Ainda manchado por viajar à Paris após ser derrotado nas eleições de 2018, Ciro Gomes já deixou claro que sua campanha para a disputa de 2022 será montada contra PT. Ativo nas redes sociais em ataques que compara os dois protagonistas do próximo pleito - o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva -, o pedetista firmou parceria com o ex-marqueteiro do PT, João Santana, para arrancar votos da esquerda. No entanto, de acordo com o cientista político Pedro Soares, a postura radical o afasta cada vez mais do objetivo.
Até então isolado e sem alianças externas, o ex-ministro da Fazenda se coloca como a 3ª via para acabar com a polarização 'bolsolulista' e age sem receio de chamar Bolsonaro de "genocida" e classificar Lula como um "enganador profissional". "Membros do próprio lado, que estão muito próximos de Ciro enxergam isso como desnecessário. O momento é tão crítico, que uma grande coligação faria bem para a política brasileira", comenta o cientista político.
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Para Soares, Ciro perde o status de 3ª via com o possível anúncio de uma chapa entre o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB); ou se o ex-juiz da Lava Jato, Sergio Moro, firmasse uma união com o gestor paulista.
"Ele deixaria de ser imediatamente a terceira via, passaria para coadjuvante do coadjuvante. Se ele não se encaixar em uma grande aliança, vai ficar bastante apagado. Digo isso pelo último pleito em que ele concorreu, tanto é que nem foi para o segundo turno", avalia.
Velha figura da política nacional, Ciro busca ares de renovação e teve como última movimentação concreta o anúncio da parceria com o marqueteiro vitorioso nas campanhas do PT, João Santana, que chegou a ser preso quando foi condenado na Lava Jato por corrupção e organização criminosa.
Essa é a aposta de Ciro para fortalecer o PDT, mas para o cientista, o pré-candidato "deveria se encaixar como um braço direito, como um aliado fortíssimo de Lula" para afastar a extrema direita e o pensamento de "ódio, medo e incerteza" em que vivemos. "Ele deveria se encaixar por aí, mas no momento não se encaixa em lugar nenhum", considera o estudioso.
Ao mesmo tempo, Bolsonaro se fortalece com sua fiel base aliada, enquanto Lula está em Brasília, onde articula uma frente ampla com o MDB e o PSOL. "O comportamento político de Ciro em 2021 é um pouco precipitado. Os dois lados protagonistas do próximo pleito eleitoral ainda estão se movendo. Bolsonaro está em um momento extremamente crítico, apesar de ter um núcleo consolidado que o apoia. Ele viu muito das suas parcerias se desmontando. Já Lula está tentando montar uma grande coligação e, a partir do momento que Ciro estabelece uma fala, ele termina comprometendo sua aproximação com a esquerda”, destaca Pedro.
"Ciro poderia recorrer aos lados de esquerda que não estão do lado do PT. A única aliança que ele poderia recorrer seria essa", emenda, recomendando. Ainda é cedo para anunciar o candidato a vice, mas o panorama sugere que o PDT novamente vai formar uma chapa sem apoio, o que não seria muito inteligente do ponto de vista da capilaridade política.
Em 2018, a senadora Kátia Abreu (PDT-TO) foi a vice do partido, mas abandonou a sigla em 2020, quando fechou com o PP. Dentre os representantes internos do PDT, o cientista aponta que, apesar de discordar de Ciro em mais de uma oportunidade, o deputado pernambucano Túlio Gadêlha pode usar sua popularidade para surpreender na campanha.