Tópicos | Rede de ajuda

Com os crescentes casos do novo coronavírus no País e aulas suspensas desde março passado, alunos se deparam com os desafios de estudar em casa, por muitas vezes com recursos limitados. Com isso, desde o início do isolamento social, participantes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020, encontraram na tecnologia uma rede de apoio entre eles. Tudo através de grupos de estudos pelo Whatsapp.

Da sala de aula para a sala de bate-papo

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Nesse cenário de incerteza e de dificuldades para estudar, a tecnologia, ou mais especificamente o Whatsapp, tem desempenhado um papel importante para que participantes da edição possam estreitar relações e compartilhar materiais de estudos entre eles, em um rede de apoio, fornecidos de forma gratuita. 

Em entrevista ao LeiaJá, a estudante do ensino médio e idealizadora de um grupo de estudo, Giovana Nascimento, 18 anos, que reside em Carpina, Agreste de Pernambuco, explica que a ideia surgiu a partir dos erros na emissão do boleto na plataforma de inscrição do Exame. O ocorrido resultou em uma página no Instagram, com quase mil seguidores, chamada ‘Cadê o Beto’ - personagem que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) usa para tratar da parte financeira. Posteriormente, o conteúdo transformou-se em um grupo no aplicativo de mensagem Whatsapp.

“Teve início com o problema do boleto, daí o nome ‘Cadê o Beto' e já tínhamos três grupos lotados para tratar sobre os problemas. Quando o problema do boleto encerrou, muitas pessoas saíram e daí criamos um grupo só, atualmente com 184 pessoas”, afirmou Giovana.

A jovem ainda explica que acha válido compartilhar o material no grupo, pois notou que os vestibulandos são maioria dos participantes. A estudante e ressalta que ainda assim os integrates do grupo continuam a falar sobre o Enem no geral, tirando dúvidas sobre dos atuais problemas e repassando dicas de estudos para os demais. A comunidade tem maior movimentação durante a noite, devido às demandas com aulas remotas dos participantes ao longo do dia. 

O grupo de estudos 'Cadê o Beto', que começou em Pernambuco, ganhou o Brasil. Nele há participantes de outros estados, como Espírito Santo e Belo Horizonte. Uma delas é a vestibulanda Isadora Lima, de 17 anos. “Está sendo ótimo para tirar dúvidas de estudos e mandar conteúdos que podem ajudar”, disse a  estudante.

Ela ainda pontua que o grupo representa um apoio entre os demais candidatos. “Com todos esses problemas que aconteceram com o Enem, foi uma forma de se tranquilizar. É aquele clichê, mas verdadeiro sentimento de ‘não estou sozinho no mundo’ e de que ‘juntos somos mais fortes'”, desabafa. 

A psicóloga clínica Márcia Karine observa que a organização dos estudantes em ambiente virtual faz parte de um processo de adaptação e reforça que o espírito da coletividade ajuda em questões emocionais que ficam ainda mais latentes em meio a pandemia da Covid-19. “Os grupos unidos permitem a troca de informações, uma competição saudável de resposta às questões, como forma de treinar, os alunos conseguem dar apoio emocional uns aos outros”, afirma. 

Sem contar que “a união nos grupos auxilia a dividir as demandas e compartilhar os sentimentos, as questões emocionais ficam mais latentes e isso [o grupo de estudo] ajuda a aliviar mas a tensão promovida pelo momento de fortes cobranças”, analisa Márcia, que também é coordenadora do curso de psicologia da UNINABUCO - Centro Universitário Joaquim Nabuco Paulista.

Ajuda para pernambucanos

Um outro grupo também tem ganhado destaque, o chamado ‘Estudos na Quarentena’, que assim como ‘Cadê o Beto, compartilha conteúdos para que vestibulandos não fiquem para trás na corrida pela aprovação no Enem 2020. 

Com número menor de participantes no Whatsapp, cerca de 24 alunos engajados, a iniciativa da estudante de licenciatura plena em química pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Ana Cecília Fernandes, 18 anos, além de compartilhar conteúdos direcionados ao Exame ainda promove aulas através da plataforma Google Meet. 

Contando com Ana, o grupo tem um total de 13 professores, equipe formada apenas com graduandos na área de educação e licenciaturas da UFRPE e da Universidade de Pernambuco (UPE). Focado em estudantes do Estado que estão se preparando para as provas, os professores dão dicas de materiais atualizados, preparam aulas e tiram dúvidas de questões que podem cair na Enem.

“Além de participar da criação do projeto, eu também estou ministrando aulas de química para os vestibulandos que fazem parte desse projeto. As aulas são realizadas através da plataforma do Google Meet e também disponibilizamos materiais e vídeo aula extra pelo Google Classroom”, explica Ana, uma das criadoras do projeto.

Para manter a organização, assim como aulas presenciais, o grupo tem horário de funcionamento, sendo das 13h às 17h. A voluntária revela que a dinâmica, até o momento, tem gerado retornos positivos. 

“Eles [os estudantes] têm nos demonstrado um feedback muito positivo. Muitos deles estão totalmente dependente de nós! Ter um apoio como o nosso é essencial e creio que muito relevante”, disse Ana.

Até então, o projeto terá continuidade apenas neste período, em que com aulas suspensas os estudantes precisam de um olhar mais atento, sobretudo os alunos de rede pública que por vezes não possuem condições adequadas para receber aulas em casa. 

“Alguns estudantes são periféricos e vindos de escola pública. [Mesmo] com o pouco acesso que eles têm à internet, eles conseguem assistir as aulas e receber todo nosso apoio. E as aulas, por terem como objetivo alunos de rede pública, são bastante explicadas e detalhadas, de forma leve”, destacou. 

Ana também fala que “a maior dificuldade deles são nas disciplinas de ciências exatas. Muitos deles não conseguem elaborar cálculos básicos por conta da qualidade de ensino que tiveram acesso. Infelizmente, nossa rede pública de ensino ainda é muito precária”, crítica. 

Em conversa, a estudante do ensino médio Maria Cecília Ferreira, 16 anos, reitera as observações da professora de química do projeto, e explica que manter suas maiores dificuldades é manter o foco para absorver todos os conteúdos e ter sempre disposição para segurar o ritmo nos estudos. 

“A falta de disposição e foco me incomoda. Eu sei que conseguiria estudar sozinha, que tenho dificuldades nas aulas remotas, sendo que com tudo que está acontecendo e por ter ansiedade, eu acabo não conseguindo manter o foco e não tenho muito disposição. Esse é meu maior problema”, desabafa.

Dicas para render nos estudos

Os grupos de estudos pela internet não contam com apoio psicopedagógico. Sem este apoio, a longo prazo, o rendimento dos estudantes pode não representar uma resposta positiva no Enem. 

Pensando em como ajudar os estudantes, o LeiaJá, reuniu algumas dicas compartilhadas pela psicóloga Márcia Karine, para que os estudantes possam aproveitar melhor o tempo em casa e o auxílio desses voluntário nos preparatórios em grupos de estudos pelo WhatsApp. 

“A psicologia em sua essência nos mostra a importância de estarmos com o corpo são e a mente sã, por isso precisamos desse contato [entre ambos] para compartilhar as emoções", diz. Para isso algumas dicas podem orientar na absorção dos conteúdos:

Crie uma rotina, por exemplo, acordando e dormindo cedo;

Programe os horários para estudar;

- Realize um cronograma semanal dos conteúdos que precisa estudar ou revisar; 

- Busque compreender quais as disciplinas com maior dificuldade e coloque-as como as primeiras a serem estudadas;

- Estabeleça horários para se alimentar;

- Reserve um tempo para fazer alguma atividade que te dê prazer.

Márcia ainda recomenda como método de alívio das tensões a conversa por telefone - devido às restrições da pandemia - com algum amigo ou até mesmo com o professor, compartilhando o que sente. 

Vale ressaltar que as provas do Exame Nacional do Ensino Médio 2020 foram adiadas em até 60 dias após data prevista de aplicação, inicialmente planejada para novembro. As novas datas de realização das provas, na versão digital e impressa,  ainda não foram anunciadas pelo Inep. O dia em que serão realizadas as provas do Enem 2020 será decidido pelos participantes, por meio de votação em junho através da Plataforma do Participante.

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