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O Projeto Oxé, voltado a atendimento jurídico e psicológico para vítimas de racismo, anunciou a abertura de um novo processo seletivo que visa a contratação de coordenador de projeto (1), advogado (1) e psicólogo (1). As vagas são afirmativas para pessoas autodeclaradas e reconhecidas socialmente enquanto pessoa negra (preta e parda).

A seleção irá acontecer por meio de análise curricular e entrevista. A inscrição acontece pelo envio do currículo para o e-mail redemulheresnegraspe@gmail.com até o dia 4 de fevereiro. O edital completo está disponível no site oficial do projeto

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O resultado da seleção está previsto para o dia 15 de fevereiro. As pessoas contratadas terão que cunprir uma jornada de trabalho de 44 horas semanais com remuneração que varia de R$ 5.000,00, para os cargos de advogado e psicólogo, até 5.400,00, para coordenador de projeto.

O Projeto Oxé é uma iniciativa da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco (RMNPE), em parceria com o Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (GAJOP) e apoio da Articulação Negra de Pernambuco (ANEPE).

Tramita, no Senado Federal, um Projeto de Lei que inclui nas diretrizes da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT), a contratação de psicólogos em empresas que tenham mais de 100 funcionários. A proposta foi apresentada pela senadora Rose de Freitas (MDB-ES).

Apesar de reconhecer que as leis trabalhistas são minuciosas quanto à saúde e à segurança dos trabalhadores no ambiente de trabalho, a parlamentar afirma não ver a mesma preocupação em relação aos problemas psicológicos dos empregados.

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Na justificativa do projeto, a senadora aponta que empresas modernas já perceberam a vantagem de oferecer atenção psicológica a seus funcionários, pois se espera que um ambiente psicologicamente saudável seja mais produtivo. Ainda de acordo com ela, o psicólogo poderá colaborar na alocação correta dos profissionais, permitindo que eles possam atuar com o uso de todo o seu potencial, que, em muitos casos, passa imperceptível aos olhos dos administradores.

Rose destaca, ainda, que o projeto tem caráter preventivo, e trata-se de conhecer, verdadeiramente, os limites e os potenciais dos empregados.

O texto aguarda agora ser avaliado pelas comissões e plenário da Casa Legislativa.

Segundo o mais recente levantamento da Associação Brasileira de Medicina do Sono (ABMS)  feito no final de 2020, 34% dos brasileiros não dormem bem. A rotina de distanciamento social e a constante preocupação com a contaminção pelo vírus, além da crise econômica gerada pela pandemia foram fatores preponderantes para que os índices de pessoas com dificuldade de dormir aumentassem, já que no início do ano, segundo a ABMS, esse percentual era de 15%.

Vale lembrar que existe uma diferenciação entre dificuldade em dormir e de fato, a insônia. O biomédico Gabriel Pires explica que é necessário um diagnóstico realizado por médico, segundo critérios rígidos de sintomas, que devem ocorrer pelo menos três vezes por semana ao longo de três meses. “Ainda assim, muitas outras doenças que nos tiram o sono à noite ou que nos deixam cansados ao longo do dia podem se parecer com a insônia”. Pires ressalta dizendo que mesmo que o diagnóstico varie, o tratamento de terapia cognitivo-comportamental para insônia (TCCi) é útil em todos os casos.

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Quando o diagnóstico revela que o paciente sofre de insônia, é possível citar alguns sintomas que passam a ser mais frequentes. Segundo o biomédico, “as reações mais comuns acontecem no dia seguinte, como fadiga, indisposição, sonolência diurna, falta de atenção e problemas de memórias são os mais comuns”. Pires também explica que com o passar do tempo, e conforme a insônia se torna crônica, efeitos mais prejudiciais podem ocorrer, incluindo aumento do risco de doenças como hipertensão e obesidade, e problemas mentais como depressão e ansiedade.

Assim, existem medidas e cuidados que podem ser tomados para aqueles que notam que os sintomas estão presentes. Segundo Ksdy Sousa, psicóloga do sono e responsável técnica da SleepUp, aplicativo que oferece terapia digital e monitoramento contínuo, o TCCi tem os níveis de eficiência e não necessita de uso de medicamentos. “Atualmente esse tipo de terapia é feita por profissionais habilitados em psicologia do sono. Porém, há uma escassez de profissionais qualificados, o que acaba por tornar o tratamento mais caro”.  Por conta disso, a psicóloga explica que existem aplicativos de TCCi que tornam a terapia mais barata, e se adapta em forma de aplicativo, assim como a SleepUp.

Ainda que existam as formas primárias de tratamento, alguns casos vão necessitar o uso de medicamentos, que continua sendo importante, principalmente em casos mais graves. “É importante saber que todo tratamento para insônia com medicamentos só pode ser feito sob recomendação médica. Esses remédios apresentam efeitos colaterais que devem ser monitorados com cuidado”. Ksdy finaliza orientando que, caso haja falta de prescrição médica, pode-se recorrer aos tratamentos baseados em psicoterapia ou até mesmo a terapia mindfulness.

A Prefeitura de Abreu e Lima, na Região Metropolitana do Recife, realiza um processo seletivo simplificado destinado à contratação temporária para vários cargos de nível superior. As inscrições são gratuitas e deverão ser efetuadas exclusivamente pelo endereço eletrônico, até esta terça-feira (29).

As 70 vagas oferecidas na seleção são para os cargos de enfermeiro, psicólogo, nutricionista, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, assistente social, cirurgião dentista, farmacêutico, médico veterinário, profissional de educação física e médico. A carga horária varia de 20 a 40 horas ou escala de 12hx36h, já a remuneração vai de R$ 1,4 mil a R$ 6,8 mil.

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Entre os requisitos para participar da seleção estão: ter, no mínimo, 18 anos; estar em dia com as obrigações eleitorais; estar quite com o serviço militar, no caso do sexo masculino.

A seleção simplificada será realizada em etapa única, composta por avaliação curricular, que consiste na análise da experiência profissional e de títulos, de caráter classificatório e eliminatório. O contrato terá prazo de validade será de até um ano, prorrogável por igual período.

Para mais informações, acesse a página da Prefeitura de Abreu e Lima ou o edital.

A Prefeitura Municipal de Nina Rodrigues, no Maranhão, está recebendo, até este sábado (26), inscrições em seleção simplificada que visa a contratação temporária de profissionais. Ao todo, são oferecidas 128 vagas.

Os selecionados atuarão nos cargos de professor de educação infantil, professor do ensino fundamental do 1º ao 5º ano, professor do ensino fundamental do 6º ao 9º ano, professor de Educação de Jovens e Adultos (EJA), psicólogo e fonoaudiólogo.

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As candidaturas devem ser realizadas no prédio da Escola Municipal Gonçalves Dias, na Rua São Benedito, Centro de Nina Rodrigues. A taxa de inscrição custa R$ 75 para todos os cargos ofertados no processo seletivo.

A seleção contará com prova objetiva - para todos os cargos, a ser realizada no dia 18 de julho, das 13h30 às 17h30 – e prova de títulos – para as funções de psicólogo e fonoaudiólogo.

Os contratados terão carga horária de 20 horas semanais e receberão remuneração no valor de R$ 1.227,67. O prazo de validade do contrato será de seis meses, podendo ser prorrogado por igual período. Para mais informações sobre o processo seletivo simplificado, acesse o edital.

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Ao alcançar a realidade que mais caracteriza a desigualdade social no Brasil, a crise da Covid-19 reafirmou o histórico de abuso psicológico à população periférica e espalhou uma 'epidemia' de depressão nas comunidades. Frente ao desinteresse do poder público em ampliar o atendimento especializado nas favelas, populares se aglomeram na margem do arranjo socioeconômico enquanto tentam se defender dos impactos mais agressivos da pandemia. Sobrecarregados desde a infância, a renda mensal sempre foi insuficiente, mas o pouco cada vez mais se aproxima do nada. 

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Sem oportunidade, a pressão de alimentar a família e se deparar com a geladeira vazia, incapacita e dói, mas a perda de mais de 279.286 familiares realça o sentimento de solidão em todo o País. Uma pesquisa divulgada pela Ipsos aponta que o Brasil é o país que mais sente solidão. De acordo com o levantamento, metade dos mil entrevistados declarou se sentir sozinha e 52% disseram que o sentimento aumentou nos últimos seis meses. 

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A condição de exclusão ficou ainda mais evidente nesse pouco mais de um ano de pandemia no Brasil. Enquanto o vírus apela pelo reforço da higiene, o fornecimento de água ainda é precário. Enquanto a orientação sobre os métodos de prevenção é fundamental, a periferia ainda se vê vulnerável pela falta de educação sanitária. Empurrados para o contágio em um transporte público superlotado, a falta de controle financeiro é remediada com empregos informais. Ao passo que os recordes de mortes são atualizados diariamente, a fila por leitos de UTI tornou-se parte de um cenário onde a gravidade tenta ser abafada e a mente de quem não sabe como reagir à doença batalha consigo por soluções. 

Sem a escuta psicológica adequada, pouco a pouco a 'autodesvalorização' amarga e aumenta os índices de alcoolismo, violência doméstica, dependência química e nas recorrentes tentativas de suicídio. Na comunidade de Chão de Estrelas, no bairro da Campina do Barreto, Zona Norte do Recife, o braço social do Maracatu Cambinda Estrela (1935) funciona há 21 anos como um centro de acolhimento onde "o medo de não poder ter um amanhã" é afastado. Junto aos demais voluntários, a presidente do projeto, Wanessa Santos, reconforta os populares em meio à crise psicológica.

Ela lembra que as pessoas "começaram a se perder" logo nos primeiros meses da Covid-19. Por isso, montou uma frente com nove representantes de outras organizações para arrecadar alimentos e beneficiar mais de sete mil famílias. "As pessoas ficaram sem emprego, perderam suas rendas, adoeceram e perderam também seus entes queridos. Eu vi adolescente perdendo mãe e avô. A gente viu mãe perdendo os filhos. Desse início, até então, as pessoas vêm passando por surtos de ansiedade, medo, crises, pânico e, inclusive, chegaram situações para a gente de pedidos de socorro porque queria cometer suicídio", recorda a coordenadora, que classifica o Maracatu como "um grande quilombo com uma forte relação familiar" que estende o sentimento de união para comunidades vizinhas.

A condição delicada de Chão de Estrelas poderia ser revertida com mais apoio público, destaca Wanessa/Arthur Souza/LeiaJáImagens/Arquivo

Com a cesta básica nacional em R$ 696,71 -valor superior ao repasse do auxílio emergencial-, a projeção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) fixa o salário-mínimo ideal em R$ 5.495,52. Em janeiro, 12,8% dos brasileiros - equivalente a 27 milhões de pessoas - estavam na linha da miséria, ou seja, viveram com menos de R$ 246 mensais, aponta a pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) com dados das Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios (Pnads) Contínua. Com a suspensão do benefício em meio à piora da pandemia, a falta de comprometimento do poder público é amplificada pela baixa oferta de atendimento psicológico. "A gente tá vivendo um momento de extrema dor, muitas perdas, muitas mortes e uma falta de perspectiva futura", afirma a presidente do Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco (CRP-PE), Alda Roberta Campos.

"Nem é um problema religioso, nem é falta de força de vontade, nem a pessoa escolheu tá deprimida. Depressão é uma doença que vai precisar de um suporte psicológico, muitas vezes de um suporte médico também, de uma equipe multidisciplinar que possa ajudar essa pessoa a se cuidar", destacou a gestora, que acrescentou, "as desigualdades vão se destacar nessa situação. Quando você tem a possibilidade de uma reserva emocional, financeira, de segurança profissional, isso permite que você seja menos atingido".

Apesar de compreender que o atendimento descentralizado oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é um modelo para outros países, ela divide o sentimento de que falta mais compromisso com o sistema. De acordo com a Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS), do Ministério da Saúde, em dezembro de 2019 - às vésperas da pandemia no Brasil -, o Sistema de Informação em Saúde para Atenção Básica (SISAB) registrou 229.851 atendimentos no SUS para depressão e ansiedade. Um ano depois, já com a crise instalada, 302.060 atendimentos foram realizados. Em Pernambuco, os dados saltaram de 7.660 para 10.309 no mesmo período.









Alda pede atenção para diferenciar a tristeza das perdas da pandemia com um quadro mais sério de transtorno/Júlio Gomes/LeiaJáImagens/Arquivo







"O Brasil tem uma rede de atenção psicossocial. Cada município precisa ter essa rede, que é formada pelos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), pelos centros de convivência e por espaços de cuidado onde a população pode acessar", explica Alda Roberta. A Secretaria de Saúde do Recife (Sesau) disponibiliza 17 Caps - com quatro destinados às crianças e adolescentes -, que seguem abertos para atendimento individual mediante agendamento. A pasta comparou os meses de janeiro de 2020 e 2021, e não identificou aumento de demanda psicológica. Contudo, a queda de 21,6% na fila de espera por consultas foi observada.

Em uma aposta para democratizar o acesso ao acompanhamento profissional, desde maio do ano passado, a Coordenação de Saúde Mental do município passou a oferecer teleatendimento através do aplicativo Atende em Casa. Mais de três mil pessoas foram ouvidas pela equipe multidisciplinar do programa, estima a Prefeitura, que também posiciona 20 equipes de profissionais de sete especialidades no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf) para dar expansão ao suporte. 

Relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) a respeito de depressão e distúrbios de ansiedade colocou o Brasil na primeira colocação entre os países mais ansiosos do mundo. Segundo o estudo, em torno de 18 milhões de brasileiros sofrem com o problema.

Relatos de ansiedade são corriqueiros, por exemplo, entre estudantes submetidos à intensa preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Durante a pandemia da Covid-19, o problema foi potencializado diante dos imbróglios em torno da organização da prova e devido à massificação do ensino remoto. A praticamente 24 horas do atípico Enem 2020, é necessário colocar em prática estratégias que possam, ao menos, diminuir o nervosismo e, consequentemente, os efeitos ansiosos entre os candidatos. Ter calma, neste momento, por mais que pareça clichê, é essencial.

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Natalia Cavalcanti de Brito, 18, terminou o ensino médio em 2019. No Enem 2020, fará a prova em busca da aprovação na graduação de medicina, após um ano marcado por estudos intensos, principalmente durante o ensino remoto. Visando conter os efeitos da ansiedade, já que de certa forma existe uma pressão social pela aprovação, a jovem definiu mecanismos; ela procura praticá-los até mesmo a poucos instantes antes do Exame.

“Em relação à ansiedade, tentei vários mecanismos para conseguir manter a calma e não deixar o nervosismo tomar conta. Primeiro, mudei um pouco a minha alimentação e aumentei o consumo de frutas e verduras. Isso, somado a dormir cedo e meditar com o auxílio de aplicativos na internet, melhorou demais o meu preparo emocional”, revela Natalia.

Orientações de especialistas

De acordo com Thais Oliveira, psicologia do Colégio GGE, do Recife, a poucas horas da prova, ainda assim podem ser adotadas técnicas que minimizem os impactos da ansiedade. Uma delas, segundo a especialista, se chama “meu lugar de paz”.

A técnica funciona da seguinte maneira: se o estudante estiver ansioso, muito preocupado antes da prova, ele pode direcionar seu pensamento a algo que, simplesmente o traga paz. Um abraço carinhoso da mãe, um passeio leve com a namorada, ou filme com conteúdo motivado. Há diversas ocasiões que nos trazem prazer e bem estar, proporcionando, dessa forma, “paz”. Nesse sentido, os candidatos devem direcionar seu olhar a esses momentos.

“São técnicas que a gente precisa desenvolver para que o desespero saia de nós. Se eu fico com o desespero impregnado, vai vir uma sensação a ponto de trazer uma ansiedade muito forte. Por isso, é importante focar no que realmente pode ser bom, e não criar um pânico em relação à prova. Preciso realmente desenvolver uma sensação de bem estar para ter energia para uma prova tão desafiadora que é o Enem”, explica a psicóloga.

O psicólogo e professor de geografia Dino Rangel destaca que o Enem é importante, mas não precisa ser uma carga na vida do candidato. Para o especialista, a aprovação é valorosa na vida de um aluno, mas a reprovação não pode ser apontada como um fracasso definitivo.

“Pare, pense, respire e tenha calma. Se você tem a consciência que você fez o melhor possível, que deu o máximo de si para esta prova, compreenda que ela será apenas uma conversa com você. Você estará dialogando, colocando em prática tudo o que estudou”, diz o psicólogo.

“Mas, eu não estudei, não me dediquei da melhor maneira possível. Não é momento de se desesperar e sim de se conscientizar. Vá lá e também converse com sua prova, faça por experiência. A sua vida é muito mais que uma prova. Então, se dedique melhor ano que vem e vá em busca de seu sonho”, acrescenta Rangel.

O coordenador de tecnologias educacionais do Colégio CBV, situado na capital pernambucana, Jaime Cavalcante, alerta para a necessidade de os estudantes tentarem conter a ansiedade, principalmente neste ano marcado pela pandemia da Covid-19. “A ansiedade, quando não é cuidada, pode gerar prejuízos para os jovens, diminuir a concentração e a capacidade de raciocínio, além de aumentar a dificuldade de interpretação, impactando no resultado das provas”.

Na visão do educador, os familiares também têm um papel importante para auxiliar os jovens em um momento tão intenso. “O jovem deve ser incentivado a encontrar maneiras de relaxar, limpar a mente em alguns momentos. Isso é muito importante, inclusive, para que consiga absorver as informações quando está estudando. Pode ser a prática de alguma atividade física, meditação, leitura por diversão. São várias as ferramentas que podem ser buscadas para limpar a mente e renovar o fôlego para administrar os estudos”, detalha.

As provas do Enem impresso serão realizadas neste domingo (17) e no dia 24 deste mês. No primeiro dia, os candidatos enfrentarão questões de Ciências Humanas, Linguagens e redação. Já no último dia do Exame, haverá quesitos de matemática e Ciências da Natureza. Ao todo, 5,8 milhões de inscrições foram confirmadas.

Os portões dos locais de prova serão abertos ao meio dia e fechados às 13h, conforme o horário de Brasília. O início está marcado para 13h30.

O projeto Vai Cair No Enem e o LeiaJá promovem, nesta terça-feira (5), uma live para os candidatos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A pauta é "O que e como estudar na reta final para a prova". Assista:

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Nos dias 17 e 24 de janeiro, será realizada a edição 2020, versão impressa, do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Nesta reta final, surgem dúvidas entre os candidatos: é melhor fazer revisão ou focar em questões? É indicado estudar assunto novo? Como relaxar e conter a ansiedade?

Os convidados da live são Leandro Gomes, professor de biologia, Marcelo Rocha, de geografia, Lourdes Ribeiro, docente de Linguagens e redação, bem como a psicóloga do Colégio GGE Thais Oliveira. Além de indicar assuntos que merecem atenção nesta fase final de estudos, os professores revelam estratégias adequadas para o período, bem como a psicóloga Thais Oliveira traz dicas importantes sobre questões emocionais.

A apresentação da live ficará a cargo da produtora Thayná Aguiar. Para mais conteúdos sobre a prova, siga o Vai Cair No Enem.

O Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), entidade sediada no Recife, divulgou edital de seleção composta por dez vagas. As oportunidades estão distribuídas entre os cargos de psicólogo, dentista, enfermeiro, técnico em enfermagem, auxiliar de saúde bucal e nutricionista.

De acordo com o Imip, os aprovados atuarão no Distrito Sanitário Especial Indígena do Maranhão (DSEI/MA). A jornada de trabalho prevista é de 40 horas por semana, com salários mensais que variam, conforme o cargo, de R$ 1.588,21 a R$ 7.808,66.

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Os candidatos serão submetidos à análise curricular e entrevista. As candidaturas poderão ser feitas desta quinta-feira (12) até 20 de novembro pelo e-mail saudeindigenaselecao.dseima@imip.org.br.

Os profissionais contratados atuarão sob jornada de trabalho de 40 horas semanais e receberão salário base mensal no valor de R$ 1.588,21 a R$ 7.808,66. Segundo o cronograma do processo seletivo, a relação com os nomes dos aprovados será anunciada no dia 11 de dezembro deste ano; as atividades dos selecionados começarão em 2021. Para mais informações, consulte o edital do Imip.

População tem sofrido desgaste emocional diante dos resquícios da pandemia. Cenário é preocupante, mas pode ser combatido. Foto: Nathan Santos/LeiaJáImagens

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Dedos entrelaçados em sinal de oração, mãos aos céus como forma de agradecimento, rezas ante o mar e uma sintonia de esperança celebravam o novo ano. Sob fogos brilhosos e respingos de champanhe, 2020 chegou. Fotografei abraços e presenciei dizeres otimistas para o ciclo que começara. Tomado pela atmosfera comemorativa do réveillon, não imaginaria naquele momento eufórico que, meses depois, vivenciaríamos o início da mais crítica e enlutada crise de saúde dos últimos tempos. Os mesmos amigos e familiares que, com os pés na areia da praia festejavam o ano novo, hoje pedem às suas crenças que o período corrente leve consigo doença, medo, luto, mazelas, intolerâncias, desemprego, corrupção, entre outros males. O novo coronavírus, literalmente, atormentou o ano novo.

Não tão longe do litoral, *José Silva, 35 anos, reflete em seu apartamento - uma espécie de refúgio ante o cenário desolador da pandemia de Covid-19 -. Em isolamento social – séria e correta medida indicada pelos órgãos competentes de saúde para combater a proliferação da doença -, da janela do edifício ele observa as ruas situadas no coração do Recife, uma das capitais fortemente atingidas pelo novo coronavírus. Praticamente não há pessoas no local, antes de intensa movimentação. *José observa. Analisa. Questiona sua própria mente: “por que isso está acontecendo”?. Também rememora momentos em família, ao sentir falta dos abraços, do calor carinhoso característico da mãe idosa. São meses sem vê-la, sem tocá-la; tudo por amor a ela.

*José observa. Reflete. Agitada, sua mente não cansa, não para. Ao direcionar novamente sua atenção às ruas vazias, paralelamente sente um vazio de incertezas quanto ao seu futuro e das pessoas que ama.

*José viu, repentinamente, sua rotina tomar uma proporção antes inimaginável. Obrigatoriamente e de maneira consciente, afastou-se dos amigos, da família e do local de trabalho. Na mídia, alimentou-se de informações a respeito da problemática e complexa Covid-19, cujo rastro de estrago e morte marca países do mundo todo. *José acompanha, diariamente, as contagens de casos e óbitos, além dos efeitos oriundos da pandemia, que reverberam, além da saúde, na educação e economia de um país desigual, socialmente falando, desde os primórdios. Para *José, a pandemia potencializou os diversos problemas sociais e políticos que acometem o povo brasileiro, assim como instaurou desconfortos mentais.

A mente de *José não pausa. Todos os dias, durante a pandemia, é tomada por uma tempestade de pensamentos; seu corpo já sente os efeitos da ansiedade. Coração e mente acelerados, enquanto as noites não mais servem como um momento reparador, uma vez que, em várias ocasiões, o sono não vem. “Fiquei bastante tenso quando a quarentena, no início de março, começou a se estender. Diversos sentimentos de impotência brotaram em mim. Estou há quase seis meses sem ver minha família, e todo o meu pensamento vai para cada um que está distante de mim. Apesar de conversas por chamadas de vídeo, o contato físico faz falta. Não aguento mais ficar isolado por tanto tempo em casa, longe de quem eu gosto. Minha saúde mental está indo embora”, desabafa.

O medo cerca *José. Ele teme, por exemplo, perder pessoas queridas. Teme, ainda, que a crise econômica acarrete demissões. “É no silêncio da noite que a minha mente projeta um turbilhão de dúvidas e medos. Não sei como mudar a rota do meu pensamento para que eu sinta um certo alívio, de fato, de que as coisas irão realmente melhorar. Meus questionamentos estão sempre relacionados ao meu lado financeiro. Acho que, desde o início da pandemia, sinto instabilidade profissional. Não vejo com entusiasmo a capacidade que eu tenho de desenvolver o meu trabalho”, descreve ele.

É perceptível como *José trava uma luta emocional na qual é difícil desenvolver soluções imediatas. Talvez isso se dê pelo fato de que ele, sozinho, não detém o controle do atual cenário, pois, em suas mãos, não estão as soluções que possam, de uma vez por todas, colocar fim aos resquícios da pandemia em seu cotidiano. Nesse contexto, *José não consegue cessar os próprios medos e nem planejar o próprio futuro.

“Só espero que esse caminho de incertezas e de negatividade que estamos trilhando não deixe marcas profundas na alma, ao ponto de lembrarmos futuramente de tudo isso que estamos presenciando com tristeza e amargor. Me preocupa bastante ver que estou desacreditando a cada dia que se passa do meu potencial, da minha entrega, da garra que um dia eu lutei intensamente para conquistar o meu lugar. Ainda não passou pela minha cabeça buscar apoio psicológico para me dar um norte em meio a esse caos instalado pela pandemia. Não faço a mínima ideia se tenho a capacidade de sair desse mar de consternação sozinho”, diz *José.

*José Silva – nome fictício. Personagem preferiu preservar a sua identidade.

Doença pandêmica, mente em perigo

Mais de 23 milhões de casos confirmados no mundo. Quase 816 mil mortes. Assustadores, os dados globais da pandemia do novo coronavírus, informados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em seu mais recente balanço, expõem quão crítico é o cenário. Em 30 de janeiro de 2020, a OMS declarou que o surto da Covid-19 constitui uma Emergência de Saúde Pública Internacional, patamar de alerta mais alto da instituição. Localmente, de acordo com o consórcio de veículos de imprensa baseado nas informações das secretarias estaduais de Saúde, o Brasil registra mais de 3,7 milhões de pessoas diagnosticadas com o vírus e o número de óbitos passa de 117 mil. Além desse panorama, existem comprovações de que a pandemia tem bombardeado suas consequências na condição mental da população.

Em comunicados oficiais, a OMS já alerta que a pandemia da Covid-19 tem, de fato, forte impacto na saúde mental das pessoas. A entidade demonstra preocupação e orienta os países a tomarem medidas necessárias para ajudar suas nações.

À frente da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom explica que os efeitos econômicos e sociais da pandemia, da forma acelerada como se expandem e causam estragos, tendem a aumentar casos prejudiciais à saúde mental dos indivíduos. Depressão, ansiedade e transtornos mentais por uso de substâncias são alguns dos problemas citados pelo diretor-geral da OMS.

Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS, pede atenção às questões relacionadas à saúde mental. Foto: OMS

Antes mesmo da pandemia, os números de transtornos mentais despertavam preocupação na Organização Mundial da Saúde. De acordo com a entidade, foram registrados 322 milhões de casos de transtorno depressivo em todo o mundo, bem como 264 milhões de pessoas eram acometidas por transtorno de ansiedade. Ainda sobre o período pré-pandemia, o estudo aponta que, no Brasil, 9,3% da população sofria distúrbios relacionados à ansiedade, correspondendo a um quantitativo de 18.657.943 cidadãos.

Se antes da Covid-19 a sociedade já ansiava aportes em relação à saúde mental, agora, mais do que nunca, segundos os especialistas, há a necessidade de cuidarmos com mais afinco de nossas mentes. Os resquícios pandêmicos são, metaforicamente, como uma imensa bola de neve que vai agregando problemas e mazelas, ao ponto de atingir a mente da população. De acordo com a psiquiatra Fátima Vasconcelos, integrante da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), mortes, luto, desemprego, crise econômica, risco de contágio, incertezas sobre a vida são alguns dos fatos pandêmicos que impulsionam dores emocionais. “Todos esses problemas juntos podem criar um quadro de ansiedade e depressão muito grande. Algumas dessas pessoas, tanto pela ansiedade quanto pela depressão, podem aumentar o consumo de substâncias lícitas e ilícitas. A gente tem também, além da depressão, ansiedade e do transtorno do estresse pós-traumático, o aumento do consumo de drogas, tanto álcool, quanto maconha e cocaína. Muitas crises já vinham acontecendo e já comprometiam a qualidade de vida da população”, explica a médica psiquiatra.

Dados e indícios preocupam

De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), instituição vinculada à OMS, estão sendo levantados dados globais que ratificam os indícios de aumentos de ansiedade, depressão, entre outros males psíquicos, em virtude do novo coronavírus, bem como instituições passaram a traçar estratégias preventivas. Em maio deste ano, por exemplo, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, lançou um relatório sobre políticas públicas para a saúde mental com uma série de orientações aos governantes. “Luto pela perda de entes queridos. Choque com a perda de empregos. Isolamento e restrições à circulação. Dinâmicas familiares difíceis. Incerteza e medo do futuro. Problemas de saúde mental, incluindo depressão e ansiedade são algumas das maiores causas de miséria no nosso mundo”, alertou Guterres. “À medida que nos recuperamos da pandemia, precisamos transferir mais serviços de saúde mental para a comunidade e garantir que a saúde mental seja incluída na cobertura universal de saúde. Apelo aos governos, à sociedade civil, às autoridades de saúde e a outros que se reúnam com urgência para abordar a dimensão da saúde mental desta pandemia”, acrescentou o secretário-geral da ONU, conforme informações do site da Organização.

O relatório das Nações Unidas destaca, inicialmente, que embora a crise da Covid-19 seja, a priori, de saúde física, ela propagará sementes de uma grande crise de saúde mental, caso ações preventivas não sejam realizadas. O documento aponta que boa saúde mental é “fundamental” para o funcionamento da sociedade, devendo também ser pauta de cada país durante o enfrentamento ao novo coronavírus. Conforme o relatório, pesquisas realizadas em 2020 revelam alta prevalência de sofrimento na população durante a pandemia de Covid-19, como na China, em que 35% da população está angustiada. Nos Estados Unidos esse índice de angústia sobe para 45%, enquanto no Irã o percentual é ainda mais alarmante: 60%.

Ao analisarmos o cenário brasileiro, fica ainda mais evidente a necessidade de o País intensificar, prontamente, um combate dedicado aos problemas oriundos da pandemia que reverberam na saúde mental. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos revelou que quatro em cada dez brasileiros sofrem sintomas de ansiedade como consequência da pandemia. Segundo o estudo, as mulheres são mais afetadas, representando 49% dos casos, enquanto o percentual dos homens é de 33%. O levantamento aponta que o índice de 41% coloca o Brasil na primeira posição entre os países mais ansiosos em decorrência do novo coronavírus. “A gente diz que o Brasil é um país feliz e não é. Na verdade, é um país que tem muita desigualdade, muita gente vivendo em condições grandes de pobreza, o que cria um quadro de ansiedade e depressão muito grande”, acrescenta a psiquiatra Fátima Vasconcelos.

 

Arte: João de Lima/LeiaJáImagens

Aliado fundamental do bem-estar, o sono, antes reparador, perdeu efeito para muitas pessoas. A pesquisa do Instituto Ipsos indica que, de dia, a preocupação é com a utilização segura de máscaras e com a limpeza correta das mãos e objetos, enquanto ao anoitecer, a luta de muitos brasileiros é contra a insônia. Segundo o levantamento, 26% da população nacional relatou dificuldades para dormir na pandemia; as mulheres são as mais afetadas, apontou a pesquisa. De novo, o Brasil aparece nas primeiras posições, quando analisamos os efeitos da falta de sono entre os países: no topo da tabela está o México, com 38% da população afetada, e em segundo lugar está o Brasil, com o percentual de 26%; em terceiro estão a África do Sul e a Espanha, ambos com 25% dos seus povos atingidos pela insônia. Em contraponto, as nações menos afetas foram Japão (6%), Coreia do Sul (10%) e Austrália (12%).

Ainda de acordo com o estudo do Instituto Ipsos, um em cada dez entrevistados no Brasil disse estar enfrentando sintomas depressivos em decorrência da pandemia do novo coronavírus. Fátima Vasconcelos reitera que existe uma relação muito clara com a disseminação dos sintomas e as mazelas pandêmicas. “Na pandemia, nós já temos mais de 100 mil pessoas mortas no Brasil. Claro que tivemos índices de recuperação, mas como ficaram os familiares das pessoas que já faleceram? E mais: há o risco de mais pessoas falecerem. Algumas se internaram para o tratamento da Covid-19 e se recuperaram, mas se recuperaram com um grau de sofrimento muito grande. Existem mães que perderam filhos e mães que tiveram filhos e esperaram um mês para vê-los. Depois da pandemia, todo mundo de alguma forma foi atingido”, comenta a psiquiatra.

Já no recorte das nações em que a população menos sente os sintomas de depressão, a pesquisa mostra que chineses (4%), japoneses e franceses (5%), e por fim os alemães (8%), são os povos menos deprimidos. Ainda segundo o Instituto Ipsos, a pesquisa aponta que, no Brasil, apenas 22% dos entrevistados disseram que não foram impactados por nenhum dos problemas identificados no estudo.

O próprio Ministério da Saúde brasileiro oficializou, publicamente, sua preocupação com a piora dos índices de problemas emocionais atribuídos aos efeitos da pandemia. A pasta realizou a “Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico COVID-19 (Vigitel)” e apresentou, no fim de maio, seus resultados, entre eles os oriundos da saúde mental da população. Segundo o Ministério da Saúde, mais de 2 mil pessoas foram ouvidas neste estudo. Confira, a seguir, os problemas relacionados à saúde mental que incomodaram os cidadãos entrevistados no levantamento e seus respectivos percentuais das pessoas afetadas:

Após os resultados oriundos da Vigitel, o diretor do Departamento de Análise em Saúde e Vigilância em Doenças Não Transmissíveis do Ministério da Saúde, Eduardo Macário, reforçou a necessidade de o Brasil oferecer atenção especial às questões de ordem mental, segundo ele, em alguns momentos colocadas de “lado”. Para o diretor, “eventos relacionados à saúde mental muitas vezes são colocados de lado numa situação como a que estamos vivendo”. Ele complementa: “Mas é fundamental serem monitorados e acompanhados”.

Cresce o número de atendimentos psiquiátricos durante a pandemia

Pesquisa da Associação Brasileira de Psiquiatria, a ABP, realizada em maio deste ano, identificou que, entre seus médicos associados, 47,9% dos entrevistados notaram aumento em seus atendimentos após o início da propagação do novo coronavírus. Levando em consideração esse grupo, o levantamento revelou um crescimento de até 25% nos atendimentos, quando comparados ao período anterior à pandemia para cerca de um terço dos participantes.

Um dos objetivos do trabalho estatístico da ABP foi identificar os atendimentos a novos pacientes. De acordo com a Associação, quase 68% dos psiquiatras entrevistados receberam pacientes novos após o começo da pandemia; são pessoas que nunca apresentaram sintomas psiquiátricos anteriormente. A apuração do estudo informa também que 69,3% dos médicos disseram que receberam pessoas que já haviam tido alta médica, porém, sofreram o reaparecimento de seus sintomas mentais; esses pacientes voltaram aos consultórios ou realizaram novos contatos para atendimentos. Ao todo, médicos de 23 estados, além do Distrito Federal, participaram da avaliação.

Arte: João de Lima/LeiaJáImagens

O levantamento da ABP, no que diz respeito aos médicos que não notaram aumento nos atendimentos, identificou um cenário contrário ao mencionado anteriormente: queda na quantidade de demandas. Esse decréscimo, no entanto, também pode ser entendido como uma consequência da proliferação do novo coronavírus, uma vez que entre os principais motivos revelados sobre a queda, está a interrupção do tratamento porque o paciente sente medo de sair de casa e ser contaminado pela Covid-19. Diminuíram, claramente, atendimentos às pessoas do grupo de risco, tais como idosos e brasileiros afetados por comorbidades, bem como foram empecilhos para os acolhimentos presenciais as restrições de circulação determinadas pelo poder público em algumas cidades.

"Essa pesquisa identificou dois cenários preocupantes como consequência de uma única possibilidade. O aumento dos atendimentos foi motivado, em sua maioria, pelo agravamento dos transtornos ou desenvolvimento de novas patologias psiquiátricas devido ao medo da Covid-19. Entretanto, a redução dos atendimentos àqueles que assim identificaram também se deve ao medo da contaminação e às estratégias para evitar o contágio", avalia o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo da Silva, conforme informações da assessoria de imprensa da entidade.

De acordo com os especialistas, a quebra da rotina também é um fator que pode potenciar desgastes emocionais na sociedade. Adaptar-se à uma nova realidade de trabalho, como nos casos do home office e das restrições impostas pelo isolamento social, é difícil e cria desafios. “Quando saímos de nossa homeostase, ou seja, o nosso modo usual de funcionamento, cognitivo, comportamental e emocional, temos que usar nossos mais nobres recursos para adaptação. É nesse sentido que muitas pessoas, ao não conseguirem fazer esse ajuste, adoecem e necessitam de atendimento especializado. É de se supor que, num momento de grande mudança e necessidade de adaptação, sintomas de ansiedade, depressão e relacionados a trauma aumentem e precisem de uma abordagem imediata", acrescenta o presidente da ABP ao site da instituição.

Sentimentos revelados

Um levantamento do Instituto de Pesquisas UNINASSAU, entidade vinculada ao Centro Universitário Maurício de Nassau, reuniu informações acerca dos efeitos do novo coronavírus na rotina de moradores do Recife. Um dos pontos abordados na capital pernambucana analisou a relação da Covid-19 com a saúde mental dos populares.

Segundo o Instituto, a pesquisa teve como objetivo “investigar a opinião da população residente na área de abrangência em relação à pandemia do novo coronavírus”. O universo do estudo corresponde a eleitores com 18 anos ou mais de idade, cujo grau de instrução vai do ensino fundamental incompleto ao nível superior concluído, entre outras características. No total, foram realizadas 628 entrevistas, no período de 11 a 14 de junho de 2020

Ao questionar os entrevistados sobre questões ligadas à saúde mental em meio à pandemia, a pesquisa reuniu vários sentimentos. As revelações expressaram incertezas quanto ao futuro, medos, angústias, entre outros declínios emocionais demonstrados pelos cidadãos. Acompanhe informações apuradas pela pesquisa no vídeo a seguir. Também registramos o comentário da psiquiatra Catarina Moraes, médica associada à Sociedade Pernambucana de Psiquiatria, acerca dos efeitos pandêmicos nas questões psicológicas.

Indicativos ou transtornos em vítimas da Covid-19

Pesquisadores e profissionais da saúde já admitem que pessoas acometidas pelo novo coronavírus podem desenvolver transtornos mentais e até problemas neurológicos. Um estudo da Universidade Oxford, da Inglaterra, publicado no dia 16 de agosto, revelou que uma em cada 16 vítimas da Covid-19 desenvolveu alguma espécie de transtorno mental no período de três meses após a doença. Segundo a pesquisa, o risco é duas vezes maior para as pessoas que necessitaram de hospitalização por causa dos efeitos do vírus.

A pesquisa da Universidade de Oxford avaliou mais de 60 mil pessoas que apresentaram recuperação após o diagnóstico do vírus pandêmico, bem como o estudo científico identificou que indivíduos que já apresentam doença mental têm um risco maior de serem acometidos pela Covid-19. Nas avalições, foram realizadas comparações com o surgimento de transtornos durante o tratamento de outras enfermidades, entre elas infecções respiratórias e de pele, pedra na vesícula e nos rins, fraturas consideradas graves e influenza.

O estudo da universidade inglesa somou seus resultados aos de outras pesquisas que também provaram relação entre transtornos mentais e o novo coronavírus. Cientistas ainda apontam que, mesmo sendo uma doença nova, cujo vírus acomete pessoas de faixas etárias diferentes, a Covid-19 pode castigar o cérebro e o sistema vascular, além do coração, pulmões, intestino e os rins.

Em outra conclusão científica, pesquisadores da University College London (UCL), de Londres, publicaram um artigo, em julho deste ano, em que mostra uma análise de 43 pessoas vitimadas pelo novo coronavírus. Segundo o artigo, os pacientes apresentaram complicações neurológicas, tais como psicose, delírio, tremores e até danos ao cérebro, ocasionando derrame.

A comunidade científica brasileira também tem desenvolvido importantes estudos acerca da relação da pandemia com a sanidade mental da população. A Universidade de Fortaleza (Unifor), por exemplo, realizou uma pesquisa que tem como principal questionamento “Quais os impactos psicossociais que a pandemia do novo coronavírus tem causado na saúde mental do brasileiro?”. O trabalho foi financiado pela Fundação Edson Queiroz, por meio da Diretoria de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (DPDI).

De acordo com a Unifor, a pesquisa revelou que os piores índices de saúde mental aconteceram com pessoas que já foram diagnosticadas com a Covid-19, além das que integram o grupo de risco, residem com pessoas desse grupo ou concordam com o isolamento social indicado pelos órgãos competentes. O mesmo estudo mostrou também que apresentaram maiores indícios de adoecimento as pessoas em maior nível de adesão aos protocolos de combate à pandemia.

Em entrevista ao LeiaJá, a coordenadora do projeto de pesquisa e professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGP) da Universidade de Fortaleza, Cynthia Melo, explanou os resultados dos principais pontos do estudo. Uma das constatações indica que quem teve Covid-19 apresentou maior nível de ansiedade. Para a docente, isso se explica pelo fato de que as vítimas vivenciaram um risco alto de óbito. “É uma possibilidade de morte muito maior do que quem não teve a doença. Essa pessoa sabe da gravidade da doença mais de perto do que os outros”, esclarece.

Cynthia Melo é coordenadora do estudo desenvolvido pela Universidade de Fortaleza. Foto: Cortesia

O estudo da Unifor indicou, ainda, que os entrevistados que moram com pessoas do grupo de risco apresentaram mais indícios de adoecimento mental. De acordo com a coordenadora da pesquisa, uma das hipóteses para esse resultado é que os indivíduos temem sair de casa com receio de se contaminar com o novo coronavírus e, se saírem, colocarão em risco todas as pessoas com as quais moram. Há, portanto, um clima de tensão.

Em outro recorte do levantamento, foi identificado que quem concorda com o isolamento social apresenta indicadores de pior saúde mental. No entanto, a professora Cynthia alerta veemente que o isolamento é uma estratégia fundamental no combate à Covid-19, devendo, portanto, ser respeitado e praticado conforme as orientações da Organização Mundial da Saúde.

“O isolamento e o distanciamento social, apesar de necessários - devendo ser respeitados para a contenção da doença -, podem causar estresse. Por esses e outros fatos, a pandemia nos convoca a cuidados com a saúde mental. Além de ser um problema de crise epidemiológica com alto nível de contágio e de mortalidade, ela também é uma crise do ponto de vista psicológico. Tudo que envolve a doença, sensação de vulnerabilidade, risco de morte, incertezas sobre o futuro e isolamento, é adoecedor”, explica a professora.

A docente continua sua fala orientando a população sobre ações que contribuem para o bem-estar social durante o isolamento: “Para a população, existe a necessidade de se cuidar, de se prevenir, organizando os espaços da casa; tem o lugar certo para cada coisa, organizando a rotina, melhorando a ambientação do lar e fazendo uso de espaços verdes. Tenha hábitos que fazem bem, tais como aula de exercício físico ou assistindo uma live de um cantor que você gosta, ou conversando com os amigos em vídeo conferência. Pode estudar, ver um filme. Conseguimos manter essas práticas de forma adaptada. Além disso, algumas cidades abriram os espaços públicos; existem espaços verdes que são muito bons para serem usados, com liberdade e sem colocar os outros em risco, respeitando o distanciamento”.

No total, 2.705 brasileiros participaram da pesquisa da Universidade de Fortaleza. Além de Cynthia Melo, outros professores – doutores - trabalharam no levantamento e na análise das informações reveladas pelos entrevistados, bem como contribuíram para o projeto alunos de mestrado e doutorado do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Unifor. A coordenadora ressalta que o estudo apresenta indicadores de depressão, ansiedade e estresse, mas não crava que, de fato, as pessoas ouvidas sofrem literalmente esses transtornos mentais, porque, para a conclusão dos diagnósticos, devem ser feitas avaliações contínuas com instrumentos psicossociais.

A história e o anseio humano pelo bem-estar mental

Somos movidos a realizações. Buscamos - às vezes desenfreadamente - conquistas pessoais e profissionais, assim como bem-estar físico e mental. Nesse processo, porém, as pessoas podem encarar de diferentes formas êxitos, frustrações e problemas. Historicamente, a humanidade viveu desafios, transformações sociais, conflitos e fatos – acontecimentos históricos com impactos na condição mental dos indivíduos -, ao mesmo tempo em que caminha ao encontro da paz física e emocional.

A Organização Mundial da Saúde define saúde mental como um “estado de bem-estar em que o indivíduo percebe suas próprias habilidades, pode lidar com os estresses normais da vida, pode funcionar de forma produtiva e frutífera e é capaz de dar uma contribuição para sua comunidade”.

“O ser humano sempre está, de certa forma, em busca de uma felicidade, de bem-estar, de ter satisfação na vida. Isso acontece desde a primeira infância, depois na pré-adolescência, adolescência, vida adulta e entre os idosos. O ser humano tem algo dentro de si que vai buscando sentindo na vida, seja na escolha profissional ou mesmo na criança, por exemplo, quando ela faz a escolha de jogos que dão prazer. É a relação com a vida que tenha significado. Quando isso não acontece, os problemas aparecem. Problemas emocionais, sofrimentos, isso faz parte da vida humana, só que quando esses sofrimentos acabam por incapacitar as pessoas de trabalhar, estudar, de conviver em grupo, acabam se tornando transtornos, muitos deles de base genética, com componente hereditário muito forte”, comenta o professor da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Instituto de Psicologia da instituição de ensino, Andrés Eduardo Aguirre Antúnez, em entrevista ao LeiaJá.

Andrés Eduardo Aguirre Antúnez, coordenador do Instituto de Psicologia da USP, alerta que problemas emocionais fazem parte da vida humana. Porém, quando começam a incapacitar as pessoas, eles podem virar transtornos mentais. Foto: Cortesia

Na corrida pelo bem-estar mental e físico, há pessoas que sentem a necessidade de expor à sociedade essa condição de realização humana. No entanto, isso não quer dizer que, verdadeiramente, elas vivenciam esse bem-estar. “Vários sociólogos falam que a gente vive em uma sociedade acelerada, cansada, ou a sociedade dos espetáculos. A gente tem hoje um ritmo acelerado de cotidiano. Você é acordado por um despertador, pula da cama, se arruma e vai trabalhar. E depois volta, corre, vem e vai. Você não tem tempo para o outro, não tem tempo para pensar no seu dia, no seu cotidiano, na sua vida. Ao mesmo tempo, a gente vive na sociedade dos espetáculos. É essa sociedade em que eu posso até não viver bem, mas eu tenho que mostrar, aparecer que estou bem. No Orkut, Facebook e Instagram. Às vezes, a gente está em um restaurante, e você vê um casal, amigos, cada um com o seu celular e não vivem o momento. Às vezes nem estou curtindo o restaurante, mas já estou ali fazendo uma foto para mostrar que estou no restaurante, mesmo que fisicamente apenas. É a sociedade que mostra que está tudo perfeito e as relações são muito descartáveis. Como dizem os jovens nas relações amorosas, a fila não anda, ela voa. As coisas vão girando. E no meio da Covid-19, essa sociedade se viu obrigada a parar. Pela primeira vez, nós fomos obrigados a parar”, reflete Cynthia Melo, professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade de Fortaleza.

O filósofo coreano Byung-chul Han defende a ideia de que a sociedade contemporânea é marcada por um excesso de positividade. Para o estudioso, essa característica pode resultar em patologias psicológicas. “O que causa a depressão do esgotamento não é o imperativo de obedecer apenas a si mesmo, mas a pressão de desempenho. O que torna doente, na realidade, não é o excesso de responsabilidade e iniciativa, mas o imperativo do desempenho como um novo mandato da sociedade pós-moderna do trabalho”, defende o filósofo.

O estudioso continua: “Mas em relação à elevação da produtividade não há qualquer ruptura: há apenas continuidade. Alain Ehrenberg localiza a depressão na passagem da sociedade disciplinar para a sociedade de desempenho: 'A carreira da depressão começa no instante em que o modelo disciplinar de controle comportamental, que, autoritária e proibitivamente, estabeleceu seu papel às classes sociais e aos dois gêneros, foi abolido em favor de uma norma que incita cada um à iniciativa pessoal: em que cada um se comprometa a tornar-se ele mesmo. O depressivo não está cheio, no limite, mas está esgotado pelo esforço de ter de ser ele mesmo”. No áudio a seguir, o professor de filosofia e sociologia João Pedro Holanda traz mais detalhes acerca das ideias de Byung-chul Han. Clique na barra cinza:

Nos registros históricos, existem descrições de como o homem debatia questões sobre saúde mental. “Essa discussão sobre saúde mental é anterior à Segunda Guerra Mundial, porque já no final do século 19, começam a chegar discussões sobre isso. Freud já discutia a questão do homem moderno e as questões relativas ao mundo moderno, que têm muito do impacto da Revolução Industrial. Com os efeitos da Primeira Guerra Mundial, aconteceram os famosos traumas de guerra, resultando no aumento dessas discussões. O próprio Freud tratou alguns soldados. Alguns livros são bem emblemáticos sobre isso, como ‘Nada de novo no front’, escrito por Erich Maria Remarque, ex-soldado que vivenciou os conflitos. É um romance de um autor que lutou na guerra, em que ele fala como era o cotidiano no front e como isso impactava os soldados”, explica a professora de história Thais Almeida. “Essas discussões, porém, ganham os espaços públicos a partir da década de 50, após a Segunda Guerra Mundial. Foucault, por exemplo, publica o livro ‘História da Loucura’ em 1961”, complementa a docente.

Para o médico psiquiatra e historiador da Associação Brasileira de Psiquiatria, Walmor Piccinini, cuja atuação na medicina soma 54 anos de experiência, a Segunda Guerra Mundial marcou de maneira emblemática a psiquiatria. “No meu ponto de vista, embora a gente possa traçar vários aspectos filosóficos, a Segunda Guerra Mundial mudou a maneira de se olhar os problemas emocionais e mentais, porque os psiquiatras aprenderam a lidar com os soldados em estado de choque, em estado de crise, e a lidar de uma forma de recuperá-los para eles voltarem ao combate. Durante a guerra, não se fazia mais internamentos em hospitais, o atendimento era feito na linha de frente, e isso mudou a maneira de se ver o doente, porque, até então, o doente mental era recolhido para o asilo e lá ele era isolado. Depois da Segunda Guerra Mundial, surgiram medicamentos”, explica Piccinini.

De acordo com o historiador da ABP, a partir dos anos 90 a depressão passou a ter um crescimento expressivo. “Também a partir dos anos 90, existe um lado bem concreto disso tudo, que é o aumento das licenças médicas para o trabalho por depressão. Nós tivemos um esvaziamento dos hospitais psiquiátricos, a maioria das pessoas foi tratada nas comunidades com antipsicóticos, antidepressivos e ansiolíticos. Isso aconteceu em todo o mundo”, recorda o médico psiquiatra.

Outras pandemias, ao longo da história, também desencadearam efeitos de ordem mental na sociedade. Há mais de dez anos, a proliferação da H1NI deixou sequelas físicas e, consequentemente, emocionais nos acometidos pela doença, segundo pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. De acordo com o estudo, metade das pessoas diagnosticadas com o vírus teve ansiedade, 25% apresentou depressão e em 40% dos pacientes foi identificado risco de transtorno pós-traumático. Por outro lado, ao analisarem o período após a epidemia de SARS na Ásia, ocorrida em 2003, os estudiosos documentaram um sentimento positivo: 60% dos pacientes passaram a valorizar mais a família, em uma comprovação de que, o isolamento social também pode aproximar as pessoas e fomentar uma atmosfera de solidariedade e união.

Acolhimentos e estratégias em prol da sanidade mental em meio à Covid-19

Sob o risco de uma crise global de ordem mental, instituições públicas e privadas tentam intensificar acolhimentos psicológicos e psiquiátricos durante a pandemia do novo coronavírus. Muitos profissionais realizam atendimentos de forma remota, uma vez que os serviços estão autorizados nesse formato durante a pandemia, em virtude da necessidade de manter o distanciamento social. A Lei 13.989/2020 regulamenta e autoriza a telemedicina nesse período, assim como os respectivos conselhos regionais de psicologia, orientados pelo Conselho Federal da área, permitiram os acolhimentos por meio de comunicação a distância.

Um dos serviços de acolhimentos remotos é desenvolvido em Campina Grande, na Paraíba, por meio do trabalho da Clínica Escola da UNINASSAU – Centro Universitário Maurício de Nassau. Antes mesmo da pandemia, a instituição de ensino oferecia atendimentos psicológicos presenciais de forma gratuita à comunidade acadêmica e ao público externo, porém, após o agravamento da Covid-19 no Brasil e da necessidade de valorizar o distanciamento social, o projeto passou a disponibilizar escutas de forma on-line, mediante a marcação dos interessados por meio da internet. O serviço se manteve sem custo para os usuários.

A psicóloga do serviço de acolhimento da UNINASSAU, Carla Correia, explica que os atendimentos anteriores à pandemia continuam sendo feitos, mas de maneira remota, somados às novas demandas advindas do período pandêmico. “A gente já oferecida os serviços presencialmente. Com a pandemia e diante da preocupação da universidade com a saúde mental dos alunos, colaboradores e da comunidade, sentimos a necessidade de estender o serviço e dar continuidade às escutas de forma on-line. Como o Conselho Federal de Psicologia permite, os psicólogos puderam atender de forma remota. Para isso, é preciso fazer um cadastro no e-Psi, um site do Conselho. Pessoas da Paraíba, Bahia, Pernambuco, Alagoas, entre outros estados, estão sendo atendidas no nosso projeto. O atendimento é realizado por meio de vídeo chamadas”, explana a psicóloga. De abril deste ano até agosto, mais de 160 pessoas foram acolhidas pela iniciativa, apresentando, principalmente, sintomas relacionados à depressão e ansiedade. “A própria pandemia desencadeou muitos sintomas obsessivos compulsivos, como na questão de aferir a temperatura repetidamente, por várias vezes ao dia. Na ansiedade, por exemplo, uma das características é a falta de ar e, em alguns momentos, nessa falta de ar, as pessoas se confundiam com alguns sintomas da Covid-19. Muitas vezes não tinham relação com o vírus e sim era algo relacionado à ansiedade. Notamos intensificação do medo, da insegurança. Tivemos pacientes de todas as faixas etárias, a partir de 18 anos; foi algo bem misto”, acrescenta Carla Correia.

Na visão da psicóloga, o atendimento remoto, diante do cenário difícil imposto pelo novo coronavírus, surge como uma alternativa importante para os acolhimentos dos pacientes. “Foi algo realmente novo para alguns profissionais, visto que o atendimento on-line só se dava apenas em alguma vezes, quando, por exemplo, um paciente viajava. No atendimento remoto, o lugar do paciente e do psicólogo não se altera, visto que é a fala - o que está sendo dito - que é relevante. Diante desse momento de pandemia, o atendimento on-line veio realmente para somar”, opina.

De acordo com o Conselho Federal de Psicologia (CFP), o Brasil tem registrados 375 mil psicólogos. Diante da proliferação do novo coronavírus e consequentemente da necessidade de realização dos atendimentos psicológicos de maneira remota, o site e-Psi – plataforma de cadastro dos profissionais que almejam atender remotamente – registrou um crescimento superior a 800%.

No âmbito do poder público, a Prefeitura de Olinda, na Região Metropolitana do Recife, por exemplo, é uma das gestões municipais que oferecem acolhimento remoto a pessoas com sofrimento mental durante a pandemia, além de encaminhamentos para aportes presenciais quando necessário. No caso de Olinda, a cidade é integrada à Rede de Atenção Psicossocial preconizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), cujo funcionamento ocorria antes mesmo da Covid-19. A partir da pandemia, em março deste ano, foram necessários ajustes na oferta dos serviços, porque com o isolamento social, as escutas precisaram ser feitas em formato remoto, bem como os profissionais da rede municipal previram que com as mudanças bruscas ocasionadas pela propagação do vírus, havia o risco de aumento nos números de casos relacionados à saúde mental entre a população.

Segundo a coordenadora de saúde mental da Secretaria de Saúde da Prefeitura de Olinda, Cíntia Mota, os teleatendimentos foram oferecidos, desde marco, a pessoas que, antes do contexto pandêmico, não apresentavam sintomas de transtornos emocionais. “Nós deixamos disponíveis dez números telefônicos, dos quais dois foram específicos para profissionais de saúde, porque a gente também percebeu um aumento desses profissionais em sofrimento mental, alguns na linha de frente do combate ao coronavírus”, explica a coordenadora. 

Também houve aumento de demanda nos atendimentos presenciais nos três Centros de Atenção Psicossocial (Caps) do município. “O acolhimento individual presencial começou a aumentar muito. Em um Caps que a gente tinha por dia de cinco a dez acolhimentos de porta aberta, chegamos a ter 25 pessoas e um único dia, para que a equipe pudesse dar conta de fazer o primeiro atendimento, acolhimento e orientação. Na população em geral, sintomas de ansiedade estão muito presentes. Sintomas ligados a depressão também aumentaram, assim como as ideações suicidas, que são outras questões ligadas a sofrimento mental”, detalha Cíntia.

De acordo com a Prefeitura de Olinda, cerca de 2 mil intervenções são realizadas por mês em cada Caps da cidade. No que diz respeito especificamente aos teleatendimentos como suporte psicológico durante a pandemia de Covid-19, mais de 600 acolhimentos foram registrados até o momento. No áudio a seguir, em entrevista ao LeiaJá, a coordenadora de saúde mental detalha como são feitas as escutas telefônicas:

Cíntia ainda alerta que os usuários do SUS não devem ter preconceito contra os atendimentos psicossociais, uma vez que, principalmente no atual cenário, qualquer pessoa corre o risco de sofrer desgaste emocional. “A gente previu que isso aconteceria e criamos estratégias para atender a essa população mesmo de forma isolada. Costumo dizer que produzimos em 2020 mais tecnologias de cuidado do que anos atrás. Em saúde mental, ainda existe muito preconceito no acesso a serviços especializados, porque a gente tem o adoecimento mental distante das nossas vidas, como se a gente não estivesse propenso a isso. E a pandemia aproximou muito a população geral ao sofrimento mental. Ou seja, eu posso adoecer porque não estou preparado para todas as dificuldades da vida. Por mais que tenhamos um repertório de estratégias para lidar com as dificuldades, a pandemia apresentou um cenário muito novo, de muita incerteza, que causou muito sofrimento”, comenta a coordenadora de saúde mental de Olinda.

Os teleatendimentos são gratuitos e estão disponíveis de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, mesmo horário de funcionamento dos Caps. Confira os endereços dos Centros de Atenção Psicossocial, além dos números para contatos no teleatendimento.

Recife, cidade-irmã de Olinda, também apostou no teleatendimento psicossocial para tentar diminuir as dores emocionais da população. Por meio da Secretaria de Saúde da capital pernambucana, o serviço foi batizado de “teleacolhimento” e, desde março deste ano, oferece escutas gratuitas via vídeos e telefones a pessoas que estão sentindo impactos na saúde mental. Os agendamentos são realizados por meio da ferramenta Atende em Casa, criada pelo poder público com a finalidade de promover atendimentos iniciais em formato digital, direcionando os usuários para profissionais de saúde que dão orientações em casos suspeitos de Covid-19. Após passar por um questionário, o público é perguntado se precisa de apoio emocional; havendo resposta positiva, é feito o direcionamento ao teleacolhimento.

Segundo a coordenadora do serviço, Angélica Oliveira, mais de 2 mil atendimentos relacionados a sofrimento mental foram realizados até o momento. Além do agendamento para o público geral, existe um e-mail exclusivo para profissionais da rede municipal de saúde do Recife, que estão atuando na linha de frente contra o novo coronavírus.

Angélica Oliveira, coordenadora do teleacolhimento oferecido pela Secretaria de Saúde do Recife. Foto: Nathan Santos/LeiaJáImagens

“O que mais aparecem são ansiedade, depressão e, de junho para cá, começou a surgir muito luto, pessoas sofrendo pela perda de parentes. Há muito medo de pegar a Covid e medo de perder o emprego. Por isso que o apoio é psicossocial, porque existem muitos problemas de ordem financeira”, explica a coordenadora.

O projeto conta com um trabalho multiprofissional, envolvendo 80 servidores municipais, como psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, entre outras funções. A coordenadora do teleacolhimento ressalta que o serviço não oferece consultas e nem receita medicamentos, pois, para isso, são necessárias avaliações presenciais e criteriosas com médicos psiquiatras da rede municipal de saúde ou em hospitais privados. “Por isso que nós chamamos de acolhimento psicossocial”, enfatiza Angélica, complementando que, havendo necessidade, os usuários podem ser encaminhados para os serviços presenciais. “É uma escuta qualificada e, quando necessário, fazemos o encaminhamento com qualidade, fazendo o contato com o serviço; a gente diz como a pessoa vai chegar e passa os contatos. Fazemos toda uma regulação desse cuidado para que quando ele – usuário - chegue no lugar do atendimento presencial, o local já esteja sabendo e o atenda de uma forma benéfica. É um trabalho integrado”, acrescenta Angélica.

Ainda de acordo com a coordenadora do teleacolhimento, os atendimentos específicos aos profissionais de saúde devem ocorrer de maneira continuada. “A gente está com uma demanda, desde junho, regular de profissionais que apresentam todos os tipos de sofrimento, tais como medo de pegar a Covid-19 e porque estão na linha de frente. Esse acompanhamento vai durar até o final da pandemia”, finaliza.

O cidadão que necessita do aporte psicológico, dependendo da situação, pode ser acolhido em mais de uma ligação ou vídeo. Caso apresente sofrimento grave, ele deve, ainda, ser encaminhado a um serviço presencial. O teleacolhimento está disponível de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Veja endereços dos Caps, indicados a quem precisa de socorro presencial.

No vídeo a seguir, a coordenadora – e psicóloga de formação - do teleacolhimento dá mais detalhes a respeito do serviço, bem como revela dicas sobre como a sociedade pode combater desgastes psicológicos. Também participa da entrevista o assistente social Airles Ribeiro, que divide com Angélica a coordenação do teleatendimento da Prefeitura do Recife. Assista:

Quarta onda – Entre os profissionais de saúde mental, existe um entendimento de que os efeitos da pandemia da Covid-19 desencadearam uma nova “onda”. Miriam Gorender, professora de psiquiatria da Universidade Federal da Bahia (UFBA), detalhada as etapas: “A primeira onda é da doença em si. A segunda seria das complicações trazidas pela doença, como pessoas que ficam com lesões no pulmão, neurológicas e cardiológicas. Você tem ainda uma terceira onda das pessoas que adoecem de enfermidades que vinham sendo tratadas, como diabetes e pressão alta, e que deixam de ser tratadas porque toda a atenção está na Covid-19. Nesse caso, a pessoa fica com medo de ir ao médico, se consultar para continuar o seu tratamento, ou não tem uma UTI. A quarta onda é de doença mental, que deve acompanhar a gente por muitos anos, porque doença mental é crônica”.

Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo da Silva reitera o alerta e enfatiza a necessidade de ações imediatas. "A quarta onda, que é a onda das doenças mentais, já chegou e não temos mais tempo a perder. Temos que atuar firmemente para minimizar os prejuízos que todos terão deste momento, monitorando a saúde mental da população e o atendimento psiquiátrico”, defende Antônio.

Durante entrevista ao LeiaJá, a psiquiatra Fátima Vasconcelos – também vinculada à ABP – elencou uma série de atitudes que podem ajudar as pessoas, mesmo em casa, a tentar diminuir os impactos emocionais e o agravamento de casos da quarta onda. A médica alerta, porém, que não se trata de uma receita pronta, uma vez que nem todas as atividades são indicadas a todas as pessoas de maneira generalizada, já que cada indivíduo tem suas preferências cotidianas e particularidades. Acompanhe as dicas:

1 – Crie uma rotina: você irá sentir-se mais calmo e no controle de suas emoções; leia livros, veja televisão, filmes, series, documentários, mas evite ficar o tempo todo vendo notícias. É importante se informar, mas, o excesso de informação gera estresse. Ao invés disso, ligue para seus amigos e sua família. Uma rede de suporte social faz toda a diferença. A solidão pode levar a depressão.

No home office, crie uma rotina. Acorde, vista uma roupa confortável e comece seu o trabalho, mas, estabeleça horários. Para se distrair, jogue com crianças e idosos – desde que preservados os protocolos de saúde -, respeitando suas preferências. Um dos aspectos positivos do “fique em casa” foi a maior aproximação das famílias, que estão em home office e podem conviver mais com seus filhos e pais.

2 – Faça atividades físicas: caso não tenha a orientação de um profissional, a pessoa pode optar por realizar exercícios simples, como pular corda, realizar apoios, abdominais, agachamentos e polichinelos. É indicado variar o tipo de treino a cada dia, evitando a monotonia. Este tipo de atividade pode ser realizado tanto por adultos quanto por idosos que não possuam nenhuma doença cardiovascular, respiratória ou nas articulações.

3 – Mantenha uma boa alimentação: alimentar-se de forma saudável é fundamental para superar essa pandemia. Uma dieta equilibrada evita não apenas o ganho de quilos extras, garante também uma boa imunidade do corpo. Sendo assim, evite refrigerantes, doces e pratos gordurosos. Dê preferência aos alimentos naturais como frutas, verduras, vegetais e cereais e beba bastante água. O ideal mesmo é procurar um nutricionista para montar uma dieta adequada às necessidades do seu corpo. Evite bebidas alcoólicas. Definitivamente, neste momento não abuse de bebidas.

4 – Durma bem: é quase impossível dormir quando se está ansioso ou preocupado. Uma boa ideia para regular o sono é manter-se ativo durante o dia. Quanto mais atividades físicas fizer, mais cansado ficará e melhor será o seu sono e, por consequência, sua saúde.

5 - Tenha uma boa rotina de higiene: se for necessário quebrar o isolamento social, siga estes passos: use máscara quando sair; carregue álcool em gel a 70% para higienizar as mãos na rua; lave bem as mãos quando voltar; retire os sapatos na porta de casa; coloque as roupas usadas para lavar; tome um banho e lave os cabelos. Além disso, higienize tudo que veio do supermercado e mantenha a casa sempre limpa, inclusive maçanetas, puxadores e controles remotos. Lavar as mãos antes de preparar os alimentos sempre foi um hábito básico de higiene, mas é necessário reforçar essa dica em tempos de coronavírus.

Também em entrevista ao LeiaJá, o coordenador do Instituto de Psicologia da USP, Andrés Eduardo Aguirre Antúnez, destacou orientações para a população que corre risco de sofrimento mental. Entre elas está a busca de informações em fontes confiáveis, como as produzidas pelos cientistas das universidades. Para casos graves, o coordenador também exalta o trabalho do CVV - Centro de Valorização da Vida, por meio do telefone 188. Ouças as dicas no áudio a seguir:

O médico psiquiatra Walmor Piccinini compactua da ideia que é importante filtrar informações sobre o novo coronavírus. Receber um fluxo intenso de notícias negativas pode potencializar adoecimento psicológico, segundo o especialista. “As pessoas têm que evitar passar o dia inteiro presas no WhatsApp, na tevê, recebendo informações negativas. É preciso preservar a sanidade. Não se deixar bombardear por informações negativas. Também não adianta imaginar soluções mágicas: a pessoa tem que ter tranquilidade e saber o melhor a fazer no momento. Ficar mais em casa, se for possível, evitar o contato, diminuir essa ansiedade de ir à praia, de ir a um mercado, enfim, a pessoa deve se expor o menos possível tanto psicologicamente e quanto fisicamente. É indicado ouvir uma boa música, brincar com os filhos”, aconselha Piccinini.

A Associação Brasileira de Psiquiatria divulgou, em seu site oficial, uma série de orientações para a população e profissionais de saúde que devem ser compartilhadas durante a pandemia. "Com o intuito de orientar seus associados e a população em geral, a ABP tem publicado informações voltadas aos cuidados em saúde, tanto física quanto mental, direcionadas aos diversos públicos que a acompanham", destaca a ABP. Também no site da instituição, foi publicado um comunicado com o presidente da Associação; confira no vídeo produzido pela entidade:

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), umas das instituições mais atuantes no combate à pandemia de Covid-19, por meio do seu Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (CEPEDES), publicou o documento em que traz recomendações à população. Intitulada “Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Pandemia COVID-19”, a publicação explica por que estamos sob o risco de uma carga grande de estresse.

“Durante uma pandemia é esperado que estejamos frequentemente em estado de alerta, preocupados, confusos, estressados e com sensação de falta de controle frente às incertezas do momento. Estima-se, que entre um terço e metade da população exposta a uma epidemia pode vir a sofrer alguma manifestação psicopatológica, caso não seja feita nenhuma intervenção de cuidado específico para as reações e sintomas manifestados. Os fatores que influenciam o impacto psicossocial estão relacionados a magnitude da epidemia e o grau de vulnerabilidade em que a pessoa se encontra no momento”, diz um trecho do documento.

Segundo as orientações da Fiocruz, a sociedade deve seguir ações de cuidado psíquico. São elas:

“Retomar estratégias e ferramentas de cuidado que tenham usado em momentos de crise ou sofrimento e ações que trouxeram sensação de maior estabilidade emocional;

Investir em exercícios e ações que auxiliem na redução do nível de estresse agudo (meditação, leitura, exercícios de respiração, entre outros mecanismos que auxiliem a situar o pensamento no momento presente, bem como estimular a retomada de experiências e habilidades usadas em tempos difíceis do passado para gerenciar emoções durante a epidemia);

Se você estiver trabalhando durante a epidemia, fique atento a suas necessidades básicas, garanta pausas sistemáticas durante o trabalho (se possível em um local calmo e relaxante) e entre os turnos. Evite o isolamento junto a sua rede socioafetiva, mantendo contato, mesmo que virtual;

Caso seja estigmatizado por medo de contágio, compreenda que não é pessoal, mas fruto do medo e do estresse causado pela pandemia, busque colegas de trabalho e supervisores que possam compartilhar das mesmas dificuldades, buscando soluções compartilhadas; investir e estimular ações compartilhadas de cuidado, evocando a sensação de pertença social (como as ações solidárias e de cuidado familiar e comunitário);

Reenquadrar os planos e estratégias de vida, de forma a seguir produzindo planos de forma adaptada às condições associadas a pandemia;

Manter ativa a rede socioafetiva, estabelecendo contato, mesmo que virtual, com familiares, amigos e colegas; evitar o uso do tabaco, álcool ou outras drogas para lidar com as emoções;

Buscar um profissional de saúde quando as estratégias utilizadas não estiverem sendo suficientes para sua estabilização emocional;

Buscar fontes confiáveis de informação como o site da Organização Mundial da Saúde; reduzir o tempo que passa assistindo ou ouvindo coberturas midiáticas;

Compartilhar as ações e estratégias de cuidado e solidariedade, a fim de aumentar a sensação de pertença e conforto social; estimular o espírito solidário e incentivar a participação da comunidade”.

Ainda de acordo com a Fiocruz, “caso as estratégias recomendadas não sejam suficientes para o processo de estabilização emocional, busque auxílio de um profissional de Saúde Mental e Atenção Psicossocial (SMAPS) para receber orientações específicas”. Leia o documento na íntegra.

De acordo com a presidente do Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco (CRP-02), Alda Roberta Campos, é preciso deixar claro que sofrimento psíquico é algo comum em meio ao cenário conturbado da pandemia. “Sofrimento psíquico todo ser humano tem, uns mais, outros menos. Em um momento de pandemia, todo mundo vai sofrer de algum jeito, pelo medo, dificuldade de sono, aumento de ansiedade, diminuição ou aumento de apetite. Vai ter interferência na vida, ninguém está imune ao sofrimento psíquico. Sofrimento não é doença”, comenta a presidente.

Alda Campos orienta que o autocuidado é um comportamento importante no processo de combate ao sofrimento psíquico, uma vez que caso esse sofrimento comece a impedir que o indivíduo realize suas atividades cotidianas, como trabalho, estudos, projetos, convivência social e higiene pessoal, começarão os indícios de que a pessoa pode, de fato, estar sendo acometida por um adoecimento mental.

“Olhar para si, se autoconhecer para entender qual é a sua demanda e quais são os seus limites. O que você consegue fazer? Qual o reconhecimento do seu sentimento? A partir disso, você faz o seu projeto. Não existe uma receita de autocuidado. Oriento que olhe para você, enxergue o seu contexto. Como você pode acolher e ser acolhido? Com quem você conta? Amigos, amigas, familiares são as pessoas que você pode contar. O que você tem feito em relação à construção da rotina, para ressignificar seu dia e seu tempo? O autocuidado é isso, é olhar para si mesmo, para tornar esse período menos difícil”, explica psicóloga.

Saiba mais - No site da Organização Pan-Americana de Saúde, órgão ligado à OMS, são publicadas informações sobre autocuidados durante da pandemia de Covid-19. Entre eles, está uma série de infográficos que destacam atividades importantes para o nosso dia a dia que nos ajudam a preservar o bem-estar e, por consequência, a nossa saúde mental. Confira, a seguir, um deles:

Folheto produzido pela OMS traz orientações sobre saúde mental em meio à pandemia do novo coronavírus. Imagem: Divulgação - Opas/OMS

Atuação do poder público é necessária. Saúde é um direito de todos os brasileiros

O LeiaJá ouviu especialistas em saúde mental e fontes de entidades que representam a atuação de profissionais da área, para refletirmos a respeito de ações e políticas, por parte do poder público, que possam ajudar a população brasileira a se proteger dos sofrimentos psicológicos e do adoecimento mental. Alda Campos, presidente do Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco, compartilhou a sua análise, projetando iniciativas em prol da saúde – física e psíquica - da sociedade.

Para Alda, inicialmente é preciso compreender que o conceito de saúde envolve um bem-estar que possui várias esferas. Questões financeiras, de moradia, perspectivas de vida, acesso à transporte, alimentação saudável, lazer, educação, entre outras, são algumas dessas vertentes. Segundo a presidente do CRP-02, combater desigualdades é um dos primeiros passos para garantir o bem-estar dos cidadãos. “Quando a gente está falando de saúde mental, não estamos falando apenas de ter ou não um diagnóstico. Estamos falando de uma qualidade de vida que precisa ser cumprida diante da nossa Constituição. Na nossa Constituição Federal, saúde é um direito de todos e dever do Estado”, destaca. “A nossa orientação em relação ao poder público é que ele deve oferecer cuidado interdisciplinar e intersetorial para a população, isso quer dizer, condições de vida, acesso à educação e à água, por exemplo. Como vai lavar a mão quem não tem água? É dever do poder público promover condições melhores de moradia, de acesso à educação e à saúde”, complementa.

Na visão da presidente do Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco, a pandemia denunciou uma falta de assistência à nossa população e potencializou as diferenças e desigualdades sociais que o povo enfrenta, tais como saúde e educação precárias. Segundo Alda Campos, o Governo Federal precisa pensar um cuidado de reestruturação e reorganização social para a redução dessas desigualdades. “Essas desigualdades têm um impacto imenso na saúde mental das pessoas”, comenta Alda.

De acordo com a gestora do CRP-02, é importante que o Governo Federal, por meio dos Estados e municípios, fortaleça a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), do Sistema Único de Saúde. “Precisamos de cuidados multidisciplinares. São zelos com vários profissionais que vão ofertar cuidados interdisciplinares. O governo precisa aumentar investimentos na saúde coletiva, com acompanhamento médico, psicológico, com terapia ocupacional, assistência social, enfermagem. Cuidado não só através do SUS, mas também com o Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Proponho ações do governo que vão ofertar, por exemplo, centros de convivência, locais de apoio onde as pessoas podem pernoitar, como as pessoas em situação de rua, acessando uma alimentação adequada. A gente precisa ter trabalhos que vão fazer a oferta de profissionalização. É um cuidado geral”, complementa.

Sobre o oferecimento de profissionalização, estratégia para o campo social e, inclusive, da saúde, Alda defende que o trabalho é um instrumento essencial na vida do brasileiro. “O trabalho garante a sobrevivência e traz a ideia de perspectiva de projetos. Precisamos resgatar na população o desejo de crescimento, de sonhos, projetos. Quando a gente pensa em um trabalho psicoterápico da psicologia, buscamos tratar o outro com igualdade para ele entenda que precisa cuidar dele próprio. A população precisa mais do que cesta básica, precisa voltar à possibilidade de a pessoa desejar e querer crescer, tendo projetos e geração de renda”, opina.

Outro ponto mencionado pela psicóloga diz respeito ao sofrimento psíquico enfrentado pelos profissionais de saúde que estão na linha de frente de combate à Covid-19. Segundo o Ministério da Saúde, 257 mil profissionais de saúde foram infectados pela doença até então; 226 morreram. Na análise da presidente do CRP-02, o autocuidado é peça fundamental para que esses trabalhadores sigam firmes no acolhimento da população. “Estamos trabalhando o autocuidado, os profissionais precisam se cuidar para puder ter uma oferta de cuidado maior para o outro. A ideia do autocuidado é você poder garantir o cuidado com a sua saúde para cuidar das outas pessoas. É necessário para todas as pessoas, mais ainda para quem está na linha de frente. Terapeutas ocupacionais, enfermeiros, técnicos em enfermagem, assistentes sociais, médicos, todos os profissionais que estão tendo cuidado direto com a população que está buscando saúde. Vigilantes, pessoal da cozinha, copa, pessoal da limpeza, nutricionistas, pessoas na reta guarda e na linha de frente dos hospitais também precisam desse cuidado, porque é um sistema de saúde composto por uma série de profissionais que estão envolvidos. Todo mundo precisa dessa atenção, acolhimento e escuta especializada”, alerta Alda Campos.

Por fim, a presidente do Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco destaca a necessidade do zelo pelos psicólogos e psiquiatras. “As pessoas têm uma ideia de que os psicólogos não têm problema. Fazem uma associação do profissional de saúde, de uma forma geral, com heróis e heróis passam a ideia de que têm super poderes, que são imbatíveis. Mas nós temos um índice de mortalidade grande entre profissionais de saúde. Nós somos profissionais que precisamos de equipamento de proteção individual, de acolhimento, de salários dignos, respeito, descanso. São pessoas que estão com medo, preocupadas em contaminar a própria família, que adoecem. Não existem heróis no sentido mágico de super poderes. São pessoas que escolheram uma profissão, que se dedicam à ela e precisam de condições mínimas de trabalho”, reivindica.

A presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Ana Sandra Fernandes, reitera que políticas públicas de saúde mental são essenciais para a sociedade brasileira. No entanto, na visão da presidente, o Governo Federal não tem valorizado essas políticas nos últimos anos. “Se a gente não tiver um investimento efetivo nas políticas públicas de saúde e assistência social que garantem à população serviços de qualidade, teremos problemas, principalmente em um país com o nível de desigualdade como o nosso. O que a gente vê no Brasil, infelizmente, é o processo oposto. A Emenda Constitucional 95, que congelou por 20 anos investimentos em políticas públicas, como saúde e educação, a curto, médio e longo prazo, tende a trazer uma desassistência de forma muito marcante para a população em geral”, critica.

Ana Sandra Fernandes, presidente do Conselho Federal de Psicologia. Foto: Comunição CFP

Para a presidente do CFP, o Estado precisa aplicar recursos financeiros em políticas públicas com financiamento adequado. “Deve investir nos sistemas que já existem e facilitar a criação e a promoção de políticas públicas que, efetivamente, garantam o acesso da população a serviços essenciais, garantindo desde as coisas mais simples, como a presença dos insumos necessários para o funcionamento de um serviço, até a presença de profissionais qualificados, enfim, tudo isso é necessário e tudo isso precisa ser garantido. A população tem direito constitucional a esses serviços”, comenta.

Ana Fernandes ainda tece uma crítica aos poderes públicos de uma forma geral. Segundo a presidente do CFP, o País não apresentou, até então, uma política pública de aporte à saúde mental da população durante a pandemia do novo coronavírus. “No Brasil, a gente não tem acesso à política pública, a um projeto explícito, de um programa de saúde mental, posto, principalmente, para o País nesse contexto de pandemia que a gente está vivendo. Nós desconhecemos qual é o projeto, qual é a proposta, qual é o plano dos órgãos governamentais para uma política efetiva de saúde mental. Até hoje, o Conselho Federal de Psicologia nunca foi chamado para a construção de um projeto. Sinto pessoalmente falta de uma política clara, definida, sobre como esse enfrentamento vai ser feito neste momento e no pós-pandemia”, diz a presidente.

Ainda de acordo com a gestora do Conselho Federal de Psicologia, cabe aos governos federal, estaduais e municipais promoverem o funcionamento de suas redes de atenção psicossocial e de todos os seus equipamentos, bem como os gestores públicos devem garantir o acesso da população – principalmente da parcela mais pobre - a elementos básicos, como alimentação, educação e até internet – ferramenta que propicia os atendimentos psicológicos remotos -. “Nós somos um ser integrado, não é possível falar de saúde fazendo recortes. Para que a gente possa ter saúde em uma visão muito mais ampla, que tem a ver com saúde mental, física, entre outras esferas, precisamos estar bem do ponto de vista físico, e precisamos ter as nossas necessidades garantidas socialmente. Acredito que a saúde mental entra em um conjunto de bem-estar, não só importante, mas também fundamental. O Governo Federal precisa trabalhar para que a gente viva de uma forma mais organizada, em uma sociedade mais justa e mais igual, porque isso também contribui de uma forma significativa para o nosso processo de saúde física e de saúde mental por consequência”, finaliza sua análise a presidente do Conselho Federal de Psicologia.

O professor de psiquiatria da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Bruno Monteiro, enxerga um cenário preocupante nos serviços públicos de saúde mental. De acordo com o docente, essa é uma das áreas mais carentes entre os segmentos de saúde direcionados à população. “A assistência em saúde mental já é um problema, uma área muito subvalorizada. Área muito pouca vista, é a última vista entre nas gestões públicas, em sua maioria. Você tem uma carência de serviço, pouco ambulatório, pouca psicoterapia, pouco médico psiquiatra. Os Caps não dão conta. Não estou vendo iniciativa no sentido de incremento do cuidado em saúde mental das populações”, avalia o professor, alertando que já havia, antes do cenário pandêmico, um contexto muito sério em relação à saúde mental da sociedade, potencializado após a Covid-19. “Já está tendo uma explosão de adoecimento mental, a pandemia potencializa e desencadeia um estado de mal-estar que já está presente nas pessoas. Sem pandemia, a situação da saúde mental já era um problema, as pessoas estavam muito ansiosas, deprimidas, tensas”, adverte o educador universitário.

Nascimento indica uma orientação que tem a ver com a forma que os governantes conduzem seus trabalhos sob os efeitos sociais do novo coronavírus. Segundo o professor da UFPE, os discursos dos gestores devem transmitir conforto. “Uma medida de saúde mental nessas horas é um grande sentimento de apaziguamento dado pelas autoridades. A medida terapêutica para aplacar o sofrimento dessas pessoas é tudo o que os políticos não estão fazendo agora. É o cara cuidar bem dessa população, dizer que está tomando as medidas: ‘vocês podem contar com a gente nisso, teremos assistência aqui, vai estar sendo resguardado financeiramente ali’. Claro que as pessoas vão precisar de um psicólogo e eventualmente de uma medicação. Mas, além disso, a forma como é conduzida a catástrofe, por parte do poder público e das autoridades sanitárias, também tem influência sobre a saúde mental das pessoas”, explana.

Ao sugerir possíveis estratégias de combate aos males mentais, o professor da UFPE destaca que são fundamentais o planejamento e a execução de ações emergenciais por parte dos governos. Entretanto, o docente de psiquiatria não acredita na celeridade dos poderes públicos nesse sentido. “O Ministério da Saúde, fundamentado nas instituições consultivas, como a Associação Brasileira de Psiquiatria, que é uma entidade de referência técnica, deveria criar políticas públicas cuja a tradução seja a implantação de algumas medidas específicas em curtíssimo prazo, começando com as medidas para dar uma acalmada na população, propiciando espaços de lazer, de convivência segura presencial ou on-line. No último estágio, deve haver o aumento da assistência à saúde, com maior disponibilidade de mais psicólogos e psiquiatras para a população. É fundamental um aumento da oferta e disponibilidade de profissionais de saúde mental, sobretudo psicólogos e psiquiatras na rede pública. A gente sabe que vai ser muito difícil de ser implementado”, diz o professor da UFPE.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, também reforçou seu alerta em orientação aos chefes de poder de todos os países que enfrentam a problemática pandemia do novo coronavírus. “Devemos aproveitar esta oportunidade para criar serviços de saúde mental adequados para o futuro: inclusivos, baseados em comunidades acessíveis. Porque, em última análise, não há saúde sem saúde mental”, frisa o gestor da OMS.

O que diz o Ministério da Saúde?

O LeiaJá também entrou em contato com o Ministério da Saúde em busca de um representante que pudesse nos responder questionamentos a respeito da postura do Governo Federal no âmbito da saúde mental em meio ao cenário pandêmico. Por meio da sua assessoria de imprensa, a pasta respondeu com informações oriundas de suas equipes técnicas. Confira:

LeiaJá - A partir dos efeitos da pandemia do novo coronavírus, tais como crise econômica, luto, medo da doença, entre outros, profissionais e entidades ligadas à saúde mental alertam que o Brasil pode ter aumento de casos de depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático. O Ministério da Saúde concorda com esses alertas? De que maneira a pasta interpreta e explica o atual cenário de saúde mental da população? 

Ministério da Saúde - A literatura científica sugere que medidas restritivas como quarentena, isolamento e distanciamento social têm um impacto sobre o bem-estar psicológico das pessoas, bem como reações em decorrência do medo da contaminação e/ou do luto pelos óbitos de pessoas próximas. As reações psicológicas às pandemias incluem comportamentos desadaptativos, angústia emocional e respostas defensivas como: ansiedade, medo, frustração, solidão, raiva, tédio, depressão, estresse, comportamentos de esquiva, assim como diversas outras manifestações psíquicas e/ou físicas. Esse é o fenômeno que os especialistas estão chamando de “quarta onda da evolução da pandemia de Covid – 19”. 

LeiaJá - Quais são as ações promovidas pelo Ministério da Saúde, a nível federal, em prol da saúde mental da população? E durante a pandemia, quais ações foram criadas para atender os usuários do SUS? 

Ministério da Saúde - A Política Nacional de Saúde Mental compreende as estratégias e diretrizes adotadas pelo País com o objetivo de organizar a assistência às pessoas com necessidades de tratamento e cuidados específicos em Saúde Mental, visando fortalecer a autonomia, o protagonismo e promover uma maior integração e participação social destas pessoas. A atenção às pessoas com necessidades relacionadas aos transtornos mentais, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, são assistidas nos pontos de atenção à saúde da Rede de Atenção Psicossocial, no âmbito do Sistema Único de Saúde. A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) é composta atualmente pelos serviços Atenção Primária à Saúde, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)  em suas diversas modalidades, Serviços de Residência Terapêutica (SRT), Unidades de Acolhimento, Unidades de Referência em Saúde Mental em Hospitais Gerais, Leitos em Hospitais Psiquiátricos Especializados e Equipes Multiprofissionais em Saúde Mental. 

No âmbito Nacional, já foram realizadas diversas ações relativas à saúde mental no contexto da pandemia: 

Nota Técnica elaborada pela Coordenação Geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas (CGMAD), com as recomendações à Rede de Atenção Psicossocial sobre as estratégias de organização no contexto da infecção de Covid – 19; 

Parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) com a oferta de uma campanha para promover a saúde mental no contexto de Covid-19, através de materiais voltados aos profissionais de saúde, familiares, idosos e cuidadores e população em geral, com o objetivo amenizar os efeitos negativos da pandemia da Covid-19 na saúde mental dos brasileiros. 

Projeto Telepsi, realizado em parceria com o Hospital das Clínicas de Porto Alegre, que oferece teleconsulta psicológica e psiquiátrica para manejo de estresse, ansiedade, depressão e irritabilidade em profissionais do SUS que enfrentam a Covid-19 - e mais recentemente ampliada para os trabalhadores dos serviços essenciais. 

Desenvolvimento de um questionário on-line através do FormSUS, com o objetivo avaliar o impacto da pandemia de Covid-19 e do distanciamento social na saúde mental da população brasileira. 

Lançamento de uma série de ações com o objetivo de informar à população sobre questões envolvendo doenças mentais, na expectativa de promover saúde e bem-estar do brasileiro diante da pandemia da Covid-19. A primeira iniciativa consiste em três eventos virtuais do programa “Mentalize: sinal amarelo para atenção à saúde mental” que está marcado para os dias 25, 26 e 27 de agosto, sempre às 19h, no canal do Youtube do Ministério da Saúde. Serão encontros on-lines, abertos ao público em geral, que reunirão especialistas para falar sobre temas que envolvem saúde mental com o foco na saúde da criança e do adolescente, dos trabalhadores e dos idosos. O objetivo é desmistificar e reduzir estigmas sobre doenças mentais. Acompanhe: youtube.com/minsaudeBR.

LeiaJá - De que forma o Ministério da Saúde trabalha, em parceria com os estados e municípios, para oferecer serviços gratuitos de atendimentos psicológicos e psiquiátricos, além dos serviços de acolhimento psicossocial?  

Ministério da Saúde - A gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) é tripartite, ou seja, compete à União, aos estados e aos municípios a prestação de ações e serviços de saúde. O Ministério da Saúde atua por meio de repasse de recurso financeiro de incentivo e de custeio para habilitação dos serviços da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). 

LeiaJá - Psiquiatras alertam que, no pós-pandemia, pode haver um aumento expressivo em casos de ansiedade e de pressão. Quais são os planos do Governo Federal para combater um possível surto de transtornos mentais no pós-pandemia?  

Ministério da Saúde - O Ministério da Saúde tem trabalhado para ampliação dos serviços de atendimento à saúde mental, em 2020 foram incentivadas as aberturas de 18 novos CAPS, 8 Serviços de Residência Terapêutica (SRT) e 29 novos leitos de saúde mental em hospital geral. Está prevista a habilitação de 77 novos CAPS, 100 SRT e 144 leitos em hospitais gerais. 

LeiaJá - Em 2019, quanto foi investido em serviços de saúde mental e quanto já foi investido em 2020? Já há uma projeção de recursos para 2021? 

Ministério da Saúde - Em 2019 foi incorporado no teto dos Fundos Municipais e Estaduais de Saúdeo valor de R$ 85,9 milhões. Foram ainda investidos R$ 12 milhões para estruturação e abertura de novos serviços. 

Em 2020, foi incorporado o valor de R$ 5,4 milhões no teto e pago R$ 814 milhões de incentivo para abertura de 18 CAPS, 8 SRT e 29 leitos em hospital geral. Está em tramitação a habilitação de novos serviços que alcançarão um total de R$ 66,6 milhões/ano. Para 2021, o planejamento orçamentário ainda está em elaboração. 

A pandemia ocasionada pelo novo coronavírus fez com que as pessoas tivessem que mudar seus hábitos, uma vez que é preciso evitar a circulação desnecessária para combater a propagação do vírus. E diante dessa realidade, profissionais tiveram que começar a trabalhar em home office para seguir as recomendações de distanciamento social.

Para melhorar esse processo de trabalho em home office, a prática de treinos cerebrais pode ser uma boa aliada. A especialista em ginástica do cérebro do Método SUPERA Olinda, Gizella dos Anjos, conta que manter o foco e a disciplina é o desafio para quem está trabalhando no formato home office. Segundo ela, intensificar a atenção é o primeiro passo.

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“Potencializar a atenção é primordial, pois ela é a porta para uma memória ativa e um bom aprendizado. É importante condicionar o cérebro através de atitudes simples, como aprender algo novo - a quebra da rotina com a inserção de uma nova atividade ou fazê-la de uma forma diferente, fortalece as conexões neurais - ; manter os horários bem definidos, dividindo-os entre os afazeres e lazer – é importante realizar pequenas pausas entre uma atividade e outra, pois o nosso cérebro mantém-se concentrado em uma determinada tarefa no período de 50 a 60 minutos – ; praticar atividades relaxantes favorece a atividade cerebral; dormir e se alimentar bem mantém o bom funcionamento do órgão; realizar jogos de tabuleiro estimula habilidades cognitivas; fortalecer a memória, buscando memorizar coisas simples do dia-a-dia , exemplo: lista de compras”, alega a especialista.

Segundo Gizella, fazer o treino constantemente gerará uma maior produtividade e uma melhor performance. Para isso, é preciso que o cérebro receba estímulos diferentes e de qualidade. “O que não implica em uma carga horária alta. A consistência e a qualidade são mais relevantes”, acrescenta.

De acordo com a especialista, ginástica para o cérebro “é a prática de exercícios que estimulam e potencializam habilidades cognitivas e socioemocionais, tais como: atenção, memória, raciocínio lógico, coordenação motora, autoconhecimento". Ela traz mais detalhes: "Utilizamos ferramentas pedagógicas, tendo como base a neuroplasticidade, ou seja, a capacidade que o cérebro tem de se adaptar de acordo com estímulos recebidos”.

Gizella conta que o intuito da ginástica é manter o cérebro em atividade contínua, melhorando a capacidade de aprendizado, memorização e raciocínio, o que gera um melhor desempenho nas mais diferentes funções do cotidiano, assegurando maior reserva cognitiva. Sobre os recursos utilizados na ginástica para o cérebro, a especialista conta que são os seguintes: “Ábaco – principal ferramenta utilizada no Método SUPERA -, exercícios variados com níveis de desafio crescente, jogos, dinâmicas, Supera Online (plataforma de jogos on-line com jogos que estimulam raciocínio lógico, visão espacial, memória, atenção e linguagem) e neuróbicas”.

A diretora acadêmica do Método SUPERA, Solange Jacob, diz que o principal objetivo do processo é proporcionar às pessoas a emoção de pensar e agir de maneira inovadora. “E para isso, a ginástica para o cérebro se faz importante em todas as idades e nas mais diferentes áreas da vida. Primeiro precisamos entender o que é ter um cérebro bem exercitado, estimulado e funcional. Existe um conceito científico que sustenta a importância de se exercitar o cérebro por toda a vida. É o conceito científico de neuroplasticidade, que mostra que todo mundo pode se modificar, ou seja, estimular o cérebro com atividades novas, variadas e cada vez mais desafiadoras", complementa a especialista.

De acordo com Solange, a organização é peça fundamental durante a realização de exercícios cerebrais. Há, também, a necessidade de um trabalho em cojunto com o corpo. "Atividades para o cérebro são traduzidas como estímulos, então é por meio dos estímulos de qualidade organizados é que ele é capaz de criar novas conexões, restabelecer conexões neurais e melhorar seu desempenho. Exercitar nosso cérebro sistematicamente de diversas maneiras é tão importante quanto o exercício para o nosso corpo. Esta ‘malhação’ para o cérebro acontece quando nos dedicamos a aprender algo, quando criamos o hábito de nutrir e exigir mais do cérebro com experiências variadas de qualidade. 

Sobre como devem ser feitos os treinos cerebrais para ajudar as pessoas que estão trabalhando em home office, Solange Jacob conta que as evidências indicam que o treinamento cognitivo pode ajudar alguns aspectos da memória e do pensamento e inclui exercícios para desafiar o cérebro. “As evidências sugerem que o treinamento cognitivo pode melhorar alguns aspectos da memória e do pensamento e inclui atividades para desafiar o cérebro, como palavras cruzadas, situações para tomada de decisão, memória, criatividade, raciocínio lógico, quebra-cabeças de Sudoku e jogos digitais sob medida. Eles fornecem exercícios mentais direcionados a diferentes domínios cognitivos e, portanto, podem fornecer uma 'dieta equilibrada' de atividades cognitivas", exemplifica.

O trabalho remoto ou o trabalho em home office, em que o uso excessivo do computador pode causar fadiga ocular, ansiedade e insônia, exige que o treino cerebral seja feito de maneira constante, uma vez que deve ser considerada a premissa de que ‘quanto mais você usa o seu cérebro, mais cérebro você tem’. "A maioria das atividades que realizamos em nossas vidas diárias depende de várias funções cerebrais ou cognitivas, incluindo memória, linguagem, planejamento e velocidade de processamento. Uma diversidade de atividades oferece a oportunidade máxima de praticar muitas habilidades importantes de pensamento", acrescenta a diretora acadêmica. 

Dicas importantes 

O psicólogo Dino Rangel diz que, em casa, no home office, a pessoa terá que ter uma prática maior do autocontrole e da autodisciplina, por isso o treino cerebral é importante, pois vai ajudá-la no exercício dessas capacidades cognitivas. “As pessoas que trabalham em home office, elas, de alguma forma, precisam ter maior autodisciplina, elas precisam ter um maior autocontrole do tempo. Por quê? Porque diferente do ambiente do trabalho, que elas já terão o tempo pré-determinado, pré-estabelecido, em casa elas terão que ter uma autodisciplina maior, porque elas terão que lidar com a não-quebra da não-interrupção desse trabalho. Ou seja, a pessoa que trabalha em casa, ela tem que ter um cuidado com o perigo da distração permanente", alerta Rangel.

"O indivíduo pode se distrair facilmente, o tempo todo. Olha a geladeira, uma televisão, um jogo, um filme. Por quê? Porque ali ele não está sendo supervisionado, e por não ter uma supervisão superior, pode boicotá-la, pode conduzi-lo a uma distração maior.

O psicólogo conta também que os treinos cerebrais podem gerar um maior aperfeiçoamento dos aspectos cognitivos do indivíduo. “Os treinos cerebrais podem trazer um maior aperfeiçoamento exatamente dos aspectos cognitivos da pessoa. Podem desempenhar um maior autocontrole, uma maior autodisciplina, pode desempenhar um maior foco, uma maior auto concentração, uma maior capacidade de desenvolvimento melhor da atividade, maiores habilidades, aptidões, capacidade de desenvolvimento melhor de compreensão, de leitura, de interpretação, de foco, de compreensão e inteligência emocional de você lidar com o tempo”, explica.

Para o psicólogo Dino Rangel, esses exercícios precisam ajudar e elevar o bem estar das pessoas. No entanto, caso as dificuldades permaneçam, os treinos, sozinhos, não resolverão os problemas.

"O treino cerebral pode ajudar, mas é preciso entender que se há aspectos negativos, neurobiológicos ou psicológicos, a pessoa precisa de uma ajuda especializada com um psicólogo. Se a pessoa não está conseguindo desempenhar bem a sua atividade no trabalho em home office nesse momento de pandemia, ela deve procurar um profissional da área psicológica", alerta Dino Rangel.

Com o isolamento orientado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), algumas pessoas passaram a usar algum tempo livre dentro de casa para ler livros, assistir filmes e praticar exercícios, entre outras atividades. Porém, alguns também se queixam de não conseguirem ser produtivos durante a quarentena, principalmente quem está trabalhando em casa.

O emprego da social media Mariana Sehn, 25 anos, sempre foi home office, mas o isolamento, que não deveria ser um problema, acabou refletindo diretamente em seu trabalho. "Com a vontade de querer interagir e tocar os projetos, fiquei tão acumulada de tarefas a ponto de me sentir mal", conta. "Eu hoje liguei o notebook para começar a trabalhar e não consegui render muito. Só fiz o que precisava fazer e, no resto do dia, não fiz mais nada", complementa.

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A social media Mariana Sehn encontrou dificuldades no home office | Foto: Arquivo Pessoal

O operador de controle mestre Emanuel Cavalcanti, 27 anos, conta que tenta preencher o tempo com leituras, filmes e séries, mas se sente culpado por não estar fazendo algo "mais útil". "Eu costumava sair para fotografar e filmar, porém, não posso fazer mais isso por conta da quarentena. Sinto falta dessa rotina e ainda não consegui encontrar uma forma de produzir em casa", lamenta.

As condições de isolamento tem gerado nas pessoas diferentes emoções e sentimentos, principalmente ansiedade. É o que diz a psicóloga e professora da Universidade Guarulhos (UNG) Tatiana Almeida. "A ansiedade é um dos principais fatores a dificultar o processo de produtividade. Para que a pessoa consiga manter a concentração e uma vida produtiva é necessário focar nos cuidados de saúde física e mental", explica.

O operador Emanuel Cavalcanti reclama por ainda não ser produtivo em casa | Foto: Arquivo Pessoal

Para as pessoas em home office e que estão com problemas de concentração, Tatiana orienta a reservarem um local de trabalho tranquilo, iluminado e arejado, e que deve ficar longe de locais de refeição ou da cama. Consumir em excesso as notícias negativas sobre o atual momento, também pode colaborar para que as pessoas se sintam improdutivas. "As notícias são necessárias para situar a população em relação a pandemia, mas devem ser consumidas de maneira equilibrada. O indicado é que as pessoas também busquem outros assuntos de seu interesse", orienta Tatiana.

Para ajudar na produtividade, a psicóloga aconselha as pessoas a terem uma boa rotina de descanso, fazer exercícios e procurar por atividades que tragam prazer. "Não se cobre para ser produtivo 100% do tempo de isolamento. Está tudo bem não fazer nada em alguns momentos. Agora, caso não consiga lidar com as questões emocionais, o ideal é buscar a ajuda de um psicólogo. Neste período de quarentena, muitos profissionais estão oferecendo atendimento online", finaliza.

A pandemia do coronavírus tem colocado boa parte do mundo em quarentena. Por ter um alto nível de transmissão, o isolamento social se faz primordial para a contingência do vírus e ficar dentro de casa  tem sido a recomendação maior dos órgãos de saúde. No entanto, o isolamento pode ter consequências sérias, não só na economia mas, também na saúde emocional. Atentos a esse problema, profissionais de psicologia estão reforçando orientações e atendimentos, ainda que à distância, para manter a saúde mental da população em dia. 

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o país mais ansioso do mundo. Em pesquisa recente, identificou-se uma verdadeira epidemia de ansiedade em solo nacional com 18,6 milhões de brasileiros convivendo com tal transtorno. Esse número pode aumentar diante de uma crise como a do coronavírus, como explica a psicóloga clínica e hospitalar, Eliane Lima: "A saúde mental (das pessoas) já está sendo afetada com essa pandemia porque somos seres sociais, naturalmente somos programados para viver com os outros, não isolados. Então, quando se impõe um isolamento, mesmo que seja como uma forma de prevenção, a tendência é a gente burlar isso". 

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Diante da orientação de restringir o convívio social, os atendimentos psicológico online surgem como uma solução para pacientes e médicos. Essa modalidade de acompanhamento já é praticada por profissionais da área, para pessoas com algum tipo de dificuldade de locomoção ou outras condições que as impossibilite de ir até um consultório. Para aumentar a possibilidade desses atendimentos, em tempos de quarentena, o Conselho federal de Psicologia autorizou as consultas online dispensando, nos meses de março e abril, o cadastro no e-Psi - plataforma  para psicólogos que atendem à distância. 

Segundo Eliane, uma situação de crise como a atual pode desencadear o  aumento da ansiedade agravando os sintomas de quem já convive com o transtorno e levando pessoas que nunca sofreram com esse tipo de problema a desenvolvê-lo. Ela ratifica a importância de se procurar um acompanhamento profissional e evitar a automedicação com antidepressivos e ansiolíticos. "Um psicólogo pode ajudar a atravessar esse momento de crise sem precisar se apoiar em meios artificiais. Existem muitos profissionais que estão oferecendo atendimento online".

Algumas plataformas de atendimento psicológico à distância também estão intensificando seus serviços. O site A Chave da Questão está disponibilizando atendimento gratuito para assinantes e não assinantes. A página oferece orientação online, grupos públicos e privados de discussão e acesso direto aos 11 profissionais da área cadastrados. Para solicitar atendimento é preciso fazer uma inscrição prévia. Um outro canal, o Vittude, também está oferecendo orientações, atendimento remoto e um ‘Diário da Quarentena’ com conteúdos sobre saúde emocional e bem-estar. 

Além disso, há outras alternativas para cuidar da saúde mental mesmo confinado em casa, como indica a psicóloga Eliane. "Há uma enxurrada de informações durante o dia inteiro, é preciso tomar cuidado com as fake news, é muito danoso para saúde mental você ficar propagando fake news. Então, é bom dar um tempo nas notícias, não é preciso passar o dia inteiro exposto a elas. Também não faz bem você ficar disseminando negativismo em cima das notícias. Se a gente está numa pandemia, todo mundo está sendo afetado e com medo, propagar o medo é péssimo. O legal de se fazer é você fazer uma live com seus amigos, pela internet, ligar para alguém, conversar. Dentro de casa fazer coisas que você gosta, como cozinhar, fazer cursos online que estão sendo disponibilizados. Fazer coisas que lhe façam bem e não achar que a todo custo vai pegar o novo coronavírus. Eu acredito que em quanto mais a gente fizer isso mais em breve a gente vai ter superado juntos essa situação".  

Profissionais da saúde

Na linha de frente do combate à pandemia do Covid-19, os profissionais da área da saúde também precisam redobrar a atenção em relação à sua saúde emocional. Médicos, técnicos de enfermagem enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais, que não podem se isolar, devem buscar apoio nesse momento. "Existe uma rede de atendimento online a esses profissionais pelo SUS e é muito importante", diz Eliane. 

Sessenta e quatro por cento dos estudantes dos ensinos fundamental e médio ouvidos na terceira edição da pesquisa Nossa Escola em (Re)Construção “consideram importante” ter psicólogo na escola para atendê-los.

A demanda dos estudantes “tem sentido bastante amplo”, afirma Marisa Villi, diretora da Rede Conhecimento Social, organização criada em 2000 pelas empresas associadas ao Grupo Ibope Inteligência. Segundo ela, os jovens querem profissionais de psicologia na escola “tanto no apoio para lidar com sentimentos, quanto para orientar sobre o que venham a fazer no futuro”.

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“Há uma preocupação entre os alunos de que as escolas apoiem no desenho do futuro deles”, destaca Tatiana Klix, diretora da Porvir, uma plataforma que produz conteúdos de apoio a educadores, que também esteve à frente da pesquisa.

A atuação permanente de psicólogos nas escolas está prevista em projeto de lei (PL) aprovado pelo Congresso Nacional. O PL, que chegou a ser vetado pela Presidência da República, foi restabelecido com a derrubada do veto presidencial na tarde dessa quarta-feira (27).

Além do psicólogo, os estudantes destacam a importância de ter médico ou outro profissional de saúde (39%), orientador educacional ou vocacional (37%), e assistente social (24%). Os percentuais não são excludentes. Treze por cento afirmaram que “não são necessários outros profissionais”.

A pesquisa ouviu 258.680 estudantes, de 11 a 21 anos, de todo o Brasil. O levantamento não segue padrões de pesquisa de opinião pontual, com amostra representativa por estado. A coleta de dados é contínua, pela internet. A interpretação dos dados estatísticos foi refinada qualitativamente, com a realização de oficinas com estudantes do universo pesquisado. para compreensão mais elaborada de algumas respostas.

A maior participação na pesquisa foi de estudantes da Região Sudeste (63,5%). A maioria passou a maior parte da vida escolar em escolas públicas (93,4%), tinha de 15 a 17 anos (58%), é formada de meninas (52%) e se define de cor parda (42%).

Outras demandas

A pesquisa também levantou a opinião dos jovens sobre “o que não pode faltar na escola em termos de estrutura física”. A maior demanda é por “tecnologia não só no laboratório de informática” (53%). Em outra parte do questionário aplicado, o uso de tecnologia e a realização de atividades extraclasse foram os aspectos mais mal avaliados na pesquisa.

Para Tatiana Klix, alcançar a escola que os estudantes idealizam “não é impossível e nem exige muito dinheiro”. Segundo Marisa Villi, dá para mudar a escola em horizonte não longo. "O recurso que eles mais querem é para fazer mais pesquisa”.

Os jovens entrevistados também opinaram sobre as “características mais valorizadas em um professor”: 40% das respostas indicam “saber explicar bem os conteúdos”, 29% registram “propor diferentes atividades nas aulas”; 27% assinalam “ser acolhedor e ter uma boa relação com os alunos”, mesmo percentual de “saber estimular o aluno a se questionar e buscar conhecimentos”.

Os alunos também sentem apreço pelos professores que “têm muito conhecimento sobre um assunto” (14%), que “são exigentes e sabem colocar limites nos alunos” (13%), que “sabem relacionar os conteúdos com a vida cotidiana” (11%), e que “têm vários interesses e conhecimentos diversos” (10%).

O presidente Jair Bolsonaro vetou integralmente a proposta que garantia atendimento por profissionais de psicologia e serviço social aos alunos das escolas públicas de educação básica. O PLC 60/2007 (PL 3.688/2000, na Câmara dos Deputados) foi aprovado em setembro pelos deputados, na forma de um substitutivo elaborado pelo Senado.

Depois de ouvir os Ministérios da Educação e da Saúde, a Presidência decidiu vetar o projeto, argumentando que há inconstitucionalidade e contrariedade ao interesse público.

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“A propositura legislativa, ao estabelecer a obrigatoriedade de que as redes públicas de educação básica disponham de serviços de psicologia e de serviço social, por meio de equipes multiprofissionais, cria despesas obrigatórias ao Poder Executivo, sem que se tenha indicado a respectiva fonte de custeio, ausentes ainda os demonstrativos dos respectivos impactos orçamentários e financeiros, violando assim as regras do artigo 113 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, bem como dos artigos 16 e 17 da Lei de Responsabilidade Fiscal e ainda do artigo 114 da Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2019 (Lei 13.707, de 2018)”, diz a justificativa do veto.

Pela proposta do ex-deputado José Carlos Elias, equipes com profissionais dessas disciplinas deveriam atender os estudantes dos ensinos fundamental e médio, buscando a melhoria do processo de aprendizagem e das relações entre alunos, professores e a comunidade escolar.

O texto ainda estabelecia que, quando houvesse necessidade, os alunos deveriam ser atendidos em parceria com profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS).

Deputados e senadores vão analisar o veto quando ele foi incluído na pauta do Congresso Nacional.

Da Agência Senado

Com uma abordagem aprofundada sobre o transtorno, o LeiaJá publica, neste domingo (30), o especial “Ansiedade”. Reportagens multimídia detalham a definição, tipos, histórias e tratamento da doença, por meio de entrevistas com vítimas e especialistas da psiquiatria e da psicologia.

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A primeira reportagem, “Minha mente é um turbilhão de pensamentos irrefreáveis”, descreve a história e o cotidiano de uma vítima do transtorno de ansiedade. A segunda matéria, intitulada “Os brasileiros são os mais ansiosos do mundo”, aponta dados, as causas e tipos da doença.

Na terceira reportagem, “Dependência tecnológica: ansiedade pode ser gatilho”, o LeiaJá mostra como a ansiedade tende a ser o transtorno de origem do uso desenfreado das novas ferramentas digitais. A quarta matéria, “Depressão e ansiedade podem andar juntas”, revela como um processo ansioso pode ser uma ponte para uma crise depressiva.

Por fim, na quinta e última reportagem, LeiaJá explica, em “Muito além do divã: tratamento clínico pode ser integrado”, as formas de tratamento contra os tipos de ansiedade. Os autores das reportagens são os jornalistas Nathan Santos, Marília Parente e Eduarda Esteves; os repórteres fotográficos são Chico Peixoto e Júlio Gomes; o cinegrafista é Roberto Varela; a edição de vídeos é de Danillo Campelo; e as artes são de autoria do designer João de Lima. Convidamos nossos leitores à leitura de todo o conteúdo. Confira a seguir as reportagens do especial “Ansiedade”:

1 - Minha mente é um turbilhão de pensamentos irrefreáveis

2 - Os brasileiros são os mais ansiosos do mundo

3 - Dependência tecnológica: ansiedade pode ser gatilho

4 - Depressão e ansiedade podem andar juntas

5 - Muito além do divã: tratamento clínico pode ser integrado

Jorge dos Santos de Souza, 34 anos, conhecido como Salve Jorge, saiu da cidade de São Luís, no Maranhão, para tentar uma vida nova em Outeiro, distrito de Belém, no Estado do Pará, com a mãe e 15 irmãos. Ele tinha apenas 21 anos e deixou para trás um filho pequeno. Não conseguiu arranjar emprego. Como forma de ganhar dinheiro rápido, envolveu-se no crime e acabou sendo preso. Quando cumpriu uma parte da pena, conseguiu regime aberto. Constrangido com tudo o que aconteceu, para não desapontar mais ainda a mãe, ele resolveu ganhar o mundo das ruas. Nunca mais voltou para casa.

Seus primeiros dias nas ruas foram em Icoaraci, também distrito de Belém, com hippies que ficavam embaixo do trapiche da orla. Por causa de uma namorada, Jorge se mudou para o bairro do Telégrafo, próximo à região central da capital paraense. Era para ser apenas um encontro na praça Brasil, mas ele não voltou mais para Icoaraci.

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Hoje, Salve Jorge sobrevive cuidando de carros em frente ao campus da Universidade Estadual do Pará (Uepa), na rua Djalma Dutra, catando latinhas e fazendo favores. Com o dinheiro que ganha às vezes consegue comprar algo para comer. Também busca ajuda de alguns estabelecimentos e conhecidos da vizinhança. “Tem restaurante que eu vou lá e peço se não tem nada para comer e eles me dão”, conta Jorge.

Sujeitos invisíveis, os moradores de rua retratam a exclusão social. Segundo o psicólogo Marcio Valente, professor doutor em Psicologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA), muitos passam a compor um cenário urbano. “Essas pessoas se confundem com o cenário. Elas vão virando fundo, e sempre quando somos fundos da vida de alguém a gente some. A gente vira cenário. Se a gente nunca vira figura, não se define. Essas pessoas se confundem nesse processo, elas vão se perdendo”, disse. “Por conta de passarmos todos os dias pelo mesmo local, tem vezes que enxergamos essas pessoas e outras vezes, não. Nesse ponto, ocupando esse lugar da cidade, vão se tornando tão comuns.”

 Para tomar banho, Jorge usa a torneira de um posto de gasolina. A vizinhança tem um grande apreço por ele, sempre muito educado e gentil. Ele diz que já chegou a fazer tratamento em uma clínica de reabilitação em Marituba, mas não deu certo.

Jorge não tem um canto fixo para dormir, mas sempre anda com uma mochila com menos de meia dúzia de roupas e alguns pertences. “Gosto de andar com minhas coisinhas, enquanto não me roubam”, disse.

O apelido Salve Jorge vem da novela que passava em 2012, na Rede Globo, chamada “Salve Jorge”.  “Foi o pessoal mesmo da rua que colocou, por causa que na abertura da novela gritava SALVE, JORGE”. Seu corpo é todo musculoso e cheio de cicatrizes. As cicatrizes são da infância e de um atentado que sofreu quando dormia nas casas abandonadas da Vila da Barca, bairro da periferia de Belém.

Jorge relatou que perdeu o contato com os irmãos. Um morreu em São Paulo, outro em um acidente de ônibus em Outeiro, disse. O caçula mora em Outeiro. Faz tempo que Jorge não visita a mãe. Ele não tem certeza se ela ainda está viva.

No dia da entrevista, estava deitado em frente à Fundação Curro Velho, nas margens da baía do Guajará, quando recebeu a proposta de um conhecido das ruas de furtar uma loja de peças de carro e recusou. “Nem se me dessem mil reais, já fiz muita coisa errada nessa vida, mas estou me esquivando desse tipo de coisa”, disse, lembrando seu passado que ocasionou em prisão. Futuramente, afirmou, pretende tirar identidade, CPF, ter um trabalho, tirar fotos para os documentos, cortar o cabelo e sair dessa vida.

Rede de amparo é deficiente

O psicólogo e professor Marcio Valente explica que não existe uma resposta concreta para as pessoas acabarem indo morar nas ruas. Mais simples é falar sobre as coisas de ordem macro, psicossociais. “As pessoas que perdem suas moradias, caso elas não tenham uma rede social de amparo, e a rede social de amparo estatal não é eficaz, essa pessoa vai naturalmente parar na rua. E uma vez na rua, vai ficar próximo de lugares que ofertem para essa pessoa bens de consumo. Quando eu digo bens de consumo não é comprar um celular. É bens de consumo tipo de alimentos, afeto, ela vai ficar próxima a esses lugares. Dificilmente ela se afasta desses lugares”, explica o psicólogo.

Marcio esclarece por que essas pessoas procuram os centros da cidade para habitar. “Esses espaços são de grande circulação, espaços de visibilidade. Dificilmente encontram-se essas pessoas dormindo em becos muito entocados. Os becos muito entocados são onde as pessoas são assassinadas, elas morrem, onde ninguém pode ser visto”, observou.

Para o psicólogo, a percepção que as pessoas têm da rua é relacionada ao perigo. “Às vezes a gente não entende que a rua também é o lugar da possibilidade. Então de alguma forma essas pessoas vão carregar esses preconceitos, que não necessariamente são ruins, mas em algumas circunstâncias podem ser. Os nossos preconceitos vão desde querer ajudar essas pessoas nessa condição. Ou se incomodar com elas, sujando e excluindo do convívio”, diz o psicólogo.

Marcio Valente, que já trabalhou no Ministério Público, relatou um fato curioso: “Foi quando uma pessoa com histórico de morar na rua não queria dormir na cama do alojamento, do abrigo. Ele gostava de dormir olhando para o céu, isso gerou um problema. Tentamos negociar com ele. A instituição tem o dever de dar as mínimas condições para aquele indivíduo, não poderíamos deixar ele dormir no chão”.

Segundo Marcio, há indivíduos que preferem viver nessas condições. “Tem pessoas que se eu oferecer uma casa, não vão querer, porque a casa vem com obrigações, uma rotina de trabalho, ser um assalariado, e isso traz outras obrigações e tem um preço. Elas conseguem fazer esse processo. Alguns não se enquadram a esse padrão, ou são mais saudáveis que nós, menos domesticáveis ou mais resistentes.”

Ele diz que é muito importante o meio acadêmico promover atividades e trabalhos voltados ao meio social, como olhar as pessoas em situação de rua. “A gente quer mudar o mundo, mas precisamos fazer parte da realidade, e essas pessoas fazem parte dessa realidade. Sempre tem um grupo excluído do maior.”

No ano de 2016, a Universidade da Amazônia promoveu uma sarau para todos os alunos do curso de Psicologia. Foi um evento que durou o dia todo e mobilizou toda a universidade. Um grupo específico escolheu tratar de pessoas em situação de rua.

Os alunos queriam fazer um estudo sobre quem era o “morador de rua”. E daí surgiram os questionamentos. “Quem são essas pessoas? Por que moradores de rua? Morar é um direito? “Ninguém mora na rua, a pessoa que está na rua não está tendo a acesso a um direito à moradia que é previsto por lei, um princípio fundamental da nossa Constituição. Então não existem moradores de rua, existem pessoas que estão tendo os direitos violados de moradia”, exemplificou o professor para aquele grupo.

O trabalho foi intitulado “Os invisíveis”. Nessa pesquisa, os alunos fizeram entrevistas e encontraram inúmeras razões para as pessoas saírem de casa, desde brigas familiares, até sonhos que acabaram, crises econômicas, pessoais. Muitos entrevistados falaram que eles não costumavam dormir e que a vida na rua exigia entorpecimentos. “Que em geral a vida exige, desde sair para beber, comer, ir para festa. Na rua não é diferente, em geral a droga mais comum e a mais popular de todas é a bebida alcoólica. A famosa buchudinha. Dificilmente vai cheirar pó, isso é caro”, diz o professor. Os alunos decidiram criar uma página no facebook - “Os invisíveis” -, vinculando as entrevistas a histórias mais amplas, e até encontraram conhecidos das pessoas que vivem na rua. 

Reportagem: Trayce Melo.

Edição de texto: Antonio Carlos Pimentel.

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O bullying, o ato de cometer abusos psicológicos e/ou físicos de forma sistemática, é comum no ambiente escolar e não raro dificulta o bom convívio de crianças e adolescentes na escola, seus estudos e a visão que elas têm de si mesmas, podendo causar danos persistentes na vida das vítimas.

Conseguir quebrar o ciclo de violência e superar os traumas que ficaram depois de uma experiência dolorosa é tão importante quanto complicado e, muitas vezes, a mudança de escola é uma opção encontrada por estudantes e suas famílias para resolver o problema. No entanto, a simples mudança de ambiente e de companhias nem sempre basta para que a criança ou adolescente volte a se sentir bem na escola e consigo mesmo, sendo necessário continuar acompanhando de perto o processo de adaptação do estudante que sofreu bullying para ajudar a vítima a se fortalecer novamente.

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O LeiaJá ouviu uma psicóloga estudantil, uma aluna que já foi vítima de bullying e uma mãe que já precisou auxiliar o filho que sofreu violência em sua primeira creche, para entender como se dá esse processo de superação e adaptação a um novo ambiente, além de compreender como é possível ajudar estudantes que passaram por problemas semelhantes. 

“Minha mãe foi me ajudando a trabalhar a situação”

A estudante Maria Vitória Bernardo vive em Espírito Santo do Pinhal, município localizado no interior do Estado de São Paulo e sofreu bullying quando era criança, em sua primeira escola. A situação já fazia com que a mãe de Maria Vitória fosse frequentemente à escola pedir que fossem tomadas providências sem que, no entanto, nada mudasse. O ponto máximo de tensão ocorreu quando as provocações e abusos psicológicos se transformaram em agressão física. 

“Eu estava sentada na hora do intervalo com meus dois amigos e eu estava comendo um salgado e na época  eu não gostava muito de tomate, era um salgado de pizza, tirei o tomate e coloquei ele em cima de um guardanapo, só  que acabou voando e caiu na perna de uma menina. Na hora eu pedi desculpas e, na hora que eu abaixei para pegar o tomate no chão, senti um tapa nas minhas costas, começou a arder na mesma hora, a menina era mais velha, eu sempre fui pequena e ela era bem maior. Sentei e comecei a chorar, fui atrás de uma inspetora mas ela disse que se a menina me bateu foi porque eu dei motivo. Minha perna tremia, minhas costas ardiam, eu estava até branca porque eu não tinha feito nada, apanhei de uma menina e quando fui pedir ajuda colocaram a culpa em mim, eu não conseguia compreender”, contou ela. 

Nos dias que se seguiram, Maria Vitória e sua mãe tiveram vários problemas com a escola, com a inspetora, a diretora e com a aluna que praticou a agressão, pois mesmo decidida a mudar a filha de escola, a mãe de Maria não conseguiu vaga para ela em nenhuma outra instituição pois o ano letivo estava perto do final. Assim, mesmo em meio a muitos conflitos entre a direção da escola e sua mãe, Maria Vitória precisou continuar onde estava até o ano acabar. Ela conta que depois de uma conversa entre as duas meninas, suas respectivas mães, a inspetora e a diretora da escola, não houve mais nenhum episódio violento até que o ano terminasse. 

A mudança de instituição, no entanto, foi algo que afetou muito a saúde emocional de Maria Vitória, que na época tinha, entre oito e nove anos de idade e nunca tinha estudado em outra escola antes. Para ela, foi “um turbilhão de sentimentos” pois seus amigos continuavam na antiga escola e apesar de ser acolhida e bem tratada por professores e alunos na nova instituição de ensino, de acordo com ela, “todos já tinham suas panelinhas, rodinhas, então foi difícil”, explicou a estudante. 

“No começo foi horrível, fiquei umas duas semanas chorando sempre que chegava em casa, me sentia insegura com medo de acontecer a mesma coisa. Minha mãe sempre conversou comigo, sempre foi muito clara e sincera em relação à situação, me incentivou a estudar e fazer novas amizades, sempre me ouvia desabafar e me aconselhava”, contou Maria Vitória, que também destaca que o apoio de sua mãe, da equipe da escola e dos alunos foi essencial. 

Hoje, olhando para o que passou, a estudante que atualmente está cursando o segundo ano do Ensino Médio avalia que a mudança foi positiva e ajudou sua vida a ser melhor, trazendo aprendizado. O problema que enfrentou na primeira escola, de acordo com Maria Vitória, “deixou marcas, foi ruim na época, mas hoje eu levo numa boa”. 

“Passamos a confiar mais no que ele comunica”

Letícia Magalhães* é pesquisadora e professora, vivendo atualmente em Bilbao, na Espanha, onde faz doutorado. Antes de se mudar, ela decidiu tirar seu filho, então com três anos de idade, da creche em que ele estudava ao perceber mudanças em seu comportamento ao mesmo tempo em que a equipe da escola nunca explicava o que estava acontecendo de errado. 

O filho de Letícia tem Síndrome de Down e ainda não consegue falar, comunicando-se por meio de gestos e sons. Somente depois de tirá-lo da creche ela soube o motivo de o menino “gritar, espernear, se agarrar à gente e se comportar como se estivesse sendo levado para uma tortura” sempre que ia para a creche: o garoto estava sofrendo bullying por parte dos colegas e também de alguns professores.

“Soubemos de algumas coisas que aconteciam, de baterem nele ou o deixarem sozinho chorando do lado de fora, e ‘brincadeiras’ violentas como os alunos grandes sentarem na cabeça dele”, contou a mãe. O problema fez com que o menino tivesse medo de outras crianças e, para Letícia, o maior desafio ao buscar outro lugar para que seu filho estudasse era achar um lugar “onde ele fosse visto como uma pessoa normal e onde os princípios pedagógicos não incluam entender a violência como uma coisa natural nas crianças”, explicou ela. 

Já depois da mudança para a Espanha, Letícia encontrou uma instituição que atendia a seus critérios e conta que desde então seu filho deixou de sentir medo dos colegas. Apesar do apoio encontrado na nova escola, a mãe explica que a readaptação ainda está acontecendo mesmo depois de dois anos que a criança sofreu violência. “A escola, colegas e as famílias dos colegas têm sido importantes nesse processo. Ele vai superando, mas creio que algumas coisas ficarão gravadas”, explicou Letícia. 

Em casa, a forma encontrada de ajudar o filho a se readaptar ao ambiente escolar após o bullying foi, de acordo com ela, foi prestar mais atenção aos sinais que ele dava e confiar no que o menino expressa. “Ele fala pouco mas se faz entender e passamos a confiar mais no que ele comunica, se ele está desconfortável, triste, é porque algo aconteceu. Tem dias que ele não quer ir para a escola, e fomos percebendo quando é um motivo pelo qual realmente não deve ir como sentir alguma dor, ou quando é só vontade de ficar em casa, então é preciso realmente conhecer o filho”, contou a mãe.

Ela também explica que quando percebe que o menino não quer ir para a escola, relembra as coisas boas que tem lá e, diante de uma nova negativa, busca entender o que houve. “Estamos bastante presentes na escola e juntamos os pais e mães com alguma frequência, esse contato ajuda a construir amizade entre as crianças e superar comportamentos danosos”, explica Letícia, que também conta que, para ela, é muito importante entender que ter muito medo da escola é um sinal de alerta e que “se alguma vez ele fizer como fazia na escola antiga, de gritar, espernear, se agarrar à gente, se comportar como se estivesse sendo levado para a tortura, não é normal. Me diziam que todas as crianças fazem isso. Não é verdade, meu filho fazia isso quando ia a um lugar onde era maltratado”, reforçou ela.

Ajuda profissional

Raquel Lacerda é psicóloga educacional e explica que é muito importante acompanhar e verificar sempre como a criança ou adolescente se comporta, caso não relate o que está havendo, para poder detectar a ocorrência do bullying. Ela explica que mesmo quando a vítima não conta, em geral se mostra tensa, preocupada com aspectos que podem ser alvos do bullying, tentar mudar esses aspectos, apresentar isolamento ou um comportamento mais deprimido são indícios de que alguma coisa está errada.

“Às vezes, por exemplo, uma adolescente se tranca no quarto dizendo que vai dormir e na verdade usa a auto flagelação como uma tentativa de escape. Qualquer mudança de comportamento significativa como estar mais calado, mais triste, chorar escondido e responder que não é nada, todos são sinais de que é necessário buscar ajuda profissional”, explica Raquel.

O papel da escola, nesse caso, é acompanhar tudo para estar atenta aos limites entre brincadeira e violência. Raquel explica que a equipe de psicologia precisa estar em contato frequente com os professores e, em caso de algo passar do limite, a intervenção deve ser feita com a vítima, com o agressor e também com o restante da turma. “É preciso chamar as famílias, analisar se a vítima se coloca nessa posição e se o estudante sofre bullying na família, são muitas questões. O trabalho preventivo e a intervenção têm que ser constantes e a família tem que procurar um psicólogo”, pontuou ela.

Para decidir se é melhor ou não trocar de escola, não há uma resposta única. “Depende da relação e das providências tomadas. Os pais têm que estar junto, acompanhando, buscar um processo psicoterapêutico para que a vítima possa de fortalecer, mas se houver negligência da escola, não adianta insistir em permanecer”, explica a psicóloga. 

Após a mudança de escola, muitas vezes mudar de ambiente, se afastar dos agressores e conhecer pessoas novas parece algo positivo e, segundo Raquel, de fato é, mas muitas vezes não é suficiente pois é comum que a vítima sinta muito medo de que, mesmo na escola nova, o antigo problema se repita. Segundo Raquel, a formação da identidade da criança é prejudicada por assimilar as “causas” do bullying como características de fato suas, comprometendo a auto-estima em outras relações, causando medo de sair de casa, fechamento para outras relações devido à falta de aceitação, passando a assumir o lugar de vítima, o que é um processo sofrido e doloroso. 

No que diz respeito ao agressor, a psicóloga explica que é possível que seja uma criança ou jovem que também sofre com insegurança, inveja e outras questões que precisam de cuidados. Raquel frisa a importância de não banalizar tudo como bullying, mas também não desconsiderar o sofrimento, apurar o olhar para o que acontece com os estudantes e garantir que o suporte necessário esteja presente tanto por parte da escola quanto com a família, além de garantir o apoio de um profissional.

*Nome fictício

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Na terça-feira (6), serão abertas as inscrições do concurso público da Prefeitura do Riachão, na Paraíba, que oferta mais de 40 vagas. As oportunidades são para candidatos com escolaridade do nível fundamental ao nível superior e as remunerações variam de R$ 937 a R$ 5.000. Inscrições podem ser feitas até 2 de março. Confira o edital

Os interessados podem se inscrever na sede da Prefeitura do Riachão, ou pela internet, no site da organizadora do certame. A taxa de inscrição varia  de R$ 50 a R$ 80.

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Segundo o edital, o cartão de inscrição será disponibilizado pela banca organizadora ao candidato inscrito no período de 12 a 16 de março, no mesmo local e horário em que se efetuaram as inscrições ou pela internet.

As vagas serão distribuídas entre os cargos de Auxiliar Administrativo; Auxiliar de Serviços Gerais; Agente Comunitário de Saúde; Agente de Combate as Endemias; Agente de Consulta Bucal; Assistente Social; Enfermeiro; Bioquímico; Fisioterapeuta; Educador Físico; Fonoaudiólogo; Médico Clínico; Motorista Categoria B; Motorista Categoria D; Nutricionista; Odontólogo; Operador de Patrol; Psicólogo; Técnico de Enfermagem; Tratorista; Médico Veterinário e Vigia.

Provas

Segundo o edital, a seleção dos inscritos será feita através de provas objetivas, de múltipla escolha, com duração de três horas. A prova será realizada no dia 8 de abril. Cada cargo tem provas específicas que constam no edital. Para os cargos de Motorista Categoria B; Motorista Categoria D; Operador de Retro escavadeira; Operador de Patrol e Tratorista, os aprovados na prova objetiva serão submetidos a prova prática.

A estabilidade do emprego público e a promessa de boa remuneração atrai muitas pessoas de diversas áreas do conhecimento para os concursos. Entre os profissionais da área de saúde, não é diferente. O LeiaJá preparou uma lista com concursos públicos para quem quer trabalhar com saúde no serviço público. Há editais com vagas para vários níveis de escolaridade, em diversas regiões do país e com remuneração de até R$ 20 mil para médicos, dentistas, enfermeiros, psicólogos, veterinários, fisioterapeutas e outras especialidades. Confira:

Fundação Municipal de Saúde (FMS)

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A Fundação Municipal de Saúde (FMS) de Teresina, no Estado do Piauí, está com as inscrições abertas a partir desta terça-feira (8) até o dia 28 de agosto, através do site da organizadora do concurso. Há 35 vagas para médico anestesiologista com salário inicial é de R$ 9.235,50. Para mais informações, acesse o edital

Prefeitura de Lagoa dos Três Cantos  - RS

A prefeitura de Lagoa dos Três Cantos, no Rio Grande do Sul, está com as inscrições para um concurso abertas até esta segunda-feira (14). Em saúde, há vagas para os cargos de técnico em enfermagem, farmacêutico, médico de Estratégia de Saúde da Família (ESF), pediatra e ginecologista obstetra. O salário vai até R$ 20.548 e as inscrições devem ser feitas através do site da banca organizadora do concurso. Para confirmar a participação no concurso, é preciso pagar uma taxa de R$ 39,71 a R$ 108,50. Para mais informações, acesse o edital

Prefeitura de Guarantã do Norte - MT

As inscrições para processo seletivo da prefeitura de Guaratã do Norte, no Mato Grosso, abrem na próxima sexta-feira (18) e vão até o próximo dia 28 de agosto. São oferecidas 28 vagas distribuídas entre nove Unidades de Saúde da Família (USF) da cidade para o cargo de agente comunitário de saúde. A jornada de trabalho é de 40 horas semanais, com remuneração de R$ 1.267. Para se inscrever, os candidatos deverão comparecer à USF que detém a vaga desejada 7h às 10h30 ou das 13h às 16h30, levando cópias do RG, CPF, comprovante de residência e de conclusão do Ensino Médio. Para mais detalhes, acesse o edital

Universidade Federal da Bahia

A Universidade Federal da Bahia (UFBA) está com as inscrições abertas até o dia 14 de setembro para um concurso público com 17 vagas e salários de até R$ 8.095. Na área de saúde, há oportunidades para candidatos formados em psicologia, farmácia, medicina, fisioterapia e medicina veterinária. As inscrições custas R$ 100 e devem ser feitas através do site da universidade. Para mais informações, acesse o edital

Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) abre, na próxima terça-feira (15), as inscrições para um concurso com 125 vagas e formação de cadastro reserva para técnicos de enfermagem. A remuneração é de R$ 1.028, mais R$ 723 de prêmio de incentivo, além de auxílio alimentação, vale transporte e creche para os filhos. As inscrições vão até o dia 15 de setembro, custam  R$ 55,15 e devem ser feitas através do site da banca organizadora. Para mais informações, acesse o edital

Fundação de Desenvolvimento da Unicamp (Funcamp) 

Dois editais de processo seletivo para médicos estão abertos na Fundação de Desenvolvimento da Universidade de Campinas (Funcamp), no Hospital Estadual Sumaré. Nos editais 71 e 72 há uma vaga para os cargos de médico cirurgião geral ou médico cirurgião geral plantonista, e médico urologista. A remuneração é de R$ 8.342 para uma carga horária de 24 horas semanais. Os interessados devem se inscrever até o dia 28 de agosto das 8h30 às 17h, no Departamento de Recursos Humanos do HES, situado à Avenida da Amizade, nº 2.400, no Parque Jatobá em Sumaré - SP.

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