Tópicos | Ricardo Teixeira

O governo de Andorra fecha o cerco a Ricardo Teixeira e vai pedir a colaboração do Brasil para investigar suspeitas de lavagem de dinheiro e corrupção envolvendo o ex-presidente da CBF. O jornal O Estado de S. Paulo obteve informações exclusivas de que as autoridades do principado já informaram Brasília que enviarão nos próximos dias um pedido de cooperação judicial à Procuradoria Geral da República.

A PGR já indicou que está disposta a cooperar e que a transmissão de dados poderia ocorrer em um modelo chamado de "auxílio direto".

##RECOMENDA##

O ex-cartola é investigado pelo FBI. Os americanos solicitaram à Justiça suíça informações sobre contas que estariam sendo controladas pelo brasileiro em bancos no país alpino e também pediram a colaboração de Andorra, diante das suspeitas de que parte dos negócios dele teriam passado por lá.

Por Andorra teria passado o pagamento de uma indenização milionária imposta a Ricardo Teixeira e João Havelange para arquivar um dos maiores caso de corrupção da Fifa. Segundo a Justiça suíça, eles fraudaram a entidade em R$ 40 milhões entre 1992 e 2000 por meio de pagamentos de propinas da ISL, a empresa que vendia direitos de transmissão para a Copa de 2002 e 2006.

O caso foi mantido em sigilo, e os cartolas brasileiros pagaram multa de US$ 2,45 milhões como devolução dos recursos e forma de encerrar o caso. Mas recursos nos tribunais em Lausanne conseguiram liberar a documentação.

Dados obtidos pelo jornal O Estado de S. Paulo revelam que a empresa que fez a gestão para a devolução do dinheiro na forma de multas foi a Bon Us SL. A empresa depositou os US$ 2,5 milhões do acerto entre Teixeira, Havelange e a Fifa. O dinheiro foi para a conta de Peter Nobel, o advogado pessoal de Joseph Blatter, presidente da Fifa, quem repassou o dinheiro à instituição.

Quatro dias depois, mais US$ 100 mil foram repassados de um banco em Andorra para Nobel, supostamente como honorários de advogados.

O presidente da Bon Us não é declarado em documentos oficiais. Mas ela aparece como acionista da sociedade CO-INVEST SP. Z O.O. registrada na Polônia e que tem como um de seus sócios Joan Besoli que, por sua vez, é sócio de um aliado de Teixeira, Sandro Rosell, na consultoria Comptages SL. Esse mesmo escritório conduziu um pedido de Teixeira para ser residente de Andorra.

Uma das condições para receber a residência seria o depósito de dinheiro no principado. A suspeita é de que o brasileiro optou por fazer a transferência ao banco Andbank, instituição que foi também controlada por um dos ex-diretores de Rosell no Barcelona, Ramon Cierco.

Os advogados de Teixeira foram procurados pela reportagem do jornal O Estado de S. Paulo e não responderam até o final da noite da última segunda-feira.

Quase seis anos após recusar o convite para assumir a seleção brasileira, em 2010, o assunto continua presente nas entrevistas de Muricy Ramalho, atual técnico do Flamengo. Em entrevista exibida no programa Esporte Espetacular, da TV Globo, neste domingo, ele afirmou que a atitude "arrogante" do então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, colaborou para a resposta negativa.

"O Ricardo Teixeira me disse que eu ia ser técnico da seleção brasileira e já estava tudo acertado, mas eu falei que tinha um problema. De uma maneira meio arrogante, ele me perguntou qual era o problema. E eu expliquei que tinha dado minha palavra ao Fluminense, não posso chegar e falar que não vou mais. Não é assim. Ele continuou e disse ‘vai lá e resolve’, no que eu respondi que já estava tudo resolvido, eu iria continuar no Fluminense", afirmou o treinador, que à época tinha acabado de assumir o clube carioca.

##RECOMENDA##

Naquele momento, Muricy Ramalho era apontado como o melhor treinador do Brasil - vinha de três títulos brasileiros pelo São Paulo em 2006, 2007 e 2008. E ele afirmou que tinha um compromisso a honrar com o clube das Laranjeiras. "O Fluminense estava brigando por um título que não ganhava há 26 anos. Como ficaria a torcida e os dirigentes?".

O treinador ainda explicou que não sentiu firmeza no projeto da CBF, igual ao que aconteceu com Mano Menezes, que foi demitido antes de chegar na Copa do Mundo de 2014. "Eu não senti uma parceria do Ricardo Teixeira, ficou uma coisa meio vaga. Para você me entusiasmar, tem que ser algo seguro", disse.

No fim, a atitude de Muricy Ramalho acabou mostrando-se extremamente benéfica ao clube tricolor: em uma disputa acirrada com Corinthians e Cruzeiro até a última rodada, o Fluminense sagrou-se campeão brasileiro de 2010.

Acusado por Eugenio Figueredo nos relatos ao FBI, Ricardo Teixeira diz que não recebeu dinheiro da Full Play, empresa argentina de marketing esportivo fundada em 1998, nem participou do esquema de propinas na Conmebol. O ex-presidente da CBF, procurado pelo jornal O Estado de S. Paulo, disse que a revelação de Figueredo "é estapafúrdia, sem nenhuma lógica, se é que verdade que ele falou isso". Teixeira diz que nunca participou de um contrato, nem tinha poder para isso, com a Full Play na Conmebol.

"Raciocina comigo. Eu deixei a CBF em abril de 12 (2012) e fui para os Estados Unidos. O Figueredo assumiu a Conmebol em maio de (2013). Como eu poderia participar da assinatura de contratos com a Full Play em 2013 se eu já estava fora da CBF e não era membro da Conmebol? Não tem lógica."

##RECOMENDA##

O contrato a que Teixeira se refere é o dos direitos de marketing da Copa América de 2015 e de 2016 celebrado pela Datisa (empresa uruguaia criada por um acordo entre a Traffic, de J. Hawilla, e as argentinas Full Play e Torneos y Competencias) com a Conmebol, em maio de 2013.

"Como eu poderia fazer parte de um contrato se não tinha cargo na Sul-Americana? Não é verdade que teria recebido esses US$ 300 mil que o Figueredo teria declarado. Esse dinheiro não entrou na minha conta. Se ele (Figueredo) disse que eu recebi, então cadê o meu dinheiro? Na minha conta, não entrou".

Sobre as revelações de Figueredo ao FBI de que o presidente da CBF teria pedido para aumentar os salários de presidentes de confederações na Conmebol quando ele, Figueredo, assumiu a presidência da entidade, Teixeira diz que é outro equívoco do dirigente uruguaio.

"Se o Figueredo assumiu a Conmebol em 2013 e eu deixei a CBF em 2012, como eu poderia pedir aumento de salários se já estava fora da CBF? Não tem o menor sentido. Esse presidente da CBF a que ele teria se referido certamente não sou eu."

Teixeira disse ainda que não tem nenhum poder no futebol sul-americano e também no Brasil. "Estou fora da cadeira. Se quisesse influir em alguma coisa, estaria sentado na cadeira."

Preso no Uruguai, o ex-presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), Eugenio Figueredo, abriu o jogo sobre como funcionava a propina no futebol sul-americano e, segundo relatos ao FBI, acusou o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, de ser um dos líderes do esquema. Esta semana uma equipe do FBI visitará Montevidéu para trocar informações com a Justiça local.

O jornal O Estado de S. Paulo obteve com exclusividade a íntegra do depoimento dado pelo uruguaio ao FBI no dia 24 de dezembro e, em suas respostas, Figueredo alerta que não vai aceitar ser o único a responder pelas suspeitas. O dirigente foi preso na Suíça no dia 27 de maio de 2015 e extraditado no fim do ano passado para Montevidéu. Na corte uruguaia, ele é acusado de corrupção e fraude.

##RECOMENDA##

Ao falar das propinas pagas por empresas de tevê e marketing para garantir contratos de televisão na Conmebol, Figueredo, segundo depoimento ao FBI, revelou que tudo começou com Teixeira e Julio Grondona, o ex-presidente da Associação de Futebol da Argentina (AFA) e também ex-vice-presidente da Fifa.

Figueredo foi presidente da Conmebol entre 2013 e 2014, quando Teixeira já havia abandonado a CBF - saiu em abril de 2012. Mas o que o uruguaio fez diante dos juízes foi detalhar como o sistema de propinas foi criado quando ele ainda era apenas o presidente da Associação Uruguaia de Futebol (AUF) e nos anos anteriores à sua chegada ao poder. Figueredo presidiu a entidade uruguaia entre 1997 e 2006.

"Era tão natural que a pessoa que entrava no grupo recebia o dinheiro que cada um sabia que ia receber", disse no depoimento. "Grondona e Ricardo Teixeira começaram a ampliar os benefícios a todos. Nunca houve licitação nem concorrência para os contratos. A empresa Full Play entregou a cada um dos dez presidentes (das federações nacionais na América do Sul) US$ 300 mil para assinar um contrato."

Segundo o depoimento do uruguaio, Grondona mandava mais no futebol sul-americano do que Nicolás Leoz, o ex-presidente da Conmebol por anos. E ele (Grondona) tinha o apoio de Teixeira." O argentino morreu em 2014, antes da eclosão dos casos de corrupção no futebol mundial.

Figueredo disse no depoimento que, quando já comandava a Conmebol, "o presidente da CBF" sugeriu que ele aumentasse seu próprio salário como chefe da entidade para permitir que todos os demais membros do Comitê Executivo da organização também ganhassem mais. Em 2013 e 2014, período em que dirigiu a Conmebol, o presidente da CBF era José Maria Marin.

"O presidente do Brasil queria que eu cobrasse US$ 50 mil, assim eles ganhariam US$ 25 mil", disse. "Fechamos em US$ 40 mil, porque era ‘dinheiro doce’", explicou, usando um termo em espanhol para designar propina.

Figueredo disse ao juiz que "tudo isso (o escândalo) nasce das declarações de J. Hawilla", em uma referência ao acordo de delação premiada que o empresário brasileiro fechou com a Justiça americana após ser acusado de corrupção nos contratos de marketing e direitos de televisão com a Conmebol.

"O que temos de entender é que, em algum momento, temos de começar a dizer a verdade. Acredito que cada um precisa dizer a verdade. Não sou dedo-duro, como dizem, mas se estou nesta situação é por que alguém falou. E o único que está se esforçando por esta causa sou eu."

PROCESSO - As revelações feitas por Eugenio Figueredo diante da Justiça podem comprometer Ricardo Teixeira. Ministérios públicos da América do Sul fecharam um acordo para compartilhar informação e agir de forma coordenada no caso da corrupção no futebol.

Conforme o jornal O Estado de S. Paulo já havia revelado, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos suspeita que Teixeira tenha controlado três contas secretas em bancos na Suíça - Teixeira nega a existência dessas contas - e, além das propinas em casos relativos aos torneios da Conmebol, o acusam de corrupção no contrato entre a Nike e a CBF.

O FBI ainda levou da Suíça cerca de 50 caixas de documentos sobre as investigações relativas ao pagamento de propinas para Teixeira por meio da empresa ISL. A companhia de marketing da Fifa quebrou em 2001, e um caso apontou para o uso da empresa como uma espécie de banco paralelo para permitir que o brasileiro recebesse propinas.

O caso foi arquivado em 2012 depois que Teixeira pagou uma indenização em um acordo, mas agora os norte-americanos querem reabri-lo.

Um delator disse ao FBI que o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, recebeu por uma década propinas em contas bancárias na Suíça e que até mesmo gerentes de alto escalão de bancos suíços chegaram a operar transferências para ele. Documentos oficiais do FBI obtidos pelo jornal O Estado de S.Paulo revelam que Teixeira teria passado mais de uma década recebendo propinas em contas em Zurique, a mesma cidade da sede da Fifa e para onde o dirigente viajava com frequência para reuniões da entidade.

No documento, o nome do delator não é publicado e é citado apenas como "CW1", siga em inglês para "Cooperating Witness" (testemunha que está cooperando). Mas as informações apontam que ele estaria envolvido com uma empresa de marketing com sede na América do Sul e filial nos Estados Unidos.

##RECOMENDA##

Segundo o FBI, Teixeira foi identificado por um magistrado do Cantão de Zug, na Suíça, por "ter recebido mais de 20 milhões de francos suíços (US$ 20 milhões) em contas das quais ele era o único beneficiário em propinas da ISL entre 1992 e 2000, em violações ao Código Penal Suíço". A ISL era a empresa de marketing que, em 2001, quebrou e levou a Fifa a uma crise profunda.

Para os norte-americanos, Teixeira caminhava para ser o "próximo presidente da Fifa", ao "alavancar" sua posição de poder dentro da CBF e da entidade em Zurique. E o escândalo da ISL não seria o único que renderia recursos ao brasileiro. "Acredita-se que Teixeira tenha recebido milhões de dólares durante aproximadamente o mesmo período (1992 e 2000) e continuou a receber depois disso, da parte do CW 1 e de outros", apontou o informe do FBI.

"CW1 declarou que Teixeira tinha uma conta no UBS de Zurique e ele faria pagamentos de propinas e subornos de uma conta numerada de CW 1 diretamente para a conta UBS por meio de transferências internas", disse o informe.

Segundo a delação, um banqueiro suíço também fazia parte do esquema. Urs Meier, do UBS, realizava viagens para a América do Sul para se encontrar com cliente. O delator conta que instruiu Meier a fazer as transferências diretas para as contas de Teixeira. "Tais transferências possivelmente ocorreram entre o começo dos anos de 1990 e 2000 e possivelmente além dessa data também", revelou o documento.

Em dezembro, o jornal O Estado de S.Paulo já havia revelado que o FBI havia identificado contas controladas por Teixeira em pelo menos três bancos: o UBS, o Banca del Gottardo e o BSI, comprado este ano pelo banco brasileiro BTG Pactual.

LARANJA - Em duas destas contas, um total de US$ 800 mil foram transferidos de contas nos Estados Unidos para a Suíça, envolvendo a Somerton, empresa controlada pelo também brasileiro José Margulies (conhecido como José Lázaro e que também foi indiciado pelo FBI). Ele é suspeito de agir como testa de ferro para o empresário J.Hawilla e realizar os pagamentos de propinas para dirigentes do futebol mundial. A empresa de fachada de Hawilla, portanto, também teria abastecido as contas suíças de Teixeira.

A suspeita do FBI é de que Teixeira usaria um nome de fachada para não ter sua identidade revelada. Mas aparecia como beneficiário das contas. O "laranja" seria Willy Kraus, dono da Kraus Corretora de Câmbio, no centro do Rio.

Em uma das transações suspeitas, o FBI registrou como a empresa Blue Marina, com contas nos Estados Unidos, pediu para transferir seus ativos para a Suíça. No dia 25 de setembro de 2008, a conta em território norte-americano foi fechada e o dinheiro enviado a uma conta de Kraus na Banca del Gottardo. O valor transferido era de US$ 478,2 mil.

Outro nome registrado pelos norte-americanos é o da sociedade Summerton, usada também pelo dirigente. Para o FBI, Teixeira mantinha o "efetivo controle" sobre essas contas. Agora, no novo documento do FBI, os investigadores apontam que acreditam que Kraus "permitia que Teixeira usasse suas contas como forma de esconder sua verdadeira fonte".

A Procuradoria Geral da Suíça repassou às autoridades norte-americanas detalhes sobre contas bancárias controladas por Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF. No total, os suíços anunciaram que enviaram dados sobre 50 contas em dez diferentes bancos. A Suíça ainda bloqueou US$ 80 milhões em 13 contas pertencentes a diversos cartolas atendendo a um pedido dos Estados Unidos. O valor do dinheiro bloqueado em nome do brasileiro não foi revelado.

A iniciativa faz parte da cooperação entre Berna e Nova York na operação sobre a corrupção na Fifa. Parte das contas envolvia ainda Nicolas Leoz, ex-presidente da Conmebol.

##RECOMENDA##

No início de dezembro, a reportagem do Estado de S. Paulo revelou com exclusividade que o FBI suspeitava de contas na Suíça que tinham como beneficiário o ex-dirigente brasileiro, indiciado nos Estados Unidos por propinas relativas aos acordos entre a CBF e a Nike, além de dinheiro pago por conta da Copa do Brasil.

Segundo documentos obtidos pela reportagem, o FBI identificou contas controladas por Teixeira em pelo menos três bancos: o UBS, o Banca del Gottardo e o BSI, comprado neste ano pelo brasileiro BTG Pactual. Em apenas duas dessas contas, um total de US$ 800 mil foram transferidos de contas nos Estados Unidos para a Suíça, envolvendo a Somerton, empresa controlada pelo também brasileiro José Margulies. Ele é suspeito de agir como "testa de ferro" para o empresário J. Hawilla e realizar os pagamentos de propinas para dirigentes do futebol mundial. A empresa de fachada de Hawilla, portanto, também teria abastecido as contas suíças de Teixeira.

A suspeita do FBI é de que Teixeira usaria um nome de fachada para não ter sua identidade revelada. Mas aparecia como beneficiário das contas. O "laranja" seria Willy Kraus, dono da Kraus Corretora de Câmbio, no centro do Rio.

Em uma das transações suspeitas, o FBI registrou como a empresa Blue Marina, com contas nos Estados Unidos, pediu para transferir seus ativos para a Suíça. No dia 25 de setembro de 2008, a conta em território americano foi fechado e o dinheiro enviado a uma conta de Kraus, na Banca del Gottardo. O valor transferido era de US$ 478,2 mil. Outro nome registrado pelos americanos era a da sociedade Summerton, usada também pelo dirigente. Para o FBI, Teixeira mantinha o "efetivo controle" sobre essas contas.

Marco Polo del Nero, José Maria Marin e Ricardo Teixeira - os três últimos presidentes da CBF - montaram um esquema corrupto que arrecadou pelo menos R$ 120 milhões em propinas. Investigações lideradas pelo FBI apontaram que eles cobraram uma espécie de "pedágio" para cada empresa que procurava a entidade com a meta de fechar acordos de transmissão ou de exploração de marketing.

À reportagem, fontes próximas à investigação nos Estados Unidos indicaram que os valores manipulados pelos brasileiros estão entre os maiores do escândalo que sacode o futebol mundial. O que impressionou os investigadores do FBI é o caráter sistemático das propinas cobradas. No documento emitido pelo Departamento de Justiça, o envolvimento dos três cartolas é resumido em uma frase: "Eles conspiraram de forma intencional para fraudar a CBF".

##RECOMENDA##

Os investigadores revelam que o esquema criou uma situação em que acordos comerciais mais vantajosos para o futebol deixaram de ser assinados. A opção era sempre por empresas que estivessem dispostas a pagar propinas. As vítimas, segundo o FBI, foram a CBF e o futebol brasileiro, que poderiam ter arrecadado mais para financiar clubes e torneios.

Marco Polo Del Nero, José Maria Marin e Ricardo Teixeira dividiram, por exemplo, R$ 2 milhões por ano em propinas pagas pelo empresário José Hawilla para as edições anuais da Copa do Brasil.

Ricardo Teixeira, ainda nos anos 90, também fechou um acordo com Hawilla para dividir o lucro que o empresário teria obtido ao intermediar o acordo da Nike com a CBF avaliado em US$ 160 milhões. Outros US$ 40 milhões foram para uma conta na Suíça, divididos entre Hawilla e Teixeira.

Uma parte significativa da corrupção montada estava relacionada com a Copa América. A Datisa, empresa que em 2013 comprou os direitos de transmissão e marketing até 2023 para o evento, concordou em pagar US$ 3 milhões por edição do torneio ao presidente da CBF no momento do evento.

Mas o valor da corrupção pode ser ainda maior. Del Nero, por exemplo, compartilhou propinas com Marin para pelo menos três edições da Copa Libertadores. Teixeira ainda recebeu "milhões de dólares" para garantir a presença dos melhores jogadores brasileiros nas edições da Copa América entre 2001 e 2011. Os valores não foram divulgados por enquanto.

Ricardo Teixeira jamais aparecia no hotel da concentração da seleção, sob o pretexto que não queria interferir no trabalho do treinador. Mas recebia milhões de dólares em propinas para garantir uma determinada escalação do time. A investigação do Departamento de Justiça dos EUA revelou que, entre 2001 e 2011, o dirigente recebia subornos do empresário José Hawilla para colocar em campo na Copa América os "melhores" jogadores brasileiros.

Em maio deste ano, a reportagem da Agência Estado revelou com exclusividade contratos da CBF que apontavam na mesma direção, com parceiros comerciais que determinavam escalações e exigiam que os reservas que eventualmente fossem chamados ao time tivessem o "mesmo valor de marketing" do titular. Na época, a CBF desmentiu a reportagem e a comissão técnica insistiu que nunca tinha ouvido falar no esquema.

##RECOMENDA##

Agora, no indiciamento da Justiça, a prática é detalhada para a Copa América. O evento era de propriedade da Traffic, do empresário brasileiro José Hawilla. Segundo o documento, ele "concordou em fazer pagamentos para a CBF para garantir que a entidade colocasse os melhores jogadores nas edições da Copa América disputadas entre 2001 e 2011".

A meta do empresário era de garantir os jogadores mais populares em campo para conseguir revender os direitos de TV a valores mais elevados, assim como os contratos de marketing. Mas, em certos momento, "Teixeira instruiu Hawilla a fazer os pagamentos a contas que eram desconhecidas de Hawilla e que o representante financeiro da Traffic informava que não era contas da CBF".

A última Copa do Mundo vencida pelo Brasil foi em 2002 e, desde então, treinadores insistiam que o País era cobrado em todos os torneios a vencer. Assim, não se preparou uma seleção para 2006, 2010 e nem 2014. Neste período, o Brasil venceu a Copa América de 2004 e 2007.

Segundo os americanos, Teixeira entendia que receber essas propinas era ilegal. Por isso, tanto o empresário como o cartola usaram de "técnicas sofisticadas de lavagem de dinheiro".

Hawilla não comprou apenas a CBF e Teixeira. Segundo a Justiça dos EUA, ele pagou à Associação de Futebol da Argentina "milhões de dólares por edição da Copa América para que a AFA colocasse em campo seus melhores jogadores".

Em certas ocasiões, ele era instruído a mandar o dinheiro "não para a AFA, mas para uma agência de viagem usada para facilitar pagamentos para Julio Grondona (ex-presidente da AFA)". "Hawilla então fez os pagamentos como solicitado", diz o relatório do FBI.

Marco Polo del Nero e Ricardo Teixeira foram acusados nos EUA por corrupção e conspiração, enquanto a Fifa abre investigações contra o presidente da CBF também por violações ao código de ética e pode suspender o dirigente do futebol. O Departamento de Justiça dos EUA apresentou nesta quinta-feira (3) acusações por corrupção contra mais 16 integrantes da FIFA, entre os quais o atual presidente e o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Marco Polo Del Nero e Ricardo Teixeira. Se condenados, eles estão sujeitos a penas que podem chegar a 20 anos de prisão.

Com as novas denúncias, o número de pessoas apontadas no processo quase dobrou, para um total de 41. O caso teve início em maio, com apresentação das acusações em uma corte do Brooklyn, em Nova York. Até agora, 12 indivíduos e duas empresas de marketing esportivo foram condenados e US$ 100 milhões recuperados pelo governo dos EUA.

##RECOMENDA##

Com a acusação confirmada, todos os três cartolas que comandaram a CBF nos últimos 30 anos estão sob suspeita ou serão julgados: José Maria Marin, Del Nero e Teixeira. Questionado se Del Nero poderia continuar na presidência da CBF, o chefe do Comitê de Auditoria da Fifa, Domenico Scala, apontou para um situação insustentável. "Essa é uma questão muito pertinente", disse.

No total, o Departamento de Justiça dos EUA indiciou um grupo de 16 cartolas, a maioria deles da América Latina. Pela manhã, em Zurique, dois vice-presidentes da Fifa, Alfredo Hawit e Juan Napout, foram presos e aguardam extradição aos EUA. A Justiça, porém, também confirmou o que a reportagem do Estado de S. Paulo havia revelado com exclusividade em 15 de setembro: Del Nero estava sendo investigado pelo FBI.

Agora, ele é acusado formalmente por receber propinas em contratos comerciais envolvendo a CBF. A Agência Estado apurou que o governo americano estava costurando um pedido de cooperação com o Brasil para que Del Nero fosse preso ou pelo menos ouvido pela Justiça.

Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, também foi indiciado por corrupção. Ele é suspeito de ter feito parte de um esquema em contrato com a Nike, ainda nos anos 90. Mas uma decisão de uma juíza no Rio de Janeiro suspendeu todo tipo de cooperação entre norte-americanos e brasileiros envolvendo o escândalo da Fifa. Com isso, o MP do Brasil ficou impedido de cumprir qualquer solicitação do FBI relacionado com o caso.

Nos EUA, a apuração sobre Del Nero se debruçava sobre pagamentos feitos por José Hawilla, dono da Traffic. A Justiça apontava como o empresário brasileiro foi obrigado a compartilhar um contrato que tinha com a CBF para os direitos da Copa do Brasil com a Klefer a partir de 2011. Para o período entre 2015 e 2022, a Klefer pagaria à CBF R$ 128 milhões pelo torneio, minando a posição privilegiada que Hawilla tinha desde 1989.

Para evitar uma guerra comercial, Hawilla e a Klefer entraram em um entendimento. Mas só neste momento é que a Klefer informou que havia prometido o pagamento de uma propina anual a um cartola da CBF, cujo nome não foi revelado. Essa mesma propina teria de ser elevada a partir de 2012, quando dois outros membros da CBF entrariam em cena. Um deles é José Maria Marin, preso em Zurique e extraditado aos Estados Unidos. O outro, segundo os americanos, seria Del Nero.

Dois documentos revelados ainda no dia 27 de maio pelo Departamento de Justiça dos EUA confirmavam a suspeita. Del Nero negava que ele fosse a pessoa indiretamente apontada nos informes. Num deles, um empresário "informa Hawilla que o pagamento de propinas aumentou quando outros dois executivos da CBF - especificamente o Co-Conspirator #15 e Co-Conspirator #16 - pediram propinas também".

O documento explicava que o co-conspirador 15 era membro do alto escalão da CBF e membro da Fifa e da Conmebol - a descrição apenas pode ser preenchida por José Maria Marin. Naquele momento, ele era o presidente da CBF, era membro da Fifa e da Conmebol. Já o co-conspirador 16 seria membro do alto escalão da Fifa e da CBF. Nesse caso, apenas Del Nero mantinha um cargo na CBF (vice-presidente) e na Fifa (membro do Comitê Executivo). "Hawilla concordou em pagar metade do custo da propina, que totalizava R$ 2 milhões por ano, para ser dividido entre Co-Conspirator #13, Co-Conspirator #15, e Co-Conspirator #16", indicou o indiciamento do empresário.

O mesmo caso é contado no documento que serve de base para o indiciamento de José Maria Marin e, neste caso, o nome do ex-presidente da CBF é apresentado. No indiciamento, a Justiça traz até mesmo um diálogo entre Marin e Hawilla, em que o cartola insiste que o dinheiro precisa ir para ele também. A reunião gravada ocorreu nos EUA em abril de 2014.

No documento de maio que cita Marin, Del Nero não é citados nominalmente na acusação. Mas a Justiça explica que um "co-conspirador 12" teria também recebido parte da propina. Esse co-conspirador 12 seria um "alto funcionário da Fifa e da CBF". Uma vez mais, apenas Del Nero se enquadra nessa descrição.

Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, está sendo investigado pela Fifa. A informação é do Comitê de Ética da entidade que, oficialmente, indicou que o brasileiro está sendo examinado. Se for condenado, ele pode ser obrigado até a deixar todas suas relações com o futebol.

Como ex-membro da Comitê Executivo da Fifa, ele é suspeito de ter vendido seu voto para o Catar sediar a Copa de 2022. A lista dos nomes de cartolas sob investigação foi revelada nesta quarta-feira, depois que a entidade aprovou mudanças em seus estatutos para permitir que sejam divulgados casos sob suspeita e que estejam sendo examinados.

##RECOMENDA##

Além de Teixeira, o órgão inclui Franz Beckenbauer e o espanhol Angel Maria Villar, o atual vice-presidente da Uefa. Ambos são investigados por seu papel no caso da suspeita de compra de votos para a escolha da Copa de 2022.

A reportagem do Estado revelou em 2014 que a suspeita se referia ao jogo entre Brasil e Argentina, disputado no Catar e que poderia ter servido como forma de compensar tanto Teixeira quanto o argentino Julio Grondona pelo voto que dariam aos árabes. O jogo aconteceu dias antes da eleição na Fifa, em 2010, e que definiu a sede.

Numa investigação interna, a Fifa disse inicialmente que não encontrou indícios de que o jogo foi usado para o pagamento de propinas. Mas as investigações da Justiça da Suíça e dos EUA apontam que as empresas que fizeram os pagamentos são as mesmas que hoje estão construindo os locais que receberão os jogos da Copa de 2022.

O Ministério Público da Suíça abriu inquérito sobre o assunto e chegou a confiscar os computadores da empresa Kentaro, que havia organizado a partida.

No Brasil, a Polícia Federal indiciou o ex-presidente pelos crimes de falsificação de documento público, falsidade ideológica, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. O Coaf, órgão de investigação financeira do Ministério da Fazenda, registrou movimentação atípica de Ricardo Teixeira dentro do Brasil de R$ 464,5 milhões entre 2009 e 2012.

Também levantou suspeitas a conta de Teixeira em Mônaco. Ao levantar os depósitos feitos na conta, os investigadores norte-americanos e suíços descobriram diversas transferências vindas de contas no Golfo.

Essa não é a primeira vez que a conta de Mônaco é mencionada. Durante a Copa de 2014, um site francês dedicado ao jornalismo investigativo, Mediapart, revelou uma gravação em que banqueiros falam sobre Teixeira e sua conta com 30 milhões de euros no principado.

O banco usado seria o Pasche, uma filial do grupo Credit Mutuel. O caso estaria sendo investigado pelas autoridades monegascas por lavagem de dinheiro, num processo conduzido pelo juiz Pierre Kuentz.

Teixeira teria passado pelo principado em janeiro, fevereiro, abril e maio de 2014, sempre ficando pelo menos dois ou três dias. O cartola se hospedava no luxuoso hotel Metropole. Isso não seria por acaso: o hotel fica a poucos metros do banco.

PLATINI E BLATTER - Por meio de comunicado divulgado nesta quarta, a Fifa ressaltou também que a investigação do Comitê de Ética que apura irregularidades cometidas por Joseph Blatter e Michel Platini, que neste mês receberam uma suspensão de 90 dias, seguem "em curso". "A investigação está focada no pagamento de 2 milhões de francos suíços da Fifa a Platini em fevereiro de 2011", informou.

Em seguida, a Fifa prometeu que a câmara de investigação de seu Comitê de Ética "fará tudo o que estiver ao seu alcance" para garantir que sua câmara decisória, presidida por Hans-Joachim Eckert, possa tomar uma decisão em relação aos dois dirigentes dentro do período de suspensão de 90 dias, que começou a ser cumprida no último dia 8.

A câmara de investigação também confirmou que os processos seguem em curso contra o Jérôme Valcke, secretário-geral que também foi afastado de suas funções pela "suspeita do uso indevido de despesas e outras infrações às regras e regulamentos da Fifa", conforme destacou a entidade nesta quarta.

O senador Romário, presidente da CPI do Futebol, entregou nesta quinta-feira ao ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília, o documento com as justificativas para o pedido da quebra dos sigilos bancário e fiscal de Marco Polo Del Nero. O presidente da CBF recorreu ao STF para tentar impedir a quebra.

Romário justificou, entre outros pontos, que o fato de haver indícios contra Del Nero na investigação movida pelos Estados Unidos contra vários dirigentes ligados à Fifa por recebimento de propina na celebração de contratos comerciais e de marketing, torna necessário o acesso da CPI aos dados de Del Nero.

##RECOMENDA##

Há suspeitas de ele ser o conspirador 12 identificado pelo FBI. O presidente da CBF sempre negou veementemente ser ele. O ex-jogador esclareceu que no período que abrange o pedido da quebra (de março de 2012 a maio de 2015), Del Nero está ligado à CBF ou como vice de José Maria Marin ou como presidente - cargo que exerce desde abril.

Também alvo da CPI, o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, vendeu em 24 de agosto a mansão de 600 metros quadrados com 7 quartos em Miami Beach por US$ 9 milhões (R$ 32,4 milhões). A informação é do site The Real Deal, especializado no mercado imobiliário da Flórida.

Como presidente da CBF, Ricardo Teixeira forçou a contratação de Jérôme Valcke pela agência de publicidade MPM na época em que a firma trabalhava para a entidade na organização da campanha do Brasil para sediar a Copa do Mundo de 2014. A MPM, entre 2007 e 2008, era presidida pela publicitária Bia Aydar, amiga de Teixeira, e tinha como sócio majoritário o grupo ABC, dos publicitários Nizan Guanaes e Guga Valente.

No total, a CBF pagou R$ 1,2 milhão para que a MPM e Valcke produzissem um caderno de encargos, documento que reúne informações do país em campanha para receber o Mundial. O Brasil concorria sozinho e existia um acordo entre as federações de que o Mundial seria no País.

##RECOMENDA##

Por meio da assessoria, Bia falou pela primeira vez sobre a contratação de Valcke ao ser questionada sobre a contratação pela reportagem. "Houve uma determinação, uma ordem do presidente da CBF para que Valcke fosse contratado. O dinheiro era do contratante, não cabia a ela questionar uma determinação", disse. No total, a MPM desembolsou 100 mil euros do contrato com a CBF para bancar a consultoria de Valcke na campanha pela Copa do Mundo. Procurada, a CBF disse que não comentaria assunto relacionado a gestão anterior.

Documentos aos quais a reportagem teve acesso revelam oito anos depois que o "consultor" Valke recebeu da MPM tratamento de "chefe de Estado". Na primeira semana de fevereiro de 2007, ele saiu de Paris para São Paulo em uma viagem que durou menos de 12 horas no Brasil. Valcke pousaria pela manhã e embarcaria de volta para a Europa no fim do dia.

No curto período, teve direito a quarto no luxuoso hotel Emiliano - onde ficaria menos de duas horas - e pegaria quatro voos de helicóptero para atender a seus compromissos. Ele visitou e foi recepcionado na África por Guga Valente; conheceu a DM9 e, por fim, seguiu para a sede da MPM. Horas depois, desembarcou de volta a Paris.

"A contratação de Jérôme Valcke foi realizada pela MPM e todo o processo de contratação foi conduzido pela agência. A MPM levou Jérôme Valcke para conhecer o grupo do qual a MPM fazia parte", afirmou à reportagem a assessoria da Grupo ABC.

No caderno aprovado por Valcke, a CBF apresentaria à Fifa 18 cidades candidatadas para receber a Copa. Apenas quatro estádios seriam construídos e o documento ainda apontava que o Morumbi seria o local do Mundial em São Paulo. Três anos depois e já na Fifa, o mesmo Valcke indicou que o Morumbi não teria condições de receber a Copa e o Itaquerão foi erguido.

O documento final seria produzido pela MPM e assinado por seu então vice-presidente, Rui Rodrigues, que estampou a sua foto no caderno. O nome de Valcke não aparece no documento. Conforme o ABC, Rodrigues se desligou do grupo. Em 2008, a CBF anunciou que desistiu de contratar a MPM para atuar na Copa do Mundo.

FIFA - Meses antes do contrato como consultor da MPM, Valcke atuava como diretor de Marketing da Fifa. Ele deixou o cargo depois de a entidade máxima do futebol ser condenada nos Estados Unidos a pagar US$ 90 milhões por irregularidades nas negociações da Fifa com a Visa e Mastercard tocadas por ele.

Segundo a corte norte-americana, Valcke "mentiu" nas negociações. Ainda assim, ele não seria expulso da Fifa e continuaria recebendo salário. Em sua volta, seria promovido e ganharia um novo cargo: o de secretário-geral e braço direito de Joseph Blatter. Foi nesse período enquanto esteve afastado que ele foi contratado pela MPM.

Nos anos que se seguiriam ao cargo de consultor da agência de publicidade, Valcke construiu uma relação de proximidade com Teixeira. Nas festas de fim de ano de 2007 e 2008, o francês levou sua família para a casa do brasileiro em Angra dos Reis (RJ). Em 2009, antes do Congresso da Fifa nas Bahamas, Valcke também visitou o brasileiro, desta vez em Miami. Hoje, seu filho é consultor de Marketing da CBF.

A relação entre Bia Aydar e a CBF também não se limitaria ao Mundial. Seria ela quem intermediaria em 2012 contratos da Nestlé para entrar como parceira da CBF.

Em 2014, a entidade ainda completaria 100 anos e, dois anos antes, todos os direitos dos eventos relativos à comemoração foram cedidos de forma exclusiva a Bia Aydar. Para evitar que a CBF tivesse de pagar a empresa da amiga de Teixeira, o então presidente da entidade em 2014, José Maria Marin, optou por não comemorar os 100 anos do futebol mais vitorioso do mundo.

Mais um amistoso da seleção brasileira é alvo de investigações sob a suspeita de que tenha sido usado como mecanismo para pagar propinas em troca de votos para o Catar na escolha da sede da Copa do Mundo de 2022. Segundo a Agência Estado apurou, o novo foco dos investigadores norte-americanos e suíços é a partida entre Brasil e Egito disputada no Catar, em 2011.

Na semana passada, a reportagem revelou que o jogo em 2010 entre Brasil e Argentina está entre os investigados. A partida amistosa ocorreu no Catar dias antes da votação na Fifa que deu ao pequeno país do Golfo o direito de sediar o Mundial de 2022. Tanto o Brasil como a Argentina votaram pelo Catar, ainda que o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, garanta que jamais recebeu um centavo pelo apoio.

##RECOMENDA##

Mas esse não é único jogo na lupa dos investigadores. A partida no dia 14 de novembro de 2011, no estádio do Al Rayyann, em Doha (Catar), também levanta suspeitas. O Brasil venceu por 2 a 0, com gols de Jonas.

Oficialmente, Doha foi escolhido pelos organizadores da partida por ser um local ao qual a torcida egípcia poderia comparecer em um bom número. No início daquele ano, o país havia passado por uma revolução e jogar no Cairo não era ainda uma opção.

Mas a suspeita é de que os organizadores da Copa no Catar teriam aproveitado a ocasião para quitar duas dívidas. A primeira seria ainda com Ricardo Teixeira, que um ano antes havia votado pelo país. E o Catar solucionava com o jogo uma outra dívida: com o chefe do futebol egípcio, Hany Abo Rida. O cartola era um dos maiores aliados de Mohamed Bin Hammam, do Catar, que tentou derrubar Joseph Blatter do cargo de presidente da Fifa.

Abo Rida está sendo investigado pelo FBI por também ter viajado com Bin Hammam para um encontro na União Caribenha de Futebol. Naquele evento, o representante do Catar distribuiu US$ 40 mil (R$ 122 mil, em valores de hoje) a cada um dos dirigentes do Caribe em troca de votos para a eleição na Fifa. Os norte-americanos querem saber o que Abo Rida fazia no mesmo jato particular que voou do Oriente Médio ao Caribe.

Apesar de o jogo com o Brasil ter ocorrido um ano depois da vitória do Catar, os investigadores alertam que os pagamentos podem não ter ocorrido de forma imediata. Um exemplo foi o pagamento feito ao então vice-presidente da Fifa, Jack Warner, por seu voto para a Copa na África do Sul em 2010. A escolha ocorreu em 2004, mas a dívida só foi quitada em 2008. "Nossa percepção é de que para a Copa do Catar os eventuais pagamentos foram realizados entre 2009 e 2012", disse uma fonte em Berna na condição de não ter sua identidade revelada.

"CIRCO" - À reportagem, o procurador-geral da Suíça, Michael Lauber, confirmou o interesse pelos dados da Kentaro, empresa que organizou os amistosos do Brasil entre 2006 e 2012. No último dia 27, o servidor da empresa foi confiscado pelas autoridades suíças, ainda que a agência não esteja entre as suspeitas.

Roland Buchel, deputado suíço que lidera os trabalhos no Parlamento por uma reforma na Fifa, defende a investigação dos amistosos. "Essas partidas não têm objetivo esportivo. Os jogadores se transformaram no circo de alguns que ganham dinheiro com isso", disse.

O que tanto o Ministério Público quanto o Parlamento apontam é que a rede de amistosos pode ter sido usado por mais de uma candidatura. Outro jogo sob suspeita é a ida do Paraguai até a Austrália para um amistoso em outubro de 2010, dois meses antes da votação - os australianos também queriam a Copa de 2022. A Justiça também suspeita que o jogo foi usado para fazer um agrado a Nicolás Leoz, o paraguaio que era membro da Fifa e votava na eleição.

O amistoso Brasil x Argentina no Catar envolveu uma ampla engenharia financeira e, agora, levanta suspeitas por parte de investigadores da Suíça e dos Estados Unidos. Documentos obtidos pela reportagem revelam que o dinheiro pago no jogo em novembro de 2010 envolveu três paraísos fiscais e pelo menos oito entidades - duas eram de fachada.

No total, um único jogo movimentou US$ 8,6 milhões oficialmente. Mas a suspeita dos investigadores é de que outros pagamentos tenham ocorrido por acordo secreto. A Agência Estado revelou no início da semana que a Justiça suíça fez uma operação de busca na sede de uma das empresas envolvidas na partida, a Kentaro. Era a empresa quem, entre 2006 e 2012, organizava os amistosos do Brasil e havia sido contratada por Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF.

##RECOMENDA##

Mas a suspeita dos suíços é de que o jogo no Catar foi usado para pagar propinas a cartolas no Brasil e Argentina, em troca de votos para a escolha da Copa do Mundo de 2022. A eleição na Fifa da sede ocorreu 20 dias depois da partida em Doha.

Investigadores revelaram que apresentaram ao CEO da Kentaro, Philipp Grothe, um organograma de qual teria sido o fluxo de dinheiro para aquele jogo. Grothe, no dia 27 de maio, confirmou que ele conhecia o esquema e, de fato, ele já havia repassado as mesmas informações para Michael Garcia, o ex-investigador da Fifa que pediu demissão de seu cargo ao ver que seu trabalho havia sido enterrado por Joseph Blatter, presidente da entidade.

Quem pagou pelo jogo foi a GSSG, empresa de construção no Catar que está erguendo as principais obras da Copa do Mundo de 2022. O dinheiro, em seguida, foi enviado à empresa sediada em Zurique, a Swiss Mideast. Um total de US$ 8,6 milhões foram dados para Kentaro organizar o jogo e pagar as duas seleções. A empresa, porém, deu uma comissão de US$ 2 milhões para uma sociedade de Cingapura, a BCS. O pagamento foi apenas por terem "feito a apresentação" entre as partes envolvidas no jogo.

Mais US$ 2 milhões teriam seguido para a empresa World Eleven, contratada pela Associação de Futebol da Argentina (AFA) para organizar amistosos pelo mundo. O dinheiro, então, seguiria para a entidade esportiva de Buenos Aires e na época presidida por Julio Grondona, um dos que votaram pelo Catar.

No caso do Brasil, a Kentaro destinaria um valor inferior, em US$ 1,1 milhão, mais um pagamento extra de 300 mil. O dinheiro foi enviado para a ISE, nas Ilhas Cayman, que depois repassou para a CBF. "O que fica claro é que se criou uma engenharia financeira complexa para pagar por um jogo amistoso", declarou um dos responsáveis da Justiça suíça pelo caso.

O que os investigadores suspeitam, porém, é que um contrato paralelo foi também organizado, contornando a Kentaro e permitindo que o dinheiro chegasse até as mãos dos dirigentes. Essa, pelo menos, foi a versão que os executivos envolvidos na organização da partida revelaram aos investigadores.

A Justiça da Suíça e o FBI vão investigar as transações financeiras de Ricardo Teixeira, inclusive uma conta mantida por ele em Mônaco. A apuração identificou depósitos de empresas do Golfo à conta no principado. Teixeira nega e diz que a conta foi aberta dois anos depois da escolha do Catar como sede.

Para o FBI, a resposta não convence. No caso de Jack Warner, outro que vendeu seu voto, as investigações apontam que pagamento da suposta propina ocorreu quatro anos depois.

O FBI identificou depósitos vindos de empresas do Golfo Pérsico nas contas de Ricardo Teixeira em Mônaco, num indício que levou os investigadores norte-americanos a suspeitarem que o brasileiro recebeu dinheiro por votar pelo Catar para sediar a Copa de 2022.

Na semana passada, o jornal "O Estado de S. Paulo" revelou com exclusividade que a empresa que organizava os amistosos da seleção brasileira entre 2006 e 2012, a Kentaro, foi alvo de uma ação da Justiça suíça. Os empresários foram questionados sobre a realização de um amistoso entre Brasil e Argentina no Catar, em novembro de 2010.

##RECOMENDA##

A Kentaro não está sendo processada. Mas a suspeita é de que o jogo foi usado pelos empresários do Catar e pelos organizadores da campanha de 2022 como a forma de pagamento da propina, tanto a Teixeira como ao então presidente da Associação Argentina de Futebol, Julio Grondona. Alguns dias depois, ambos votariam pelo Catar para sediar a Copa.

Agora, uma conta foi identificada em nome de Teixeira em Mônaco e já estaria bloqueada. Ao levantar os depósitos feitos na conta, os investigadores norte-americanos e suíços descobriram diversas transferências vindas de contas no Golfo.

Numa investigação interna, a Fifa disse que não encontrou indícios de que o jogo foi usado para o pagamento de propinas. Mas as investigações da Justiça da Suíça e dos Estados Unidos apontam que as empresas que fizeram os pagamentos são as mesmas que hoje estão construindo os locais que receberão os jogos da Copa de 2022.

Essa não é a primeira vez que a conta de Mônaco é mencionada. Durante a Copa de 2014, um site francês dedicado ao jornalismo investigativo, Mediapart, revelou uma gravação em que banqueiros falam sobre Teixeira e sua conta com 30 milhões de euros no principado.

O banco usado seria o Pache, uma filial do grupo Credit Mutuel. O caso estaria sendo investigado pelas autoridades monegascas por lavagem de dinheiro, num processo conduzido pelo juiz Pierre Kuentz. Em gravações realizadas pela Justiça e obtidas pelo jornal francês, o nome de Teixeira é citado pelo diretor do banco, Jürg Schmid.

"Nós, no banco Pasche, temos uma situação em que devemos provavelmente aceitar clientes que outros bancos certamente não aceitariam", disse. Ele explicaria de forma mais precisa sua declaração. "Eu tenho um, o grande brasileiro", afirmou.

"Eu sei muito bem que nenhum outro banco de Mônaco queria abrir uma conta dele", disse. "Agora, ninguém o quer porque se trata verdadeiramente de uma fria", estimou. "Mas nós fizemos tudo, já que temos a declaração de imposto e a declaração dos tribunais que dizem que ele não foi condenado", declarou. "Evidentemente, ele é conhecido, mundialmente conhecido", afirmou. "Portanto, existe um risco de reputação".

O banqueiro chegou a dar explicações sobre a origem do dinheiro. "Sabemos que ele recebeu dinheiro em troca de favores, mas não são políticos", disse. "Decidimos juntos que nós o receberíamos porque ele nos traz 30 milhões e isso não é pouco", declarou Schmid.

Teixeira teria passado pelo principado em janeiro, fevereiro, abril e maio de 2014, sempre ficando pelo menos dois ou três dias. O cartola se hospedava no luxuoso hotel Metropole. Isso não seria por acaso: o hotel fica a poucos metros do banco.

Os contratos da Copa do Mundo de 2014 entre a Fifa e parceiros comerciais e fornecedores serão examinados pela Justiça norte-americana. O foco da investigação é a relação entre Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa, e Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF e do Comitê Organizador da Copa (COL). Ambos estão na lista do FBI de suspeitos de crimes financeiros e envolvimento em fraude relacionado com o futebol.

Agora, os investigadores fazem um pente fino na relação entre os dois e querem saber se houve algum tipo de troca de favores ou irregularidades nos contratos que ambos assinaram por mais de cinco anos atuando juntos para preparar o Mundial no Brasil. Oficialmente, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos se recusa a comentar o caso. Mas fontes próximas ao processo confirmam com exclusividade que a relação entre Teixeira e Valcke será "examinada".

##RECOMENDA##

No total, a Copa do Mundo no Brasil envolveu mais de mil contratos diferentes, ainda que muitos sejam com governos. No início do ano, a empresa alemã Bilfiger admitiu que encontrou suspeitas de que seus diretores pagaram US$ 1 milhão em propinas para um dos contratos com o centro de controle e segurança da Copa. À reportagem, o porta-voz da empresa explicou nesta quarta-feira que todas as evidências já foram repassadas ao Ministério Público no Brasil.

Valcke, que também é investigado por outro pagamento relativo à Copa do Mundo de 2010 e avaliado em US$ 10 milhões, havia sido afastado da Fifa e voltou para a entidade em 2007, justamente quando o Brasil iniciou sua preparação ao Mundial. Nesta quarta-feira, ele garantiu que é inocente no que se refere ao pagamento dos US$ 10 milhões e que, portanto, não via motivos para renunciar. "Não há nada contra mim", disse a uma rádio francesa. Valcke indicou que fica até o final do mandato de Blatter.

Meses antes de assumir seu cargo, Valcke prestou consultoria para a CBF, preparando os documentos de candidatura do Brasil. A reportagem apurou que, neste período, ele também manteve seu salário na Fifa. Seu filho, Sebastien Valcke, chegou a trabalhar na Copa de 2014 e, hoje, é consultor de marketing da CBF.

Valcke criou uma relação de amizade com Ricardo Teixeira e os dois passaram a agir juntos em diversos pontos da preparação. No total, a Fifa destinou US$ 453 milhões para o COL da Copa, presidido por Teixeira. Mais de mil contratos foram assinados com esses recursos, além de verbas também da própria Fifa.

Oficialmente, o balanço financeiro da Fifa aponta que US$ 102 milhões foram usados para salários, mais US$ 64 milhões para transporte, US$ 48 milhões no aluguel de escritórios e burocracia, US$ 17 milhões para serviços médicos e US$ 45 milhões para segurança. Outros US$ 50 milhões foram usados para marketing e comunicação. No total, a Fifa gastou US$ 2,2 bilhões na Copa. Mas, desse total, um valor superior a US$ 500 milhões foi destinado às 32 seleções.

O que os norte-americanos querem saber é se os dois suspeitos também mantiveram relações privilegiadas durante a Copa. O interesse ainda está relacionado com o fato de que Ricardo Teixeira se mudou para os Estados Unidos em 2012 e diante da constatação de que uma série de empresas patrocinadoras do Mundial tem suas sedes em cidades norte-americanas.

VOTOS - A reportagem apurou que o nome de Ricardo Teixeira também faz parte dos documentos que a Fifa entregou para o Ministério Público da Suíça em novembro, relativos à suspeitas de compra de votos para as Copas de 2018 e 2022. Teixeira não cooperou com a investigação interna da Fifa. Mas ainda assim o autor do informe interno, Michael Garcia, fez um levantamento que aponta indícios de irregularidades envolvendo o Brasil.

A Fifa optou por abafar o caso. Mas o processo agora está nas mãos da Justiça suíça, que nos últimos dias tem interrogado uma série de dirigentes e testemunhas.

Oito meses antes de acusações de corrupção levarem oito dirigentes da Fifa à prisão, o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, colocou à venda a casa que possui em Sunset Island, um dos endereços mais luxuosos de Miami. O dirigente comprou o imóvel em 2012 da tenista russa Anna Kournikova. Pagou US$ 7,43 milhões, US$ 2 milhões a menos do que o pedido inicial. Construída no ano 2000, a casa tem sete quartos e oito banheiros e atracadouro para iates.

Segundo um corretor que negocia o imóvel que preferiu não se identificar, Teixeira pedia US$ 15,5 milhões pelo imóvel em setembro. O valor foi reduzido para US$ 13,5 milhões em janeiro e para US$ 12,9 milhões no mês passado. "As pessoas costumam baixar o preço quando concluem que o imóvel foi superavaliado ou quando têm pressa para vendê-lo", avaliou.

##RECOMENDA##

O nome de Teixeira não aparece nas investigações da Justiça norte-americana que levou à prisão de sete dirigentes da Fifa, entre os quais o ex-presidente da CBF José Maria Marin. Mas os procuradores de Nova York declararam que o caso está "no começo". Entre as operações investigadas pelo Departamento de Estado estão contratos de patrocínio assinados durante a gestão de Teixeira na CBF, de 1989 a 2012.

Após passar uma temporada em Mônaco, Teixeira retornou ao Brasil no início desta semana e se instalou em sua residência no bairro do Itanhangá, na zona oeste do Rio, onde vive uma rotina reclusa. Desde que chegou, ele pouco deixou seu imóvel e durante a semana, frequentemente, recebeu a visita de seus advogados.

Teixeira acompanha em silêncio os desdobramentos do escândalo de corrupção desencadeado pelas investigações da justiça norte-americana, que resultaram na prisão de antigos aliados.

Um deles foi José Maria Marín, vice-presidente em seus últimos anos de gestão. Marín é acusado de cobrar propinas milionárias em diversos contratos da entidade, a partir do momento em que sucedeu Teixeira na presidência.

A residência onde Teixeira mora fica em um luxuoso condomínio, que mais parece uma fortaleza, dada a grande quantidade de câmeras espalhadas em seu interior e seguranças armados vigiando o local. Além do ex-presidente da CBF, o atacante Fred, o ator Bruno Gagliasso e a atriz Ísis Valverde são outros famosos proprietários de imóveis no condomínio.

Alheios à repercussão das denúncias de corrupção na CBF e no futebol mundial, os funcionários do condomínio elogiam a "simpatia do Dr. Ricardo Teixeira", que frequentemente faz agrados ao trabalhadores, distribuindo presentes como camisas de futebol e outros materiais esportivos.

Momentos depois da detenção de Marín, em Zurique, na Suíça, o atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, prestou solidariedade ao "amigo" e vice-presidente de sua gestão, dizendo que as irregularidades que o levaram à prisão foram cometidas na gestão anterior, portanto, na administração de Ricardo Teixeira.

As investigações se aproximam de Teixeira. Um dos alvos das autoridades dos Estados Unidos é o contrato de fornecimento de material esportivo entre uma empresa do país e a CBF. O negócio teria rendido U$ 30 milhões em propina para José Hawilla e um representante da CBF, que à época era gerenciada por Teixeira.

J. Hawilla, como é conhecido, foi um dos réus confessos da operação e já devolveu cerca de R$ 80 milhões à justiça norte-americana após confessar algumas irregularidades. Mas, por enquanto, Teixeira não foi citado formalmente nas investigações.

Seu silêncio, porém, não deve resistir por muito tempo. Diante do impacto negativo causado pelas prisões, o senador Romário Faria (PSB-RJ) conseguiu a aprovação de seu projeto de CPI para investigar os bastidores da CBF e da Copa do Mundo de 2014.

O senador acredita que as investigações da CPI podem levar Teixeira e Marco Polo Del Nero à prisão. "Posso afirmar que essa CPI é de verdade, muitos daqueles que fazem mal ao futebol vão pagar pelos seus crime", afirmou em entrevista à TV Bandeirantes. "Tenho esperança que vai sobrar para o presidente da CBF (Del Nero). É o corrupto mor. O Ricardo Teixeira também. Merecem uma vaga ao lado de Marín em uma cela", considerou.

O presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, afirmou nesta quarta-feira em Zurique que os contratos envolvidos no escândalo da prisão de José Maria Marin na Suíça foram assinados ainda sob a gestão do ex-presidente da entidade, Ricardo Teixeira. Marin foi um dos sete cartolas presos pela polícia suíça, atendendo a um pedido do FBI, nos Estados Unidos.

"Precisamos as razões para essa prisão", disse, visivelmente irritado e depois de uma reunião de crise com os demais cartolas sul-americanos num hotel de luxo de Zurique. Segundo a Justiça americana, a base para a investigação é a corrupção em contratos de várias competições, inclusive a Copa do Brasil. administrada pela CBF.

##RECOMENDA##

Del Nero saiu em defesa do acusado e de seu padrinho na entidade. "São contratos firmados antes da administração de Marin", insistiu, defendendo seu atual vice-presidente. "Não tem nenhum contrato depois". "Temos de saber a conduta. Eu não tenho a mínima ideia do que ocorre. Queremos saber o que passou", declarou.

Ele reconheceu que a prisão de Marin não é boa para imagem da CBF, que fica afetada. "Não é algo bom, é péssimo", admitiu o cartola. Questionado se ele sabia dos contratos sob investigação nos Estados Unidos, Del Nero se recusou a admitir qualquer envolvimento. "Eu era apenas o presidente da Federação Paulista de Futebol. Não sabia de nada", completou.

Del Nero, que assumiu o comando da CBF em abril, sucedendo o próprio José Maria Marin, explicou que ficou sabendo da prisão de seu ex-chefe por meio da esposa de Marin e que ele "está bem". Ele Disse que não saberia se o cartola aceitará ser extraditado para os Estados Unidos.

O presidente também defendeu que o Congresso da Fifa e a eleição na sexta-feira sejam mantidos. "O Congresso precisa continuar", completou. Na sexta, a entidade vai escolher seu novo presidente, que deve ser Joseph Blatter, candidato a mais um mandato sob a alegação de que seu trabalho no futebol mundial ainda não está completo, que terá como adversário o príncipe jordaniano Ali bin Al Hussein. Del Nero já indicou que votará pelo atual presidente da entidade. Ele considera que o suíço tem feito "um bom trabalho".

O preço dos ingressos dos jogos da seleção brasileira, mesmo no Brasil, não são determinados pela CBF. Isso é o que diz o contrato fechado entre a entidade e a ISE, a empresa de fachada nas Ilhas Cayman que obteve o direito de organizar os amistosos da seleção até o fim 2022.

A empresa, em troca de ficar com toda a renda de bilheteria, paga um valor fixo para a CBF, de cerca de US$ 1,05 milhão (R$ 3,1 milhões), além de outros US$ 2,1 milhões (R$ 6,3 milhões) pagos pela Pitch, a empresa que operacionaliza o jogo. Mas todas as decisões sobre valores e toda a renda da partida ficam para os parceiros comerciais.

##RECOMENDA##

No fim de semana, a Agência Estado revelou os contratos confidenciais da CBF com a ISE. Pelo acordo, entre outros vários direitos, a ISE exige que qualquer substituição entre os jogadores do time tenha o "mesmo valor de marketing" do titular.

Mas o controle vai além. "A ISE é a única parte responsável pelos ingressos das partidas e outros eventos relacionados e terá o direito exclusivo de vender ou oferecer os ingressos dessas partidas e eventos, de receber toda a renda vinda da venda de ingressos, de designar os lugares dos espectadores, de definir os preços dos ingressos e de realizar qualquer outro ato relacionado aos mesmos", indicou o contrato.

Pelo contrato, a ISE "fornecerá à CBF 100 ingressos para ‘Categoria A’, 30 ingressos ‘VIP’ e 20 ingressos para ‘V VIP’ se disponíveis". O documento também deixa claro que a ISE tem amplos direitos e pode multar a CBF por qualquer violação aos termos do acordo.

"Se acaso a CBF cancelar sua participação na partida por qualquer razão, salvo por evento de força maior, a CBF reembolsará à ISE qualquer valor que tenha recebido da Taxa de Comparecimento, assim como também pagará à ISE uma indenização por danos no valor equivalente a duas (2) vezes a Taxa de Comparecimento estipulada na cláusula 12 acima", disse o documento. Na prática, isso significa uma multa de US$ 2 milhões (R$ 6 milhões). "Além disso, a CBF deverá compensar a ISE pelos reais danos oportunos, financeiros e outros danos incorridos pela ISE, se for determinado que os haja, caso esse cancelamento tenha ocorrido após a assinatura deste Acordo", informou outro trecho.

Qualquer outra violação também é punida. "Se a CBF violar qualquer de suas obrigações sob este presente Acordo, a CBF pagará à ISE o valor de US$ 1.000,000 (um milhão de dólares americanos) a título de indenização", alertou o artigo 17.

A ISE tem amplos direitos de revender o contrato ou fazer qualquer negócio fora, mesmo sem a autorização da CBF. "A ISE terá, a seu exclusivo critério, o direito de sublicenciar, ceder ou transferir qualquer e todos os direitos e obrigações adquiridas sob esse Acordo, seja em relação a uma partida específica ou todas as partidas a quaisquer terceiros sem a autorização prévia por escrito da CBF".

AGENDA FECHADA - O contrato também deixa claro que a ISE tem influência para determinar a agenda dos jogadores quando eles estiverem concentrados com a seleção para amistosos. Até mesmo quem fala com a imprensa seria uma decisão da empresa. O contrato exige que a seleção esteja no local do jogo "um dia antes da partida ou do evento Oficial". Com a aprovação da CBF, o acordo prevê que os jogadores e comissão técnica precisam participar de uma série de eventos.

"Conferências de imprensa, com a participação de ao menos o treinador, um membro do quadro diretivo e quatro jogadores a serem designados pela ISE, incluindo o capitão do time," apontou o contrato. O acordo também fala em "entrevistas pré e pós-jogo com cada jogador para a emissora anfitriã de cada partida".

BRINDE - O contrato ainda prevê a participação dos jogadores em eventuais cerimônias de abertura, "recepções de boas-vindas e outros eventos promocionais do patrocinador titular". O acordo diz que a CBF deve garantir que seus jogadores estarão "presentes a toda atividade promocional relacionada ao jogo". "A ISE poderá organizar uma sessão de treinamento aberta com propósitos comerciais ou não para cada partida", indica o acordo, mesmo sem a anuência da comissão técnica da seleção.

Para completar, um brinde. "A CBF irá assegurar que a ISE receba 10 (dez) camisas oficiais da seleção, totalmente autografadas por toda a seleção nacional brasileira para cada jogo", disse o documento.

O presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, defendeu o contrato feito na administração Ricardo Teixeira com a ISE para a realização dos amistosos da seleção brasileira. Ele disse que o acordo foi estabelecido em uma época em que os jogos da equipe feitos no Brasil davam prejuízos e que, hoje, a entidade não corre o menor risco de ficar no vermelho quando o time entra em campo.

"O contrato, na medida do possível, a gente faz para cumprir. Nós chegamos e já tinha esse contrato, temos de cumprir. Eu não chego a dizer que esse contrato é tão ruim. Porque quando a gente jogava aqui no Brasil não chegava a tirar esse valor (US$ 1,05 milhão). Hoje quanto é isso? R$ 3 milhões é pouco? Se analisar, hoje o contrato é bom", disse Del Nero.

##RECOMENDA##

O presidente garantiu que, em todos os amistosos, as cotas de transmissão são da CBF. "O direito da televisão é nosso, da CBF. Qualquer maneira é da CBF. Fora do Brasil também".

Ele rebate o argumento de que os intermediários ganham muito mais do que a CBF com os amistosos. "Há jogos que dão prejuízos. O amistoso em Porto Alegre (contra Honduras, em 10 de junho) não vai ter lucro. Vai dar o quê? R$ 4 milhões? Fora do Brasil os amistosos que rendem bem é o momento de lucro deles. Eles perdem dinheiro, ganham dinheiro. Perdem e ganham. Mas a CBF não corre risco nenhum".

Del Nero enfatizou que não estava na entidade quando os contratos com a ISE foram feitos e afirmou não conhecer seus integrantes. Disse ter sido apresentado a um executivo, mas que seu contato era com um funcionário, com quem tratava sobre "uma série de fatores". "Mas fui informado que esse funcionário está saindo da empresa". A relação da diretoria da CBF é com a Pitch, empresa que desde 2012 faz a operação dos jogos da seleção.

O dirigente admitiu ter conversado, junto com o ex-presidente José Maria Marin, com o Grupo Figer, que tinha o objetivo de oferecer novo parceiro para a seleção. "Toda vez que vem uma proposta você tem de ouvir. Se for interessante, podemos romper o contrato (em vigência), desde que sejam pagas as multas. Então nós analisamos (a proposta da Kentaro, via Figer), mas não chegou àquilo que podia interessar", afirmou.

Páginas

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando