Nos últimos seis meses da 54ª e 55ª legislaturas do Senado e da Câmara Federal, respectivamente, alguns assuntos vistos como “polêmicos” pela sociedade foram alvo de debates, como a redução da maioridade penal, por exemplo. Além das discussões fervorosas que levaram os parlamentares a embates no Congresso Nacional, o assunto também movimentou as ruas do Recife com manifestações. Para saber mais sobre a opinião das pessoas, o Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau (IPMN), por meio de pesquisa encomendada pelo Portal LeiaJá em parceria com o Jornal do Commercio, entrevistou moradores da capital pernambucana sobre vários aspectos e constatou que união homoafetiva, pena de morte, aborto e privatizações, entre outros, são aspectos que divergem opiniões.
A pesquisa realizada no mês de julho colheu informações de pessoas com 16 anos, ou mais, residentes na área de abrangência do Recife. Na amostra, 76,9% dos entrevistados alegaram ser favoráveis à redução da maioridade penal, contra 22% que afirmaram não ser, e outras 1,1% não se posicionaram. Voltando um pouco no tempo, quando as mesmas pessoas foram indagadas se no passado concordavam com a proposta, os percentuais foram diminuídos e 58,9% responderam sim, 39,5% não e 1,6% não opinaram.
##RECOMENDA##Diferentemente da redução da maioridade penal, a pena de morte teve alternâncias mais amplas em relação aos dados atuais e os mais antigos. Sobre o assunto, 57,6% dos participantes se colocaram como favoráveis, 41,8% discordantes e 0,6% não responderam. No entanto, quando a pesquisa pergunta se no passado as pessoas pensavam da mesma maneira que hoje, os dados são invertidos e a maioria (57,1%) não concordava com a pena de morte, 42,3% optavam pela penalidade e outros 0,6% não opinaram.
Para o doutor em ciência política e professor da Universidade Federal de Pernambuco, Adriano Oliveira, os percentuais favoráveis à redução da maioridade penal e à pena de morte são em virtude da insegurança da sociedade. “Tanto na pena de morte, quanto na redução da maioridade, a percepção de insegurança e de violência podem ter proporcionado isso”, avaliou.
Já de acordo com o professor do Grupo Ser Educacional, doutor em sociologia e mestre em direitos humanos, Wagner Arandas, as pessoas tendem a ficar mais afetadas por aquilo que permeia seu universo. “Antigamente, a gente não tinha acesso a informações com a censura da imprensa na época da ditadura. A partir do momento que a imprensa passa a mostrar esse papel e mostrar essa violência, isso acaba trazendo uma realidade. Mas, na verdade, eu acabo tendo uma percepção maior da violência em virtude das atrocidades. Por isso, as pessoas acabam ficando mais rigorosas acreditando que a forma de punição que nós temos é mais branda. E essa sensação de punição rigorosa está relacionada à proximidade da violência”, analisou o doutor.
Ainda sobre a redução da maioridade penal, o mestre em direitos humanos exemplificou algumas opiniões de seus alunos. “Aferindo muito dentro de nosso público de estudantes, para o aluno, ele tem aquele consenso: 'eu sou responsável pelos meus atos, porém, tendo 18 anos, se eu fizer uma besteira eu tenho que pagar. O adolescente com 16 ou 17 anos também não tem consciência do que faz? Então, tem que ser punido'. Ele compara a postura dele com aquilo que deve submeter e confronta a mesma responsabilidade com o outro”, destacou.
Em relação à pena de morte, Arandas acredita que a proporção do crime afeta na escolha da punição. “A perversidade do fato influencia no censo de punição pela sociedade. Tudo o que a sociedade admite como algo inadmissível eles pensam numa pena mais rigorosa”, esclareceu.
Outro assunto também com maiores percentuais contrários foi à união homoafetiva. Do total de pessoas que participaram da pesquisa, 60,6% disseram não ser a favor, 36,7% responderam sim e 2,7% não responderam. Quando questionadas se no passado elas pensavam da mesma forma, os dados negativos aumentaram e 70,6% garantiram não concordar com a união homoafetiva, 26,8% alegaram aceitar e 2,5% não se posicionaram.
Entre todos os assuntos avaliados, o aborto, a legalização das drogas e às privatizações foram os que mais se aproximaram nos dados tanto numa análise atual como numa mais antiga. De todos os recifenses entrevistados 91% garantiram não ser favoráveis ao aborto, 8% disseram que seriam e 1% não opinaram. Já quando o IPMN questionou se o posicionamento era o mesmo de que no passado a diferença foi mínima: 92,7% disseram não concordar, 6,3% foram favoráveis e o mesmo 1% não se posicionaram.
Semelhantemente ocorreu com a legalização das drogas, atingindo um percentual de 85,2% das pessoas contrárias, 14,3% favoráveis e 0,5% não opinaram. Questionados se no passado os entrevistados eram favoráveis ao mesmo assunto, os dados foram bem parecidos: 89% responderam não, 10,5% sim e 0,5% não souberam responder.
Com a indagação “Você é favorável às privatizações?”, 71,2% dos entrevistados disseram não, 22,2% alegaram que sim e 6,6% não se posicionaram. Quando a pergunta se referiu ao passado 74,6% garantiram ser contrários, 18,8% favoráveis e 6,6% não responderam.
Segundo o doutor em sociologia, esses assuntos muitas vezes tocam com a visão que as pessoas têm em relação à moral. “Em uma pesquisa recente percebi que entre as instituições que as pessoas mais confiam estão a igreja, as Forças Armadas, entre outras. Vamos observar que mais ou menos aquilo que estão sendo bem visto é aquilo que a população acaba tendo uma visão também como algo que não deve ser feito. O aborto que tem todo aquele apelo à vocação da vida é sempre mau visto pelas religiões cristãs, e como essas são instituições que as pessoas mais confiam, acabam influenciando a moral. De acordo com pensadores sociólogos, entende-se que essa formação da moral influencia no cotidiano das pessoas e na opinião também”, explicou Wagner Arandas.
O Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau conversou com 622 pessoas no Recife entre os dias 21 e 22 de julho. O nível de confiança da pesquisa é de 95% e a margem de erro é estimada de quatro pontos percentuais para mais ou menos.
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