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Em 1960, Helena Teodoro Michelon tinha 1 ano e 2 meses de idade quando deu entrada no Hospital das Clínicas de São Paulo, com a perna direita paralisada. Até então, a febre alta tinha sido tratada com dipirona por um farmacêutico, mas o temido sintoma alertou a avó e a mãe de que o motivo poderia ser mais grave. As duas viraram a noite para conseguir uma vaga de internação. 

“Só naquela noite, junto comigo, internaram 49 crianças com pólio. E lá fiquei dois meses, em um isolamento só com crianças com pólio. Fiquei no pulmão de aço. Assim começou minha luta de sequelada da pólio”, conta Helena, que hoje tem 64 anos. “Falo para as mães novas que não deixem de vacinar seus filhos. Me olhem, olhem com olhos fixos, porque eu sou prova viva da sequela da pólio. A sequela da pólio é o que eu sou hoje. Então, prestem atenção. A sequela da pólio é para o resto da vida, não tem cura. É uma deficiência permanente”. 

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A prevenção da paralisia infantil era uma esperança urgente, mas ainda distante no ano em que Helena foi internada. Albert Sabin havia descoberto a vacina oral contra a poliomielite (VOP) três anos antes, e a vacinação contra a doença no Brasil começaria apenas em 1961, no Rio de Janeiro e em São Paulo. O Plano Nacional de Controle da Poliomielite, primeira tentativa organizada nacionalmente de controlar a doença no país, viria apenas 10 anos depois, em 1971.

“Perto da minha casa, teve o Fernando, a Elizabeth, a filha dela… Que eu conheci, foram quatro crianças com pólio. Comigo, cinco”, lembra Helena.

“Eu fui tomar vacina de pólio quando já estava grande, com 7 anos de idade, na escola. Vi os casos diminuindo até chegar nos anos em que tinha sido exterminado da gente esse vírus maldito”.

A eliminação da poliomielite do Brasil foi reconhecida pela Organização Pan-Americana de Saúde em 1994, mas o último caso registrado foi em 1989. Helena Teodoro já era mãe de três filhos. “É óbvio que a gente recebeu com a maior alegria essa notícia, por que qual é a mãe que quer ver um filho acometido por uma sequela que fica para o resto da vida? Se a pólio não voltar, ela termina com a gente. Espero que isso aconteça. Percorremos todo esse percurso da vida e estamos terminando, estamos idosos. Então, espero que as mães tenham consciência”.

Doença que pode ser prevenida pela vacina do PNI, a poliomielite tem um esquema vacinal com três doses da vacina inativada da pólio, injetada, aos 2, 4 e 6 meses de idade, e duas doses de reforço da vacina oral, em gotinhas, aos 15 meses e aos 4 anos de idade.

Sequelas

A alta hospitalar após dois meses de internação foi o início da saga de Helena Teodoro para enfrentar as sequelas da pólio, o preconceito e a falta de acessibilidade para pessoas com deficiência no Brasil. O encurtamento na perna direita continuou por toda a vida, e, para que sua mobilidade pudesse ter uma melhora, ela passou por 13 cirurgias entre os 13 e os 16 anos na Santa Casa de Misericórdia, onde recebeu também a indicação para usar uma órtese que desse firmeza à perna mais afetada. 

“O meu carrinho de bebê, que o meu pai comprou pra mim antes de eu nascer, quando minha mãe foi vender, a pessoa falou: não vou comprar, porque ela teve paralisia e pode passar pra minha criança. Tinham mães que pediam para os filhos se afastarem da gente na escola. Havia muito preconceito”, lembra. “Não tinha acessibilidade nenhuma na escola. Eu tinha que subir escadas para ir à aula que não tinham corrimão. Pra subir, eu conseguia, sentando e encostando na parede. Mas, para descer, descia rolando. Se chovia na escola, eu não descia nem no recreio. Para ir ao banheiro, eu precisava ajuda das professoras e nem sempre elas estavam dispostas a ajudar”.

O uso de órtese e a dificuldade de caminhar se agravaram conforme a dona de casa envelheceu. Em 1998, uma queda fez com que fraturasse o joelho e iniciasse o acompanhamento na Associação de Assistência à Criança com Deficiência (AACD), instituição sem fins lucrativos fundada inicialmente para acompanhar crianças com sequelas da poliomielite. A  superintendente de práticas assistenciais da AACD, Alice Rosa Ramos, conta que hoje os pacientes com sequelas da poliomielite são poucos e com tratamentos de longa data, ou imigrantes de países onde a pólio não foi eliminada ainda. 

“Mas a gente tem outras doenças também, principalmente o sarampo e a meningite, que podem ser prevenidas por vacina e causam principalmente quadros importantes de lesão encefálica e de sequelas motoras, visuais, auditivas e intelectuais. O sarampo e as doenças pós meningite têm uma extensão de sequelas muito maior”, acrescenta. “A falta do conhecimento da sequela leva muita gente a optar por não vacinar. Ninguém em sã consciência vai optar por participar de uma roleta russa. O número de pessoas com a sequela realmente é pequeno se comparado ao todo. Mas e se for eu? E se for o meu filho? O meu neto? Vou fazer uma aposta nisso? Eu não apostaria”.

Múltiplas cirurgias

No caso dos pacientes de pólio, é comum que apresentem em algum momento da vida a síndrome pós-pólio, com um quadro de dor, perdas motoras, maior dificuldade funcional. A médica acrescenta que a própria idade faz com que pacientes já sequelados percam ainda mais mobilidade e, por exemplo, parem de andar com órteses e fiquem na cadeira de rodas. No caso dos pacientes com sequelas da pólio, limitações motoras que são comuns à velhice chegam mais cedo e de forma mais rápida.

“Todos temos perdas funcionais. Só que eles já têm a perda, e isso se acentua com a idade, com o ganho de peso. As limitações se tornaram maiores pela associação entre o envelhecimento e a doença de base”, conta. “São pessoas que precisam de um esquema de saúde grande, com muitas cirurgias ao longo da vida para corrigir deformidades ortopédicas. Muitos evoluem com escoliose, precisam de cirurgias grandes na coluna, que podem levar a restrições respiratórias. A pólio não requer só fisioterapia. Ela requer muito tratamento cirúrgico e muitos aparelhos ortopédicos”  

No caso do sarampo, Alice conta que as sequelas são ainda mais graves, com grandes comprometimentos visuais, auditivos, intelectuais e físicos. “São crianças que vão precisar ser cuidadas ao longo de toda vida. A pólio causa a paralisia flácida, que é o músculo atrofiado, mais molinho. Mas tanto no sarampo como na meningite, a gente tem uma lesão cerebral. Ocorre um aumento do tônus muscular, causado por uma lesão central, com músculos muito tensos, que fazem a pessoa entrar em várias deformidades”, diz a médica, que detalha: “Na visão, posso ter desde a baixa de visão até a cegueira total. Da mesma forma que o intelecto, que posso ter crianças que entendem um pouco ou que deixam de entender absolutamente tudo. E isso pode afetar um adulto também”.

Diante de tantos quadros graves de saúde, a médica ressalta que tudo isso pode ser evitado com a vacinação gratuita e disponível nas unidades básicas de saúde. “As pessoas mais jovens deixaram de ter contato com os sequelados da pólio. Muitos profissionais, médicos mesmo, não viveram a pólio. Um problema que a gente tem é que muitos ortopedistas que operaram casos de pólio morreram ou já se aposentaram, e no treinamento não foi mais necessário ensinar aos ortopedistas, porque a pólio desapareceu. Se voltar, vou ter que fazer a reciclagem de um monte de gente em todo o país”, alerta ela. 

Amputações

Entre as mais severas doenças imunopreveníveis está a meningococcemia, infecção generalizada causada pela bactéria meningococo. Esse foi o caso do paciente Hugo Oliveira da Silva, de 16 anos, que teve a doença meningocócica aos 7 meses. Após apenas um dia, a infecção causou uma gangrena na perna esquerda e, consequentemente, a amputação deste membro. 

A mãe de Hugo, Maria Francisca de Oliveira Silva, de 47 anos, conta que a doença progrediu de forma rápida. “Ele foi dormir bem e acordou com um febrão de 40 graus. Levei na pediatra e, chegando lá, ela fez todos os exames e procedimentos, mas não conseguia baixar a temperatura. Antes dos exames ficarem prontos, a pediatra percebeu que o corpo dele estava cheio de manchas vermelhas, que foram aumentando com a formação de bolhas de água. Foi então que a pediatra falou que o caso dele era meningococcemia”.

Durante a internação, a doença causou uma série de complicações, como insuficiência renal e hepatite medicamentosa, que também deixaram sequelas que precisam ser acompanhadas até hoje. “Ele vai no hepatologista, no ortopedista, faz tratamento com fonoaudiólogo, fisioterapia, hematologista e gastro”. 

Na AACD desde 1 ano e 9 meses, ele passou pela terapia ocupacional, fisioterapia solo, fisioterapia aquática, musicoterapia e fonoaudiologia. Atualmente, já não é atendido mais no Centro de Reabilitação da Instituição, porém ainda conta com acompanhamento médico e na Oficina Ortopédica para ajuste ou troca de prótese da perna amputada.

A meningite meningocócica pode ser prevenida pela vacina meningocócica C conjugada, que deve ser administrada com duas doses, aos 3 e aos 5 meses de idade, e requer ainda uma dose de reforço aos 12 meses. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece ainda a vacina meningocócica ACWY a adolescentes de 11 a 14 anos de idade. 

Já o sarampo é prevenido pelas vacinas tríplice e tetra viral. A primeira é aplicada quando a criança completa o primeiro ano de vida, e protege contra sarampo, caxumba e rubéola. Já a segunda é indicada para os 15 meses de vida, com ao menos 30 dias de intervalo após a tríplice viral.

 

Há pouco mais de três anos a pandemia da Covid-19 teve início no mundo, e muita coisa mudou na vida de milhares de pessoas. Além das mudanças sociais que vieram com a crise sanitária, diversos relatos mostraram, com o passar do tempo, que quem contraiu a doença ficou com sequelas persistentes, e até mesmo permanentes - consequência que ficou conhecida como Covid longa.

Foi o que aconteceu com Renata Ferreira*, assistente social que mora no Recife. Ela contraiu a doença logo no início da pandemia, em março de 2020. “Desde então percebo que fiquei bem esquecida. Não tenho um diagnóstico fechado sobre isso”, relatou ao LeiaJá. 

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“Quando fui ao médico depois, eles ainda não sabiam exatamente nem tratar a Covid, e nem quais eram as sequelas pós Covid. Mas procurei um neurologista. Ele achava que era esquecimento 'corriqueiro', por mais que eu dissesse que não era, o conhecimento pós-covid era muito pouco”, ela conta.

Ainda no início da pandemia, pouco se sabia sobre a doença e as possíveis sequelas. Como Renata teve Covid ainda nos primeiros meses, não existiam estudos comprovando o que estava sendo apresentado pelos pacientes. “Depois, alguns estudos foram divulgados, e ficou comprovado a confusão mental, esquecimento, queda de cabelo, fadiga”, explica a assistente social.

Muitas pessoas recorreram a profissionais das mais diversas áreas para entender o que poderia ser feito para reverter o quadro. Renata sofre até hoje com lapsos de esquecimento, característica que acarreta uma boa parcela dos pacientes. “O neuro que eu fui me indicou a fazer sudoku, jogar jogo da memória e assistir filmes que eu não gostava, para ativar o outro lado cérebro, com isso melhorei bastante. Mas, não fiquei 100%. 3 anos depois e sinto que minha memória não é a mesma antes da Covid. Sei distinguir o que é corriqueiro, do que não é”, relata.

Cuidados permanentes

Para lidar com as sequelas da Covid-19, médicos recomendam atividades parecidas com as que foram passadas para Renata. Segundo o professor Eduardo Jorge, são diversos os sintomas apresentados pelos pacientes. “A doença tem se revelado uma caixa de surpresas e muitas pessoas apresentam manifestações da COVID longa, como astenia, prejuízo cognitivo, ansiedade, etc.”, explicou o médico pediatra.

O doutor, que representa em Pernambuco a Sociedade Brasileira de Imunizações, recomenda procurar os centros especializados em tratamento pós-Covid. “Os ambulatórios de seguimento pós Covid estão sendo essenciais para este olhar de sequelas das doenças, e precisam urgentemente ser ampliados neste momento que a pandemia foi controlada mas deixou um quantitativo significativo de pessoas que precisam de fisioterapia, acompanhamento psicológico, entre outros”, declarou.

No Recife, um hospital de rede privada possui um ambulatório com essa finalidade, funcionando desde maio do ano passado. Uma equipe de pneumologia atende pacientes com sequelas da Covid. O LeiaJá procurou saber com a Secretaria Estadual de Saúde se existe algum local desse seguimento na rede pública, mas não obteve resposta até o fechamento da matéria.

Riscos ainda existem

Graças às campanhas de vacinação, os números de contaminação da Covid-19 estão bem menores, mas Eduardo Jorge alerta que os riscos ainda existem, e não são tão pequenos assim. “Os riscos de se contaminar pelo vírus da Covid-19 permanecem os mesmos, pois contraímos Covid -19 por meio de contato com pessoas infectadas. O coronavírus ainda circula entre nós. O que mudou, graças especialmente às vacinas,  foi a diminuição de formas graves da doença, e de óbitos. A doença ainda pode ser grave em pessoas idosas e/ou com comorbidades”, alerta o especialista.

“Temos que manter a vacinação contra a Covid-19 atualizada, para evitarmos as formas graves da doença. Outras medidas: evitar contato com pessoas com sintomas respiratórios, evitar aglomerações em ambientes fechados , especialmente e higiene das mãos.  Pessoas de risco para evolução grave da doença devem  ainda ser mais rigorosas nas medidas de proteção e seguir as recomendações de reforços das vacinas indicadas para os grupos específicos”, finaliza o médico.

Em nota, a "Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES-PE) informa que a assistência aos pacientes com sequelas de covid é direcionada conforme a especialidade envolvida, a depender do tipo da sequela. Por exemplo, a rede estadual de saúde dispõe de neurologistas, que atendem às pessoas com sequelas neurológicas por Covid-19, no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC) e no Hospital da Restauração (HR). São oferecidos, ainda, serviços de pneumologia aos pacientes com sequela causada pelo novo coronavírus, no Hospital Otávio de Freitas (HOF).  Por fim, a SES-PE reforça que mantém a assistência necessária aos pacientes com diferentes sequelas de Covid-19".

*O nome foi alterado a pedido da entrevistada para preservar sua identidade.

Como você sabe, a cantora Joelma foi uma das celebridades que testou positivo para Covid-19 em janeiro deste ano. Mesmo com o esquema vacinal completo, ela foi diagnosticada três vezes ao longo da pandemia, e agora vem enfrentando as sequelas da doença.

Com o rosto inchado, a artista se apresentou no município de Parauapebas, no sudeste do Pará, no último fim de semana e deixou os fãs bem preocupados com sua saúde e se perguntando o que teria acontecido. Segundo informações do G1, a assessoria da cantora explicou:

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"Os inchaços são sequelas da Covid-19 e ela está em tratamento".

A cantora também já havia falado sobre os inchaços durante o programa Encontro da TV Globo, em 2020:

"Estou cuidando até agora. Depois de cinco meses, estou tratando das sequelas. Fico naquele efeito incha, desincha. Tem hora que estou inchada, tem hora que estou desinchada. Você vai perceber no vídeo que eu fiz, no musical, que estou inchada. Hoje estou bem menos".

Rodrigo Mussi, um dos participantes do BBB22, sofreu um acidente de carro na madrugada do dia 31 de março, em São Paulo, e foi levado de ambulância até o Hospital das Clínicas, onde permanece internado após cirurgias.

Na última quarta-feira (6), o Jornal Nacional realizou uma reportagem com o irmão de Rodrigo e trouxe algumas atualizações de seu estado de saúde. Diogo revelou que, no dia anterior, o ex-BBB chegou a ficar consciente por cerca de cinco minutos.

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Os médicos explicaram que o despertar precisa ser lento e será controlado até ele entender o que está acontecendo. Por se tratarem de muitas lesões, também são necessários remédios para a dor.

Ao telejornal, ele também revelou que o irmão passará por uma ressonância na coluna, para determinar a gravidade da situação, verificar se precisará de cirurgia e identificar se houve lesões na medula que possam prejudicar os movimentos do corpo. Contudo, acredita não ser o caso.

"Ele está com movimentos não involuntários, porque ele se coça, aperta a sua mão, ele tem força, ele mexe a perna. Às vezes ele quer arrancar alguma coisa, porque está incomodando", revelou Diogo.

Elizangela recebeu alta hospitalar após ser internada com sequelas da Covid-19. Internada desde o último dia 20 de janeiro, a atriz, de 67 anos de idade, teve alta no domingo (23), do Hospital Municipal José Rabello de Mello, em Guapimirim.

Segundo informações do G1, Elizangela irá realizar o uso do suporte de oxigênio durante uma semana.

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Vale pontuar que a atriz é contra a vacinação contra o coronavírus e, por esse motivo, não tomou nenhuma dose do imunizante. Recentemente, ela reencontrou alguns amigos e posou para fotos sem máscara.

O estado de saúde de Elizangela apresenta melhora. Segundo o empresário da atriz, que está internada em estado grave com sequelas da Covid-19, a saturação da artista de 67 anos de idade melhorou e ela encontra-se consciente, mas segue na sala vermelha do hospital porque inspira cuidados.

"Falei por volta das 14h com a filha dela, que é quem está acompanhando de perto a situação, e ela me passou essas informações. Ela ainda está na sala vermelha porque tem a parte respiratória mais sensibilizada porque já teve um enfisema pulmonar, mas está com a saturação bem melhor e estabilizada", disse ele em entrevista ao G1.

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A melhora foi confirmada por boletim médico divulgado pela Prefeitura de Guapimirim na tarde de sexta-feira (21), que diz que atriz já se alimenta e elogiou tempero da comida do hospital.

Elizangela foi internada na quinta-feira (20), em Guapimirim, na Baixada Fluminense, em estado grave com sequelas respiratórias. O empresário da artista enfatizou ainda que ela testou positivou para Covid-19 no dia 12 de janeiro, mas não tem mais o vírus ativo em seu organismo, sofrendo com a questão respiratória. Ele disse também que, nem ele, nem a filha de Elizangela, a bailarina Marcelle Sampaio, sabem se a atriz tomou as vacinas que imunizam contra a Covid.

"Ela é uma pessoa muito alegre, alto astral, não gosta de falar sobre doença. Daí, não sabemos ou não. Nunca tivemos esse tipo de conversa", disse.

Quase dois anos após sofrer um acidente vascular cerebral isquêmico, Milton Gonçalves se recupera bem, mas ficou com sequelas na perna esquerda e na voz, revela a colunista Patrícia Kohut. Por conta disso, o ator, que está com 88 anos de idade, faz sessões diárias de fisioterapia e fonoaudiologia, como sua filha Catarina Gonçalves contou à jornalista:

- Meu pai passou três meses no hospital, traqueostomizado o tempo todo. Isso afetou bastante a voz, que está bem baixinha. Agora ele está bem, em casa, tranquilo. É uma recuperação chatinha por causa da idade. Ele não tem andado, só na cadeira de rodas, porque também ficou com sequela na perna esquerda. Mas a gente passeia bastante com ele de carro, leva para ver a praia. Ele sempre pede para tomar uma cervejinha. Também adora café e doce. Essas besteirinhas que não pode comer. Mas é um danadinho.

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Para quem não lembra, Milton teve o AVC em fevereiro de 2020, quando participava de uma feijoada na quadra da escola de samba Salgueiro, na Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro. Por conta do problema de saúde, ele não pôde fazer a continuação do especial de Natal da Globo, Juntos a Magia Acontece, que estrelou em 2019 e teve sua segunda temporada em dezembro de 2021.

- Veio muito sem aviso. Meu pai não pegava nem gripe. Foi bem grave. Ele é forte. Se fosse outro, teria embarcado. No segundo ou terceiro dia de CTI, botamos música e ele já estava acompanhando com a mão, mesmo intubado. Sempre gostou de dançar, revelou ainda Catarina.

Que ele se recuper logo!

No início da pandemia de covid-19, descobriu-se que muitas pessoas infectadas com o vírus SARS-CoV-2 estavam perdendo o olfato — mesmo sem apresentar outros sintomas. Pessoas infectadas podem perder o paladar e a capacidade de detectar sensações desencadeadas quimicamente, como o sabor picante, o que é chamado de sinestesia. Após a recuperação, muitos pacientes não conseguem recuperar o olfato imediatamente, e alguns podem temer que a situação possa ser permanente. Não é raro encontrar casos nos quais as pessoas levam entre três e cinco meses para recuperar o potencial desses sentidos. 

Antes da pandemia, a perda ou diminuição do olfato já era sentida por até 20% da população mundial, especialmente em pessoas com sinusite ou rinite. Entretanto, com a covid-19 essa parcela aumentou significativamente. De acordo com uma pesquisa publicada em janeiro deste ano no Journal of Internal Medicine, 86% dos pacientes infectados com o novo coronavírus apresentaram alguma disfunção olfatória. 

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Para aqueles que perdem o olfato por um período prolongado, pode haver preocupações que vão além do prazer de saborear a comida. Muitas pessoas, na verdade, não percebem o quanto sentem falta do olfato até que ele desapareça. Por exemplo, não ser incapaz de cheirar algo queimando pode ser um perigo para a saúde.  

O vírus SARS-CoV-2 parece infectar e comprometer as células vizinhas àquelas que controlam o cheiro, o que pode se traduzir em perda de cheiro, explica a médica otorrinolaringologista Kátia Virgínia, do HOPE, ao LeiaJá. No mundo, quase metade dos pacientes com covid-19 perdem o olfato e cerca de 40% perdem o paladar, de acordo com uma revisão internacional de estudos publicados anteriormente. De acordo com pesquisas preliminares, até metade desses indivíduos também desenvolve o que é conhecido como parosmia, que distorce os cheiros— submergindo, digamos, o cheiro de leite estragado onde deveria haver o aroma de café. 

“O coronavírus age no epitélio olfatório destruindo as células de sustentação. Essas células são as que fazem o nervo olfatório funcionar bem, como elas ficam destruídas, consequentemente, o nervo do olfato não consegue exercer bem a sua função, e aí ocorre a perda desse sentido. No nosso paladar, a gente pensa que muita coisa é sentida pela língua, mas na verdade a língua é responsável apenas pelo doce, azedo, salgado e amargo; o restante, o sabor vem pelo sentido do olfato, por isso que há alteração também do paladar nas infecções do coronavírus”, explica Virgínia. 

Não ser capaz de cheirar pode parecer um aborrecimento menor, pelo menos em comparação com complicações fatais do coronavírus, mas ignorar a perda do olfato é ignorar a importância de compartilhar uma refeição com os amigos ou mesmo de notar situações de perigo. Um estudo da universidade californiana de Stanford menciona, inclusive, que essa incapacidade pode levar à depressão, ansiedade e isolamento social. 

“A perda do sentido do olfato traz muito impacto na qualidade de vida do paciente e na questão da segurança também. O paciente sem olfato deixa de sentir, por exemplo, o cheiro da fumaça; não reconhece se uma comida queimou ou está estragada; um vazamento de gás, um princípio de incêndio. O olfato, independente de pandemia, à medida que envelhecemos, sofremos uma perda neste sentido. O sexo masculino tem o olfato um pouco menos apurado que o feminino; geralmente as mulheres têm um olfato melhor, assim como pessoas mais jovens terão um olfato melhor que os mais velhos, que passam pela perda. Mas a perda do olfato sempre levará em conta esses dois fatores: idade e gênero”, prossegue a especialista. 

Como mencionado anteriormente, antes mesmo da pandemia, a perda de olfato já era realidade para uma porção significativa da população brasileira. A otorrinolaringologista chama atenção para outros quadros virais e não virais que podem apresentar sintomas parecidos com os da covid e afetar os sentidos do olfato e paladar. Em qualquer um dos casos, a consulta com um médico especialista e exames de rotina são essenciais à saúde. 

“Outros quadros virais podem causar também esses sintomas, o quadro clínico é semelhante. Para saber qual vírus causou, é preciso fazer um exame, no caso da Covid-19, é o RT-PCR que vai confirmar se é coronavírus ou não. Existem outras patologias que cursam com a alteração de olfato, não só os quadros virais. Quadros de rinite, sinusite, alguns tumores; toda alteração de olfato deve ser investigada. Aí, o médico otorrinolaringologista vai colher o histórico do paciente, fazer o exame físico e dependendo das suspeitas, ele vai solicitar o exame de imagem, uma nasofibroscopia, e o teste do olfato, que é o que vai confirmar se houve perda ou não, e quantificar o grau da perda: se foi leve, moderada, acentuada ou perda total”, conclui. 

A importância do olfato 

Para decodificar e interpretar mensagens químicas, proteínas específicas localizadas na membrana dos neurônios olfativos em nosso nariz verificam a identidade de cada molécula volátil que chega, e se reportam ao interior. Assim, a informação química, traduzida em sinais elétricos, viaja até o cérebro e afeta as escolhas de comportamento, bem como o humor. Muitas vezes, tudo isso é feito sem que prestemos muita atenção aos odores em nosso ambiente. 

É o olfato que orienta nossas escolhas alimentares e que molha o nosso apetite. É também o cheiro que nos torna exigentes sobre a qualidade da nossa comida, por exemplo, e que nos faz reconhecer um prato de “dar água na boca”. Sem o sentido do olfato, perderíamos muitas experiências, emoções e prazer interessantes; nossa vida careceria de toda uma dimensão. Porém, do ponto de vista fisiológico, seria uma vida perfeitamente normal.

Depois de passar por momentos complicados, Luciano Szafir abriu o coração nas redes sociais, na última quarta-feira (6), e conversou com os fãs sobre as sequelas da Covid-19, os planos para o futuro e a expectativa de ser vovô.

Ao ser questionado sobre o maior reflexo da doença, que acarretou na intubação após contrair o vírus duas vezes, ele respondeu: "A bolsa de colostomia nem me incomoda, porque foi a cirurgia que salvou a minha vida. A pior sequela da Covid-19 são as dores que tenho sentido nas pernas, mas isso vai passar também. Obrigado pela preocupação. Todos os profissionais da saúde são anjos, merecem ser muito mais valorizados, salários maiores, merecem tanta coisa que, infelizmente, a gente não dá".

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Quando o assuntou se voltou para Sasha Meneghel, fruto de seu relacionamento com Xuxa, o ator se derreteu e comentou sobre a possibilidade de ganhar um netinho.

"Na realidade, a minha ansiedade é em ver a minha filha feliz. Então, na hora que ela quiser ter filho, eu vou amar, com certeza", disse.

Já sobre a expectativa de ser pai novamente, Szafir, que é casado com Luhanna Melloni, disparou: "Não, não pretendo ter mais filhos. Acho que a família está completa com a Sasá [Sasha], com David [de sete anos de idade], com Mika [de seis anos]. Mas não tem nada melhor do que família, filhos, crianças, mas está bom assim".

Joelma afirmou que se recusou a ir para um hospital enquanto esteve com Covid-19, em agosto de 2020. A cantora, de 47 anos de idade, explicou que teve o receio de ser intubada após não conseguir respirar.

"Eu não fui internada porque eu me recusei a ir para o hospital. Eu não conseguia respirar pelo nariz. Pensei: Entre morrer no hospital e morrer aqui, eu morro aqui. Não vou, não. Disse 'não, porque iam me intubar. O que me salvou foi a minha fé em Deus, com certeza", disse ela para o canal de Roger Turchetti.

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A cantora também falou sobre a superação da doença e as sequelas que ainda guarda da contaminação pelo coronavírus. "Ainda estou cuidando das sequelas", disse Joelma.

Joelma precisou lidar com o inchaço pelo corpo, queda de cabelo, perda de memória e paladar, além da audição e da visão afetadas pela Covid-19. Para tratar todas essas complicações, ela tem feito exames e ido com frequência às consultas médicas. A loira também relatou que perdeu muita energia desde o período em que desenvolveu complicações da doença. "Ainda não consigo malhar, treinar como antes, mas estou chegando lá. Estou no processo. Não desisto", relatou.

Os piores dias, segundo ela, foram mesmo aqueles em que estava contaminada: "Não conseguia levantar da cama".

No bate-papo, Joelma também falou sobre a acusação de a cantora dar calote na compra de uma mansão em Goiânia: "Meu Deus do céu, eu tenho a minha casa. Eu tenho casa gente... Alias, tenho várias casas. Eu não deixo nada tirar a minha alegria. Não vale a pena gente. O que as pessoas falam não me importa, eu só me importo com o que Deus pensa de mim, aí eu entro em desespero!"

Mais de um ano após ter Covid-19, a baiana Renilda Lima ainda tem 20% do pulmão comprometido, sofre cansaço diariamente, convive com perda de memória e tem baixa imunidade. A doença, contraída em maio de 2020, causou sequelas que persistem até hoje e que Renilda, de 34 anos, não sabe se conseguirá se recuperar. Segundo pesquisa do Hospital das Clínicas da USP, 60% dos pacientes que tiveram Covid-19 no ano passado estão em condições de saúde semelhantes, mesmo após um ano da alta hospitalar.

O estudo da USP acompanha 750 pacientes que ficaram internados no primeiro semestre de 2020 no Hospital das Clínicas da instituição. Eles serão analisados durante quatro anos, mas os resultados preliminares indicam que 30% ainda possuem alterações pulmonares importantes. Além disso, parte também relata sintomas cardiológicos e emocionais ou cognitivos, como perda de memória, insônia, concentração prejudicada, ansiedade e depressão.

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Segundo Carlos de Carvalho, professor titular de pneumologia da USP e diretor da divisão de pneumologia do Instituto do Coração (InCor), os resultados preliminares mostram que algumas sequelas a longo prazo ainda podem ser revertidas. "Há casos em que os pulmões ainda apresentam inflamações mesmo um ano depois da alta hospitalar. Já vimos que essas inflamações podem virar fibroses (cicatrizes pulmonares), que são permanentes", declara.

No caso de Renilda, as sequelas físicas vieram junto com as emocionais. Além do cansaço que sente ao fazer esforço físico - o que levou ela a interromper algumas atividades diárias -, ela também passou a ter dificuldades de dormir e a ter medo de ficar novamente em estado grave se contrair doenças respiratórias. "Até hoje meu sono não é regulado. Troco o dia pela noite. Recusei três propostas de emprego com medo de ficar doente", contou.

Natural de Feira de Santana, município a 116 quilômetros de Salvador, a baiana teve covid-19 no primeiro pico da pandemia no Brasil, momento em que os hospitais públicos estaduais da Bahia não tinham leitos vagos. Ela tratou da doença em casa até conseguir um leito de estabilização em Salvador, onde permaneceu por três dias. No retorno para casa, ficou de cama durante dois meses e não conseguiu se recuperar totalmente.

Carvalho explica que as sequelas são piores e mais longas nos casos em que o tratamento das complicações causadas pela covid-19 são feitos tardiamente ou de maneira não adequada. "Percebemos que os pacientes que demoraram mais a serem encaminhados para o Hospital das Clínicas chegaram em um estado mais grave, e isso também agrava as sequelas. Quanto maior o tempo de internação e a gravidade das infecções, maior a tendência de haver mais sequelas a longo prazo", diz.

A perda do paladar e do olfato, sintomas comuns da covid-19 no período de infecção, também está entre as sequelas de longa duração. O estudante de engenharia ambiental e cozinheiro Emmanuel Ramos, de 20 anos, afirma que os dois sentidos estão "distorcidos" e que os cheiros de alguns temperos foram perdidos. "Tenho enjoos também quando sinto o cheiro de produtos de limpeza e até das queimadas que atingem minha região", disse Ramos, de Palmas (TO).

Nos dois casos, as sequelas alteraram a rotina anterior à covid. Em relação a Emmanuel Ramos, o atrapalha na cozinha. Já Renilda parou de fazer faxina em casa, de ir à academia e sente que não pode desempenhar a mesma função de antes no trabalho, em que era gerente de um estacionamento, por também sofrer perda de memória.

Essa última sequela é relatada por 42% dos pacientes durante a pesquisa da USP. De acordo com os relatos ouvidos pelo Estadão, a perda de lapsos de memória é frequente na rotina e acontece a qualquer hora. "Às vezes, saio da minha sala de trabalho para beber água no corredor e no caminho esqueço o que fui fazer", detalha a acreana Sheyenne Queiroz, de 45 anos.

Ela contraiu a covid-19 em novembro do ano passado e não chegou a ficar no estado grave da doença, mas passou a sofrer com dores de cabeças fortes e esquecimento um mês depois de ser infectada. "Cheguei a achar que estaria com aneurisma por causa da intensidade das dores de cabeça, mas, ao procurar um neurologista e fazer exames, ele me disse que se tratava de uma sequela da covid-19. Até hoje sofro dores de cabeça, agora menos fortes, e do esquecimento. E não sei se vou me recuperar totalmente", preocupa-se.

A neuropsicóloga do Instituto Alberto Santos Dumont (ISD/RN) Joísa de Araújo explica que as queixas mais recorrentes relatadas pelos pacientes estão concentradas em esquecimento, dores de cabeça, ansiedade, sintomas depressivos e sensação de fadiga, inclusive em pessoas ditas "assintomáticas" durante o período de infecção. "Muitos jovens, que não tinham queixas anteriores, passaram a apresentar dificuldades de recordar questões do dia a dia."

Ela atenta que pesquisas referentes às consequências do novo coronavírus na saúde ainda estão em andamento, mas estudos mais amplos indicam incidências psicológicas e neurológicas em um a cada três pacientes. "É importante o acompanhamento multidisciplinar dessas pessoas após a detecção dos sintomas mais clássicos. Um diagnóstico precoce no período pós-covid é fundamental para possibilitar o processo de reabilitação. Isso é fundamental para traçar um plano de como lidar com essas limitações", reforça.

Internações recorrentes

Natural de Esplanada, Bahia, Eliane Silva, de 32 anos, contraiu covid-19 no final de junho de 2020 e precisou ser internada quatro vezes nos últimos 13 meses, sendo três vezes devido às sequelas da doença e uma no período em que estava infectada. A assistente de pessoal, que passou a sofrer com falta de ar, fadiga e problemas na circulação, foi diagnosticada com vasculite pulmonar (doença autoimune que se caracteriza pela inflamação dos vasos pulmonares) e Arterite de Takayasu.

Em julho, a baiana foi internada em uma unidade de saúde de Salvador para tratar uma nova crise. "Não tinha problema respiratório e tudo começou depois da covid. Hoje eu me sinto muito abalada. Às vezes, digo para o médico que prefiro nem pensar nisso tudo, pois já dá vontade de chorar", confessa.

Segundo o professor Carlos de Carvalho, casos de doenças autoimunes são possíveis em qualquer infecção ou vírus - incluindo o coronavírus. Entretanto, ele afirma que os resultados obtidos na pesquisa do Hospital das Clínicas não indicam que essa é uma característica recorrente nos pacientes, apesar de possível. "É algo que permanecemos atentos para ver se doenças autoimunes irão se manifestar ao longo dos anos, mas, com um ano, não vimos", disse.

Em julho do ano passado, Eliane chegou a ficar internada devido à covid-19, mas recebeu alta no mesmo mês. No entanto, passou a sentir dores fortes debaixo do peito esquerdo e entre a costela em novembro e precisou retornar ao hospital mais de uma vez. Na maioria das vezes, os médicos afirmavam que as dores eram gases e passavam uma medicação paliativa. Somente em janeiro, cinco meses após as primeiras dores, descobriu o que sofria.

O tratamento inicial durou de quatro a seis meses, com coagulantes e uso de corticoide, remédio com potência anti-inflamatória. Entretanto, ela voltou a sentir novas dores ao iniciar o desmame dos medicamentos e foi internada no dia 28 de julho. "É muito complicado ter uma internação a cada seis meses. O psicológico fica a mil por horas, sem saber o motivo disso tudo. Junta a doença, solidão e carência. É muito difícil."

Perguntas em aberto

A pesquisa do Hospital das Clínicas da USP é realizada com 750 pacientes que estiveram internados na unidade entre 30 de março de 2020 e 30 de agosto do mesmo ano. São pessoas que se infectaram na chamada primeira onda da pandemia do coronavírus no Brasil. Segundo o professor Carlos de Carvalho, isso significa que não se sabe quais sequelas as variantes do coronavírus surgidas a partir deste ano - como Delta, em circulação no Brasil - podem deixar a longo prazo, nem se são menos ou mais intensas.

Conforme o pesquisador, novos estudos já se iniciaram no mundo inteiro para observar diferenças entre variantes. Além disso, outra observação a ser estudada é das sequelas em pessoas vacinadas, mas que se infectaram. "Ainda são perguntas em que não sabemos as respostas porque são precisos novos estudos para observar estes pacientes", disse o professor.

Muitas pessoas que sofreram de Covid-19 continuam a sentir sequelas como fadiga ou falta de ar um ano depois de ter a doença, revelou um estudo chinês sobre os efeitos a longo prazo da pandemia.

"Cerca de metade" dos pacientes que recebem alta do hospital "sofrem pelo menos um sintoma persistente (o mais comum é a fadiga ou fraqueza muscular) e um em cada três ainda sofre com falta de ar" doze meses depois, aponta o artigo publicado nesta sexta-feira na revista britânica The Lancet.

Essas proporções são ainda maiores entre os pacientes acometidos por uma forma grave da Covid-19 e que foram internados em unidades de terapia intensiva.

A pesquisa foi baseada em um check-up médico realizado em quase 1.300 pessoas que deixaram entre janeiro e maio de 2020 um hospital em Wuhan, a primeira cidade afetada pela pandemia.

Esses dados foram comparados com aqueles coletados seis meses após a alta dos pacientes.

“A proporção de pacientes com pelo menos um sintoma ou sequela diminuiu de 68% após seis meses para 49% após doze”, observaram os pesquisadores.

Em contraste, a proporção de pacientes com dispneia (problemas respiratórios) "aumentou ligeiramente" de 26% para 30%.

Além disso, o grupo de pacientes que apresentou diminuição da capacidade de difusão pulmonar não apresentou melhora nesse período.

O estudo alerta para um aumento no número de pacientes com ansiedade ou depressão, de 23 para 26%.

Os autores observam que as mulheres têm 43% mais probabilidade de sofrer de fadiga persistente ou fraqueza muscular e duas vezes mais probabilidade de sofrer de ansiedade ou depressão.

Apesar dessas sequelas, o estudo indica que 88% dos pacientes que tiveram Covid-19 que trabalharam quando infectados puderam retomar suas ocupações um ano depois.

Este estudo, o primeiro com uma perspectiva de um ano, se junta a outras pesquisas recentes que pedem às autoridades de saúde que se "preparem para apoiar pacientes de covid-19 de longo prazo".

“A covid persistente é um grande desafio médico”, adverte The Lancet em um editorial ao lado do estudo.

Com cerca de 200 milhões de casos conhecidos de covid-19, a OMS disse nesta quarta-feira(4) que está profundamente preocupada com as pessoas que podem sofrer de covid de longa, cuja taxa de incidência é desconhecida.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) aconselhou às pessoas que sofrem as consequências do vírus por um longo prazo, apesar de se recuperarem da infecção, a consultarem um médico.

A covid longa é um dos aspectos mais desconhecidos da pandemia.

“Esta síndrome pós-covid, ou covid longa, é algo que preocupa profundamente a OMS”, disse María Van Kerkhove, gerente técnica da luta contra a covid-19 na organização.

A OMS está "se certificando de que estamos cientes disso, porque isso é real".

"Não sabemos quanto tempo esses efeitos duram e estamos trabalhando [...] para entender e descrever o que é essa síndrome pós-covid", disse Van Kerkhove.

Como ela explicou, a OMS está trabalhando para obter melhores programas de reabilitação para pessoas com covid longa e também para aumentar as pesquisas e entender melhor em que consiste essa síndrome e como tratá-la.

Pouco se sabe sobre por que algumas pessoas, após superar a fase aguda da doença, têm dificuldade de se recuperar e continuam a apresentar sintomas como dificuldades respiratórias, fadiga extrema e alterações cardíacas e neurológicas.

Segundo Janet Diaz, chefe da equipe de resposta clínica à covid-19 da agência da ONU, mais de 200 sintomas foram registrados, incluindo dor no peito, formigamento e erupções cutâneas.

Segundo Diaz, em uma transmissão nas redes sociais na terça-feira, algumas pessoas têm esses sintomas por três meses, outras por até seis.

Mesmo quando já não têm mais o vírus no corpo, pacientes que passaram pela Covid-19 relatam uma série de sequelas, que vão desde a perda de olfato até dificuldades em deglutir alimentos. Nutricionistas, por sua vez, afirmam que uma alimentação saudável e adequada pode ajudar na recuperação desses problemas.

"Não há um nutriente ou um tipo de alimento que vá tratar os sintomas, mas sabemos que com uma dieta adequada, junto aos tratamentos necessários, os pacientes têm melhores respostas", explica Luciana da Conceição, mestre e doutora em Ciências Médicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que, junto a Júlia Dubois, coordena o Ambulatório de atenção nutricional para paciente pós-covid-19.

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Sônia Alscher, professora de Nutrição da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), concorda e acrescenta que a doença é capaz de alterar o estado nutricional de quem a contrai. "A falta de apetite, de paladar e de olfato levam à baixa ingestão alimentar, o que afeta o estado nutricional."

Para as profissionais, pacientes que desenvolvem quadros mais graves sofrem mais prejuízos nutricionais. "O tempo de internação prolongado em UTI pode levar a dificuldades de deglutição devido à intubação", exemplifica Sônia.

Luciana afirma ainda que, como as internações por covid-19 podem ser longas, o indivíduo pode apresentar perda acentuada de massa muscular e, por conta disso, apresentar redução de suas funcionalidades.

Conforme o estudo italiano Nutritional management of covid-19 patients in a rehabilitation unit, a desnutrição por causa de infecções agudas da covid-19 parece ser uma sequela recorrente. Os pesquisadores destacaram que, entre os pacientes acompanhados, 45% tinham alto risco de desnutrição, outros 26%, risco moderado.

A pesquisa publicada na revista científica European Journal of Clinical Nutrition (EJCN), em maio de 2020, mostrou também que 90% dos 50 pacientes que passaram pela Unidade de Reabilitação da Covid-19 do Instituto Científico San Raffaele, em Milão, entre março e maio de 2020, apresentaram algum grau de disfagia - dificuldade de deglutição. Por conta disso, necessitaram de uma dieta modificada durante a recuperação.

Nesse sentido, as profissionais brasileiras acreditam que a ingestão de determinados nutrientes ou a suplementação pode fazer com que o paciente recupere suas funcionalidades de forma mais rápida. "Quando se pensa na alimentação, se pensa na questão do paladar. Mas a nossa função, como nutricionistas, é maior", afirma Júlia, mestre e doutora em Bioquímica pela UFRGS. Preparações rápidas são mais indicadas, a fim de que o paciente direcione mais esforços à recuperação. "As pessoas só pensam no comer, mas existe toda uma preparação e uma movimentação prévia para você sentar e comer", diz Júlia.

Pensando nisso, Júlia e Luciana criaram o Ambulatório de atenção nutricional para paciente pós-covid, um projeto de extensão vinculado à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que oferece assistência nutricional a pessoas que convivem com sequelas do vírus. Para ter acesso ao serviço gratuito, o paciente deve ter mais de 18 anos e ter sido internado na rede hospitalar pública ou privada da grande Florianópolis por conta da doença. Os interessados podem entrar em contato pelo e-mail nutricovidufsc@gmail.com ou pelo WhatsApp (48) 9 9998-6257.

Mauri Sérgio de Souza é um dos pacientes do ambulatório. O gerente comercial, de 53 anos, ficou hospitalizado cerca de 30 dias com covid - 18 deles intubado. Durante o período, perdeu aproximadamente 10 kg. Com isso, relata ter ficado debilitado e mais fraco. "Eu não conseguia nem mesmo levantar um garfo", conta. A alta hospitalar significou apenas a volta para casa, pois o processo de recuperação segue até hoje.

Em um primeiro momento, Souza buscou acompanhamento de fisioterapeutas e psicólogos. Em junho, passou a contar com o atendimento do ambulatório da UFSC. Orientado pelos profissionais, conta ter passado a consumir mais frutas e verduras. E bebe mais água. As mudanças alimentares, na opinião dele, permitiram aliviar os sintomas de fadiga. "Faz pouco tempo, mas já tenho me sentido mais disposto", afirma.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Mais de um ano após o início dos casos do novo coronavírus ao redor do mundo, a comunidade médica segue investigando as sequelas deixadas pela doença. De acordo com o resumo de políticas da OMS (Organização Mundial da Saúde) e do Observatório Europeu de Sistemas de Sistemas e Políticas de Saúde, cerca de uma em cada 10 pessoas apresentam problemas persistentes 12 semanas após o início da infecção.

Alterações nos sentidos do olfato, paladar, audição (perda; zumbido; tontura) e visão são alguns dos comprometimentos que podem ser provenientes da Covid-19. "De maneira geral, quando se fala em Covid-19, logo vem à mente febre, tosse seca e problemas respiratórios. Mas não podemos esquecer que as manifestações oculares (conjuntivite viral, lesões na retina) e as alterações de olfato, paladar, tontura e zumbido também estão associadas não só aos sintomas, mas às sequelas deixadas pela doença”, explica a médica otorrinolaringologista do Hospital de Olhos de Pernambuco (HOPE), Kátia Virgínia.

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Olfato e paladar

Não é raro, de acordo com a médica, a ausência de paladar e olfato por até três meses após o acometimento pelo vírus Sars-CoV-2. Além disso, os pacientes também podem relatar dificuldade em distinguir odores, levando o portador a sentir cheiros inexistentes naquele momento, o que demonstra o mau funcionamento das células olfativas. Desta forma, o chamado “Teste do Olfato”, desenvolvido na Universidade da Pensilvânia (EUA), e já disponível no Brasil, tornou-se uma das alternativas mais eficientes na elaboração de terapias olfatórias.

“Para um diagnóstico mais completo, o exame pode ser feito acompanhado de uma videonasolaringoscopia, que observará estruturas da boca, orofaringe e laringe”, acrescenta Kátia Virgínia, que acompanha a realização do teste no HOPE. De fácil aplicação e alta confiabilidade, o exame reúne 40 substâncias ativadoras do olfato. Elas vêm em cartelas, onde o paciente pode cheirar e marcar sua percepção para posterior avaliação do médico. Cada pessoa demora cerca de 15 minutos para concluir. Assim, é possível identificar de forma precisa o tipo de cheiro que foi perdido e acompanhar, com a mesma cartela, a evolução da recuperação.

Audição

Quando o assunto é audição, uma análise publicada na revista “International Journal of Audiology” revelou que a Covid-19 pode não só piorar a percepção sonora como também causar ou agravar a sensação de vertigem e zumbido no ouvido. As pesquisas afirmam que isso ocorre, pois o vírus costuma atingir as células ciliadas da cóclea, responsáveis pela codificação de estímulos sonoros.

“São relatos de zumbidos e uma surdez súbita, que consiste na perda repentina da audição ou a piora abrupta de um problema pré-existente, com a diminuição do limiar auditivo em 30dB em três frequências diferentes" enfatizou a otorrinolaringologista. O exame audiométrico, que avalia a saúde da audição e a capacidade de receber estímulos sonoros do paciente, é imprescindível para estes casos. 

Visão

Embora pouco visibilizados em debates sobre sequelas da Covid-19, problemas oftalmológicos também estão inclusos na lista de possíveis sequelas da doença. A conjuntivite, por exemplo, presente nos relatos iniciais de inúmeros pacientes infectados, pode dar lugar a um acometimento dos vasos da retina, conhecidos como lesões retinianas. 

“É como se o paciente tivesse maior propensão a ter uma lesão da musculatura ocular, fazendo com que a capacidade de enxergar de perto prejudicada seja prejudicada”, explica o oftalmologista Pedro Leonardo, apontando para casos onde há o diagnóstico de presbiopia, ou a popular “vista cansada”. Além disso, o uso de corticóides para combater a inflamação vascular sistêmica ocasionada em casos graves ou moderados da Covid-19 também pode afetar a visão, reforçando a necessidade de acompanhamento médico especializado e repetição de exames.

No final de abril de 2021, uma das mais conceituadas revistas científicas, a Nature, publicou um estudo referente aos sintomas e consequências da Covid-19 (SARS-CoV-2) depois da reabilitação. De acordo com cientistas da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, foram identificadas inúmeras reações depois da recuperação. Um dos pilares para o estudo foi a base de banco de dados nacionais de saúde de 87 mil pacientes do Departamento de Assuntos de Veteranos dos Estados Unidos, que foram diagnosticados com reações variadas. Ao que tudo indica, a internação hospitalar pela Covid-19, é apenas a ponta do iceberg.

Matheus Benjamim é biomédico, especialista em virologia e epidemiologia, e conta que o novo coronavírus tem um caráter sistêmico, que pode afetar o corpo inteiro. “Ela [Covid-19] começa a infecção pelas vias respiratórias, pelas vias superiores, vias inferiores, e depois se alastra pelo corpo inteiro. Isso é muito preocupante”. Desta forma, a doença gera uma espécie de “Síndrome Pós-Covid” e apresenta sintomas e sequelas após a 13ª semana em que o indivíduo se recuperou do vírus. “Uma Síndrome Pós-Covid pode afetar inclusive assintomáticos, desde a parte dermatológica, até a parte cardíaca”, relata.

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Dentre os sintomas mais recorrentes, o especialista conta que o mais preocupante é referente ao coração, uma vez que já foram identificadas danificações na estrutura do órgão muscular, inclusive de crianças. “A doença começa como pulmonar, passa por um processo pulmonar cardiovascular, depois pode afetar a parte renal de filtragem de sangue”. O biomédico complementa dizendo que além desses fatores, também foram identificadas sequelas relacionadas à parte mental, como distúrbios cognitivos, além de perda de ar e dores musculares. “Possivelmente não vão matar, não vão evoluir para um caso mais grave, mas  prejudicam a qualidade de vida”, afirma.

De acordo com Benjamim, devido ao atual cenário do Brasil - em que tantas vezes há a falta de cumprimento de protocolos de segurança – existe uma tendência de o país ser um local a desenvolver outras novas variantes do vírus, além da  P1, P2 e N9, que já estão espalhadas em vários estados. “Tudo indica que vamos continuar com essa doença por muito tempo.  E que novas variantes podem ser tão mutantes que o nosso corpo não os reconheça com os anticorpos”, explica. O especialista lembra que  os anticorpos são como vigias à procura de um indivíduo que causa problemas, e que, quando este sujeito sofre uma modificação em sua estrutura, é mais difícil de identificá-lo.

“O Brasil está participando de um experimento biológico, na verdade. Ele [Brasil] tem todos os materiais necessários para continuar incentivando a doença, já que a contenção do vírus não é adequada, pois vivemos essa situação de ‘quase quarentena’ e ‘quase isolamento social’. As medidas atuais, segundo Benjamim, não são suficientes e apenas desafogam os leitos de hospitais de maneira momentânea. “O vírus vai se proliferando, sem controle, entrando em contato com novas pessoas, novos DNA’s, e com isso a possibilidade de mutação continua”, alerta.

Evolução da Covid-19

O especialista em virologia conta que ainda não foi confirmado, mas existem evidências que mostram a possibilidade da Covid-19 se mesclar ao DNA, de maneira semelhante ao vírus HIV, que provoca a AIDS. “Se o coronavírus conseguir se integrar ao nosso DNA, além da contaminação respiratória, a gente tem uma contaminação herdada de pai para filho. Isso ainda não pode ser afirmado, surgiram evidências a respeito em alguns artigos que mostram esse caminho, mas a gente torce para que não se comprove essa tese”. Benjamim completa dizendo que já houve casos na história de vírus mutantes geneticamente transmissíveis, e as condições do Brasil tornam este fator mais propenso, mas isso ainda continua sendo raro.

 

Na última semana, a revista científica Nature publicou a pesquisa Covid Longa. O estudo revela que pessoas recuperadas do coronavírus têm risco 59% maior de morrer no período de 6 meses após o contágio. O estudo teve como base o banco de dados nacionais de saúde de 87 mil pacientes do Departamento de Assuntos de Veteranos dos Estados Unidos.

A pesquisa sobre as possibilidades do pós-Covid revelam que, além dos riscos de morte, uma parcela dos recuperados está com problemas de saúde. Foram identificadas falhas no sistema nervoso, distúrbios neurocognitivos e cardiovasculares. De acordo com o responsável pela pesquisa, Ziyad Al-Aly, a internação por Covid é a primeira etapa de um longo processo de reabilitação.

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Na pesquisa sobre as sequelas, cerca de 48 mil sobreviventes da Covid-19 foram consultados, e 80% deles apresentaram sintomas depois de semanas e até meses após a recuperação. Entre as alterações apresentadas estão fadiga (58%), dor de cabeça (44%), dificuldade de atenção (27%), perda de cabelo (25%) e dificuldade para respirar (24%).

Os pacientes estudados também apresentaram sintomas relacionados à ansiedade (13%) e depressão (12%). Mesmo antes da pandemia, essas alterações já eram agravantes na população brasileira. De acordo com os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 9,3% dos brasileiros possuem algum transtorno de ansiedade; 5,8% da população é afetada por depressão. Fatores como pobreza e desemprego são agravantes deste cenário, segundo especialistas.

Uma em cada três pessoas que superam a Covid-19 são diagnosticadas com problemas neurológicos ou psiquiátricos nos seis meses posteriores à infecção, aponta o maior estudo feito até o momento sobre o balanço mental de ex-pacientes do novo coronavírus.

Ansiedade (17%) e alterações de humor (14%) são os diagnósticos mais frequentes, segundo o estudo, publicado nesta quarta-feira (7) pela revista especializada The Lancet Psychiatry.

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A incidência de problemas neurológicos, como hemorragias cerebrais (0,6%), acidentes vasculares cerebrais (2,1%) e demência (0,7%), é globalmente inferior, mas o risco é, em geral, maior entre pacientes que estiveram gravemente doentes de covid.

Apesar do risco pequeno a nível individual da maioria dos problemas neurológicos e psiquiátricos, o efeito pode ser "considerável" para os sistemas de saúde devido à amplitude da pandemia, afirma o professor Paul Harrison (Universidade de Oxford, Reino Unido), principal autor do estudo. Muitos problemas são "crônicos", explica. Ele defende dotar os sistemas de saúde com recursos para "enfrentar as necessidades".

Ao analisar os prontuários eletrônicos de 236.379 pacientes afetados pela Covid, os autores concluem que 34% deles tiveram diagnóstico de doença neurológica ou psiquiátrica nos seis meses seguintes à infecção.

Para 13% das pessoas este foi o primeiro diagnóstico neurológico ou psiquiátrico.

O risco de desenvolver problemas a longo prazo cresceu nos pacientes que foram hospitalizados por Covid-19 grave. Assim, 46% dos pacientes que passaram por cuidados intensivos apresentaram problemas neurológicos ou psiquiátricos seis meses após a infecção.

Quase 7% dos pacientes que passaram por UTIs tiveram um acidente cardiovascular posterior, 2,7% uma hemorragia cerebral e quase 2% desenvolveram demência, contra, respectivamente, 1,3%, 0,3% e 0,4% dos não hospitalizados.

Os cientistas também cruzaram dados de mais de 100.000 pacientes que tiveram um diagnóstico de gripe e os mais de 236.000 pacientes com o diagnóstico de infecções respiratórias.

O risco de diagnóstico neurológico ou psiquiátrico é, em geral, 44% maior após a Covid que depois de uma gripe, e 16% maior que depois de uma infecção das vias respiratórias.

"Infelizmente, muitos problemas identificados no estudo têm uma tendência a se tornarem crônicos ou recorrentes, então podemos antecipar que o impacto da Covid-19 poderia perdurar durante muitos anos", escreve o doutor Jonathan Rogers da Universidade de Londres (UCL) em um comentário publicado na revista.

Provavelmente, as pessoas estudadas foram mais gravemente afetadas que a população em geral, afirmam os autores, que se referem às pessoas, numerosas, que não procuram consultas por sintomas leves ou inexistentes.

Para algumas pessoas, vencer a Covid-19 por completo demanda um certo tempo; às vezes bastante logo. Alguns pacientes passam vários meses sofrendo com algumas sequelas da doença, como vem acontecendo com a cantora Joelma e a ex-bailarina do Faustão, Carla Prata. 

Joelma testou positivo para a Covid-19 em julho de 2020. No entanto, oito meses após passar pela doença, a cantora ainda apresenta algumas limitações. “Eu peguei Covid em julho e, até agora, eu estou cuidando das sequelas. No final de janeiro tive uma recaída. Agora, não sei se tive uma recaída ou se peguei de novo. Mas fiquei muito mal de novo, viu? Eu estou cuidando até agora das sequelas”, disse a artista em seu perfil do Instagram. 

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Já Carla Prata, ex-bailarina do Faustão, falou em entrevista à revista Caras que quase perdeu a vida por conta do coronavírus. Ela precisou ser internada e, mesmo após a alta hospitalar, ainda se sente mal. “Acho que estou com essa síndrome da fadiga crônica, que muita gente tem no pós-Covid, assim como muitos têm trombose e embolia pulmonar por conta da doença. Fico apreensiva de não saber até quando sentirei esses sintomas. As pessoas têm muito medo da Covid em si, e eu quase morri no pós. Comecei a sentir uma dor absurda na perna e fiquei dois dias internada. Eu podia ter morrido. É tudo muito perigoso, tanto a Covid, quanto o pós". 

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Nem sempre a cura significa o fim do tratamento. A covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, deixa sequelas na vida de pessoas que adoeceram até mesmo meses depois da contaminação. Pesquisa publicada pela revista científica de medicina Journal of the American Medical Association (JAMA) mostra que, embora curados da covid-19, 87% dos 143 participantes do estudo apresentaram um ou mais sintomas relacionados com a doença. Os mais frequentes são: cansaço (53,1%); dispneia (43,4%), que é a falta de ar ou respiração ofegante; dores nas articulações (27,3%) e dores no peito (21,7%). Em 44,1% dos pacientes observou-se piora na qualidade de vida.

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O acompanhamento clínico multidisciplinar ajuda na recuperação. A fisioterapia desempenha um papel importante, como relata Daniela Teixeira, professora e coordenadora da Clínica de Fisioterapia da UNAMA - Universidade da Amazônia. “A fisioterapia tem como objetivo reestabelecer a função social desse indivíduo, através de técnicas presentes na fisioterapia respiratória e motora. Tendo em vista que as sequelas presentes nos pacientes pós-covid influenciam diretamente na funcionalidade”, conta.

Na clínica, a faixa etária predominante das pessoas que buscam por fisioterapia é entre 25 e 45 anos, segundo a professora Daniela Teixeira. Ela aponta que pacientes apresentam como sequelas redução nos volumes e capacidade pulmonar, bem como fraqueza muscular respiratória. “Estudos mostram que os pacientes acometidos pelo covid-19, mesmo que em sua forma leve, apresentaram alterações pulmonares com pacotes restritivos leves, ou seja, redução nos volumes e capacidades pulmonares. Além da presença de fraqueza muscular respiratória em até 20% dos indivíduos” ressalta a coordenadora. Ela explica também que, seja devido ao repouso prolongado em casa, seja pela internação hospitalar de longa duração, as sequelas músculo-esqueléticas reduzem a força muscular periférica, causando a perda de massa corporal magra.

Com tratamento medicamentoso e fisioterapia, a coordenadora afirma que é possível atingir a cura. Quanto à fisioterapia, Daniela Teixeira destaca alguns exercícios respiratórios na fase aguda. “Realizar inspirações profundas, no qual o indivíduo deve encher os pulmões o máximo que conseguir observando a expansão do abdômen e expirar realizando a manobra dreno labial. Três séries de 12 repetições de duas a três vezes ao dia”, explica.

A professora lembra a importância das pessoas estarem sempre atentas aos sinais clínicos. “Se possível ficar acertando sua saturação periférica de oxigênio, que deve permanecer acima de 94%, frequência respiratória menor que 25 e sinal de cansaço leve. Qualquer sinal que esteja fora dos parâmetros acima citados, procurar auxílio médico”, recomenda.

Além das sequelas físicas, os pacientes de covid-19 apresentam também problemas psicológicos. Um estudo feito por cientistas italianos, disponível no Science Direct (site que reúne dados e pesquisas cientificas publicadas mundialmente), mostra que 55% dos 402 pacientes acompanhados sofrem com pelo menos um transtorno psicológico. Ansiedade, insônia e depressão foram os mais citados.

A psicóloga Tiara Klautau, especialista em psicanálise com crianças e adolescentes, relatou que os principais transtornos apresentados são ansiedade, crise de pânico e medo da morte. "Estamos lidando com incertezas. O ser humano geralmente tem sua forma de viver, que foi retirada diante da pandemia", conta.

A psicóloga destaca o aumento na procura de ajuda psicológica durante a pandemia. "Chegamos no auge de atendimentos individuais que formamos grupos para o apoio a pacientes com ansiedade, somatizações e luto por conta da covid-19", relatou. Tiara Klautau alerta que não querer sair de casa nem para o essencial, falar o dia inteiro sobre o assunto, choro sem motivo aparente e insônia são indicativos de que a pessoa precisa de ajuda psicológica.

O acompanhamento de um profissional é importante para a recuperação desses pacientes. "Acolher, primeiramente acolher, tantos os que estão fisiologicamente doentes, quanto os que estão emocionalmente doentes. E isso se estende aos familiares também", conclui a psicóloga.

Por Carolina Albuquerque e Karoline Lima.

 

 

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