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Ex-chanceleres afirmaram, nessa terça-feira (28), que a política externa do governo de Jair Bolsonaro não contribui para os interesses do Brasil no exterior e não traduz as necessidades do País em oportunidades de investimentos. Para os diplomatas, a atual política externa prejudica a projeção do Brasil no mundo e promove o autoisolamento do País, defendendo a restauração da racionalidade.

"O que acontece agora é a incapacidade de afirmar construtivamente a presença do Brasil no mundo de acordo com suas necessidades e seus interesses, até em matéria de coisas óbvias como é nosso relacionamento com a China", disse Celso Lafer, que atuou como ministro nos governos de Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso.

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As declarações foram dadas no painel sobre diplomacia da Brazil Conference at Harvard & MIT, evento anual da comunidade de estudantes brasileiros em Boston e que, neste ano, acontece por videoconferência por causa do coronavírus. O debate foi mediado pela colunista do jornal O Estado de S. Paulo e editoria do site BR Político, Vera Magalhães.

O ex-chanceler Aloysio Nunes Ferreira (governo Michel Temer) afirmou que uma boa política externa precisa ter noção de que o mundo não começou com ela. "Se inscreve em linhas de continuidade, que definem um perfil diplomático do país e lhe confere credibilidade e previsibilidade nas relações que se travam com os países."

O ex-chanceler Celso Amorim, que atuou nos governos FHC, Lula e Dilma, disse que em "meio século" nunca viu nada igual e que a reputação do Brasil no exterior é muito ruim. "Sempre houve uma linha de continuidade. Me envergonho de tudo da política externa hoje. O Brasil teria todas as condições de ser o sócio privilegiado da China, e agora somos o último da fila", afirmou. Amorim afirmou ainda que é preciso restabelecer a racionalidade e promover a restauração da atuação na política externa.

O diplomata Rubens Ricupero afirmou que o governo tem feito alianças erradas ao se aproximar do ex-presidente argentino Mauricio Macri e ao criticar o francês Emmanuel Macron e a alemã Angela Merkel, enquanto privilegia os líderes de países como Estados Unidos, Hungria e Polônia. "O governo tem uma percepção de um universo de ficção, é uma política destrutiva que nada traz em favor dos interesses brasileiros", afirmou Ricupero.

Pesquisador da Universidade Harvard, o cientista político Hussein Kalout criticou a subserviência do governo brasileiro ao do presidente Donald Trump, como nunca aconteceu em 200 anos de política externa.

Ele destacou também a necessidade de diferenciar a relação entre pessoas e entre Estados. "Nas relações internacionais não há amizade, há interesses", disse. "É de extremo amadorismo acreditar que Trump e Bolsonaro são a mesma coisa e que interesses são convergentes em tudo." Hussein afirmou que o País tem feito concessões reais em troca de migalhas. "Essa antidiplomacia vai impingir ao Brasil graves danos." 

Donald Trump chegou à Casa Branca propondo a reorientação radical da relação dos EUA com o mundo, com a diminuição da presença no Oriente Médio e o fim do multilateralismo. Segundo analistas, porém, as decisões de política externa dele têm buscado mais dividendos eleitorais do que resultados concretos.

Uma pesquisa do Pew Research, divulgada seis meses antes da eleição de 2016, mostrava que 57% dos americanos acreditavam que os EUA deveriam "lidar com os próprios problemas e deixar que os outros países lidassem com os deles". Hoje, a 11 meses de disputar sua reeleição, Trump usa a política externa para ganhar votos, tentando controlar uma narrativa que nem sempre bate com a realidade.

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Em comício de campanha, na semana passada, Trump garantiu que os EUA destruíram 100% do Estado Islâmico. O grupo terrorista, no entanto, apesar de ter perdido boa parte de seu território e da morte de seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi, em outubro, ainda está ativo e tenta se reagrupar, como reconhecem autoridades do próprio governo americano.

No dia 2, quando a política externa ainda estava distante da campanha eleitoral, Trump autorizou o ataque que matou o general iraniano Qassim Suleimani, em Bagdá, colocando gasolina na fogueira de um Oriente Médio já marcado pela tensão. Uma semana depois, após saber que a retaliação do Irã não havia feito vítimas, ele respirou aliviado e acenou com a paz.

"Trump cria crises, promove uma solução superficial para o problema e depois pede crédito por ter encontrado uma saída. Isso é um padrão. Veremos mais disso neste ano", disse Hal Brands, da Johns Hopkins School of Advanced International Studies. Nos 9 minutos de fala no qual baixou tom com o Irã, Trump fez ao menos duas afirmações enganosas, três exageradas e uma sem provas, segundo checagem do New York Times.

O republicano comemora a aproximação com o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, um feito "histórico" para um presidente americano. Mas há poucos progressos concretos para a desnuclearização da Coreia do Norte. A cada nova rodada de negociações, os diplomatas americanos temem que o presidente ceda além do aconselhado por sua equipe de segurança nacional na busca de um acordo de paz.

Errática, impulsiva, contraditória e inconsistente são as palavras usadas frequentemente pela imprensa para descrever as decisões de política externa de Trump. Em 2016, analistas tinham dificuldade de pontuar os planos do presidente em meio a sua retórica eleitoral.

Com frequência, Trump era definido como alguém que saiu do mercado imobiliário, com uma abordagem de "negociador", que divide o mundo entre vencedores e perdedores. "Trump é transacional, e não institucional. Ele gosta de criar incerteza, porque acha que isso dá poder e influência", disse Roberto Zoellick, ex-presidente do Banco Mundial, no Financial Times, durante os primeiros meses de governo. "Trump enfrentará múltiplas crises neste ano", afirma Brands. "E há uma outra categoria de questões de crises que o presidente tenta ignorar, como a Venezuela."

Segundo Brands, a crise venezuelana ainda está na agenda da Casa Branca. A disputa eleitoral na Flórida, um Estado crucial para sua reeleição, costumam ser decididas voto a voto. Por isso, o presidente precisa do eleitorado anticastrista e dos retirantes do chavismo - estima-se que haja 200 mil venezuelanos vivendo na Flórida, a maioria nas imediações de Doral, onde Trump tem um resort de golfe. O cenário eleitoral, portanto, explica a retórica agressiva de Trump contra Cuba e Venezuela. Mas a busca pelo voto latino na Flórida é encarniçada e a conta é mais difícil de fechar.

O problema é que ali vivem também 1,2 milhão de porto-riquenhos, de acordo com Fernando Rivera, da University of Central Florida - a maioria detesta o presidente desde a passagem do furacão Maria, em 2017, quando Trump apareceu na ilha e jogou rolos de papel higiênico para a população moribunda. "O instinto de Trump é não se envolver. Mas há duas coisas que podem alterar o cenário: a reeleição, se ele sentir que precisa dos votos da Flórida, ou se a crise venezuelana piorar e (o opositor Juan) Guaidó for preso, por exemplo", afirma Brands. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A nova ministra das Relações Exteriores da Bolívia, Karen Longaric, anunciou nesta sexta-feira (15) o rompimento das relações com o governo de Nicolás Maduro na Venezuela, a retirada da União de Nações sul-americanas (Unasul) e da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba) e a saída de médicos cubanos do país, em uma mudança de 180 graus em relação à política exterior empregada por quase 14 anos pelo ex-presidente Evo Morales.

A ministra disse em uma coletiva de imprensa que a Bolívia deixará a Unasul porque, na verdade, o "o bloco não funciona mais, já não existe e não serve".

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"Não somos mais a Alba", disse ela sem maiores explicações, acrescentando que o embaixador venezuelano na Bolívia será declarado persona non grata.

A presidente interina, Jeanine Áñez, já havia antecipado que seu governo de transição reconheceria o líder da oposição venezuelana Juan Guaidó como presidente legítimo da Venezuela e tinha pedido que ele enviasse um embaixador à Bolívia.

A ministra das Relações Exteriores disse, também, que o novo governo boliviano enviou uma queixa ao México por "pronunciamentos hostis" que o ex-presidente Morales faz desde que se exilou em solo mexicano. Fonte: Associated Press.

O governo de Jair Bolsonaro voltou a prometer um realinhamento da diplomacia multilateral, "a fim de melhor refletir os valores da sociedade brasileira, e focada na defesa de interesses do País". No texto, o governo promete reforçar os laços com os Estados Unidos e priorizar novos acordos comerciais.

No documento enviado ao Congresso Nacional, que abrange a mensagem e as principais propostas do Executivo para este ano, o governo diz que "será dado destaque às negociações multilaterais, especialmente na Organização Mundial do Comércio (OMC), cuja nova agenda o Brasil terá maior protagonismo".

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Ainda segundo o texto, a diplomacia bilateral será "reorientada para maximizar resultados para o País e seus cidadãos". "Buscar-se-á fortalecer relações com países que sejam efetivamente estratégicos para o Brasil, por valores comuns, pelo potencial promissor em comércio e investimentos e no compartilhamento de tecnologias que contribuam para solucionar problemas concretos enfrentados pelo País", traz o texto na página 112.

O governo lembra que o Brasil assumirá a presidência de turno do Brics neste ano, "o que demandará intensificação dos esforços internos de coordenação". Também destaca que assumirá, no segundo semestre de 2019, a presidência pro tempore do Mercosul. "Ao lado dos demais Estados Partes, o País irá realizar uma revisão do bloco para garantir que atenda aos objetivos econômicos de seus integrantes".

Além disso, segundo o texto, o governo "redobrará" esforços para construir uma nova parceria, mais intensa e elevada, com os Estados Unidos, que maximize as oportunidades de desenvolvimento do Brasil. "Em outra frente de trabalho, o governo irá lutar para assegurar o fortalecimento da democracia e das liberdades individuais na região, com particular atenção às situações na Venezuela, na Nicarágua e em Cuba".

O governo promete priorizar as negociações de novos acordos comerciais, como parte do esforço de garantir oportunidades de acesso a mercado para bens e serviços do País, e a continuação do processo de aproximação com a OCDE, com vistas à acessão plena.

"Também haverá crescente integração da diplomacia econômica com os ecossistemas de inovação científica e tecnológica de países parceiros". Nesse sentido, o governo diz que o Itamaraty tem reforçado sua estrutura econômica e integrado de "maneira mais efetiva" as unidades responsáveis por negociações e promoção comercial.

"Departamentos temáticos e mais especializados poderão ser criados, como o do agronegócio, que elevarão o perfil com que o Brasil trata desses temas".

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, iniciou, nesta sexta-feira (4), a sua participação na reunião de chanceleres do Grupo de Lima para discutir a situação na Venezuela. É o primeiro teste da nova diplomacia brasileira adotada pelo presidente Jair Bolsonaro, mais crítica ao regime de Nicolás Maduro e alinhada ao pensamento do presidente americano Donald Trump.

Antes da reunião, Araújo participou de uma reunião na residência do embaixador chileno em Lima que reuniu com outros cinco ministros das Relações Exteriores do continente. Segundo a reportagem apurou, foi discutida a situação da Nicarágua e tudo relacionado à Unasul. O Grupo de Lima se encontra no Palácio de Tagle, em Lima. Ao todo, se reúnam chanceleres e representantes dos quatorze países do continente que compõem o Grupo Lima, incluindo Argentina, Colômbia, Chile e México.

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"Nós admiramos aqueles que lutam contra a tirania da Venezuela e de outros lugares", disse Araújo ao tomar posse como chanceler na quarta-feira.

Maduro será reconduzido ao cargo de presidente da Venezuela em 10 de janeiro depois de vencer as últimas eleições. O encontro acontece no momento em que chanceleres da América Latina discutem a crise política, econômica e humanitária que a Venezuela enfrenta. Araújo atribui a crise à ruptura da ordem democrática naquele país.

Além disso, prevê-se a discussão de medidas de coordenação regionais para tentar restaurar a democracia na Venezuela, segundo uma fonte da embaixada brasileira. E, também, para tratar a onda migratória de cidadãos venezuelanos a outros países da região.

Espera-se que os ministros das Relações Exteriores e representantes dos países do Grupo de Lima emitiram uma declaração conjunta após o encontro.

Grupo de Lima

O Grupo Lima, criado por iniciativa peruana é composta por Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Guiana, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru e Santa Lúcia.

A agenda do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), no Rio de Janeiro, inclui nesta quinta-feira (1º) o tema política externa. Inicialmente, ele se reúne com o embaixador da Espanha no Brasil, Manuel de la Comara Hermoso. Depois, à tarde, será a vez de conversar com o embaixador dos Estados Unidos (EUA) no Brasil, P. Michael McKinley.

Com forte representação na União Europeia, a Espanha é um parceiro importante para o Brasil, no momento em que o Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela, suspensa temporariamente) tenta negociar um acordo de cooperação com o bloco europeu.

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Em processo de articulação há 18 anos, o acordo envolve mais de 300 pontos e várias divergências. As dificuldades principais cercam os setores automotivo, de propriedade intelectual, em especial as regras de patentes de medicamentos, indicações geográficas e os serviços marítimos

EUA

No caso dos Estados Unidos (EUA), o embaixador P. Michael McKinley está deixando Brasília para assumir de forma definitiva as funções de assessor do chefe do Departamento de Estado norte-americano, Mike Pompeo.

Há três meses, P. Michael McKinley acumula as funções de embaixador no Brasil e também de assessor de Pompeo. Ontem (31), seguranças norte-americanos estiveram no condomínio onde mora Bolsonaro para verificar o local e observar eventuais ameaças e riscos.

Afinidade

Em várias entrevistas concedidas após as eleições, Bolsonaro disse ter admiração pelo presidente norte-americano, Donald Trump, e que irá aos Estados Unidos. Ele pretende viajar na companhia do general da reserva Augusto Heleno, confirmado para a pasta da Defesa, e de Paulo Guedes, que assumirá o superministério da Economia.

Trump e Bolsonaro conversaram por telefone após o resultado das eleições. Nos Estados Unidos, o presidente eleito disse que quer tratar de acordos na área militar, negociações comerciais e questões regionais. Assim como o norte-americano, Bolsonaro é crítico do governo de Nicolás Maduro, presidente da Venezuela.

Há ainda a preocupação com a Nicarágua, que desde abril vive em clima de confronto entre civis e agentes do Estado. As manifestações são rotineiras e há denúncias de desrespeito aos direitos humanos e à liberdade de expressão.

No último dia 29, logo após a eleição, Pompeo telefonou para Bolsonaro para parabenizá-lo. Em nota, o Departamento de Estado reiterou a parceria entre os dois países.

Os candidatos à Presidência da República Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) apresentam caminhos distintos para a política externa.

Bolsonaro tem acenado com uma maior aproximação com os Estados Unidos e elogiado as políticas implementadas pelo governo de Donald Trump. No âmbito regional, o candidato defende o distanciamento do Brasil de países como Venezuela e Cuba.

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Haddad, por sua vez, defende o aprofundamento da integração na América Latina por meio do Mercosul, da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) e da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). Seu plano de governo também prevê o fortalecimento da participação brasileira em mecanismos multilaterais como o Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

Jair Bolsonaro

Na proposta de governo entregue pelo candidato ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bolsonaro fala em um “novo Itamaraty”. Segundo o texto, o Ministério das Relações Exteriores precisa estar a serviço de valores que sempre foram associados ao povo brasileiro. A outra frente, diz o programa, será fomentar o comércio exterior com países que possam agregar valor econômico e tecnológico ao Brasil.

“Deixaremos de louvar ditaduras assassinas e desprezar ou mesmo atacar democracias importantes como EUA, Israel e Itália. Não mais faremos acordos comerciais espúrios ou entregaremos o patrimônio do povo brasileiro para ditadores internacionais”, diz o documento.

Sobre comparações feitas entre ele e o presidente dos Estados Unidos, Bolsonaro respondeu, em coletiva de imprensa, no último dia 20: “Trata-se de querer um Brasil grande assim como ele quer uma América grande.”

“Ele [Trump] diminuiu a carga tributária do setor produtivo, foi criticado, mas isso gerou emprego e atraiu novas empresas de fora. A Inglaterra fez isso há 20 anos. Admiro muito ele [Trump] por isso aí, ou vão querer que eu admire [Nicolás] Maduro [presidente venezuelano] ou o governo cubano?”, acrescentou Bolsonaro.

No âmbito regional, o plano de Bolsonaro prevê aprofundamento da integração “com todos os irmãos latino-americanos que estejam livres de ditadura”. “Precisamos redirecionar nosso eixo de parcerias”.

Sobre o Mercosul, o candidato afirmou, na entrevista do dia 20, que não se pode “jogar para o alto” o acordo. “O que não pode é continuarmos usando acordos como esse em função de interesses ideológicos como o PT fez”, criticou. “Vamos partir para o bilateralismo onde for possível. Conversei com o [Mauricio] Macri [presidente da Argentina], ontem com o do Paraguai [Mario Abdo], encontrei senadores do Chile. Vamos buscar fazer acordos com os países da América do Sul sem o viés ideológico”.

Fernando Haddad

Em seu programa de governo registrado no TSE, Haddad aponta para a “retomada de uma atitude proativa no plano internacional” com o fortalecimento de iniciativas como o Brics e o Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do Sul (Ibas). “Isso é essencial para criar um mundo mais equilibrado e menos dependente de um único polo de poder, de modo a superar a hegemonia norte-americana”, diz o documento.

O candidato também defende o aprofundamento das relações de “amizade e parceria” com os países africanos e árabes e disse que sua administração estará empenhada em promover a reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) em prol de um mundo mais multipolar e equilibrado.

“As mudanças no cenário internacional, especialmente nos EUA sob o governo Trump, apontam no sentido de esvaziamento dos organismos multilaterais, menor peso para aspectos normativos e maior ênfase à velha política de poder de ações unilaterais. Isso apresenta grandes riscos como exacerbação de conflitos e ações multilaterais unilaterais, mas também cria aberturas para um mundo mais multipolar, menos submetido à influência hegemônica de um polo de poder”, diz o plano do candidato do PT.

Segundo a proposta, o Brasil deve retomar e aprofundar a política externa de integração latino-americana e a cooperação Sul-Sul de forma a apoiar o multilateralismo, a busca de soluções pelo diálogo e “o repúdio à intervenção e a soluções de força”. “O Brasil também voltará a ter presença ativa no Sistema Internacional de Direitos Humanos”, diz o texto.

Para o petista, é necessário recuperar os avanços na integração regional. Seu governo, afirma, promoverá a integração das cadeias produtivas regionais, a expansão da infraestrutura e o fortalecimento de instrumentos de financiamento do desenvolvimento, como o Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul (Focem).

A crise política e econômica que se abateu sobre o País a partir de 2016 contaminou a política externa brasileira. Um novo presidente pode melhorar esse cenário? A próxima eleição será decisiva para os rumos do Brasil em vários aspectos, mas um dos menos observados é a política externa, historicamente relegada a segundo plano em eleições.

Em um limbo desde o segundo mandato de Dilma Rousseff, as relações exteriores brasileiras minguaram. O Brasil perdeu chances de conquistar espaço no cenário internacional. Agora, está em busca de uma agenda de política externa possível e viável - e o próximo presidente terá pouco tempo para colocar uma nova agenda em prática.

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"O próximo governo vai esbarrar em um dos cenários externos mais desafiadores para o Brasil em décadas e, por isso, será necessário construir uma agenda propositiva e realista", afirmou o professor de Relações Internacionais Oliver Stuenkel, coordenador da Escola de Ciências Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV).

A expectativa de elevação da taxa de juros nos Estados Unidos tornará mercados emergentes menos atraentes para investidores. A recuperação dos preços das commodities ocorreu, mas de forma tímida. O Brasil é altamente dependente de um conjunto funcional e previsível de regras e normas globais, que organizam a política internacional, que está erodindo no mundo todo. Por fim, a crise na Venezuela roubará espaço na agenda de discussões internacionais do Brasil. Quem quer que seja eleito terá de lidar com questões sobre o vizinho em encontros em Washington ou Bruxelas.

Uma agenda viável incluiria conversas bilaterais sobre acordos comerciais e negociações sobre redução de tarifas. Segundo analistas, a aproximação com Washington e o reforço dos laços com os Brics também são questões que não podem faltar numa agenda externa brasileira. Um projeto com foco na área econômica, com engajamentos prioritários para concluir o Acordo do Mercosul com a União Europeia e aproximar o Brasil e o Mercosul da Aliança do Pacífico, e a tentativa de expandir os acordos em foros multilaterais.

A dificuldade em se estabelecer uma agenda simples decorre dos altos e baixos que o Itamaraty enfrentou na última década. Quando Luiz Inácio Lula da Silva assumiu, a política externa brasileira estava traçada por Fernando Henrique Cardoso: o destino do Brasil seria se tornar uma potência regional. Esse sonho, acalentado com certo grau de megalomania por Lula, foi escanteado por Dilma Rousseff e definitivamente enterrado com a recessão econômica, a partir de 2015, o impeachment e as dificuldades enfrentadas, na sequência, pelo presidente Michel Temer. De pretensa potência global em 2009, o Brasil passou a mero líder regional e, agora, nem isso.

Do "imperialismo brasileiro", com negociações multilaterais, tentativa de influenciar as negociações nucleares com o Irã, participação de empresas brasileiras em megaprojetos de infraestrutura na América Latina e na África, sobrou pouca coisa. "É preciso entender que houve uma mudança de cenário. O Brasil no período Lula foi favorecido pela expansão dos mercados emergentes, principalmente a China, e pelo boom de commodities", disse Stuenkel.

Agenda

Mantidas as bases que guiaram o governo Fernando Henrique, Lula tentou ampliar a agenda externa para temas como armas nucleares e aumentar investimentos em países da América do Sul, África e Ásia. Com Dilma, a diplomacia adotou outra postura. Abandonou tentativas de influenciar grandes questões e manteve a agenda Sul-Sul. Mas a crise deixou o cenário obscuro.

"A predisposição de um presidente em relação à política externa é importante. A Dilma não se interessou pelo tema e não quis manter o ativismo. Mas depois (no governo Temer) foi afetada pela crise interna que demandou todas as energias", afirmou o professor Matias Spektor, coordenador do Centro de Relações Internacionais da FGV.

Depois do impeachment, o Brasil ficou com dificuldades em estabelecer uma agenda propositiva em política externa. Teve alguns momentos de atuação, principalmente, no caso da Venezuela, mas acordos bilaterais e negociações com outros governos emperraram. "Como alguns países consideraram que a mudança de governo no Brasil foi irregular - expressando isso em notas e chegando até mesmo a ordenar a volta de embaixadores -, é compreensível que a política externa tenha sido de reação. Mas, aos poucos, as coisas devem começar a entrar na normalidade neste campo", disse o embaixador Rubens Ricupero.

A dificuldade em manter uma agenda de política externa só deve diminuir após as eleições. "Hoje, tudo depende do resultado da eleição. O cenário internacional para toda a América Latina em 2019 será complexo e turbulento", afirmou Stuenkel. Enquanto isso, pautas comerciais e acordos multilaterais tendem a continuar no limbo. Em 2019, o Brasil vai sediar a cúpula dos Brics para decidir quem ocupará a próxima presidência do organismo. A negociação entre Mercosul e a União Europeia, em andamento desde 1999, também deve ser concluída em 2019. "Talvez as incertezas aumentem, se o eleito for uma pessoa radical que afaste o Brasil das negociações", disse Stuenkel.

Troca da África pelos morros do Rio

Em 10 de julho, as Forças Armadas do Brasil deveriam ter desembarcado em Bangui, na República Centro-Africana, sob mandato da Organização das Nações Unidas. Teria sido o primeiro movimento de uma nova missão de paz, apenas oito meses depois do encerramento do ciclo de 13 anos da experiência no Haiti, e o primeiro contato direto da tropa com um cenário abrasivo, marcado por combates entre os rebeldes da Coalizão Séleka e os apoiadores do governo regular. Há crescente influência de grupos radicais de outros países, como os fundamentalistas islâmicos do Boko Haram, da Nigéria. Serviços de inteligência dos Estados Unidos relatam desde 2016 "fortes indícios de células do Estado Islâmico na fronteira com o Sudão do Sul". Zona de guerra.

O Brasil chegaria levando muita bagagem. O efetivo, estimado pelo Comando do Exército entre 700 e 800 combatentes, o tamanho de um batalhão, seria suplementado por fuzileiros navais e teria o apoio de um grupo da Força Aérea, atuando, pela primeira vez em 74 anos, em uma situação de conflito real.

O plano previa o envio de um cargueiro C-105 Amazonas, dois helicópteros UH-60 Black Hawk e dois aviões A-29 Super Tucano. Segundo o analista técnico da ONU, o coronel do Paquistão Humayun Choan Zia, chefe do Sistema de Capacidades em Operações de Paz, a ala área daria apoio a mais de um grupo pacificador envolvido na missão, a Minusca, sob a qual estão trabalhando no país 9.639 militares, 1.883 agentes policiais e 760 funcionários civis. O projeto, pelo qual se empenhou diretamente o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, acabou cancelado.

Escolha

O presidente Michel Temer decidiu empregar as Forças na intervenção na segurança do Rio. O esforço vai custar R$ 1,2 bilhão ao longo de 10 meses. No Palácio do Planalto, assessores do presidente limitam-se a dizer que a missão na República Centro-Africana não fora ainda formalizada e, portanto, não foi cancelada - apenas saiu da agenda deste ano para voltar em 2019. O problema, entretanto, é maior. A participação do Brasil nas missões dá relevância e tem efeito multiplicador que a diplomacia tradicional nem sempre pode suprir. Em Nova York, a sinalização do interesse pela participação brasileira é intensa.

O próximo presidente terá de atender à demanda da ONU e também dos comandos militares, que consideram inadiável a experiência em ambiente com a presença de movimentos extremistas. Segundo um general do Exército ouvido pelo Estado, "o contato com esse teatro de operações como da África central já não é mais uma condição de "se" houver necessidade de agir diante de uma ameaça, mas de "quando" isso vai acontecer em uma região de interesse (do País)".

O movimento mais recente foi a indicação do general Elias Rodrigues Martins Filho para assumir no República Democrática do Congo o comando da Monusco, a maior missão internacional da ONU, com 17 mil homens e mulheres.

48 mil venezuelanos

O funcionário público venezuelano Carlos Escalona, de 34 anos, tinha acabado de sofrer um sequestro relâmpago, no qual foi ameaçado e golpeado na cabeça por homens mascarados, quando recebeu um recado de seus superiores. "Talvez você tenha falado demais", afirmou-lhe o chefe. O "aviso" era o começo de um processo que o levaria a deixar a Venezuela e se refugiar no Brasil.

A história de Escalona é uma entre as 48 mil que cruzaram a fronteira em Roraima. Ali, o próximo presidente do Brasil terá de desarmar uma bomba-relógio, cujo segundo final ainda não está definido. Com Nicolás Maduro reeleito para um novo mandato no país vizinho, não há sinais de que a crise econômica e política venezuelana vá amenizar nos próximos anos e o colapso do país pode aumentar o fluxo de refugiados na fronteira norte do Brasil.

Foi por ali que Escalona entrou no País. Ele trabalhava numa TV do Estado de Arágua, durante a gestão de Tareck EL Aissami, hoje vice-presidente e acusado de narcotráfico pelo governo americano. O irmão de Escalona é jornalista e trabalhava na sucursal venezuelana da CNN em espanhol. O governo suspeitava que ele passara informações para o irmão.

Hoje refugiado, morando em São Paulo em um pequeno apartamento na zona leste da cidade com a mulher, Marifer, Escalona contou que depois do episódio do sequestro relâmpago passou a sofrer cada vez mais ameaças veladas. Telefonemas, campanas e retaliações no trabalho faziam parte do cotidiano. Ele então passou a planejar a fuga.

O primeiro passo foi enviar os pais, já idosos, ao Equador. Era 2016 e a crise econômica venezuelana não tinha atingido os patamares de escassez e hiperinflação de hoje, mas a situação já era preocupante. Uma vez resolvida a questão, reuniu economias para comprar duas passagens de ônibus de Caracas para Manaus.

De lá, o casal decidiu ir para Fortaleza, cidade que conheceu quando viajou de férias ao Brasil na década passada. A vida no Ceará, no entanto, não deu certo. Jornalista de formação, Escalona tinha dificuldades em conseguir emprego.

Após meses no Nordeste, escolheram um novo destino: São Paulo. Na capital paulista, as dificuldades continuaram. "É nesse momento que você percebe que não é nada. Tive muita sorte de me ajudarem", afirmou.

Com o auxílio da Missão Paz - grupo ligado à Igreja Católica que acolhe imigrantes em São Paulo - conseguiu emprego na cozinha de um hotel. Em paralelo, montou com a mulher um negócio de venda a domicílio de comida venezuelana orgânica. As arepas, disse Marifer, são o carro-chefe. "Os brasileiros nos receberam muito bem, temos muito que agradecer." Enquanto se estabelecia no País, o casal assistia ao aprofundamento da crise venezuelana.

Crise

Mesmo com a alta do petróleo no mercado internacional, a estatal de petróleo PDVSA tem tido cada vez mais dificuldades para escoar sua produção, em virtude de dívidas adquiridas com fornecedores, agravadas pelas sanções impostas pelos Estados Unidos e o sucateamento de suas refinarias. Com isso, o governo tem cada vez menos recursos para tentar mitigar a crise e a escassez generalizada de alimentos e remédios tende a agravar-se cada vez mais, o que, por sua vez, deve aumentar o êxodo de venezuelanos nas fronteiras.

Só no Brasil, segundo o Ministério da Casa Civil, 48 mil venezuelanos tramitaram pedidos de refúgio até maio. "Até agora as medidas regionais de pressão na OEA (Organização dos Estados Americanos) e no Grupo de Lima não surtiram nenhum efeito prático e dificilmente surtirão", disse o sociólogo Carlos Raúl Hernández. "Uma saída consensual e negociada é necessária na Venezuela e nisso o papel do Brasil como grande potência regional é essencial."

O papel brasileiro como mediador, no entanto, depende em grande medida de quem será eleito em outubro, na avaliação do professor Guilherme Casarões, da FGV. "(Jair) Bolsonaro vem antagonizando o regime de Maduro a partir de uma dimensão ideológica, anticomunista, e deve posicionar o Brasil fortemente contra a Venezuela."

Um candidato centrista, como Geraldo Alckmin ou Marina Silva, deve manter a posição de crítica a Maduro a partir de plataformas regionais, como o Grupo de Lima, mas mantendo o entendimento de que o Brasil deve fazer parte de uma solução construtiva para a crise venezuelana, segundo o professor. "À esquerda, Ciro Gomes já declarou que o Brasil deve adotar papel conciliador, enquanto setores do PT e do PSOL seguem realizando uma defesa de Maduro, o que sugere que poderia haver uma aproximação caso esses partidos cheguem à Presidência."

Assim como Hernández, Oliver Stuenkel, também da FGV, relativizou a eficácia da pressão imposta politicamente até agora. "As sanções políticas e individuais têm pouco impacto, e o Brasil só as imporia se tivesse uma decisão da ONU", afirmou. "Os Estados Unidos também não imporão sanções econômicas ao petróleo às vésperas das eleições (americanas) de meio de mandato (do presidente Donald Trump). Basicamente, não há uma boa solução e não há o que fazer de fora para melhorar a situação."

BNDES não é mais consenso

Braço financeiro da política direcionada a buscar aliados em países em desenvolvimento, o BNDES multiplicou a atuação em regiões consideradas estratégicas para os objetivos de governos brasileiros. Hoje, o uso do banco é alvo de questionamentos e uma revisão, diante de custos, riscos de calote e suspeitas de irregularidades.

A partir de 2003, o BNDES foi instrumento fundamental da política externa brasileira. Os números mostram um cruzamento entre as prioridades políticas e as linhas de crédito do banco. Foram R$ 14 bilhões para Angola, R$ 11 bilhões para Venezuela e US$ 7,7 bilhões para Argentina. O professor do Insper Sergio Lazzarini divide a atuação do BNDES no exterior em duas etapas. A primeira se refere ao desenvolvimento de linhas de exportação e que beneficiaram as vendas da Embraer.

Depois, segundo ele, a estratégia foi ampliada e passou a promover empresas que poderiam ser alvo de uma expansão internacional. Esse seria o caso das construtoras. A maior beneficiada foi a Odebrecht, com US$ 8,2 bilhões em créditos no exterior, ante US$ 2,6 bilhões na Andrade Gutierrez. Para Lazzarini, deve haver uma real avaliação se, de fato, esses empréstimos valeram à pena.

"Sob o ponto de vista do Tesouro e da sociedade brasileira, há um custo relevante dessas operações. Ele é o custo para o Tesouro correspondente às taxas de juros pagas pelo governo no financiamento da sua dívida pública", disse. "Utilizando a metodologia que compara as taxas dos empréstimos internacionais com o custo de captação internacional do Tesouro, as estimativas indicam que, no total, há um custo de US$ 351,7 milhões por ano com esses contratos de financiamento."

A pesquisa não nega que esses custos sejam "compensados com ganhos na economia local - por exemplo, em renda e emprego com as atividades de exportação". Mas esses ganhos precisam ser demonstrados. "É preciso avaliar se os mesmos benefícios não poderiam ser obtidos com outras atividades de maior impacto social que exijam menor custo financeiro."

Hoje, o uso do BNDES para esses fins não é mais consenso. "A recessão e os escândalos de corrupção racharam o consenso do uso do BNDES como alavanca da política externa brasileira nos governos do PT e do PSDB", disse o pesquisador da FGV Matias Spektor. "Um dia será preciso restaurar a imagem do Brasil no mundo e, para isso, o banco poderá ser um ativo formidável, se souber aprender as lições dos muitos erros cometidos." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O embaixador Rubens Ricupero afirmou que, enquanto o Brasil não encontrar um rumo interno, terá dificuldade de encontrar um rumo no mundo. "Estamos numa profunda crise, talvez terminal em alguns aspectos", afirmou. "A nossa crise, para usar um linguajar do protecionismo, é de um conteúdo, se não 100% nacional, quase que 100% nacional".

"Não vão ser os estrangeiros que vão nos ajudar a encontrar um modelo político melhor, mais funcional", afirmou, em evento sobre política externa e economia nesta quarta-feira, 23, ao lado do empresário Pedro Passos no Instituto Fernando Henrique Cardoso.

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Ricupero também comentou a crise econômica e seus impactos para o setor produtivo e assumiu que serão necessários novos impostos, o que deve onerar ainda mais a produção. "Ninguém vai nos salvar de nós mesmos. Temos que encontrar melhores instituições", disse.

O embaixador afirmou, contudo, que a crise interna não impede uma diplomacia criativa, inovadora. Ricupero citou a política externa pré-golpe de 1964, liderada por Jânio Quadros, Afonso Arinos e Santiago Dantas. Segundo o embaixador, isso mostra que a política externa, ainda que boa, nem sempre salva o governo. "Seria uma ilusão pensar nesse momento que a política externa vai nos salvar, mas pode ajudar".

Ele afirmou que a política externa do governo Dilma Rousseff corrigiu alguns aspectos da gestão Lula, como as violações aos direitos humanos no Irã, mas continua tendo muitas falhas em nossa própria região. "Há muito tempo o Mercosul vive em crise e precisa ser repensado em profundidade. Nunca tentamos repensar o Mercosul", afirmou.

A chefe de política externa da União Europeia (UE), Federica Mogherini, se reunirá com o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, e o primeiro-ministro da Itália, Matteo Renzi, na segunda-feira. A iniciativa é uma tentativa da UE de encontrar uma solução para a crise de refugiados.

A reunião de segunda-feira ocorrerá a bordo do navio da marinha italiana San Giusto ao largo da costa da Sicília, informou o escritório de Federica no sábado. Ela também irá se reunir com altos funcionários das Nações Unidas e outros parceiros internacionais na terça-feira em Nova York e viajará para Washington para conversações com o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, na quarta-feira.

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Os líderes da UE encarregaram Federica na quinta-feira passada de buscar alternativas para enfrentar gangues criminosas que organizaram o tráfico de pessoas em viagens marítimas perigosas para a Europa a partir da costa da Líbia. Centenas de migrantes morreram nos últimos dias nesse tipo de travessia.

Além de um reforço ao financiamento a possíveis missões de busca e salvamento, os líderes da UE estão estudando uma iniciativa que permitiria às autoridades capturar e destruir os barcos utilizados pelos contrabandistas. É provável que esta seja uma operação militar limitada e poderia exigir o apoio do Conselho de Segurança da ONU.

Federica deverá medir na terça-feira a perspectiva de apoio das Nações Unidas a uma operação desse tipo. O escritório da chefe de política externa disse que ela também estaria em contato nos próximos dias com o Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Antonio Guterres, e a Comissão da União Africana. Fonte: Dow Jones Newswires.

O plano de exportação em elaboração pelo governo será lançado em março, disse nesta segunda-feira (9) o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro Neto. Segundo ele, as políticas se concentrarão em dois eixos: a conquista de novos mercados para os produtos brasileiros e a desburocratização das exportações.

Monteiro Neto falou com a imprensa após reunião que reinstalou o Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), órgão que engloba representantes do governo, dos empresários e dos trabalhadores, e discute políticas para a indústria. O conselho, que não tinha reuniões desde abril de 2013, passará a se reunir a cada três meses.

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Segundo o ministro, as medidas terão impacto fiscal mínimo. “Todos os participantes entendem que estamos em um momento de ajuste, que é necessário para restabelecer o equilíbrio macroeconômico do país e fortalecer a confiança dos agentes econômicos para impulsionar os investimentos”, declarou. “Ninguém reivindicou novas desonerações, porque reconhece que os ajustes [corte de gastos e aumento de tributos] provocam restrições de curto prazo”, disse.

Monteiro ressaltou que o plano nacional de exportações está sendo elaborado em parceria com o setor privado. “Este não é um plano apenas do governo. Mais de 50 setores da economia foram consultados. Agora, os trabalhadores e as centrais sindicais também serão ouvidos. Queremos terminar as consultas nas próximas semanas para recolher as contribuições e apresentar o plano em março”, declarou.

Em relação à conquista de mercados, o ministro explicou que o governo pretende fortalecer políticas comerciais com países em situação econômica favorável, como os Estados Unidos, que estão se recuperando da crise econômica iniciada em 2008, e conquistar novos mercados na Ásia e no Oriente Médio. “Queremos uma política comercial mais ativa para que o Brasil possa diversificar o destino de exportações e se associar a fluxos de comércio de regiões mais ativas economicamente”, comentou.

Sobre as medidas de desburocratização, Monteiro Neto disse que o plano nacional de exportações pretende atuar na simplificação, na facilitação de exportações e na melhoria do ambiente regulatório e tributário. “Essas ações contribuem para melhorar o ambiente de operação das empresas e ampliar as vendas externas”, acrescentou.

O ministro negou que o governo pretenda fechar os escritórios da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) no exterior, e defendeu a manutenção de três programas de estímulo comercial. O primeiro dos programas é o Reintegra, que devolve aos exportadores de mercadorias industrializadas 3% do faturamento para ressarcir tributos cobrados ao longo da cadeia produtiva. “O Reintegra não é um bônus, mas uma compensação dos resíduos tributários que oneram as exportações brasileiras”, declarou.

O segundo programa defendido pelo ministro é o Programa de Financiamento à Exportação, modalidade Equalização (Proex Equalização), que financia parte dos encargos financeiros para exportadores ou importadores de bens e de serviços brasileiros. “Cada R$ 1 gasto no Proex gera R$ 20 em exportações”, destacou.

Monteiro Neto defendeu ainda a manutenção do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que financia a compra de bens de capital (máquinas e equipamentos usados na produção), a exportação e investimentos em pesquisa e inovação por meio de linhas especiais de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

“O Orçamento do PSI ficou e ficará menor à medida em que aportes do Tesouro Nacional [ao BNDES] diminuírem, mas o programa é muito importante, sobretudo levando em conta que o Brasil não tem mercado de capitais estruturado para dar suporte suficiente aos investimentos privados”, concluiu o ministro.

O diplomata Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Londres e Washington, afirmou, nesta terça-feira, 30, que a política externa brasileira foi marcada pela "partidarização" e pelo "interesse ideológico" nos últimos anos e citou o Mercosul como um exemplo de equívoco do governo da presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT). "O Mercosul se tornou um fórum de política social e não comercial; está paralisado, com os membros que não respeitam o tratado e cujos produtos brasileiros têm comércio restrito", disse ele em teleconferência da GO Associados sobre os desafios e as expectativas da política externa brasileira, a partir do ponto de vista do candidato Aécio Neves (PSDB), do qual Barbosa é um dos colaboradores.

Segundo Barbosa, o Brasil deveria convocar os parceiros comerciais no bloco econômico para uma revisão dos pontos do acordo, e não ficar "a reboque" dos países vizinhos. "Se não for possível avançar segundo nosso interesse, e não sobre interesses ideológicos, o Brasil precisa passar a negociar com independência" fora do bloco, disse. "Estamos fora das correntes de comércio, há uma ausência de política até em relação aos Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul)", completou.

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Barbosa considerou que o Itamaraty está marginalizado e cobrou que o Ministério das Relações Exteriores seja revalorizado como principal formulador da política externa brasileira. Para o ex-embaixador, o Brasil fez poucos acordos comerciais - três nos últimos 15 anos, segundo ele -, ficou preso ao multilateralismo da Rodada Doha, que fracassou, e o comércio exterior, que crescia 25% ao ano, hoje cresce 3% ao ano apenas por conta do dinamismo do setor privado.

O diplomata, que preside o Conselho Superior de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Coscex/Fiesp) e é colaborador de Aécio para o programa de governo tucano no setor externo, criticou o "antiamericanismo" do governo federal e considerou que a vaga pleiteada pelo Brasil no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) fica cada vez mais difícil. Ele citou como um novo entrave ao pedido do Brasil o discurso da presidente Dilma Rousseff na ONU, semana passada, pregando o diálogo com o Estado Islâmico. "Como o País se posiciona a favor do diálogo e contrário a uma decisão que foi tomada no Conselho de Segurança da ONU e ainda quer uma vaga no órgão? É preciso restabelecer a credibilidade do Brasil e ter uma política moderada e equilibrada", disse Barbosa.

Para o colaborador de Aécio, caso eleito o tucano irá restaurar a projeção do Brasil no exterior, com a revisão das políticas do Mercosul e da estratégia comercial regional. Segundo ele, o senador e candidato do PSDB a presidente da República finalizará o acordo com União Europeia e definirá prioridades do País para acordos com Estados Unidos e China. "Será revista ainda a política Sul-Sul de integração de tecnologia, que deixou os países desenvolvidos em segundo plano", afirmou.

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Os ataques do candidato do PSDB à presidência da República, Aécio Neves, as ações do governo federal estão ultrapassando as questões da política implementada em solo brasileiro. Isto porque, ao conceder entrevista coletiva neste sábado (26), durante agenda em São Paulo, o presidenciável disparou acusações ao governo federal sobre a política externa adotada pela presidente Dilma Rousseff (PT).

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Para defender seu ponto de vista, Aécio argumentou que “O Brasil sempre se caracterizou por ter uma política diplomática, uma política externa do equilíbrio, e é isso que deve retornar a conduzir as nossas ações, as nossas manifestações. O Brasil ao longo dos últimos anos optou por um alinhamento ideológico na sua política externa, e é ele que conduz as principais ações do governo, a meu ver, com prejuízos graves ao Brasil, seja em relação à incapacidade que tivemos ao longo desses últimos anos para ampliar as nossas relações com o mundo”, disse.

O tucano também procurou traçar um paralelo das suas ponderações com as reflexões feitas a partir de uma conversa com o ministro Durão Barroso, que preside a Comissão Europeia. “Ele (Durão) próprio testemunhava a perda de espaço do Brasil com o atraso, por exemplo, das negociações com a comunidade europeia. Ao mesmo tempo em que eles avançam em entendimentos, a União Europeia, com o Canadá e com os Estados Unidos, apenas um exemplo muito claro, o espaço que havia sido negociado para produtos do agronegócio, onde o Brasil é extremamente competitivo, essas cotas estão sendo ocupadas a partir dessas outras negociações, os espaços para o Brasil ficarão cada vez mais estreitos. O Brasil, algumas décadas atrás, chegou a participar com 2,3% do conjunto do comércio exterior, do comércio internacional. Hoje participa com 1,3% e essa posição nossa é declinante”, argumentou.

Sobre a polêmica declaração do porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Yigal Palmor, que chamou o Brasil de “anão diplomático” esta semana, o candidato disse faltou equilíbrio.  “Todos temos que condenar o uso excessivo da força por parte de Israel, mas da mesma forma temos que condenar também as ações do Hamas, com o lançamento sucessivo de foguetes. Faltou um brado, uma palavra mais clara de convocação a um cessar-fogo e a um entendimento entre as partes. O Brasil se precipitou, a meu ver, em uma nota com um viés muito mais unilateral do que seria conveniente e esperado de um país como o Brasil. Como disse, temos que condenar a violência de todos os lados. A palavra do Brasil tem que ser sempre a do equilíbrio e faltou [equilíbrio], mais uma vez, nesse campo”, avaliou.

Agenda – Aécio Neves cumpriu agenda em São Paulo acompanhado pelo governador e candidato à reeleição Geraldo Alckmin e o candidato a senador José Serra. O presidenciável conheceu a Feira Tecnológica da Zona Leste e visitou a biblioteca São Paulo, no Parque da Juventude.

A presença da presidente Dilma Rousseff na cerimônia de posse da presidente eleita do Chile, Michelle Bracelet, demonstra a intenção dos dois países em estreitar as relações comerciais nos próximos anos. Atualmente, o Chile é terceiro maior parceiro comercial do Brasil na América Latina e Caribe, ficando atrás apenas da Argentina e do México.

Na manha desta terça-feira (11), Dilma e Bracelet tiveram um encontro de trabalho. Logo após a rápida reunião, a presidente do Brasil reafirmou o desejo de ampliar a relação com o Chile. "Essa é uma relação que nós vamos querer ampliar, é um processo de relacionamento que significa não só investimentos diretos de empresas brasileiras aqui, mas de empresas chilenas lá no Brasil. E também é o grande processo de integração regional, que serve para várias coisas, mas, sobretudo, para construir um ambiente de desenvolvimento, de inclusão social e de democracia nos nossos países", frisou.

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Segundo o subsecretário-geral da América do Sul, Central e Caribe do Ministério das Relações Exteriores, Antonio José Ferreira Simões, na reunião, as duas presidentes falaram sobre projetos em conjunto nas áreas de energia, infraestrutura e educação, além da parceria comercial. "Esse comércio é muito variado, e é preciso também lembrar que o Chile tem no Brasil os maiores investimentos externos que esse país tem no exterior. Eles se elevam a quase US$ 22 bilhões, e o Brasil investe no Chile US$ 3 bilhões", destacou o embaixador.

Bracelet foi eleita para o segundo mandato no Chile. Para Dilma, o grande desafio é reduzir as desigualdades sociais e garantir a inclusão de pessoas das classes com menos poder aquisitivo. "Eu acho que esse é o desafio dela e o de cada um de nós: presidentas e presidentes dessa região. Porque é uma região que historicamente teve um grau de desigualdade muito grande – ainda tem", disse em entrevista coletiva após o encontro.

O Brasil receberá, em abril, uma reunião multisetorial global sobre governança da internet, a ser realizada em São Paulo. O evento vem depois que a presidente Dilma Rousseff fez severas críticas, na abertura da Assembleia Geral da ONU, à espionagem internacional praticada pelos Estados Unidos.

De acordo com o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, essa é uma das iniciativas a fim de promover um debate sobre a privacidade virtual e a soberania das nações. "Esse será um marco no tratamento internacional de assuntos relacionados à internet, sempre em busca da garantia da liberdade de expressão na internet e proteção dos direitos individuais e dos países", frisou ele, que destacou que o encontro contará com representantes governamentais e lideranças da sociedade civil.

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Em audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado, o ministro também comentou o interesse do Brasil em ter um assento no Conselho de Segurança da ONU, após a reformulação do colegiado. "Em 1945, quando o Conselho foi criado, o mundo era outro. Países como a Índia nem sequer eram independentes e estruturados. Alemanha e Japão, por exemplo, estavam destruídos pela guerra e hoje são grandes atores internacionais.  A estrutura do Conselho reflete o mundo de 70 anos atrás", ressaltou

Segundo ele, essa necessidade de mudança tem sido percebida por outras nações e pela própria ONU. "Não é apenas o Brasil que está querendo discutir essa reformulação, mas a ONU que está discutindo isso ultimamente. Na última assembleia, houve inclusive avanços para a aceleração desse processo e o reconhecimento de que o Brasil tem parte importante nesse debate", disse.

O chanceler também afirmou que está empenhado em garantir que outras instituições de governança internacional sejam atualizadas, para que tenham mais representatividade.

Ele não quis comentar o caso da médica cubana que deixou o programa Mais Médicos e pediu refúgio no Brasil. "O ministro da Justiça já deu todos os esclarecimentos sobre isso". A médica Ramona Rodriguez estava abrigada na sede do partido Democratas, em Brasília, depois de abandonar o trabalho no Pará. Ela disse ter sido "enganada pelo governo cubano" e estar recebendo apenas R$ 900 pelo trabalho no Brasil.  

O partido entrou com pedido de refúgio no Ministério da Justiça. Enquanto o requerimento é julgado pelo Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), ela poderá permanecer no Brasil e ter assegurados os mesmos direitos que qualquer cidadão brasileiro.

Esporte

Sobre a diplomacia envolvida com a realização de megaeventos esportivos, o Itamaraty ampliou o atendimento para dar conta da demanda de torcedores que sinalizam o interesse de vir ao país para assistir aos jogos. "Estamos fazendo a concessão de vistos temporários especiais, emitidos de forma gratuita por nossas embaixadas e consulados no exterior", explicou.

Nos últimos anos, inclusive, o contingente de estrangeiros atraídos para eventos esportivos cresceu com a realização dos Jogos Pan-Americanos (2007), Jogos Mundiais Militares (2011) e Copa das Confederações (2013), servindo de experiência para a organização do atendimento na Copa do Mundo (2014), nos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (2015), nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos em 2016, e Jogos Universitários Mundiais em 2019. "Esses megaeventos são poderosos aliados no combate a qualquer tipo de discriminação e promoção da paz", considerou.

Ele ressaltou que, durante a Copa do Mundo, o Itamaraty atuará nas 12 cidades-sede e cidades que terão centros de treinamento. "A ideia é que haja sempre uma unidade do Itamaraty nessas cidades, como instrumento que sirva de enlace entre as delegações estrangeiras e um ponto de apoio para eventuais casos de assistência consular", explicou.

Auxílio aos brasileiros

Com o aumento do fluxo de brasileiros para morar no exterior e de viagens de turismo e de negócios, cresceu também o contingente de atendimento nas representações brasileiras em outros países. Segundo o ministro, o Itamaraty tem feito "esforços crescentes para atender bem os brasileiros, que são a nossa prioridade, ainda que muitas vezes haja recursos limitados, mas temos contado com o reconhecido empenho de nossos funcionários".

Em 2013, os 182 consulados e setores consulares e embaixadas processaram mais de 275 mil documentos de viagem, 550 mil vistos e mais 800 mil atos notariais e de registro civil.

Haiti

Neste ano, o Brasil completa de anos de atuação na Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti (Minustah, sigla em francês). Atualmente, há 1430 soldados e 10 policiais brasileiros no país. Segundo Figueiredo, a permanência das tropas no país depende do desejo do governo haitiano de uma avaliação periodicamente feita pela ONU. "Já uma sinalização da ONU quanto à redução do efetivo no Haiti. Estamos em processo de redução sempre muito afinados com essa avaliação da ONU".

O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo Machado, estará no Senado na próxima quinta-feira (6) para debater os rumos da política externa com os parlamentares da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE). 

Após o encontro com Luiz Alberto Figueiredo, a CRE deve votar um requerimento no qual o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) pede audiência pública com o ministro da Defesa, Celso Amorim, e o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito. A intenção do presidente da comissão é ouvir os convidados sobre a decisão brasileira de comprar 36 aeronaves de caça modelo Gripen NG, da empresa sueca Saab.

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O governo anunciou a chegada dos caças a partir de 2018 e a Força Aérea (FAB) assegura que serão os mais modernos do hemisfério sul. O negócio foi avaliado em aproximadamente US$ 4,5 bilhões.

O assessor chefe da Assessoria Especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, aproveitou sua participação na Conferência Nacional 2004-2013: Uma Nova Política Externa para rebater críticas, especialmente vindas da oposição, segundo as quais nos últimos dez anos a política externa do governo petista "instalou a cizânia no País e dividiu a sociedade".

De acordo com Garcia, os críticos da atual política externa do Brasil erram ao afirmar que antes havia um consenso. "Isso é uma mentira deslavada", protestou o assessor da Presidência. Em seguida ele emendou: "Mas é bom que a política externa divida mesmo a sociedade porque não é bom que uma sociedade pense numa mesma direção", contemporizou Garcia.

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Ainda de acordo com ele, a ideia de que a política externa praticada hoje é uma continuidade do governo de Fernando Henrique Cardoso "é uma mentira frívola". Para Garcia é normal que governos sucessivos se vinculem porque isso garante a continuidade das políticas de Estado, citando entre elas a Educação.

Ainda na avaliação de Garcia, mesmo nestes casos há rupturas naturais que definem as trocas no poder pelo instrumento das eleições. "Não há que se orgulhar de que há continuidade. Mas governos sucessivos se vinculam pela continuidade de políticas de Estado, como a de Saúde", concluiu.

Ao visitar o México e a Costa Rica, na semana passada, o presidente Barack Obama deu sinais de que pretende recalibrar sua política externa para a América Latina, no segundo mandato. Para analistas, os EUA entendem que a região está em rápido processo de desenvolvimento e o melhor caminho é tentar "despolitizar" as relações e oferecer uma parceria econômica "entre iguais", com ênfase em temas como comércio e energia.

Na prática, Washington vê duas peças centrais nesse tabuleiro latino-americano: o México, logo em sua região de fronteira, e o Brasil, a principal potência em ascensão do continente.

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Em discurso a estudantes no Museu de Antropologia da capital mexicana, na sexta-feira, Obama quase não falou sobre temas espinhosos, como imigração e narcotráfico. Em vez disso, preferiu se alongar sobre o "novo México que está emergindo" e ofereceu uma relação entre "sócios iguais, dois países soberanos", capazes de enterrar "estereótipos do passado".

Antes de embarcar para a Cidade do México, Obama já avisara em entrevista a Americas Quarterly: "Um foco principal de minha conversa com (o presidente Enrique) Peña Nieto será como ampliar nossa extraordinária relação econômica". O presidente comemorou a inclusão do vizinho na negociação da Parceria Trans-Pacífica, iniciativa que busca construir um enorme corredor de livre comércio entre a América do Norte e a Ásia.

Para Abraham Lowenthal, professor emérito da Universidade do Sul da Califórnia, o México é o epicentro do que pode ser chamado de "o exterior próximo" dos EUA: a região que vai do Rio Bravo até o Panamá, formada por países cuja relação com EUA "é marcada pela dificuldade em distinguir entre as agendas doméstica e externa".

O Brasil constitui o outro foco de Obama no hemisfério, pois "é, de longe, o maior, mais influente e promissor entre os países latino-americanos", diz Lowenthal. A atenção especial a essa outra parte da região virá em meados do segundo semestre, quando a presidente Dilma Rousseff será recebida novamente na Casa Branca - desta vez, com a máxima distinção, a de "visita de Estado". Na avaliação de funcionários americanos, se temas como Irã e Honduras marcaram o período Luiz Inácio Lula da Silva, com Dilma, as desavenças políticas perderam parte de sua relevância.

Silêncio

A ideia de "despolitizar" a diplomacia na América Latina, porém, tem um alvo especial: o bloco bolivariano. Michael Shifter, do instituto Diálogo Interamericano, cita como exemplo o silêncio do governo Obama diante da decisão do presidente boliviano, Evo Morales, de expulsar a Usaid, a agência americana de desenvolvimento, na semana passada. "Os EUA não têm mais apetite para esse tipo de confronto retórico", diz.

É essa também a linha de atuação de Obama diante da crise que tomou conta da Venezuela após a vitória de Nicolás Maduro, contestada pela oposição. Os EUA não reconhecem o resultado da eleição, mas funcionários do primeiro e segundo escalão do governo mantêm silêncio sobre o caso, tentando evitar dar brecha ao discurso antiamericano dos herdeiros de Hugo Chávez. "A não ser que a situação venezuelana chegue a um extremo, será essa a posição americana."

Diplomatas brasileiros dizem que, embora as relações com o México sejam boas, o país historicamente vê com resistência a ideia de o Brasil ser "o líder" da América Latina. O principal exemplo disso é a oposição mexicana a um assento permanente brasileiro no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Juntamente com a Argentina e a Colômbia, o México integra o bloco chamado "Unindo para o Consenso", principal força de oposição à aliança entre Alemanha, Japão, Índia e Brasil (o G-4), que busca entrar no conselho.

Jason Marczak, da Americas Society, acredita que o México "não é o principal fator" por trás da relutância de Washington em apoiar a ambição brasileira na ONU (Índia e Japão receberam a bênção de Obama). Para Marczak, há "mais fatores de convergência do que de divergência" entre brasileiros e mexicanos e os dois países reconhecem isso. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O ex-ministro das Relações Exteriores Celso Lafer criticou nesta quinta-feira a condução da política externa brasileira pela presidente Dilma Rousseff. "(O ex-presidente) Lula tinha talentos diplomáticos indiscutíveis e não vejo esses talentos na presidente Dilma. Ela tem um menor interesse na política externa", afirmou Lafer, em um seminário no Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC), em São Paulo.

Segundo o embaixador, a presidente Dilma prioriza dois temas em sua política externa: o programa Ciência sem Fronteiras e as críticas aos "desalinhamentos cambiais" de outros países, com os impactos no Brasil. "São temas importantes, mas não é possível construir uma política externa nesses dois temas", afirmou.

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Lafer criticou ainda a agenda do governo para o Mercosul, bloco econômico que passa por um processo de "erosão" da homogeneidade implantada no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, segundo ele. Sem citar o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, Lafer afirmou que "a agenda do PT para a região vem sendo produzida pelo professor Marco Aurélio (Garcia), assessor da Presidência".

"Há falta de foco e um exemplo foi a suspensão do Paraguai do Mercosul. O Brasil não liderou, se deixou levar pela posição da Argentina e seu "semibolivariano"", disse. Ainda segundo o ex-ministro, o "porta-voz do governo é o ministro da Fazenda Guido Mantega", o qual, segundo ele, "exprime o que o governo deseja até mesmo em políticas externas".

A presidenta Dilma Rousseff passa o dia desta quarta-feira (28) em Buenos Aires, capital da Argentina. Dilma tem reuniões com a presidenta Cristina Kirchner e participa da 23ª Conferência Industrial Argentina. A conferência é promovida pela União Industrial Argentina, equivalente à Confederação Nacional da Indústria, e o tema neste ano é Argentina e Brasil: Integração e Desenvolvimento ou o Risco da Primarização.

De acordo com integrantes do governo, o objetivo da conferência é examinar a integração econômica entre os dois países e buscar ações que respondam aos desafios da inserção internacional no mundo contemporâneo. Na reunião com Cristina Kirchner, Dilma examinará os temas das agendas bilateral, regional e global.

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O Brasil é o principal parceiro comercial da Argentina. O intercâmbio comercial entre os países passou de US$ 12,9 bilhões, em 2004, para US$ 39,6 bilhões, em 2011. O comércio bilateral é marcado principalmente por bens industrializados. Juntos, Brasil e Argentina têm 60% da população, 64% do território e 70% do Produto Interno Bruto (PIB) da América do Sul.

No primeiro semestre deste ano, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) divulgou estudo que mostra os planos de investimento do setor industrial brasileiro. Pelos planos, devem ser investidos R$ 597 bilhões nos próximos quatroanos. Apenas o setor automotivo receberá 58% dos investimentos, enquanto o de petróleo e gás deve ficar com 48%.

O levantamento englobou dez setores industriais, que foram os principais responsáveis pelos avanços obtidos no Brasil nos últimos anos. Pelo estudo, os setores considerados líderes são: petróleo e gás, mineração, automotivo, papel e celulose, química e eletrônica, siderúrgica, têxtil e confecções, assim como farmacêutico e aeronáutico.

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