Tópicos | presídio masculino

Tão logo o comando eletrônico destrava um portão verde revestido de ferro robusto, um homem, devidamente caracterizado como agente penitenciário, nos recebe. “Já vou avisar a Dona Graça que a equipe de reportagem chegou”, diz o rapaz. Aguardamos diante de um corredor repleto de grades e equipamentos de segurança, além de inúmeros cartazes com orientações para visitantes de detentos. Outros homens, parte deles reeducandos, circulam pelo corredor engradeado durante a realização de atividades administrativas, enquanto outros agentes cumprem procedimentos de segurança. 

Minutos depois, Dona Graça aparece entre as grades e nos recebe de maneira calorosa para revelar detalhes da sua rotina profissional. Também se mostra entusiasmada em ter a presença da equipe de reportagem do LeiaJá para apresentar as atividades de capacitação profissional, cujo principal objetivo é a ressocialização, realizadas no Presídio de Igarassu (PIG), na Região Metropolitana do Recife. Repentinamente, um agente interrompe o contato e avisa: “Dona Graça, está tudo pronto”. Ela agradece e nos leva para um dos espaços onde os presos participam de atividades educativas.

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Entre os corredores da unidade prisional, Graça caminha lentamente e recebe o cumprimento de agentes – todos homens – e detentos que, respeitosamente, reiteram o termo “Dona” ao se referirem à ela. O percurso, contudo, pausa em certos momentos, uma vez que alguns presos aproveitam a oportunidade para fazer perguntas a Graça, muitas delas sobre os cursos profissionalizantes realizados no presídio. “Eles sempre recorrem a mim para participar dos cursos, ganhei a confiança deles com respeito a eles e aos familiares”, comenta.

Maria das Graças da Silva, 33 anos, ou simplesmente Graça, é agente penitenciário em Pernambuco. Natural da Paraíba, foi aprovada há sete anos em concurso público e passou três deles no Complexo do Curado, no Recife, antes de ser transferida para o Presídio de Igarassu. Muito antes de se tornar agente, no entanto, ela investiu na formação em direito, porém, após aprovação no concurso pernambucano, direcionou sua carreira para o sistema carcerário. Ignorou os riscos de violência em pleno presídio masculino, oriundos do problemático sistema carcerário brasileiro. 

No PIG, Graça atuou em atividades de segurança, até tornar-se supervisora administrativa. Hoje, confessa que a formação em direito ficou em segundo plano. “No momento, quero seguir o meu projeto de ressocialização na unidade prisional. Esses cursos me fazem amar o trabalho”, explica. Atualmente, Maria das Graças é responsável por organizar os cursos profissionais, oficinas, eventos que contam com a participação dos familiares dos detentos, entre outras ações.

Graça afirma que nunca temeu trabalhar em um presídio. Ela afirma, no entanto, que seus familiares tinham receio do emprego, principalmente pelos casos de violência registrados nos presídios brasileiros. “Nunca senti nada. Sou muito fria”, brinca, ao reiterar que não tem medo de trabalhar em uma unidade prisional masculina. De acordo com Graça, os próprios detentos mantém o respeito no convívio com ela; respeito que a servidora atribui à “relação honesta” com os presos e seus familiares.    

“Eles respeitam demais. Quando passam por nós, abaixam a cabeça e colocam as mãos para trás. Os agentes também me respeitam e me ajudam no dia a dia”, afirma Maria das Graças, enquanto circula entre os reeducandos.

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O diretor do PIG, Charles Belarmino, destaca a importância do trabalho de Graça. “A mulher não para, sempre tem ideias de cursos, oficinas e um monte de atividades para os reenducandos. Nos ajuda bastante na unidade. Já saiu pelo comércio conversando com empresários, procurando patrocínio, para receber cestas básicas e repassar para os familiares carentes”, diz o diretor.

“Durante a semana ela faz a parte de cursos e durante o final de semana ainda participa das revistas no período das visitas. Dá o respeito e recebe o respeito dos detentos e dos colegas agentes. Entre os presos, existe uma lei interna que as mulheres e visitas devem ser respeitadas”, complementa Belarmino.

De acordo com o Sindicato dos Agentes de Segurança Penitenciária e Servidores do Sistema Penitenciário de Pernambuco (Sindasp), o Estado tem, ao todo, 1.489 agentes, dos quais, 130 são mulheres. Já a Polícia Militar possui 18.635 policiais, sendo 2.201 mulheres.  

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