Tópicos | Projeto de Lei 2058/2014

O Projeto de Lei (PL) 2058/2014, do deputado estadual Betinho Gomes (PSDB), que faz várias alterações na lei do Fundo de Incentivo à Cultura de Pernambuco (Funcultura), deverá passar por algumas revisões nos próximos dias. Isso porque, de acordo com o próprio parlamentar e com o diretor do Funcultura, Tiago Rocha, houve um equívoco na formulação da proposta baseada na lei original do Funcultura de 2002, sem as modificações posteriores garantidas por lei que incluem, por exemplo, as áreas culturais Artes Integradas, Formação e Capacitação e Gastronomia à lei. 

Nesta quarta-feira (20), Betinho Gomes publicou no Diário Oficial do Estado (DO) um texto que, segundo ele, retiraria todas as alterações no Projeto de Lei que não fossem relacionadas ao Artigo 5º, relacionado à linha de financiamento do Funcultura. “Depois do alerta da reportagem fiz as mudanças necessárias, porque como falei ontem (terça, 21) nosso objetivo era apenas incrementar as emendas parlamentas à receita do Funcultura”, explica Betinho. No entanto, o LeiaJá consultou a edição do DO desta quarta-feira (20), mas apesar de haver um texto reformulado sobre o Projeto de Lei 2058/2014, as ditas ‘mudanças’ não foram publicadas. 

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Repercussão no Funcultura depois da proposta

Por telefone, Tiago Rocha disse que antes da proposta de Betinho Gomes ser enviada à Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) não houve contato com a diretoria do Funcultura. “Não sei dizer se teve alguma conversa com a Secretaria de Cultura (Secult/PE), mas depois que vimos a publicação da proposta emitimos um parecer técnico, assinado pelo secretário, com um posicionamento crítico sobre esse projeto que retira conquistas do próprio Governo em diálogo com a sociedade civil”, comenta o diretor do Fundo pernambucano.

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“Esse projeto nos causou surpresa, e o entendimento que tivemos foi de que o deputado fez uso da lei original do Funcultura, de 2002, sem as alterações. O próprio parlamentar entrou em contato conosco para confirmar o equívoco e avisar que a alteração já havia sido publicada no Diário Oficial desta quarta-feira (20)”, disse Tiago Rocha. Perguntando se já havia visto a publicação no DO, o diretor do Funcultura negou, mas ressaltou que a proposta será mais uma vez analisada pela Secult/PE. “Já solicitamos ao deputado uma cópia da nova proposta para que outro parecer técnico seja emitido”, explica ele. 

Equívocos da proposta de Betinho

O parlamentar ressalta que o objetivo da lei seria apenas alterar o Artigo 5º, incorporando as emendas parlamentas à receita do Funcultura. Mas além dessa mudança, houve por falta de atenção alterações no Artigo 6° da lei original do Funcultura (que cita as áreas culturais as quais se destinam os recursos do Fundo), e no Artigo 4º (que depois de atualizado retira a obrigatoriedade de cadastro mínimo de seis meses como produtor cultural para inscrever projetos no Fundo). Outro equívoco do Projeto de Lei do deputado está no Artigo 7º, relocando a gestão do Funcultura para a Secult/PE, ao invés de manter na atual gestora Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe). “Pelo organograma do Estado, a estrutura do Funcultura é vinculada à Fundarpe. É natural que permaneça assim e qualquer alteração implicaria numa reforma geral neste organograma”, comenta Tiago Rocha.

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Discussão com a sociedade

Ainda de acordo com o diretor do Funcultura, o Projeto de Lei de Betinho Gomes toca em assuntos mais complexos na estrutura do Fundo. “Especificamente acerca da alteração que incorpora as emendas parlamentares à receita do Fundo, é importante que seja aprofundado este debate. Entramos em contato com o nosso departamento jurídico e já foi constatado que não há impedimento para esta alteração, mas toda a emenda terá que ser revertida para o Funcultura em geral, e não a uma linguagem ou projeto específico. Além disso, tem que ver a questão do calendário, porque o Funcultura tem o seu e as emendas tem outro”, ressalta ele. 

Questionado sobre a importância de uma audiência pública para tratar do assunto, Tiago Rocha seguiu o protocolo e tocou a bola para o deputado. “A princípio, essa é uma competência de quem propôs essa alteração na lei do Funcultura. Mas ressalto que o debate com a sociedade é de extrema importância e que estamos à disposição”. 

Para o parlamentar do PSDB, não há necessidade de se convocar uma audiência pública para discutir a proposta que muda a lei do Funcultura. “Não tem muito sentido fazer um debate sobre algo que só altera a fonte de financiamento do Fundo de Incentivo à Cultura. Mas se houver necessidade, vamos fazer um diálogo. Não sei se esse é o melhor momento por ser um período eleitoral e a casa (Alepe) não estar tão cheia”, opina o deputado. A proposta ainda será votada na Comissão de Constituição, Legislação e Justiça (CCLJ) até o dia 23 de setembro, para depois passar pelas outras comissões permanentes da Alepe.

“Já a questão do Orçamento Impositivo, que é mais complexo porque mexe na Constituição do Estado, vale a pena uma discussão mais ampla, porque as emendas parlamentares são bem soltas no âmbito da cultura, e essa minha proposta cria um mecanismo que vai evitar tudo isso”, defende Betinho Gomes. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No dia 1° de agosto passado, o deputado estadual Betinho Gomes (PSDB) encaminhou à Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) o Projeto de Lei (2058/2014), que incorpora as emendas parlamentares como receitas legais do Fundo de Incentivo à Cultura do Estado (Funcultura) e faz outras alterações na Lei 12.310/2002, que cria o Funcultura. A proposta, que ainda será votada na Comissão de Constituição, Legislação e Justiça (CCLJ) para depois passar pelas outras comissões permanentes Alepe, traz alguns detalhes considerados como retrocessos pela classe artística envolvida com o Fundo. É que no Projeto de Lei de Betinho Gomes não estão presentes as áreas culturais Artes Integradas, Formação e Capacitação e Gastronomia, conquistas da sociedade garantidas por lei e presentes no Artigo 6° da lei original. Além disso, há uma mudança no Artigo 7°, a qual fará com que o Funcultura passe a ser gerido pela Secretaria de Cultura do Estado (Secult/PE), em substituição à Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), atual gestora do Fundo. A matéria, no entanto, ainda não seguiu para votação.

Em contato com a Secult/PE e Funcultura, a resposta obtida pela reportagem foi de que ainda não há um parecer em relação ao caso. Os órgãos apenas informaram que ainda emitirão um parecer sobre o assunto. 

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Emendas parlamentares e PEC no Funcultura

De acordo com o parlamentar Betinho Gomes, a proposta foi criada após a polêmica envolvendo as emendas parlamentares voltadas para apresentações e shows musicais divulgadas pela imprensa. “Pensamos nisso no intuito de que a Alepe possa discutir uma boa iniciativa e superar esse episódio”, sugere Betinho.

Segundo ele, o Projeto de Lei 2058/2014 foi criado com o único objetivo de alterar o artigo 5° da Lei 12.310/2002, que fala do financiamento do Funcultura. “Antes não estava previsto a inclusão de emendas parlamentares neste processo, então fizemos essa alteração”, comenta o deputado. “Outra coisa que fiz foi um projeto de Emenda Constitucional (PEC), e essa é mais complexa porque requer maioria absoluta, para alterar a lei que cria o Orçamento Impositivo. A ideia é que toda emenda voltada para a área da cultura seja obrigatoriamente encaminhada ao Funcultura, gerando um mecanismo de controle que abre espaço para outros produtores”, argumenta Betinho. A PEC, que conta com coautoria de Terezinha Nunes (PSDB), vai de encontro com o que normalmente acontece, quando a verba pode ser repassada para prefeituras ou contratação de shows de artistas específicos. 

Opinião da classe artística

Para o produtor cultural Antônio Gutierrez, realizador de eventos como o Continuum, festival que conta com recursos aprovados na linha Artes Integradas do Funcultura, o deputado deveria ter convocado os segmentos culturais para um debate antes de colocar a matéria em votação. “Não conheço o projeto nem o parlamentar, mas um Estado que tem uma cultura diversificada e com tantas linguagens não pode passar por esse retrocesso. Talvez o deputado nem saiba direito o que é o Funcultura”, opina Gutierrez. Em paralelo, Leidson Ferraz, pesquisador cultural das artes cênicas e que já teve projetos aprovados no Funcultura, também faz uma reflexão parecida sobre o caso. “Eu acho que ele deve ter enviado o projeto com base em algo antigo. Tem gente que nem sabe que existem estes novos itens. Acho que se é uma conquista da sociedade, só tenho a lamentar, mas acredito que foi falha de atenção dele”, pontua Leidson.

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A professora, chef de cozinha e pesquisadora Ana Cláudia Frazão é outra produtora cultural que lamenta a falta de atenção de Betinho Gomes na hora de propor um novo projeto de lei para o Funcultura. “Hoje quando pensamos na representação de Pernambuco, a gastronomia é uma dessas áreas de destaque. É contraditório tirar algo que não é só apenas uma conquista da sociedade, mas um dever do Governo do Estado que tem que apoiar o segmento. Ele (o deputado) deve ter sido muito mal informado, e a assessoria nem deve ter tido o cuidado de fazer uma pesquisa mais aprofundada. Acho que tem que convocar os produtores para que isso seja resolvido antes que aconteça um desastre”, opinou Ana Cláudia, que de 2008 até hoje tem ao menos um projeto aprovado por ano no Funcultura, na área de gastronomia. 

Correção por parte do deputado

Sobre as alterações no Artigo 6° da Lei 12.310/2002, que tratam das áreas culturais que podem receber recursos auferidos pelo Funcultura, Betinho Gomes admite a falta de atenção na hora de montar o Projeto de Lei 2058/2014. “O projeto não tem o objetivo de mudar nada além da linha de financiamento do Fundo. Vou checar essa informação e aproveitar que a matéria ainda não foi votada para alterar o texto. Agradeço inclusive o alerta da reportagem sobre o caso”, comenta o deputado estadual. Já em relação ao Artigo 7° do Projeto de Lei 2058/2014, o parlamentar declara que não haverá grandes mudanças, já que a Secult/PE é a atual responsável pela Fundarpe. A relatoria do projeto de lei ficou sob responsabilidade do deputado estadual Antonio Moraes (PSBD) e a expectativa é que a proposta seja analisada pelo CCLJ até o dia 23 de setembro deste ano. 

 

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