32 anos, são 2h30 do distrito de Parelheiros, no extremo sul, até as imediações do Aeroporto de Congonhas. Como "qualquer horário é horário de pico", passa álcool em gel o tempo todo. "Chego ao trabalho e já vou lavar as mãos e trocar de máscara."

Riscos

Pós-doutoranda em Ciências Atmosféricas na USP, Milena Ponczek defende que os passageiros estejam em assentos intercalados e haja troca de ar. E ressalta: "não importa ter 'recirculação' de ar, janela aberta, se estiver superlotado". Esse cenário propício à transmissão piora com o consumo de bebidas e alimento, conversas e outras ações que criam o espalhamento de aerossóis.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Nesta terça-feira, dia 12 de janeiro, a cidade de Belém completa 405 anos, repletos de história e muita cultura. A capital paraense tem muita vozes. Algumas, por diferentes motivos, quase sempre ignoradas.

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Um dos projetos que merecem ter visibilidade ocorre no bairro Tapanã. O Coletivo Articulado do Tapanã (CARTA) promove ações voltadas exclusivamente para a periferia, englobando questões raciais e científicas de maneira que seja acessível para todos da comunidade compreenderem os problemas da sociedade, além de realizar atividades sociais nas áreas de necessidade dentro do bairro.

A tesoureira do Coletivo, Jaqueline Oliveira, falou sobre a importância das ações para a comunidade. "Esse tipo de ação é importante no bairro, pois é uma forma de garantir acesso às informações e também politizar os moradores de periferia para que eles possam se empoderar no seu lugar de fala e luta por seus direitos", afirmou.

Os coordenadores do CARTA defendem o fortalecimento de políticas que visam priorizar questões culturais que nascem dentro das periferias, em especial nas escolas do bairro, do ensino fundamental ao médio.

"Hoje, nas escolas de ensino fundamental e médio é possível observar um grande crescimento de expressões artísticas, como por exemplo o rap, hip hop e o grafite. Essas formas de arte não são valorizadas dentro da escola, chegando a ser reprimidas em muitos dos casos. Acredito que uma política que vá valorizar essas formas de expressões nascidas da periferia dentro das escolas seja o caminho que tem muito a acrescentar", disse o estudante de Psicologia e atual secretário do Coletivo, Mailson Alves.

O projeto, que foi idealizado em maio de 2020, tem dificuldades financeiras. Segundo os coordenadores do CARTA, a falta de verbas e o espaço de funcionamento são os maiores problemas. Apesar de que no bairro existem várias associações de moradores, esses lugares acabam não sendo acessíveis tanto por falta de recursos quanto pela depredação.

"Quanto à questão financeira, para que haja um fortalecimento, você precisa de um investimento de capital. Existem algumas instituições privadas que oferecem esse tipo de ajuda, mas com valores muito limitados para grupos já pré-selecionados, o que torna ainda mais difícil para grupos que estão crescendo agora ", declarou Mailson Alves.

Em relação ao apoio governamental, o Coletivo espera uma melhoria com o novo governo municipal. "Acredito que vai ter mais o fortalecimento de políticas culturais tanto pelo caráter político ideológico quanto pelas propostas que foram postas dentro do processo eleitoral", destacou o secretário do projeto.

Incentivo à leitura

Outra ação que atende à comunidade periférica de Belém é o projeto lítero-musical  “Bom é ler de porta em porta”, fundado em julho de 2020 pelo coletivo de mediadores de leitura da Biblioteca Comunitária Itinerante BombomLER, que atua no bairro da Marambaia e tem como principal objetivo levar a literatura para crianças, jovens, adultos e idosos sem a necessidade de sair de casa. Rita Melém, cofundadora e mediadora de leitura na Biblioteca Comunitária Itinerante BombomLER, explicou que que o compromisso das bibliotecas itinerantes é viabilizar e democratizar o acesso à literatura como um direito humano fundamental. “Uma equipe de mediadores de leitura da Biblioteca realiza, periodicamente, um colorido cortejo lítero-musical pelas ruas do seu entorno, parando de porta em porta, contando histórias, cantando, poetando, distribuindo livros e máscaras. Tudo isso respeitando os protocolos sanitários em função da pandemia do coronavírus, mantendo distanciamento social, usando máscaras e álcool em gel para garantir a segurança tanto dos mediadores quanto dos moradores do bairro da Marambaia”, disse.

Rita também ressaltou as principais dificuldades para manter o projeto em funcionamento. ”A maioria não possui espaço próprio ou adequado às suas necessidades de atendimento ao público, não possui mobiliário suficiente e recursos para ampliar, qualificar ou restaurar seu acervo literário, a fim de garantir a circulação dos livros nas comunidades", afirmou. Segundo ela, também faltam recursos e parcerias para investir na formação de mediadores de leitura.

Cris Rodrigues, também cofundadora e mediadora de leitura da BombomLER, destacou que tipo de apoio espera da nova prefeitura de Belém. “Nossa maior expectativa e luta junto ao poder público é a criação e aprovação do Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas junto à Câmara Municipal e do Plano Estadual do LLLB (livros, leitura, literatura e bibliotecas) na Assembleia Legislativa, com dotação orçamentária para a implementação de políticas públicas de Estado que contemplem escritores, livreiros, editores, sebos, ilustradores, mediadores de leitura e bibliotecas comunitárias, escolares e públicas, que concorram para a democratização do acesso ao livro e à literatura como um direito humano essencial à formação de sujeitos críticos e participativos, transformando Belém numa cidade de leitores”, assinalou.

Apesar das dificuldades enfrentadas pelo projeto “Bom é ler de porta em porta”, Cris conta como a ação é recebida pelo público, de forma lúdica e cativante. “Aos poucos vamos sendo recebidos com afeto, sorrisos e olhares de alegria. A rua fica animada, ganha um colorido especial com as palavras que saltam das histórias, músicas e poesias.Uma atmosfera de encantamento vai se formando e contagiando quem está por perto. Ouvimos até gente grande dizendo que a emoção foi tanta que queria voltar a ser criança, que sentiu saudade da infância. Nós costumamos dizer que é uma ação para almas crianças de todas as idades”, relatou.

Música para todos

Idealizado no bairro do Guamá em 2019, pela professora Glaucia Freire, o projeto social “Toca Guamá” tem como proposta levar a música para a periferia, com a musicalização através da flauta doce e percussão. A professora ofereceu 20 vagas, sendo 10 para cada tipo de instrumento. Ela também recebeu ajuda de uma amiga que se voluntariou para dar aula de violão. Ambas ministram aulas para as duas turmas.

Glaucia ressalta como a música tem um poder muito grande de desenvolvimento para crianças que não possuem tantos privilégios. “A gente sabe que a educação musical é um poderoso instrumento de desenvolvimento social e desenvolvimento cognitivo", disse. Segundo ela, relatos de famílias que participam do projeto comprovam a mudança de comportamento dessas crianças, que ficavam durante muito tempo na rua e hoje otimizaram esse tempo com o estudo de um instrumento e de um determinado repertório.

“Hoje eu peço que os governos possam olhar com mais carinho para os nossos centros comunitários. Existem muitos centros desativados aqui no bairro do Guamá, que poderiam estar recebendo projetos sociais, projetos educacionais que vão fazer toda diferença no desenvolvimento social das famílias. A gente precisa começar a desenvolver e movimentar essa comunidade da periferia”, falou a professora sobre a falta de atenção que o bairros de periferia sofrem pela parte do governo.

“A nossa principal dificuldade é com relação ao espaço físico. Se o nosso centro comunitário estivesse ativado, provavelmente nós estaríamos lá, recebendo muito mais que vinte alunos”, relatou Glaucia, que ministra aulas em sua residência.

Ela também ressaltou a importância das doações de instrumentos. “Quero abrir uma nova turma de violão para adolescente. Conto com esse apoio para trazer profissionais para dentro da comunidade que possam estar trabalhando dentro desses centros comunitários que estão dentro e próximo da nossa comunidade”, completou.

Por Maria Rita Paiva, Sabrina Avelar e Yasmin Seraphico.

 

 

 

 

 

 

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