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O ano era 2015. Cansado de ter o seu potencial desacreditado e cheio de força de vontade para dar a volta por cima, Eduardo Oliveira, 25 anos, decidiu que havia chegado a hora de empreender. Com talento, mas sem recursos, conseguiu convencer o seu namorado Isaias Santana, 22 anos, a investir o pouco dinheiro que tinha no seu negócio. 

Na época, foi o suficiente para que o casal comprasse alguns cabelos sintéticos para atender a demanda que chegava. Na cozinha de uma casa bastante simples, localizada no bairro da Bomba do Hemetério, Zona Norte do Recife, eles começaram a dar forma ao “Negros Trançados”. 

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Como não poderia ser diferente, enfrentaram muita dificuldade para fazer o negócio decolar. Além dos poucos recursos, tiveram que bater de frente com o racismo das pessoas. Quando a gente começou, o pessoal falava: ‘olha, aqueles meninos que trabalham com o cabelo de boneca’. Era um preconceito que a gente passava junto com o pessoal que usava [o cabelo sintético]”, lembra Eduardo. 

Isaías também recorda que durante bom tempo, alguns clientes pediam para não ficar “parecendo com uma ‘nega maluca’, associando o cabelo crespo dela a algo que foi imposto no passado”, diz.

Dois anos de persistência e superação foram suficientes para que o casal afroempreendedor transformasse o Negros Trançados em algo maior. Em 2017, conseguiram sair da cozinha e alugar uma loja no local mais movimentado da comunidade. No entanto, mantendo os pés no chão e buscando novidades para os seus clientes, queriam investir em algo maior. Não queriam só fazer tranças na Bomba do Hemetério, o sonho agora era se tornar referência na venda - em atacado e varejo - de cabelos sintéticos, naturais, orgânicos e perucas. 

“Nós trouxemos uma diversidade para melhorar a visão que tinham sobre os apliques de descendência afro. Isso proporcionou o nosso crescimento”, garante Eduardo. 

E conseguiram. 2019 foi o ano em que os afroempreendedores alçaram novos voos e  tiveram como direção a área central da capital pernambucana. Quem começou com poucos pacotes de cabelos num salão improvisado, hoje conta com três lojas, sendo uma para a venda dos produtos, um salão de beleza e uma loja que serve apenas para estocar as mercadorias. 

Tudo isso para atender cerca de 100 clientes que passam pela loja e salão todos os dias. Para dar conta de tudo e oferecer a maior variedade possível, o casal acredita ter disponível cerca de cinco toneladas dos mais diversos tipos de cabelos. ”A vontade é crescer ainda mais”, garantem.

Saiba mais sobre Eduardo, Isaias e o seu Negro Trançados

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Preto que cresce, não cresce sozinho

Segundo último levantamento do SEBRAE, 10% dos afroempreendedores do Brasil são responsáveis por empregar entre 6 a 19 pessoas. Isaías e Eduardo fazem parte desse grupo seleto, já que 8 pessoas pretas trabalham no Negros Trançados atualmente. Três delas com a Carteira de Trabalho assinada e as outras cinco colaborando como pessoas jurídicas.

O casal está possibilitando mais trabalho que 7% dos empreendedores brancos do país. 

“Isso também agrega para que o nosso crescimento seja voltado ao público periférico e jovens que a gente dá muita oportunidade”, destaca Isaias Santana. 

“Eu olho para trás e vejo todo o percurso que a gente percorreu, com estoque pequeno e apenas uma pessoa trabalhando. Hoje, a gente tem uma equipe. Ver todo esse crescimento é muito emocionante e todo meu esforço foi válido”.

Negros trançados possibilitou oportunidades para Francielly. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJá Imagens

Francielly Carvalho, 21 anos, foi a primeira funcionária trancista do Negros Trançados. Para a jovem, fazer parte da equipe colaborou na autoaceitação. Mas nem sempre foi assim. Francielly lembra que a primeira vez que teve o cabelo alisado com produtos químicos foi aos 10 anos e durou por boa parte de sua adolescência. 

Tanto alisamento resultou na queda dos seus cabelos. A partir daí veio a transição. "Eu tinha muita vergonha. Eduardo sempre dizia para eu colocar o cabelo, mas eu tinha muita vergonha do que iriam achar", destaca.

A parceria com o Negros Trançados facilitou que a trancista não só entendesse e aceitasse os seus traços, como a colocou em uma situação de destaque, sendo uma das responsáveis por auxiliar que outras garotas se enxerguem e contemplem a própria beleza negra. 

"É muito satisfatório trabalhar nessa área. Chega muita gente triste, com muito desânimo. Mas a gente está aqui para auxiliar. É um prazer imenso trabalhar aqui", pontua.

Onde encontrar?

O Negros Trançados está localizado na rua do Riachuelo, 105, Edif. Círculo Católico, loja 7. 

O presidente Jair Bolsonaro (PL) publicou, em sua conta no Twitter, uma montagem comparando as diferenças culturais a partir do seu rosto. Em quatro imagens, o mandatário se "transformou" em preto, asiático e indiano na tentativa de explicar que "todos nós somos iguais".

"Nossa maior virtude é a união. Em nós carregamos todos os povos do mundo. Independente de cor, sexo, classe social, somos todos iguais, o que importa são os nossos valores e o nosso caráter", compartihou. Veja a postagem:

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Um homem, que ainda não teve o nome revelado, está sendo investigado pela Polícia Civil de Santa Catarina após um vídeo, onde ele assume ser racista e chama uma mulher de macaca, viralizar nas redes sociais nesta sexta-feira (17).

O Globo conseguiu confirmar que o racista é um policial militar da reserva de Santa Catarina. O vídeo, que circula na internet, começa com o suspeito falando que o filho da mulher que está gravando "é um maldito de um negro desgraçado, que é pirracento".

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A mulher pergunta porque ele tem tanto ódio de "moreno" e ele responde: "Porque eu tenho ódio, porque eu sou racista, porque eu não suporto negro. Eu tenho amigo negro, mas amigo decente, não essa negrada do caral** que é marrento que nem tu", responde.

Ele ainda ameaça bater na mulher e a chama de macaca. Confira o vídeo:

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Dados do Vacinômetro do 'Plano Vacina Recife' escancaram a disparidade na entrega de doses à população preta. Seja pela restrição de pontos de imunização na periferia ou por dificuldades de deslocamento, o recorte racial da campanha expõe uma realidade excludente.

O Recife iniciou o Plano em janeiro deste ano com a missão de garantir a cobertura vacinal para 1.237.614 pessoas aptas a receber as doses. Dessas, apenas 427.776 tomaram as duas ou a dose única da Janssen. Cerca de 34% da população foi protegida.

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O ritmo lento é sentido por todos os recifenses, mas, para os brancos, o imunizante é mais acessível.

A atualização da Secretaria de Saúde (Sesau) na terça-feira (3) mostra que 195.659 caucasianos concluíram o esquema vacinal e 174.410 pardos foram protegidos. No caso dos pretos, só 48.851 foram imunizados.

LeiaJá também: Periferia em depressão e a epidemia dentro da Covid-19

Entre os recifenses que já encerraram o ciclo de vacinas, cerca de 45% são brancos, 40% são pardos e apenas 11% pretos.

O que diz a Prefeitura?

"A Sesau lembra que a informação de raça no cadastro é 'autodeclaratória'", apontou em nota enviada ao LeiaJá.

A gestão apresentou dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em que apenas 8,31% da população do Recife se considera preta. Partindo deste resultado, afirmou que 43% desse total completou o esquema até o último dia 28 de julho.

Falta de adesão à campanha

Outra motivação sugerida pela Prefeitura cita o desinteresse de quem se agendou e não compareceu para a aplicação.

"As pessoas que se consideram negras e ainda não completaram o esquema vacinal é porque ainda não estão no prazo para receber a segunda dose ou não compareceram na data agendada", complementou no comunicado.

Antes, o LeiaJá denunciou que apenas dois locais de vacinação foram montados em áreas periféricas. Além da “estratégica” escolha dos centros e drive-thrus, a gestão ressaltou uma parceria com transportes por aplicativos para atender gratuitamente ao público. Contudo, falta transparência sobre a quantidades de corridas realizadas, o que deixa em xeque a eficácia da proposta.

Reconhecido pela incoerente aversão à cultura negra brasileira, o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, afirmou que esta edição do Big Brother Brasil prova que há pretos racistas no país. Na madrugada desta terça-feira (2), o gestor auto classificado como 'negro de direita' avaliou o reality e disse que as desavenças do programa trazem benefícios inegáveis.

Expectador ligado nas confusões da Casa, sem citar a briga que isolou o participante Lucas Penteado, Camargo aproveitou o sucesso do BBB para criticar a esquerda e o movimento negro no Brasil em mais uma oportunidade. “É inegável que essa edição do BBB tem um benefício. Mostra, em tempo real, que há pretos racistas no Brasil. E são todos crias do esquerdismo que tenta nos dividir. Finalmente a máscara caiu”, publicou.

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Antes, ele já havia feito uma série de posts sobre o programa e chegou discordar de uma matéria em que Boninho explica que a pauta da edição 21 é o racismo estrutural. “Não existe racismo estrutural (onipresente) no Brasil! O racismo, no nosso País, é circunstancial e episódico. A narrativa da esquerda tem um só objetivo: disseminar o ódio, o rancor e a divisão. É preciso combater a agenda do mal incansavelmente!”, criticou.

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Seis pessoas foram indiciadas por homicídio triplamente qualificado por motivo torpe, asfixia e recurso que impossibilitou a defesa de João Alberto Silveira Freitas. Ele foi morto no último dia 19, após ser espancado por dois seguranças, dentro de um Carrefour de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Nesta sexta-feira (11), as autoridades apresentaram o resultado das investigações, que revelam que o cliente foi morto por asfixia.

"A investigação conseguiu verificar e trazer à tona, situação fáticas, jurídicas, como de racismo estrutural, a normalização de ações que passam a fazer parte do cotidiano normal das pessoas. Conjugamos com o que vimos e ouvimos nos depoimentos. Se a vítima fosse outra, se fosse alguém de condição social diferente, a situação poderia ser outra. Atos de discriminação foram feitos de forma desproporcionada. Seis pessoas sobre o domínio deste fato, então todas essas pessoas contribuíram para o desfecho final", ressaltou a delegada Roberta Bertoldo ao G1.

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Por meio das provas analisadas, o inquérito aponta um exagero nas agressões, que seriam por causa da fragilidade socioeconômica da vítima. Embora a família de Aberto indique que o assassinato foi decorrente de racismo, os indiciados não vão responder por injúria racial. "Seis indiciados por homicídio triplamente qualificado, três pessoas que já eram de conhecimento da imprensa, e que já estão presas, e outras três, que no final do relatório, são apontadas", informou a chefe da Polícia Civil, Nadine Anflor.

Os indiciados que já foram presos são os seguranças Giovane Gaspar da Silva, de 24 anos, e Magno Braz Borges, de 30, e a fiscal do mercado que tentou impedir a filmagem, Adriana Alves Dutra, de 51. Os novos indiciados são outros dois funcionários do mercado, Kleiton Silva Santos e Rafael Rezende, e um colaborador da empresa de segurança Vector, identificado como Paulo Francisco da Silva. "Depoimentos que denotam a indiferença dos funcionários vinculados à empresa Carrefour e à empresa Vector no tocante às ações que cometiam contra a vítima", interpretou a Polícia Civil.

Para tentar justificar a ação desproporcional no estacionamento do mercado, funcionários chegaram a alegar que o cliente era conhecido da segurança por recorrentes casos de importunação, em que aparentava estar alcoolizado. "Dois dias antes do fato João Alberto foi ao supermercado em ações de importunação a outros clientes, em outros episódios, seguranças o abordaram, dissuadiu do comportamento e deixou o supermercado. Mas eram outros funcionários e esse evento em nada implicou nesse desfecho depois no supermercado", complementou a delegada.

Nas eleições municipais de 2020, o Recife elegeu, para as 39 vagas na Câmara Municipal, oito vereadores negros, isto é, pardos ou pretos, segundo define o Estatuto da Igualdade Racial. Dentre eles, autodeclaram-se pretos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Dani Portela (PSOL), Luiz Eustáquio (PSB) e Osmar Ricardo (PT), que mudou sua autodeterminação de branco para preto. Acontece que o agora vereador eleito, já havia se colocado como branco na inscrição de sua candidatura ao cargo de deputado estadual, nas eleições de 2018, quando ainda integrava o PCdoB.

Procurado pela reportagem do LeiaJá, Osmar Ricardo comentou que sempre defendeu a pauta racial na Casa José Mariano. “Nunca me achei branco, sempre me achei negro. Nossa ação na Câmara sempre foi um cima dos movimentos sociais, meu mandato sempre vai fazer para defender a maioria, que são negros e negras. Isto é uma questão de preenchimento [a declaração ao TSE], sempre participo dos movimentos do PT na questão racial, não é apenas um papel que define a política racial, o que define é a ação”, explicou.

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O pesquisador e mestre em ciência política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Caio Santos, lembra que a autodeterminação na briga interna dos partidos está ligada à busca de mais recursos para as candidaturas. “Ainda mais agora que a gente tem resoluções de melhor distribuição de dinheiro entre candidatos negros e negras nos partidos”, afirma.

Em outubro deste ano, por exemplo, o TSE determinou que a distribuição proporcional de recursos do fundo eleitoral para candidatos negros deveria valer ainda para estas eleções municipais. Na ocasião, o ministro Ricardo Lewandowski defendeu que "políticas públicas tendentes a incentivar a apresentação de candidaturas de pessoas negras aos cargos eletivos nas disputas eleitorais que se travam em nosso país já a partir deste ano, prestam homenagem aos valores constitucionais da cidadania e da dignidade humana". 

Santos acrescenta que a pauta racial tem crescido no Brasil, ampliando a conscientização do debate público. “Políticas afirmativas sempre vão vir acompanhadas de tentativas de se achar brecha para favorecer determinados grupos sociais. A autoafirmação é um problema por isso, porque ela molda o discurso conforme for oportuno. A gente precisa sempre ter cuidado ao analisar dados frios sobre representação racial justamente por isso, muitas vezes o conceito de pardo, preto ou negro são utilizados de forma instrumentalizada. Por outro lado há sim um aumento de conscientização política que é positiva”, frisa.

Conjuntura nacional

A demanda por representatividade deu o tom das eleições municipais de 2020. Com recorde de candidaturas em 2020, os negros ampliaram sua participação no comando das prefeituras e nos cargos de vereança. De acordo com dados preliminares do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de cerca de 5,4 mil prefeitos eleitos, quase 1,7 mil candidatos se declararam pretos ou pardos, o que equivale a 32% do total. A quantidade é superior à que foi registrada em 2016, quando a porcentagem de negros equivalia a  29% dos candidatos eleitos.

Além disso, em 2020, pela primeira vez, candidatos negros passaram a ser o maior grupo de postulantes a cargos eletivos no país desde 2014, ano em que o TSE passou a coletar informações de raça. Nestas eleições, cerca de 276 mil pretos ou pardos registraram suas candidaturas, correspondendo a 49,9% do total.

No mês da Consciência Negra, a TIM lançou o aplicativo de teclado consciente para alertar aos usuários sobre o uso de palavras preconceituosas. A novidade é gratuita e pode ser baixada em Android e iOS, independente da operadora.

O teclado explica a origem dos termos racistas e propõe alterações. Como explica a própria operadora, “a ferramenta fica visível no momento que o usuário digita seus textos em redes sociais ou aplicativos de comunicação, e destaca automaticamente palavras e expressões consideradas inadequadas. Ao clicar em cima desses termos, o Teclado Consciente TIM explica por que são considerados racistas e oferece opções para a sua substituição — tal como um corretor ortográfico social".

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A TIM, que também destinou 50% das vagas de estágio para pessoas negras, tem a cantora IZA como embaixadora e fez parceria com 12 influenciadores para expandir o recurso. Os destaques são o humorista Yuri Marçal; Gleici Damasceno, campeã do BBB18; a pesquisadora Winnie Bueno; Murilo Araújo, do canal Muro Pequeno; o fotógrafo Roger Cipó e a cantora Lellê.

"Retirar expressões racistas do nosso vocabulário reforça a empatia, a capacidade de se colocar no lugar do outro e construir um futuro sem preconceitos”, acrescentou a diretora de Advertising e Brand Management, Ana Paula Castello Branco.

Um vídeo mostra uma mulher fazendo ofensas racistas e dizendo que tem carta branca para isso. Segundo a página Revista Ébano Brasil, o caso ocorreu no distrito de Jabaquara, em São Paulo-SP.

De acordo com informações, a mulher que aparece nas imagens estava ofendendo negros na rua. Um homem decidiu filmá-la e também foi alvo das agressões verbais.

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"Posta, que eu vou te processar e pegar dinheiro. Eu tenho carta branca", diz a mulher. O rapaz que filma é xingado de "macaco", "orangotango", "chimpanzé", "lixo" e "fedido".

Essa não seria a primeira vez que ela faz agressões racistas contra moradores de Jabaquara. O vídeo viralizou no último domingo (13).

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Depois que a juíza Inês Marchalek Zarpelon, da 1ª Vara Criminal de Curitiba, associou um homem negro a uma grupo criminoso em "razão de sua raça" e o condenou a 14 anos de prisão, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) quer que a conduta da magistrada seja investigada pela Corregedoria-Geral da Justiça do Paraná.

O ministro Humberto Martins, corregedor nacional de Justiça, foi quem instaurou o ofício pedindo providências sobre os fatos narrados. Em um trecho da sentença em que a juíza condena Nathan Vieira da Paz, de 42 anos, ela escreveu: "Seguramente integrante do grupo criminoso, em razão da sua raça, agia de forma extremamente discreta os delitos e o seu comportamento, juntamente com os demais, causavam o desassossego e a desesperança da população, pelo que deve ser valorada negativamente".

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Ao abrir o processo contra Inês, o ministro corregedor externou o seu "estarrecimento e inconformismo" com o teor da sentença proferida pela magistrada. "Não se pode tolerar, de nenhuma forma e de quem quer que seja, que a raça ou a cor da pele de uma pessoa seja motivo de valoração negativa ou influencie presunções sobre sua conduta e sua personalidade, tampouco que fundamente juízo condenatório ou maior repressão penal”, avalia Humberto Martins.

Assim, o corregedor nacional decidiu instaurar o pedido de providências considerando a necessidade de se averiguar os fatos que, em tese, podem caracterizar conduta que infringe os deveres dos magistrados estabelecidos na Loman e no Código de Ética da Magistratura. A Corregedoria-Geral de Justiça do Paraná tem um prazo de até 30 dias para comunicar o resultado da apuração à Corregedoria Nacional de Justiça.

Nesta quarta-feira (20), manifestantes que participam da marcha do Dia da Consciência Negra no Recife queimaram o livro Casa Grande e Senzala, do sociólogo Gilberto Freyre. Para os presentes, esse livro é o símbolo do racismo e da negação da importância da população negra.

A obra foi lançada em 1933 e, desde então, gera polêmica. Além dos negros, alguns críticos acusam Freyre de não ter retratado fielmente a relação entre dominadores e dominados na época da escravidão.

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Gi Vatroi, motivadora da ação, afirma que Gilberto Freyre foi um dos responsáveis pelos estereótipos do que é ser negro no Brasil e que também fomentou o racismo. "Casa Grande Senzala é uma negação dos nossos espaços", aponta Vatroi.

Confira os registros da manifestação

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O deputado federal Coronel Tadeu (PSL) quebrou uma das obras da exposição (Re) Existir no Brasil - Trajetórias negras brasileiras, que estão expostas nos corredores da Câmara dos Deputados em homenagem ao mês da Consciência Negra. A imagem, que é do cartunista Carlos Latuff, mostra um jovem preto no chão, algemado e morto a tiros por um policial. 

Tadeu compartilhou o vídeo do exato momento em que arranca o cartaz da parede e afirma que vai queimar a obra. A justificativa dada por ele é que a imagem é contra a polícia "que está para defender a sociedade". 

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O cartunista se pronunciou através de sua conta no Instagram. Latuff apontou o caso como uma agressão contra a sua obra e isso faz levar a seguinte reflexão: "Se fazem isso contra um cartaz, imagine contra gente de carne, osso e pele negra", pontua.

Confira os compartilhamentos

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Na próxima quarta-feira (20), Dia da Consciência Negra, acontecerá a marcha da consciência negra contra o racismo, o genocídio e pelo direito de viver do povo preto. O evento será feito no Parque 13 de Maio, no Centro do Recife, a partir das 14h e é uma iniciativa da Articulação Negra de Pernambuco (ANEPE), em parceria com mais de 50 movimentos negros que buscam articular estratégias de incidência política em Pernambuco. 

A data, estabelecida como Dia da Consciência Negra, tem como mote de reflexão a morte do líder negro Zumbi dos Palmares, que aconteceu em 20 de novembro de 1695. De acordo com a ANEPE, no evento acontecerão algumas intervenções culturais e em seguida o grupo deve seguir em marcha, juntamente com um cortejo de afoxés para a Rua da Guia, no bairro de São José.

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No local, a partir das 18h, algumas atrações como o grupo Femigang, Isaar, afoxé Omô Nilê Ogunjá e as DJs Themonia e Nenacalligera comandarão a noite e finalizarão o evento. 

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Que a violência urbana atinge todos os corpos, isso é notório. Mas qual a principal cor dessas vidas assassinadas cotidianamente? De acordo com vários levantamentos de institutos brasileiros, o corpo negro é o mais atingido por essa violência cotidiana, desde antes da proclamação da República do Brasil. É também por isso que - não por acaso -, o mês de maio é tido como um dos meses mais importantes para os negros que (ainda) lutam pela total inclusão social e contra a institucionalização do racismo no país.

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Foi no dia 13 de maio de 1888 que a escravidão foi abolida no Brasil. Mas, até os dias atuais, essa população sente na pele os resquícios dos 338 anos da escravidão no Brasil, questionando essa “falsa democracia racial”, como revela o comunicador e influenciador digital Ad Junior.

É durante o mês de maio, época em que se ecoa a “liberdade dos negros”, que o movimento alerta para as discussões de que não houve uma verdadeira ressocialização do negro e que a alforria não veio seguida da reparação necessária. O presidente da Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, Humberto Adami Júnior, acentua que há muito tempo o movimento negro faz a denúncia do mito da democracia racial.

“Antes dessa denúncia, se acreditava piamente que aqui não existia nada (racismo) e que os negros que podiam reclamar eram os tais ressentidos. Eu vejo como uma vitória o desfazimento do mito da democracia racial”, aponta Adami. O advogado assevera que há parcelas da população que acreditam piamente nesse “mito da democracia racial”.

Esse apontamento do Humberto Adami se solidifica quando observado que os negros, mesmo sendo maioria da população brasileira (55,6%), são os que mais enfrentam dificuldades para sobreviver no Brasil. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que a porcentagem de negros em situação de pobreza e extrema pobreza dobrou no país em cinco anos.

“É óbvio que legalmente a lei (Áurea) acabou com a escravidão, mas não dizia em nenhum momento em ofertar a liberdade. Ela acabou com o regime de escravos, ou seja, o modo de produção escravocrata. Entretanto ela não acaba com o modo de produção da emancipação, que é a inclusão do negro no modo de produção assalariado. Nós não fomos incluídos. O país optou por incluir no modo de produção assalariado uma força de trabalho de imigrantes, que não vieram para o Brasil em condição de escravo”, acentua Roque Ferreira, um dos coordenadores do Movimento Negro Socialista.

O movimento avalia que a abolição foi importante, mas faz a seguinte interrogação: “Qual é a situação do negro no pós-abolição”. Roque aponta que aos negros não foi dada nenhuma condição objetiva e material para que ele pudesse se enquadrar no novo sistema pós-abolição. “Naquele momento éramos constituídos inimigos do Estado, que permanece até os dias atuais”, diz.

Por integrar um movimento socialista, Roque fala que a partir do momento em que se desenvolve o sistema de apropriação do capital e o sistema de exploração, dentro desse contexto do sistema capitalista o negro é o setor mais explorado enquanto força de trabalho, "sofrendo toda a violência do racismo estrutural do Estado".

O Movimento Negro Socialista não se associa às convições políticas que alguns setores do movimento negro defendem - como as políticas de reparação social baseadas no critério do racialismo. “Nós entendemos que a maneira do estado pagar essas reparações seria a de ofertar condições de igualdade para todos. Mas como vivemos num sistema capitalista, isso seria uma utopia não realizada. O sistema não vai dar igualdade econômica para todos e, tão pouco, igualdade racial. O racismo é um dos pilares que sustentam o sistema capitalista e de exploração de classes”, justifica Roque Ferreira.

Em consonância com a realidade política do Brasil, Humberto Adami avalia que a discussão do racismo e inclusão social dos negros deveria ser uma pauta suprapartidária. “Todos deveriam estar apoiando a inclusão e o empoderamento. Mas o que se ver é o contrário, é a negação do racismo dizendo que não precisa (da inclusão) porque são todos iguais e aqui (no Brasil) não tem racismo”, pontua o advogado. 

Mesmo o presidente da república afirmando em entrevistas que "racismo é coisa rara no Brasil", o que se vê é que a cada dia a segregação racial se assevera, aprofundando a desigualdade social no país.

Na lista das coisas que não esperávamos ver, com certeza tinha o tópico Madonna morena. Mas a rainha do pop surpreendeu seus fãs durante o final de semana ao postar uma foto com os cabelos bem curtinhos e bem pretos!

A cantora apareceu ao lado da filha e sem rugas, aos 60 anos de idade. Os fãs não pouparam elogios, sendo que um deles adorou o novo visual e escreveu:

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Esse look é bem natural, eu amei! Você é bonita de qualquer forma, em qualquer estilo. Mas esse é o seu verdadeiro VOCÊ.

Uma brasileira, no entanto, disse que acha que os cabelos não são reais:

É peruca kkkkkk

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É rotineiro falar de quantas pessoas pretas são mortas no Brasil por conta da cor de sua pele. O que não é muito comum neste País é a conquista da justiça para esse mesmo povo que é exterminado, ainda mais quando o culpado por essa morte é o Estado.

Pernambuco, segundo o último levantamento realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, registrou um salto das mortes causadas por policiais. Em 2015, foram 45 pessoas mortas pelos agentes. Em 2016, último ano da pesquisa, esse número subiu para 75 pessoas assassinadas pelos policiais.

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Entre elas está Mário Andrade de Lima, de 14 anos, morto pelo ex-sargento reformado da Polícia Militar Luiz Fernando Borges, no dia 25 de julho de 2016. Mario estava brincando de bicicleta com o seu amigo, um adolescente de 13 anos, quando ambos colidiram com a moto do policial, um motivo aparentemente fútil, mas que custou a vida do garoto.

Joelma Andrade de Lima, 36, é a mãe de Mario. Como toda mãe, ela recebeu a notícia da morte do seu filho e ficou em choque, sem acreditar no que ouvia. Sua família foi devastada e a sua filha mais velha quase entra em depressão. “Ela pedia para Deus levar ela porque queria se juntar com o irmão no céu (sic)”, relata Joelma.

Diante de todos esses problemas, mesmo sabendo que não é fácil conseguir justiça no Brasil, ainda mais quando se é preta e favelada, sem condições financeiras para contratar o melhor advogado, Joelma não esmoreceu e perseverou até ver o culpado pela morte de seu filho atrás das grades.

Foram dois anos e quatro meses realizando protestos no Recife, indo de encontro à Justiça e até ao Palácio do Campo das Princesas, sede do Governo do Estado. Numa dessas idas, Joelma lembra como trataram o assassinato de seu filho. “Quando cheguei no Palácio mostrei 3 mil assinaturas colhidas para confirmar que meu filho não era bandido, porque o policial tinha dito que meu filho estava armado e iria assaltá-lo. Neste momento o secretário disse pra mim: ‘mãe, se a gente fosse dar conserto à todos os canos estourados na rua?’

Foi nesta comparação do assassinato de Mario com um cano estourado que Joelma, sem acreditar no que tinha ouvido, retrucou: “É, mas esse cano tem dona, e a dona dele sou eu. E já que vocês não podem dar o conserto, eu vou lutar para fazer”. E fez.

Depois de quatro audiências e várias manifestações, com a ajuda da população civil organizada, Joelma viu a Justiça condenar Luiz Fernando Borges a 28 anos e 4 meses de prisão pelo homicídio de Mario e pela tentativa de homicídio contra o outro adolescente de 13 anos, que foi baleado, mas conseguiu sobreviver.

Joelma Andrade furou o sistema e em dois anos conseguiu “solucionar” a morte de seu filho. E isso, infelizmente, também é exceção no Brasil, onde de todos os homicídios dolosos (com intenção de matar), apenas 6% são solucionados, segundo levantamento feito pela organização Sou da Paz.

“Nem eu sei de onde tirei força porque eu lutei contra o Estado. Sou um peixinho diante de um tubarão. Só que aí eu tinha um cardume ao meu redor”, exclama Joelma.

Depois da última audiência que condenou o ex-sargento, agora as advogadas de Joelma - que se propuseram a ajudar sem a mãe de Mario desembolsar um centavo, irão processar o Estado pela morte do adolescente.

A partir de sua história e de sua garra para “honrar” o nome de seu filho, como faz questão de falar, para que assim “ele descansasse em paz”, Joelma acabou se tornando um símbolo de resistência para a periferia que diariamente sofre com as barbáries social e, consequentemente, policial. Mas ela é humilde e não acredita ser a personificação da resistência.

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“Eu me vejo como uma mãe que lutou e que mostrou para as outras mães que a gente tem voz. Não é porque somos pretas, moradores da periferia que a gente deve ficar calado”, ressalta a mãe de Mario.

Tudo o que passou despertou o desejo para que Joelma ajudasse outras mães a partir da sua história. Agora, após o caso solucionado, além de querer se juntar à outros - retribuindo a força que se somou a ela, Joelma também tenta combater o mal que recebeu, devolvendo o bem para a sua comunidade e para quem ela conseguir estender a mão.

A Consciência no Alto, que é Preto

Contra as comunidades mais periféricas permeiam as dificuldades de raça - principalmente por ser habitada em maioria por pessoas pretas - acesso ao básico, violência, ação policial, tráfico de drogas. É lá onde pesa a desigualdade social.

Entendendo as consequências sociais por serem negros e favelados, o Coletivo Fala Alto, atuante nas comunidades do Alto do Pascoal e Alto Santa Terezinha, “coirmãs” da Zona Norte do Recife, se organizou na vontade de conscientizar essas comunidades, visando o entendimento de uma vida mais digna e reconhecimento do “eu” que representa cada morador das vielas que cortam a região que vive à margem da sociedade.

São 6 jovens. Tem MC, artesã, percussionistas, fotógrafo e estudante de direito compartilhando conhecimento na favela. É assim que eles conseguem conscientizar os seus.

São vários trabalhos que o Fala Alto elabora, mas as discussões sobre o que diz respeito à miséria, machismo, encarceramento e extermínio do povo preto é o que permeia esses encontros, sejam eles em cine debates, rodas de diálogos ou uma simples intervenção comunitária por meio da arte.

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“Diferente do que acontece em vários movimentos sociais, nossa discussão dentro da comunidade não se limita a discussão política (partidária), nem muito menos nos vendemos em épocas eleitorais para conseguir votos para determinado candidato. Esse não é o nosso papel aqui”, aponta Kayo.

“É a partir do que acontece na comunidade e o conhecimento de mundo dos adolescentes (maioria participante dos debates) que a gente tenta elaborar as discussões. A gente debate coisas que a galera saiba do que se trata, como por exemplo a violência policial que os jovens sabem que acontece (tendo muitos deles já sofrido tal repressão)”, relata a estudante de direito Carol Barros, de 22 anos.

O Coletivo Fala Alto, na sua bolha, tenta lutar contra as estatísticas do Brasil. Já que no país, sete em cada dez pessoas assassinadas são negras. Na faixa etária de 15 a 29 anos, são cinco vidas perdidas para a violência a cada duas horas, segundo aponta a Organização das Nações Unidas (ONU). Estando este extermínio totalmente voltado para as periferias.

O coletivo tenta burlar essas estatísticas, tudo por meio do diálogo e da conscientização de seu povo. São jovens que não entraram nas estatísticas de morte, unidos pela mudança social.

“O mínimo que a gente teve de espaço para conseguir sair, mesmo se arranhando pela brechinha, conseguimos pegar (conhecimento) lá fora e estamos trazendo pra dentro da comunidade”, salienta Kayo.   “Nossa discussão central refere-se a nossa própria vida, nossa própria existência”, complementa Carol.

O Fala Alto acredita que tanto a comunidade do Alto Santa Terezinha, quanto o Alto do Pascoal, são muito grande e passaram muito tempo sem esses debates que estão diretamente ligados com a sua existência. Por isso, confiam na força e consolidação desse movimento, que ainda é novo no bairro - tendo sido criado em abril deste ano.

“A gente quer defender o nosso povo negro que sofre, que é atendido numa casa que foi feita em posto de saúde porque a Upinha está sendo construída há 10 anos. O que queremos é que nossa população busque espaços de forma que ela se sinta representado, não só ter um Compaz (Centro Comunitário da Paz) pra dizer que tem, esse espaço tem que dialogar com a comunidade”, fala Kayo.

Enquanto movimentos sociais se firmam no centro e, juntamente com alguns partidos políticos se esquecem da classe operária que vive massivamente nas periferias, o Coletivo Fala Alto se articula para atender os anseios sociais da favela. É um ponto de resistência e, a cada encontro comunitário promovido para a discussão do que os assola, conscientizam a sua população negra que tanto é marginalizada.

“Não somos nós que moramos numa casa que tem porteiro e interfone para a polícia ligar e perguntar se pode entrar”.

*Fotos de Júlio Gomes e Rafael Bandeira - LeiaJáImagens

Se Ana Hickmann tem uma marca registrada, certamente essa marca é o seu cabelo loiro. No entanto, em novo vídeo para o seu canal no YouTube, a apresentadora da Record empolgou muitos fãs por um simples detalhe: ela apareceu com um look totalmente diferente.

Pois é, Ana surpreendeu e surgiu moreníssima durante uma sessão de fotos com o cabeleireiro Celso Kamura.

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Confira:

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Para que entenda, tudo não passa de uma peruca, mas a proposta do ensaio era fazer algo realmente diferente - e ele conseguiu, não é mesmo?

Até mesmo a Ana ficou surpresa com o resultado, dizendo que estava parecendo uma princesa da Disney.

 

  No próximo domingo (13), marcam-se exatos 130 anos da abolição da escravidão no Brasil. Por isso o LeiaJá preparou uma série de reportagens especiais na tentativa de mostrar "O Que a Abolição Não Aboliu?" no Brasil. Na primeira matéria publicada, nossa equipe de reportagem conversou com a professora da UFRPE Denise Botelho e a socióloga Rosa Marques; num debate que levantou a questão: o 13 de maio não é tido como um dia de glória para os negros mas, sim, como um dia de luta. Hoje (11), a segunda parte desse especial traz "os resquícios da escravidão" em forma de mini documentário.

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Para esta gravação, visitamos as comunidades da Vila do Vintém e Alto do Capitão, ambos da Zona Norte do Recife; a comunidade do Chié, localizada no Pina, Zona Sul - gravando também com vendedores ambulantes que trabalham de sol a sol na Agamenon Magalhães, uma das vias mais movimentadas do Recife. Confira agora as dificuldades diárias dos entrevistados que, sem assistência do Estado, sem emprego e sem pespectiva de vida, se arriscam pela sobrevivência.

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LeiaJá Também

-> 130 anos do fim da escravidão: o que a abolição não aboliu? 

 

No dia 13 de maio de 2018 marcam-se exatos 130 anos da Abolição da Escravidão no Brasil. No entanto, essa data não é comemorada pelo povo negro, que resiste nesse dia e o alça como mais um dia de luta contra o racismo institucionalizado no Brasil, contra as opressões, desigualdades e outros percalços colocados no caminho do povo preto desde o período colonial. Para refletir sobre a data, o LeiaJá resolveu elaborar uma sequência de matérias especiais: "O Que a Abolição Não Aboliu?"; "Resquícios da Abolição (minidocumentário)" e "A Luta do Povo Preto Para um Futuro Melhor". Passado, presente e futuro.

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A seguir você lerá a primeira parte deste especial - que culminará num debate ao vivo no Facebook do LeiaJá, na próxima segunda-feira (14) de maio.   

Brasil, segunda-feira, 14 de maio de 1888: o país amanheceu "livre" da escravidão. Na tarde do dia anterior, 13 de maio, a Princesa Isabel sancionou a lei que “pôs fim” aos mais de 300 anos desse que era um processo político e econômico vigente no Brasil - o último país do ocidente que aboliu a escravidão.  Na história, ficou cristalizado que esse processo abolicionista foi uma vitória para o povo preto escravizado por tanto tempo. No entanto, segundo alguns historiadores, pesquisadores e professores negros, a realidade não foi bem assim. Por isso, o dia 13 de maio não é festejado como um dia de glória – “é um dia de luta para que os nossos direitos sejam garantidos e de combate ao racismo que ainda existe no Brasil”, exclama Rosa Marques, Socióloga e coordenadora do Núcleo de Mulheres Negras de Pernambuco.

Pesquisadores relatam que apenas a liberdade do ir e vir dos escravos, na época, foi garantido pelo Estado. Nenhuma política de inclusão social daquela população, que por quase quatro séculos tiveram os seus direitos humanos negados, foi instituída pelo poder público. Os negros ficaram entregues à própria sorte, não tendo moradia, trabalho, acesso à saúde, educação; sem cidadania. Denise Botelho, professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e líder do grupo de estudos e pesquisas em educação, raça, gênero e sexualidade, nos confirma que: “esse processo de pseudo abolição efetivamente não libertou homens e mulheres escravizados porque a lei só previa a interrupção do processo econômico da escravidão, mas não previu uma inserção dos negros na sociedade de classes”.

Isso se tem confirmado também pelo Jornal do Senado, datado em 14 de maio de 1888, que é possível ser encontrado no site oficial do Senado Federal. Nele lê-se que negros como Luiz Gama e José do Patrocínio - dos poucos pretos que conseguiram ter destaques na época - reivindicavam juntamente com Joaquim Nabuco e Ruy Barbosa a necessidade de oferecer oportunidades para integrar os ex-escravos à sociedade de forma digna. O jornal traz a discussão dizendo que era inevitável diante de séculos de domínio sobre as populações negras que não foram contempladas com nenhum tipo de compensação. Mas esse debate não ganhou força na câmara. Enquanto isso, os libertos foram mantidos de forma subalterna e marginalizados - totalmente à margem da sociedade.

Linha do tempo

Antes da Lei Áurea, em 1845, surgiu a lei que previa sanções contra o tráfico negreiro. Em 1871, foi adotada a Lei do Ventre Livre, que dava liberdade aos filhos de escravos nascidos a partir da sua promulgação, mas os manteve na tutela dos seus senhores até os 21 anos. Em 1885 instaurou-se a lei do sexagenário, que garantia liberdade aos que completassem 60 anos, com a obrigação de prestarem serviços a título de indenização ao senhor por três anos. Essas medidas, porém, não trouxeram os resultados esperados, pois a contrapartida geralmente exigida inviabilizava seu cumprimento ou a lei era simplesmente desrespeitada pelos donos dos escravizados.

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Em arquivo federal, consta que o peso para que a abolição acontecesse também se deu porque com a proibição do tráfico negreiro (1845), houve uma redução do interesse econômico pelo negro, que com o tempo passou a apresentar custo maior que a mão de obra livre competitiva - culminando na aceitação dos parlamentares pela abolição total dos ainda escravos. Um pouco antes da proibição desse tráfico, o preço do escravo já subia no mercado com a previsão de que não seriam mais trazidos negros para o Brasil. Essa alta manteve-se até 1880, em especial pela forte demanda das lavouras cafeeira. Quando se assina a Lei Áurea, boa parte da mão de obra escrava já havia sido substituída.

Denise Botelho afirma que após a abolição, o Estado se encarregou de trazer europeus na condição de cidadãos (brasileiros) com direito a trabalho, moradia, manutenção familiar, ficando os negros sem nenhuma proteção. “ Durante muito tempo ficamos num quadro de desigualdade gerada pelo próprio Estado. Foi ele quem criou isso quando não deu respaldo à população afro brasileira firmando um processo de fortalecimento dos europeus que vieram pra cá”, corrobora. Ela aponta ainda que “muito tardiamente nós viemos a ter leis ou ações afirmativas para o povo negro”, mais precisamente no século 21, no início dos governos democráticos.

Só em 2003, com a ascensão do governo Lula, que foi instalada a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR). Uma ação tida como importante para a perspectiva de criação da agenda promotora do lugar de situação dos negros e negras do Brasil. Hoje, a SEPPIR, que inicialmente tinha sido criada com status de ministério, está vinculada ao Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, unindo a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, a Secretaria de Direitos Humanos, e a Secretaria de Políticas para as Mulheres.

Numa alusão do antigo ao novo, Rosa Marques explana que “quando a gente trata de uma abolição inacabada, estamos falando dos resquícios da escravização. E quais as consequências? Uma população que não consegue entender a estrutura do racismo, que não reconhece a beleza e a diversidade do povo negro”.  Rosa, que é socióloga, traz à discussão o crescimento desordenado das favelas que, segundo ela, é muito por conta dessa escravização do povo negro e de sua liberdade sem pensar o que poderia ser feito para a inclusão digna dos libertos na época. “Já se passaram 130 anos e quase nada mudou”.

(FOTO: Oswaldo Corneti/FotosPúblicas)

“O que aconteceu lá traz se perpetua até hoje. As favelas (muitas delas) sem saneamento, sem água, sem lazer; a nossa juventude sem possibilidades e sendo mortas. Se pensou no término da escravização, mas não se pensou nos direitos que essa população teria que ter”, ratifica Rosa. Ela aponta que a postura do Estado sempre foi de exploração e de ausência com os afro brasileiros.

A abolição foi importante para o Brasil (nação) que vinha sofrendo sanções comerciais por conta da manutenção desse processo de escravidão. Circunstâncias levaram à assinatura da lei, mas não um processo consciente, de reflexão da desumanidade que era a escravidão das pessoas negras. “Se precisava desse marco legal, que é a abolição, mas se precisava ter um projeto para essa população. Nós não temos um projeto para a ascensão real dos afro brasileiros”, finaliza Denise.

O tapete vermelho do Oscar, o primeiro depois do escândalo de assédio sexual na indústria cinematográfica, foi tingido de preto muito menos do que o esperado como forma de protesto, com predominância de tons pálidos e algumas rajadas de cor.

Depois que o negro monopolizou os Globos de Ouro e os Baftas, as estrelas de Hollywood não adotaram um código restrito de traje na maior festa que encerra a temporada anual de prêmios.

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Muitas atrizes, inclusive, optaram pelo vermelho e o amarelo, dando mais cores à cerimônia.

Foi o caso da ganhadora do Oscar de melhor atriz coadjuvante, Allison Janney, que optou um vestido vermelho brilhante.

A consagrada Meryl Streep também escolheu um Dior vermelho para comemorar seu recorde de 21 indicações.

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