Um dos "poderes" que, certamente, revolta a população contra o Governo Temer é o fato de que o presidente do Brasil pode exonerar os seus ministros que têm cargo de deputado federal a seu favor quando necessário. Na votação da segunda denúncia, que acontece nesta quarta-feira (25), Michel Temer (PMDB) exonerou seus auxiliares ministeriais para ajudar a garantir os votos contra a nova acusação da Procuradoria- Geral da República (PGR).
Na mira de uma boa parte dos pernambucanos insatisfeitos estão quatro auxiliares de Temer: Bruno Araújo (PSDB), Mendonça Filho (DEM), Fernando Filho e Raul Jungmann (PPS), respectivamente, chefes dos Ministérios das Cidades, da Educação, de Minas e Energia e, por último, da Defesa. Os auxiliares ministeriais tentam salvar a pele do presidente que, desta vez, é acusado pela PGR por formação de organização criminosa e obstrução de Justiça. Os ministros Moreira Franco [Secretaria-Geral] e Eliseu Padilha [Casa Civil] também foram denunciados por organização criminosa.
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Para que a denúncia possa dar andamento e ser autorizado a abertura do processo no Supremo Tribunal Federal (STF) é necessário que 342 dos 513 parlamentares votem contra o parecer do deputado Bonifácio de Andrada, já votado na CCJ pela rejeição da denúncia.
Em entrevista concedida ao LeiaJá, o deputado federal Daniel Coelho (PSDB) disse que era “uma vergonha para o Brasil” todo esse cenário. “O governo está fazendo de tudo: o que é republicano e o que não é para barrar a denúncia. Tudo para se manter no poder. Uma vergonha a troca de cargos, emendas e vantagens por apoios”.
O tucano destacou que o maior problema é a “ajuda” dos ministros na cooptação de parlamentares para ajudar Temer. “Claro que ele [Michel Temer] tem direito de exonerar o ministro e cada ministro tem que se responder pelos seus atos, mas efetivamente o que me preocupa não é o voto de um ministro, mas a atitude de alguns deles em trabalhar na cooptação de parlamentares com a distribuição de cargos, de emendas e vantagens”.
O deputado falou que esse esquema era muito ruim para a democracia brasileira. “É um filme que a gente tem visto em vários governos e se repete essa história que tem marcado negativamente a recente democracia brasileira”, complementou.
O parlamentar Silvio Costa (PTdoB), em carta aberta, pediu que para que os deputados renunciassem ao Michel Temer. “É um apelo à impunidade e indignação exposta pelo presidente sobre a denúncia do Ministério Público por organização criminosa e obstrução de Justiça. Beira à falta de decoro”.
Silvio também falou que era “cínica” a salvação de Temer. “Quem tem de se indignar somos nós, que estamos por fora da concha da Câmara. A indignação de Temer é um ato de teatro, uma cena da peça de 2016 que saiu involuntariamente do script. Para retomar o roteiro, precisa manter o poder”, criticou.
Em defesa de Temer
Esta não é a primeira vez que Temer usa seus aliados pernambucanos a seu favor. Em abril passado, Mendonça, Bruno Araújo e Fernando Filho também foram exonerados e voltaram para os seus respectivos mandatos para garantir que a reforma trabalhista, motivos de diversos protestos na capital pernambucana e no país, fosse aprovada. Provavelmente, a mesma estratégia deve ser utilizada na votação da reforma da Previdência, que se encontra em fase de negociações.
Recentemente, durante um evento no Recife, Mendonça Filho falou sobre o assunto defendendo mais uma vez as propostas e falou sobre a segunda denúncia envolvendo Temer. Questionado se o governo terá forças para passar as propostas, ele disse acreditar que sim “superado esse momento” da denúncia. “Para consolidar esses avanços e a retomada do crescimento, há a necessidade de aprovar reformas estruturantes como tributária e da previdência para que o Brasil possa consolidar um caminho de retorno ao crescimento econômico”, disse sem se intimidar com as críticas já previstas.
Também alvo de muitas críticas, o comandante de uma das principais pastas, Bruno Araújo, continua percorrendo um caminho se aproximando do estado. Ele, que já foi cogitado como um dos nomes a concorrer à vaga de governador de Pernambuco, foi convocado no início deste mês pela cúpula estadual do PSDB para assumir a presidência da legenda. Bruno respondeu que aceitava a convocação. “Estamos preparados para realizar nossa convenção estadual e nela fortalecer nossas ideias e compromissos por Pernambuco”, deixou o recado.
Não fica atrás Fernando Filho que chegou a ser chamado de “traidor” por funcionários da Chesf, em audiência pública realizada na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), que debatia o processo de privatização de ativos da Eletrobras. O filho do senador Fernando Bezerra Coelho é outro que não parece se intimidar.
Em entrevista concedida ao LeiaJá, em agosto deste ano, também defendeu Temer. O filho do senador Fernando Bezerra Coelho disse que o presidente tomou medidas “corajosas e necessárias” para o país. “Em um mandato de dois anos, de dois anos e meio, os impactos positivos não serão tão grandes. São muito mais para o futuro. Ele poderia não fazer, mas a determinação do governo de enfrentar isso foi fundamental para o desenvolvimento do país”, minimizou.
O auxiliar de Temer também falou sobre as reformas previstas e foi direto ao garantir que elas serão feitas de uma forma ou de outra. “Não se trata de fazer ou não fazer. Vai se fazer de todo jeito. O fato é saber se vai fazer antes de quebrar ou depois de quebrar. Vimos exemplos como da Grécia, Portugal e diversos outros países que passaram por dificuldades por não ter reformulado a questão da previdência, então as reformas são extremamente importantes”, argumentou.
Um pouco mais discreto, Jungmann também tem a mesma linha de pensamento dos demais. Em entrevista a um veículo, ele disse que Temer tinha o direito de continuar na presidência até o fim do mandato. “Constitucionalmente ele tem esse direito”, frisou. Ainda falou que o governo tem conseguido a capacidade de se manter governando e mantido a governabilidade. “É isso o que importa para o Brasil”, ressaltou o ministro.