Tópicos | Sínodo da Amazônia

O papa Francisco pediu para o mundo parar de "desfigurar o rosto da Amazônia", na missa deste domingo na basílica de São Pedro de conclusão do sínodo dedicado à região.

"Os erros do passado não foram suficientes para deixar de espoliar e causar feridas a nossos irmãos e nossa irmã Terra: vimos no rosto desfigurado da Amazônia", disse o papa diante de centenas de religiosos e outros convidados, entre eles indígenas provenientes da bacia amazônica.

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Em sua homilia, o papa condenou "o desprezo" pela história e pelas tradições de outros povos, "considerando-os inferiores e de pouco valor" e que "apaga sua história, ocupa seus territórios, usurpa seus bens", disse.

"Quanta suposta superioridade que hoje se converte em opressão e exploração!", lamentou.

O papa argentino criticou também a hipocrisia de tantos cristãos que "praticam a religião do eu".

"E, além de esquecer de Deus, esquece do próximo; ou pior, lhe despreza. Ou seja, para ele não tem um preço, não tem um valor. Se considera melhor que os demais, a quem chama, literalmente, de 'os demais, o resto'. São 'o resto', os descartados de quem precisa se manter à distância", condenou.

"Quantas vezes vemos acontecer esta dinâmica na vida e na história! Quantas vezes quem está à frente, como fariseu em relação ao publicano, levanta muros para aumentar as distâncias, tornando os demais descartados", acrescentou.

Com essa defesa dos "descartados", o papa concluiu com uma missa solene a primeira assembleia de bispos dedicada à defesa da Amazônia de seus habitantes.

Nenhum símbolo religioso indígena foi utilizado durante a cerimônia na basílica vaticana.

Os 184 bispos que participaram do sínodo aprovaram um documento que pede a criação do "pecado ecológico", bem como a possibilidade de ordenar padres casados e estudar a possibilidade de contar com mulheres diáconos - temas tabu para os católicos conservadores.

O Vaticano divulgou neste sábado, dia 21, a lista completa de participantes do Sínodo da Amazônia, assembleia especial que discutirá temas políticos relacionados ao meio ambiente e assuntos internos da Igreja Católica em Roma, ao longo do mês de outubro. O Brasil tem a maior delegação entre os participantes, 58 bispos da região amazônica, além de outros nomes na cúpula do encontro presidido pelo papa Francisco e que provocaram reações negativas no governo Jair Bolsonaro. O pontífice convidou cientistas, nomes ligados à Organização das Nações Unidas (ONU), representantes de igrejas evangélicas, de ONGs e povos indígenas. A previsão é de mais de 250 participantes.

Os principais nomes brasileiros são o relator-geral do sínodo, cardeal d. Cláudio Hummes, e um dos três presidentes-delegados, o cardeal d. João Braz de Aviz.

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Dos oito demais países da região pan-amazônica, as maiores delegações de bispos vêm de Colômbia (15), Bolívia (12), Peru (11), Equador (7), Venezuela (7), Guiana (1), Guiana Francesa (1) e Suriname (1). Ao todo, são 185 "padres sinodais", clérigos com direito a voto nos temas a serem debatidos na assembleia.

O papa vetou entre os convidados especiais (não-religiosos) militares ou políticos que exerçam mandato, apesar de o governo Bolsonaro ter manifestado interesse em enviar representantes. A lista de 12 personalidades de expressão mundial inclui o climatologista brasileiro Carlos Nobre, cuja participação foi revelada pelo Estado.

Os outros 11 convidados são: o ex-secretário-geral da ONU Ban Ki-moon; o diretor da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) René Castro Salazar; o presidente da Coordenadoria das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA), José Gregorio Díaz Mirabal, indígena Koripako da Venezuela; o presidente da ONG francesa Forêt Vierge (Associação Mata Virgem), Jean-Pierre Dutilleux, entidade ligada ao cacique brasileiro Raoni, líder indígena Kayapó; a secretária-geral da aliança católica CIDSE (Cooperação Internacional para o Desenvolvimento e a Solidariedade), Josianne Gauthier; o padre Miguel Heinz, presidente da organização católica alemã Adveniat; o professor Luis Libermann, fundador da Cátedra do Diálogo e Cultura do Encontro, na Argentina; o professor de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Columbia (EUA) Jeffrey D. Sachs; o professor Hans J. Schellnhuber, diretor emérito do Instituto Postdam de Pesquisa de Impacto Climático, na Alemanha; o monsenhor Pirmin Spiegel, diretor-geral da organização alemã Misereor; e a relatora especial da ONU para os Direitos dos Povos Indígenas, Victoria Lucia Tauli-Corpuz.

O papa convidou representantes de igrejas evangélicas - cuja presença expansiva na Amazônia é uma das preocupações do sínodo católico. Seis deles estão entre os chamados "delegados fraternos", sendo quatro brasileiros: o historiador Moab César Carvalho Costa, evangelista da Igreja Assembleia de Deus em Imperatriz (MA); o reverendo Nicolau Nascimento de Paiva, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil; e dois nomes da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil - Daniel Dos Santos Lima, membro da Comunidade Anglicana de Manaus (AM), e o reverendo Cláudio Correa de Miranda, vice-coordenador do Conselho Amazônico de Igrejas Cristãs.

Entre auditores e colaboradores do sínodo, o Vaticano convocou dezenas de outros nomes atuantes no Brasil, a maior parte ligada à Igreja, como os padres Justino Sarmento Rezende, especialista em inculturação de espiritualidades indígenas e originário do povo Tuyuka, em São Gabriel da Cachoeira (AM), e Dario Bossi, missionário italiano da Rede Igrejas e Mineração, que atua em Açailândia (MA). Há também nomes de fora da hierarquia católica, como o procurador da República Felício de Araújo Pontes Júnior, especialista em direito das populações indígenas e o linguista Tapi Yawalapiti, cacique que representará 16 tribos do território do Alto Xingu, no Mato Grosso.

O sínodo, que tem na pauta dar mais protagonismo a mulheres na Igreja, terá uma presença significativa delas, mas sem direito a voto. Na delegação que vai a Roma, foram incluídas a professora da Universidade Federal de Roraima Marcia Maria de Oliveira, doutora em Sociedade e Cultura na Amazônia, especialista em história da Igreja na Amazônia e assessora da Rede Eleclesial Pan-Amazônica (Repam), a coordenadora do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) Judite da Rocha, e a agrônoma Ima Célia Guimarães Vieira, representante da comunidade científica no Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), ex-diretora e pesquisadora titular do Museu Paraense Emilio Goedi.

O sínodo será encerrado em 27 de outubro, com uma missa do papa Francisco na Basílica de São Pedro. O evento também marcará a canonização de Irmã Dulce. Os resultados do sínodo, que serve como encontro de consulta do papa à Igreja, só serão conhecidos após a exortação apostólica que será proferida pelo pontífice.

O general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo de Jair Bolsonaro afirmou nesta terça-feira, 12, que só dará explicações sobre acusações de espionagem de bispos à Câmara se for convocado. "Se fosse convidado, não. Se for convocado, sou obrigado a ir", disse.

Deputados da oposição já falaram em levar o ministro para prestar explicações das atividades de inteligência sobre o chamado "clero progressista". Como revelou o jornal O Estado de S. Paulo, o Planalto recebeu relatórios com detalhes das reuniões de preparação do Sínodo da Amazônia, que reunirá em Roma, em outubro, bispos de todos os continentes.

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O governo quer conter o que considera um avanço da Igreja Católica na liderança da oposição. O alerta ao governo veio de informes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e dos comandos militares. Heleno nega espionagem.

"A preocupação com o Sínodo é uma preocupação real porque algumas pautas são de interesse da segurança nacional. Então acaba preocupando a Abin e o GSI, mas em nenhum momento (tem a ver com) espionar alguém, monitorar alguém, algo com essa conotação", disse Heleno nesta terça. "Quem cuida da Amazônia brasileira é o Brasil, não tem que ter palpite de ONG estrangeira, de chefe de Estado estrangeiro. O Brasil não dá palpite no deserto do Saara, no Alaska."

Na avaliação da equipe do presidente, a Igreja é uma tradicional aliada do PT e está se articulando para influenciar debates antes protagonizados pelo partido no interior do País e nas periferias.

Durante 23 dias, o Vaticano vai discutir a situação da Amazônia e tratar de temas considerados pelo governo brasileiro como uma "agenda da esquerda". O debate irá abordar a situação de povos indígenas, mudanças climáticas provocadas por desmatamento e quilombolas. "Estamos preocupados e queremos neutralizar isso aí", disse o ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, que comanda a contraofensiva.

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