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Pelo menos 46 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas neste domingo (10) em bombardeios aéreos do exército em um distrito ao sul de Cartum, capital do Sudão, disse um grupo pró-democracia.

“Por volta das 07h15 [02h15 em Brasília], as forças aéreas bombardearam a área do mercado de Qura”, informou o Comitê de Resistência deste bairro.

O número de mortos chega a "pelo menos 46" e há "dezenas de feridos", acrescentou algumas horas depois.

Este grupo pró-democracia, que organiza assistência mútua entre os moradores desde o início da guerra, denunciou um "massacre", temendo que o número de vítimas continue aumentando.

Os feridos não param de chegar ao hospital mais próximo, Bachair, que fez um “apelo urgente” a todos os médicos da região.

Desde 15 de abril, a guerra entre o exército e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FAR) já ceifou quase 7.500 vidas, segundo a ONG Armed Conflict Location & Event Data Project (Acled).

O número real de vítimas pode ser muito maior porque muitas áreas do país estão completamente isoladas e ambos os lados se recusam a comunicar as suas perdas.

Os combates, concentrados principalmente em Cartum e Darfur, uma vasta região no oeste do país que faz fronteira com o Chade, também levaram quase cinco milhões de pessoas a fugir das suas casas. Várias tentativas internacionais de mediação falharam até agora.

O exército bombardeou neste domingo posições paramilitares em Cartum, capital do Sudão, horas depois das mortes de 20 civis, incluindo duas crianças, em um ataque aéreo contra um bairro residencial, informaram moradores e ativistas.

"O balanço dos bombardeios aéreos no bairro de Kalakla subiu para 20 civis mortos", anunciou o "comitê de resistência" do distrito, um dos grupos pró-democracia que, desde o início do conflito em abril, adotou sistemas para ajudar os vizinhos.

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No sábado (2), o comitê informou que "11 civis mortos, incluindo duas crianças e uma mulher", estavam no necrotério de um dos últimos hospitais ainda abertos na capital. A organização afirmou que não foi possível transportar "muitos corpos, carbonizados e desmembrados pelo bombardeio".

A guerra, que explodiu em 15 abril entre o exército, liderado pelo general Abdel Fatah al Burhan, e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FAR), do general Mohamed Hamdan Daglo, provocou 5.000 mortos, segundo balanço - considerado muito subestimado - da ONG Armed Conflict Location & Event Data Project (Acled), e 4,8 milhões de deslocados e refugiados, de acordo com a ONU.

Várias testemunhas relataram à AFP que ouviram "tiros de artilharia e disparos de foguetes contra posições das FAR" na periferia norte da capital.

Em Cartum, os combates se concentram em bairros densamente povoados, onde milhões de habitantes enfrentam diariamente, há quase cinco meses, cortes no abastecimento de água e energia elétrica, além de um calor sufocante, bloqueados em suas casas para tentar evitar os tiroteios.

Doze civis morreram neste domingo em bombardeios entre militares e paramilitares, que se enfrentam, agora, em outra cidade da região de Darfur, oeste do Sudão.

"O primeiro balanço provisório é de 12 civis mortos em Nyala", informou à AFP um médico local, que não quis ser identificado. "Mas sabemos que pessoas morreram ou ficaram feridas antes de que pudessem chegar ao hospital, porque a violência dos combates impede os deslocamentos", ressaltou.

A guerra entre o Exército, comandado pelo general Abdel Fattah al-Burhan, e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FSR), do general Mohamed Hamdan Daglo, deixou mais de 2.800 mortos desde abril, segundo a ONG Acled, além de mais de 2,5 milhões de deslocados e refugiados, segundo a ONU.

O Exército aumentou seus ataques aéreos contra Cartum. Já as FSR intensificaram o fogo de artilharia contra bases militares e da polícia.

Uma fonte paramilitar informou hoje que "tomaram o controle do quartel-general da polícia no sul de Cartum e de todo o equipamento que ali estava".

Os dois generais que disputam o poder no Sudão concordaram, neste sábado (17), com uma nova trégua de 72 horas que entrará em vigor no domingo, anunciaram os mediadores sauditas e americanos, em meio a uma intensificação dos combates.

"O reino da Arábia Saudita e os Estados Unidos anunciam o acordo dos representantes das Forças Armadas sudanesas e das Forças de Apoio Rápido (FAR) para um cessar-fogo no Sudão por um período de 72 horas a partir de domingo", informou, em nota, o Ministério de Relações Exteriores.

A trégua vai entrar em vigor às 06h locais (01h de Brasília), acrescentou a mesma fonte. As anteriores foram quase sempre violadas.

O anúncio de cessar-fogo ocorre após uma intensificação dos confrontos em Cartum, capital do país, onde houve bombardeios e explosões.

Os intensos combates também aceleraram o êxodo na região de Darfur (oeste), uma das mais afetadas pelo conflito neste país do leste da África, um dos mais pobres do mundo.

Os combates, que começaram em abril, opõem o chefe do Exército, general Fattah al-Burhan, e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FAR) comandadas pelo general Mohamed Hamdan Daglo.

Os bombardeios aéreos se intensificaram nos últimos dois dias em Cartum e os deste sábado deixaram "17 civis mortos, incluindo cinco crianças, e 11 feridos", disse o comitê de resistência local, uma célula militante que organiza ajuda à população da cidade.

Este balanço não pôde ser confirmado pela AFP com fontes independentes.

As FAR, que acusam o Exército de concentrar seus bombardeios em áreas residenciais, afirmaram que derrubaram um avião de combate das forças regulares.

Vários bairros de Cartum estão privados de água potável e a rede elétrica funciona apenas algumas horas por semana.

A situação é igualmente preocupante em Darfur, "presa da violência", alertou a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF).

Os relatos de ataques em massa contra civis se multiplicam nessa região, de onde cerca de 149 mil pessoas fugiram para o Chade desde o início dos combates em 15 de abril, segundo dados da ONU.

Darfur, que foi devastada por uma guerra civil no começo dos anos 2000, se encaminha para um novo "desastre humanitário", alertou na quinta-feira o secretário-geral adjunto de assuntos humanitários da ONU, Martin Griffiths.

Cerca de duas mil pessoas morreram no Sudão devido ao conflito, segundo a ONG Acled.

A ONU estima em 2,2 milhões o número de deslocados em todo o país.

Cerca de 25 milhões dos 45 milhões de habitantes do Sudão sobrevivem atualmente graças à ajuda humanitária.

Novos combates foram registrados neste domingo (21) em Cartum, a capital do Sudão, horas depois do anúncio de uma trégua de uma semana que deve começar na segunda-feira e foi aceita pelo Exército e os paramilitares, que estão engalfinhados em uma luta pelo poder.

Os mediadores americanos e sauditas anunciaram que, após duas semanas de negociações em Jidá, na Arábia Saudita, as partes adversárias chegaram a um acordo de cessar-fogo de sete dias, "que entrará em vigor às 21h45 de Cartum [16h45 em Brasília] de 22 de maio".

Entretanto, dezenas de tréguas já foram violadas desde que o conflito começou há cinco semanas.

"Não confiamos neles: toda vez que anunciam uma trégua, retomam os combates imediatamente", explicou Adam Issa, comerciante de Darfur, região do leste do país e a mais afetada pelos enfrentamentos junto com a capital Cartum.

Desde que os confrontos começaram em 15 de abril entre o Exército, comandado pelo general Abdel Fattah al Burhan, e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FAR), do general Mohamed Hamdan Daglo, cerca de mil pessoas morreram e mais de um milhão tiveram que abandonar suas casas.

A infraestrutura deste país da África Oriental, um dos mais pobres do mundo, também pagou um alto preço.

Quase todos os hospitais de Cartum e Darfur já não podem funcionar, e os médicos denunciam que há bombardeios aéreos e de artilharia contra os centros de saúde.

A maior parte dos cinco milhões de habitantes da capital está trancada em suas casas, sem água ou eletricidade, e os grupos humanitários pedem o estabelecimento de corredores para levar mantimentos, medicamentos e combustível.

Em Cartum, muitos moradores relataram que suas casas foram saqueadas e ocupadas por paramilitares.

- 'Levar minha mãe ao médico' -

"Ao contrário de tréguas anteriores, o acordo alcançado em Jidá foi firmado pelas partes e apoiado por um mecanismo internacional de monitoramento americano-saudita", asseguraram Riade e Washington.

Hussein Mohamed, morador de Cartum, espera que a trégua seja respeitada. "Assim poderei levar minha mãe ao médico: ela precisa vê-lo toda semana, mas não conseguimos ir desde o dia 13 de abril", contou ele à AFP.

Burhan e Daglo deram um golpe de Estado em 2021 para expulsar os civis do poder, mas a luta recente entre ambos pelo controle do país afundou o Sudão no caos.

Na sexta-feira, o general Burhan destituiu o general Daglo de seu posto de adjunto no Conselho de Soberania, e o substituiu por Malik Agar, um antigo rebelde. Também nomeou três de seus apoiadores mais leais no alto comando do Exército.

Ontem, Agar anunciou em uma nota que deseja "parar a guerra e sentar-se à mesa de negociações", mas exige a integração das FAR ao Exército regular, o ponto de discórdia que desembocou na guerra.

"A estabilidade do Sudão só poderá ser restabelecida por um exército profissional unificado", assinalou.

No Sudão, mais da metade da população necessita de ajuda humanitária, um número jamais visto nesse país de 45 milhões de habitantes.

A ONU calcula que, se a guerra continuar, mais um milhão de sudaneses podem buscar refúgio nos países vizinhos, que temem um efeito de contágio.

Em fim o pesadelo acabou. Jogadores e integrantes brasileiros que faziam parte da comissão técnica do Al Merreikh, time da cidade de Ondurmã, desembarcaram nesta sexta-feira, em São Paulo, e colocaram fim à tensão que cercou o país por causa dos conflitos generalizados no Sudão. Nesta operação de volta, o grupo contou com a ajuda da CBF, que estabeleceu contato com os ministérios da Justiça e das Relações Exteriores para solucionar o impasse.

"Passamos por dias complicados em áreas de graves distúrbios, com escassez de alimentos e de energia elétrica. Foi importante o apoio da CBF. Conseguimos cruzar a fronteira e chegar ao Egito. A partir de então, as coisas ficaram mais amenas", afirmou Esdras Lopes, assistente técnico e analista de desempenho do Al-Merreikh, equipe que disputa a primeira divisão do futebol do Sudão.

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Além do apoio da entidade que comanda o futebol no Brasil, Lopes agradeceu também o empenho do Sindicato dos Atletas de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Saferj) e ainda o trabalho de articulação de vários parlamentares e do Itamaraty neste processo de saída do Sudão.

Além de Esdras, mais quatro companheiros de comissão técnica do Al-Merrikh desembarcaram no Brasil. No voo de volta, os atacantes Rafael e Paulo Sérgio, o meia Matheuzinho e o lateral-direito Alex Silva completaram a lista de brasileiros que conseguiram deixar o país em conflito. Na chegada, eles foram recebidos por parentes e amigos que aguardavam tensos o desfecho deste retorno.

Na última segunda-feira, um grupo com dez brasileiros já tinham saído de Cartum, capital do Sudão, e cruzaram a fronteira na direção do Egito, de acordo com informações do Itamaraty.

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil informou ainda que tem mantido contato com outros países que também tem cidadãos em atividade no Sudão para participar de ações coordenadas de retirada. A França, o Reino Unido e os Estados Unidos já conseguiram retirar seus funcionários e dependentes da embaixada desde o último domingo.

Um cessar-fogo de 72 horas entre os dois generais que disputam o poder no Sudão entrou oficialmente em vigor nesta terça-feira (25), mas testemunhos relataram novos bombardeios após dias de combates que deixaram centenas de mortos e provocaram uma fuga em larga escala de estrangeiros.

O Exército do general Abdel Fatah al Burhan bombardeou posições das paramilitares Forças de Apoio Rápido (FAR) nos arredores da capital Cartum, que responderam com tiros de metralhadoras, segundo testemunhos dados à AFP.

Outros testemunhos informaram de bombardeios contra veículos das FAR, comandadas pelo general Mohamed Hamdan Daglo, no norte de Cartum.

Em um vídeo, o grupo paramilitar afirma ter tomado o controle de uma refinaria e de uma central elétrica 70 km ao norte da capital, de cinco milhões de habitantes.

O Exército tinha alertado no Facebook para um "grande manobra [das FAR] na direção da refinaria com o objetivo de aproveitar a trégua" para tomar o local.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, havia anunciado na segunda-feira um cessar-fogo de três dias no Sudão após "negociações intensas" entre as partes.

Também observou-se um cessar-fogo na região norte de Darfur, no leste do país, há vários dias, informou a ONU.

Mas testemunhas disseram à AFP que viram confrontos entre o Exército e as FAR em Wad Banda, no Cordofão Ocidental, uma região fronteiriça mais ao sul.

Como aconteceu nos anúncios anteriores de cessar-fogo, os lados se acusam mutuamente de não respeitá-lo.

Os confrontos que explodiram em 15 de abril deixaram 450 mortos e mais de 4.000 feridos, de acordo com as agências da ONU.

- Evacuações de estrangeiros -

As Forças para a Liberdade e a Mudança, o principal bloco civil que os dois generais que agora disputam o poder derrubaram em um golpe em 2021, confiavam que a trégua permitiria "diálogo nas modalidades de um cessar-fogo permanente".

O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, elogiou o anúncio da trégua e exortou o Exército e as FAR a respeitar o acordo "plenamente".

A Organização Mundial da Saúde (OMS) fez um alerta para riscos biológicos "elevados" no Sudão após a ocupação de um laboratório nacional de saúde onde há agentes patógenos de sarampo, cólera e poliomelite.

Vídeos publicados na internet - que não tiveram a autenticidade comprovada - mostram o cenário de violência e ataques dos últimos dias: estabelecimentos comerciais incendiados, imóveis destruídos e civis perambulando entre os escombros ainda em chamas.

Antes do cessar-fogo, várias nações conseguiram negociar com os dois lados beligerantes a retirada de funcionários diplomáticos e de cidadãos de seus países.

Mais de 1.000 cidadãos da União Europeia deixaram o Sudão, segundo Borrell. A Espanha anunciou a saída de 100 pessoas, inclusive de latino-americanos.

China, Estados Unidos, Japão, Reino Unido e vários países árabes também anunciaram a retirada de centenas de pessoas.

Além disso, quase 700 funcionários da ONU, de embaixadas e de organizações internacionais foram levados para Porto Sudão, uma cidade às margens do Mar Vermelho, segundo as Nações Unidas.

A Agência da ONU para os Refugiados calcula que até 270.000 pessoas podem fugir para o Chade e o Sudão do Sul.

As pessoas que não conseguiram fugir do fogo cruzado tentam sobreviver sem o fornecimento de água ou energia elétrica, escassez de alimentos e cortes de internet e das linhas telefônicas.

Aqueles que não conseguem escapar do fogo cruzado estão tentando sobreviver sem água ou eletricidade, com escassez de alimentos e cortes de internet e telefone.

Essa espiral "arrisca uma conflagração catastrófica dentro do Sudão que pode envolver toda a região e além", disse Antonio Guterres.

- Idosos e bebês -

Apesar da saída de muitos diplomatas estrangeiros, o enviado da ONU ao Sudão, Volker Perthes, continua no país do leste africano.

Nos últimos quatro anos, ele vem negociando com os militares para que aceitem a transição para a democracia.

"À medida que os estrangeiros fogem - os que conseguem -, o impacto da violência em uma situação humanitária já crítica no Sudão é agravado", alertou a ONU.

Bloqueadas no fogo cruzado, as agências das Nações Unidas e outras organizações humanitárias suspenderam as atividades no país.

Cinco trabalhadores humanitários - quatro deles da ONU - morreram e, de acordo com o sindicado dos médicos, quase 75% dos hospitais do país estão foram de serviço.

Quase 200 pessoas de mais de 14 países desembarcaram na segunda-feira à noite de um navio na cidade costeira de Jidá, na Arábia Saudita. Entre as pessoas que fugiram do Sudão estavam idosas em cadeiras de rodas e bebês carregados pelos pais.

A disputa entre Burhan e Daglo, que se aliaram para derrubar civis do poder, surgiu de planos de integrar as FAR ao Exército.

Um funcionário da Organização Internacional para as Migrações (OIM), agência que integra a Organização das Nações Unidas (ONU), morreu nesta sexta-feira, 21, durante confronto que completará uma semana no Sudão. A informação foi confirmada pelo diretor geral da instituição em um comunicado.

"Com grande pesar confirmo a morte de um membro da OIM no Sudão esta manhã, depois que veículo no qual trabalhava com sua família no sul de El Obeid ficou em meio a um fogo cruzado entre as partes enfrentadas", declarou Antonio Vitorino, diretor da Organização. "A OIM lamenta esta tragédia, reitera o apelo pelo fim da violência e exige a proteção dos civis", escreveu.

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Na última semana, outros três funcionários da ONU morreram no confronto, logo depois de o chefe da missão especial da organização, Volker Perthes, ter feito um comunicado pedindo "cessação imediata" do confronto. "Apelo a ambas as partes para que parem imediatamente os combates e restabeleçam a calma em todo o Sudão. A segurança do povo sudanês é uma prioridade", escreveu.

Pedido de trégua

Apesar do pedido de trégua de 72 horas, o exército e os paramilitares continuam lutando no Sudão, com explosões e confrontos pelas ruas de Cartum. No dia anterior, a ONU e os Estados Unidos solicitaram uma trégua de "pelo menos" três dias para permitir que civis celebrassem o Eid al Fitr, que marca o fim do mês de jejum muçulmano do Ramadã.

No entanto, o chefe do exército Abdel Fatah al-Burhan descartou, na quinta-feira, 20, negociar com seu ex-número dois, Mohamed Hamdan Daglo, chefe das Forças de Apoio Rápido (FAR) paramilitares.

As FAR anunciaram às 4h GMT (1h em Brasília) de sexta-feira "seu acordo de trégua de 72 horas" para dar uma pausa aos sudaneses presos neste fogo cruzado. Ao mesmo tempo, o general Burhan apareceu na televisão estatal pela primeira vez desde o início dos confrontos para um discurso por ocasião do Eid, no qual não mencionou nenhuma trégua.

"No Eid deste ano, nosso país sangra: a destruição, a desolação e o barulho das balas prevalecem sobre a alegria", disse. "Esperamos sair desta prova mais unidos (...), um só exército, um só povo", destacou, vestindo uniforme militar, entre duas bandeiras sudanesas.

No último sábado, 15, o grupo paramilitar tomou o palácio presidencial do Sudão e outros pontos-chave do país, dando início ao conflito que já dura quase uma semana. Na manhã desta sexta, segundo a OMS, o conflito já soma 400 mortes e 3.500 feridos, incluindo membros das forças de segurança. A milícia Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) acusou o Exército do país de atacar suas forças em uma de suas bases no sul de Cartum, e revidou a provocação.

O exército sudanês, por sua vez, havia dito que os combates começaram depois que as tropas do RSF tentaram atacar suas forças na parte sul da capital, acusando o grupo de tentar assumir o controle de locais estratégicos em Cartum, incluindo o palácio. Os militares classificaram as declarações da RSF como "mentiras".

Como resultado dos ataques, um avião comercial pegou fogo em aeroporto do Sudão e já ocorrem desabastecimento e cortes de energia no país.

Os confrontos envolvem tropas de dois generais, que eram aliados: Abdel Fatah al-Burhan, comandante das Forças Armadas, e o general Mohammed Hamdan Dagalo, chefe do grupo Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês).

Ambos orquestraram em conjunto um golpe militar que ocorreu em outubro de 2021 e agora disputam a hegemonia do poder. Nos últimos meses, organismos internacionais intermediaram um acordo entre os comandantes e partidos políticos para restabelecer a democracia sem sucesso.

'Não há espaço para negociações políticas'

"Gostaríamos que os combates parassem devido ao Eid, mas sabemos que isso não acontecerá", disse Abdallah, morador da capital, à AFP na quinta-feira. Em entrevista por telefone à Al Jazeera, Al-Burhan disse na quinta-feira que não havia espaço "para negociações políticas" com seu rival.

Se o general Daglo, apelidado de "Hemedti", não desistir de sua tentativa de "querer controlar o país", será "esmagado militarmente", alertou. Durante o dia, Al-Burhan recebeu ligações do secretário-geral da ONU, dos presidentes do Sudão do Sul e da Turquia, do primeiro-ministro etíope e dos chefes da diplomacia dos Estados Unidos, Arábia Saudita e Catar.

Washington anunciou o envio de militares para a região caso tenha que evacuar sua embaixada. O aeroporto de Cartum está fechado desde sábado passado e as embaixadas pedem aos cidadãos que fiquem seguros.

Na capital, muitas famílias estão sem seus últimos suprimentos e não têm eletricidade ou água encanada. As linhas telefônicas funcionam apenas de forma intermitente. Muitos tentam fugir entre postos de controle de ambos os lados e corpos espalhados pelas ruas.

Muitos civis também fugiram para o exterior para escapar da violência, concentrada principalmente em Cartum e na região oeste de Darfur. Entre 10.000 e 20.000 pessoas, a maioria mulheres e crianças, cruzaram a fronteira para o Chade, de acordo com o Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur).

Ambos os lados continuam anunciando vitórias e fazendo acusações mútuas que são impossíveis de verificar no terreno. (Com agências internacionais).

O exército e os paramilitares continuam lutando no Sudão, com explosões e confrontos nas ruas de Cartum nesta sexta-feira (21), apesar dos pedidos de trégua devido ao fim do Ramadã.

Antes do nascer do sol, como acontece desde 15 de abril, a capital sudanesa foi abalada por disparos e ataques aéreos entre as forças dos dois generais que disputam o poder no país.

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"Durante a noite (...), vários bairros de Cartum foram e ainda estão sendo bombardeados entre o exército e as Forças de Apoio Rápido (FAR) paramilitares", disse o sindicato dos médicos nesta sexta-feira.

Soldados e paramilitares lutavam ferozmente nas ruas nesta sexta-feira em áreas residenciais densamente povoadas no centro e norte de Cartum, disseram testemunhas à AFP.

No dia anterior, a ONU e os Estados Unidos solicitaram uma trégua de "pelo menos" três dias para permitir que civis celebrassem o Eid al Fitr, que marca o fim do mês de jejum muçulmano do Ramadã.

No entanto, o chefe do exército Abdel Fatah al-Burhan descartou na quinta-feira negociar com seu ex-número dois, Mohamed Hamdan Daglo, chefe das Forças de Apoio Rápido (FAR) paramilitares.

As FAR anunciaram às 4h00 GMT (01h00 em Brasília) de sexta-feira "seu acordo de trégua de 72 horas" para dar uma pausa aos sudaneses presos neste fogo cruzado, que segundo a Organização Mundial da Saúde deixou mais de 400 mortos e 3.500 feridos.

Ao mesmo tempo, o general Burhan apareceu na televisão estatal pela primeira vez desde o início dos confrontos para um discurso por ocasião do Eid, no qual não mencionou nenhuma trégua.

- "Nosso país sangra" -

“No Eid deste ano, nosso país sangra: a destruição, a desolação e o barulho das balas prevalecem sobre a alegria”, disse.

"Esperamos sair desta prova mais unidos (...), um só exército, um só povo", disse, vestindo uniforme militar, entre duas bandeiras sudanesas.

"Gostaríamos que os combates parassem devido ao Eid, mas sabemos que isso não acontecerá", disse Abdallah, morador da capital, à AFP na quinta-feira.

Em entrevista por telefone à Al Jazeera, Burhan disse na quinta-feira que não havia espaço "para negociações políticas" com seu rival.

Se o general Daglo, apelidado de "Hemedti", não desistir de sua tentativa de "querer controlar o país", será "esmagado militarmente", alertou.

Durante o dia, Burhan recebeu ligações do secretário-geral da ONU, dos presidentes do Sudão do Sul e da Turquia, do primeiro-ministro etíope e dos chefes da diplomacia dos Estados Unidos, Arábia Saudita e Catar.

Washington anunciou o envio de militares para a região caso tenha que evacuar sua embaixada. O aeroporto de Cartum está fechado desde sábado e as embaixadas pedem aos cidadãos que fiquem seguros.

Na capital, muitas famílias estão sem seus últimos suprimentos e não têm eletricidade ou água encanada. As linhas telefônicas funcionam apenas de forma intermitente. Muitos tentam fugir entre postos de controle de ambos os lados e corpos espalhados pelas ruas.

Muitos civis também fugiram para o exterior para escapar da violência, concentrada principalmente em Cartum e na região oeste de Darfur.

Entre 10.000 e 20.000 pessoas, a maioria mulheres e crianças, cruzaram a fronteira para o Chade, de acordo com o Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR).

Ambos os lados continuam anunciando vitórias e fazendo acusações mútuas que são impossíveis de verificar no terreno.

O papa Francisco exortou os líderes sul-sudaneses nesta sexta-feira (3) a dar "um novo salto" pela paz, alertando que a história se lembrará deles por suas ações, ao iniciar uma visita de três dias ao conturbado país africano.

"O processo de paz e reconciliação exige um novo salto", declarou o pontífice de 86 anos em um discurso no palácio presidencial de Juba, capital do Sudão do Sul.

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E esse pode ser um "caminho tortuoso, mas inadiável", acrescentou.

É a primeira visita de um pontífice ao Sudão do Sul desde que o país, de maioria cristã, conseguiu sua independência do Sudão, de maioria muçulmana, após décadas de conflito.

A guerra civil na qual o país mergulhou entre 2013 e 2018 deixou 380.000 mortos e milhões de deslocados.

"As gerações futuras honrarão ou apagarão a memória dos vossos nomes com base naquilo que agora fizerdes", advertiu Francisco às autoridades.

"Basta de sangue derramado, basta de conflitos, basta de violências e recíprocas acusações sobre quem as comete, basta de deixar à míngua de paz este povo dela sedento. Basta de destruição, é a hora de construir", clamou Francisco.

O pontífice argentino está acompanhado por líderes das Igrejas da Inglaterra e da Escócia, representantes das outras duas confissões cristãs deste país de 12 milhões de habitantes.

- "Resolver a crise atual" -

Francisco, que se desloca em uma cadeira de rodas, chegou a Juba após uma viagem de quatro dias na República Democrática do Congo (RDC). Ao chegar ao aeroporto, foi recebido pelo presidente Salva Kiir.

O presidente sul-sudanês anunciou que seu governo estava disposto a retomar as negociações de paz com uma coalizão de grupos rebeldes, que não assinaram o acordo de 2018 para encerrar a guerra civil.

O Executivo se retirou em novembro destas discussões iniciadas em Roma em 2019.

Horas antes da chegada do pontífice, as ruas -- que foram asfaltadas para a ocasião -- foram tomadas na capital. Muitos fiéis levavam cartazes dando boas-vindas a Francisco.

"Estou muito emocionada por vê-lo", disse à AFP Hanah Zachariah, de 20 anos. A jovem é parte de um grupo de cerca de 60 jovens que caminharam 400 km até a capital, pregando uma mensagem de unidade em um país com mais de 60 grupos étnicos.

A Igreja Católica preenche um vazio em áreas sem serviços governamentais e onde os trabalhadores humanitários costumam ser vítimas de ataques ou mortos violentamente.

A ONG Human Rights Watch pediu aos líderes religiosos que pressionem dirigentes do Sudão do Sul a "resolverem a atual crise de direitos humanos do país e a impunidade generalizada".

- Crimes de guerra -

Em 2019, um ano após a assinatura do acordo de paz, Francisco recebeu os dois inimigos, Salva Kiir e Riek Mashar, no Vaticano e se ajoelhou para beijar-lhes os pés, suplicando que fizessem as pazes.

Apesar dos pedidos do papa por reconciliação, a violência continua, incentivada por elites políticas.

Muitos esperam que sua visita contenha os confrontos. "Já sofremos muito. Agora queremos alcançar a paz", declarou Robert Michael, de 36 anos, que esperava vê-lo.

Para a visita de Francisco, foram mobilizados cerca de 5.000 policiais e soldados adicionais e a sexta-feira foi decretada feriado nacional.

Esta viagem deveria ter sido realizada em julho de 2022, mas foi adiada por problemas no joelho de Francisco.

Na RDC, outro país africano afetado pela violência, Francisco fez um discurso aos bispos congoleses na capital Kinshasa. O argentino pediu então que não se limitassem a "ação política" e se concentrassem no povo.

Na terça, ao iniciar sua visita, denunciou o "colonialismo econômico", que impede a RDC de se "beneficiar suficientemente de seus imensos recursos" naturais.

Esta é a quadragésima viagem internacional do chefe da Igreja Católica desde que foi eleito em 2013 e a terceira à África subsaariana.

Três manifestantes morreram nesta quinta-feira (6) durante os protestos no Sudão contra os militares que chegaram ao poder com um golpe militar há mais de dois meses, informaram os médicos.

Um manifestante morreu depois de receber "um tiro na cabeça" e o outro foi baleado na pélvis na cidade de Omdurman, em frente à capital Cartum, informou o Comitê de Médicos, uma organização independente.

O terceiro morreu no norte de Cartum após receber tiros no peito, detalhou a organização.

Esses números aumentam para 60 as pessoas que morreram pelas mãos das forças de segurança desde o golpe de Estado de 25 de outubro de 2021, segundo os médicos.

Esse golpe, liderado pelo chefe do exército, o general Abdel Fattah al Burhan, encerrou a transição para um governo civil pleno, quase dois anos depois da queda do ditador Omar al Bashir, que estava há três décadas no poder.

O primeiro-ministro e rosto civil da transição Abdalá Hamdok foi primeiro detido e depois reinstalado pelo general Burhan um mês depois do golpe.

Mas em 2 de janeiro renunciou após um dia de manifestações violentamente reprimidas.

Nesta quinta-feira, milhares de sudaneses foram às ruas novamente para protestar contra o governo militar.

Segundo testemunhas, as forças de ordem lançaram gás lacrimogêneo contra os manifestantes que avançavam até o palácio presidencial e a sede do exército em Cartum.

"Não há interesse em prolongar o vazio estatal", disse nesta quinta-feira Taher Abouhaga, um dos assessores de Burhan, citado pela agência oficial de notícias Suna. "Este vazio deve ser preenchido o mais rápido possível", acrescentou, sugerindo que o governo estava se preparando para nomear um novo primeiro-ministro.

Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido e Noruega pediram na terça-feira aos militares que não nomeassem um novo chefe de governo unilateralmente. Isso "prejudicaria a credibilidade" das instituições de transição "e correria o risco de mergulhar o país no conflito", alertaram.

Na quarta-feira, o chefe da diplomacia americana Antony Blinken pediu em uma mensagem no Twitter aos policiais que "deixem de usar a força letal contra os manifestantes". O general Burhan ainda promete celebrar eleições em julho de 2023.

Manifestantes pró-democracia bloquearam nesta sexta-feira (31) as ruas de Cartum, a capital do Sudão, em protesto pela violência estatal que ontem deixou cinco mortos e provocou reprovação da comunidade internacional.

Os participantes do protesto ergueram barricadas nas estradas do distrito de Burri, no leste de Cartum, e também em Cartum Norte, utilizando pedras, galhos de árvores e pneus, informou um jornalista da AFP.

O Sudão está afundado em uma crise desde o golpe de Estado do general Abdel Fattah al Burhan em 25 de outubro, o mesmo dia em que o primeiro-ministro Abdalla Hamdok foi afastado e preso.

Após um acordo com os militares, Hamdok voltou ao cargo em 21 de novembro, mas os protestos continuaram.

Durante as manifestações de ontem, que reuniram milhares de pessoas em Cartum e cidades vizinhas, as autoridades cortaram as telecomunicações no país e reprimiram os protestos com disparos de munição real e bombas de gás lacrimogênio.

Além disso, a imprensa denunciou que foi alvo de ataques e assédio. Nesta sexta-feira, dois jornalistas do canal de televisão saudita Asharq foram liberados após permanecerem detidos por várias horas, segundo o próprio canal.

Segundo um sindicato de médicos pró-democracia, quatro manifestantes morreram a tiros em Omdurman, cidade-gêmea a Cartum. Hoje, uma quinta pessoa morreu no hospital após não resistir aos ferimentos.

Até agora, a repressão iniciada há dois meses já deixou 53 mortos, de acordo com esse mesmo sindicato, que também denunciou ontem que os agentes de segurança impediram a passagem de ambulâncias e retiraram um ferido a força de dentro de um desses veículos.

No contexto da violenta repressão de quinta-feira, o ministro interino da Saúde, Haitham Mohammed, renunciou hoje do cargo, denunciando ataques contra médicos e hospitais.

Um membro civil recentemente nomeado para o Conselho Soberano no poder, Abdel Baqi Abdel Qader, também assinalou hoje que deixará o cargo.

Centenas de pessoas foram às ruas, neste domingo (21), em várias cidades do Sudão, para protestar contra o golpe de Estado militar, apesar do acordo alcançado que prevê o regresso ao poder do primeiro-ministro civil Abdullah Hamdok.

As forças de segurança reagiram, lançando gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes em Cartum, observou a AFP.

Entre outros locais, a multidão se reuniu emn frente ao palácio presidencial, onde o general Abdel Fatah al Burhan, que comandou o golpe, e Hamdok devem assinar um acordo em breve.

Anunciado neste domingo, quase um mês após o golpe de 25 de outubro, o pacto foi rejeitado por várias organizações da sociedade civil, que querem um governo sem militares.

Subiu para 40 o número de civis mortos na repressão às manifestações contra o golpe de Estado de 25 de outubro no Sudão, após o falecimento, neste sábado (20), de um adolescente ferido três dias antes - informou um sindicato de médicos.

Em 25 de outubro, o general Abdel Fattah al Burhan, chefe do Exército e autor do golpe, pôs fim à instável transição há meses em curso no país. Ele ordenou a prisão de quase todos os civis no poder, acabou com a união formada por civis e militares e decretou estado de emergência.

Desde então, multitudinários protestos contra o Exército tomaram as ruas, em especial em Cartum, para reivindicar o retorno ao poder de um governo civil. Em geral, estas manifestações têm sido duramente reprimidas pelas forças de segurança.

A quarta-feira de 17 de novembro foi o dia mais mortal, com a morte de 16 pessoas. A maioria dos óbitos ocorreu em Cartum norte, periferia ligada à capital por uma ponte sobre o Nilo, conforme informação de um sindicato de médicos pró-democracia. Uma das vítimas foi atingida por uma bala e morreu neste sábado.

"Um adolescente de 16 anos foi gravemente ferido a bala na cabeça e na perna em 17 de novembro e se tornou um mártir", declarou o sindicato, em um comunicado.

A polícia afirma que 89 de seus militares ficaram feridos e garante que nunca abriu fogo contra os manifestantes. Estes representam a maioria dos óbitos nos protestos registrados desde 25 de outubro.

Segundo as forças policiais, que tem um balanço bastante diferente, até o momento, houve um morto e 30 feridos, pelo uso de gás lacrimogêneo.

Forças de segurança sudanesas prenderam dezenas de manifestantes neste domingo e dispersaram protestos lançando bombas de gás lacrimogêneo, no primeiro dia de uma nova campanha de desobediência civil contra o Exército, que assumiu o poder após um golpe de Estado em 25 de outubro.

Os opositores iniciaram a resistência após a dissolução de todas as instituições do país e a prisão de civis pelo general Abdel Fattah al-Burhan, comandante dos militares. Após a primeira mobilização, no dia do golpe, sindicatos e outras organizações pediram que os sudaneses voltassem às ruas hoje e amanhã, para mostrar seu descontentamento.

Centenas de pessoas manifestaram-se em Wad Madani e Atbara, e dezenas de professores saíram em passeata até o Ministério da Educação, em Cartum, em um "protesto silencioso contra as decisões do general Burhan ", disse à AFP o professor Mohammed al-Amin. "A polícia chegou e lançou granadas de gás lacrimogêneo contra nós, embora estivéssemos ali apenas com nossos cartazes contra o regime militar", acrescentou.

Segundo o sindicato dos professores, 87 manifestantes foram presos e uma professora quebrou a perna durante a dispersão. Horas depois, uma passeata que reunia centenas de pessoas no leste de Cartum foi reprimida com gás lacrimogêneo.

- 'Nem diálogo, nem negociação' -

Desde 25 de outubro, soldados prenderam a maioria dos líderes civis, uma lista que não para de crescer: políticos, militares ativos nas redes sociais, jovens que erguem barricadas, funcionários do alto escalão ou simples transeuntes, presos sem mandado judicial.

À noite, os manifestantes haviam bloqueado estradas, enquanto as lojas permanecem fechadas. A Universidade de Cartum, onde estudantes foram agredidos por militares no dia do golpe, anunciou uma greve por tempo ilimitado. A Universidade do Mar Vermelho suspendeu as aulas "pela segurança dos estudantes".

Entre "greves gerais" e manifestações em massa, os sudaneses (que obrigaram o Exército a destituir o ditador Omar al-Bashir em 2019) querem ter peso nas negociações a portas fechadas entre militares, líderes civis e mediadores locais e internacionais com o Exército, segundo comunicados divulgados por SMS, diante do corte no serviço de internet, que já dura 14 dias.

- Preocupação internacional -

O Exército quer formar um novo governo, mais favorável aos seus interesses políticos e econômicos, explicam analistas. Mas o primeiro-ministro deposto, Abdallah Hamdok, em prisão domiciliar, e os poucos ministros que seguem em liberdade pedem o retorno à situação anterior a 25 de outubro.

Negociadores da Liga Árabe, do Sudão do Sul e da ONU multiplicam as reuniões com ambos os lados, mas um avanço parece complicado. O representante da ONU no Sudão, Volker Perthes, expressou indignação na última quinta-feira com a prisão pelo Exército de políticos com quem iria se reunir.

O Exército libertou quatro ministros, mas o general Burhan pretende julgar os que ainda estão detidos.sob custódia. A "Troika" que coordena o dossiê sudanês (formada por Estados Unidos, Reino Unido e Noruega) reuniu-se hoje com líderes civis recém-libertados e informou que os mesmos estão bem.

O golpe de Estado e a repressão (que causou a morte de 14 manifestantes, segundo médicos) renderam ao Sudão uma série de condenações internacionais, além da sua suspensão da União Africana e de grandes cortes na ajuda internacional.

Os opositores ao golpe de Estado militar no Sudão iniciaram, neste sábado (30), uma demonstração de força contra o general Abdel Fattah al-Burhan, determinados a recolocar o país no caminho democrático, apesar de cinco dias de repressão mortal.

A resposta do Exército será observada por todo o mundo, alertou uma autoridade dos Estados Unidos. "Será um verdadeiro teste das intenções dos militares", disse ele, alertando contra um surto de violência.

Um grupo de manifestantes iniciou uma marcha em Omdurman, a cidade gêmea de Cartum, informaram testemunhas, enquanto as forças de segurança patrulhavam e bloqueavam as pontes que conectam a cidade aos subúrbios, revistando pedestres e veículos.

Apesar dos nove mortos e mais de 170 feridos pela repressão militar desde o golpe de segunda-feira, o risco de um novo banho de sangue neste país dizimado por conflitos não abala a determinação dos manifestantes, garante à AFP o militante pró-democracia Tahani Abbas.

"Os militares não vão nos governar", afirma. E a prometida "manifestação de um milhão" é apenas "um primeiro passo".

Em um país governado quase sem interrupção pelos militares em seus 65 anos de independência, a rua decidiu enfrentar o general Burhan, que na segunda-feira dissolveu as instituições do governo de transição e prendeu a maioria dos líderes civis.

O principal lema dos opositores é: "não há como voltar atrás", após a revolta que derrubou o ditador Omar al-Bashir em 2019, um general que chegou ao poder com outro golpe há 30 anos, ao preço de seis meses de mobilização e mais de 250 mortos.

Desde segunda-feira, muitos sudaneses declararam "desobediência civil" e estão se protegendo em barricadas.

Eles enfrentam balas reais ou de borracha e gás lacrimogêneo disparado por forças de segurança que mataram pelo menos nove, provavelmente mais, de acordo com uma associação médica.

O manifestante Abbas diz que sua "única arma é o pacifismo". "Não temos mais medo", garante.

Jibril Ibrahim, ministro das Finanças que havia apoiado um protesto pró-Exército antes do golpe, alertou que "destruir propriedade pública não é uma manifestação pacífica", em uma mensagem no Twitter, sugerindo que as forças da ordem podem atirar novamente contra os manifestantes.

"Os golpistas tentam realizar atos de sabotagem para encontrar um pretexto para desencadear a violência", acusou, por sua vez, o porta-voz do governo deposto no Facebook.

Mas desta vez "os líderes militares não devem se enganar: o mundo está olhando e não vai tolerar mais sangue", advertiu a Anistia Internacional.

Neste sábado, o emissário britânico Robert Fairweather pediu às forças de segurança sudanesas "respeito à liberdade e ao direito de expressão".

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, instou "moderação e a não causar mais vítimas".

- Sanções internacionais -

O golpe enterrou as esperanças de eleições livres no final de 2023 e empurrou o país para o desconhecido.

Quase todos os líderes civis, que faziam parte das agora dissolvidas instituições de transição junto com os militares, ainda estão detidos ou em prisão domiciliar.

Muitas instituições públicas anunciaram que se juntariam à "desobediência civil", que transformou Cartum em uma cidade morta por cinco dias.

Nove dias atrás, dezenas de milhares de sudaneses saíram em passeata gritando "fora Burhan", uma manifestação que provavelmente precipitou o movimento do Exército.

Os militantes querem encher ainda mais as ruas desta vez, embora muitos deles tenham sido presos. Especialistas observam que, graças à experiência de 2019, o movimento pró-democracia está mais bem organizado.

Além disso, contam com o apoio de uma comunidade internacional que multiplicou as sanções contra os generais.

Os Estados Unidos e o Banco Mundial suspenderam sua ajuda, vital para um país atolado em inflação galopante e pobreza endêmica.

A União Africana suspendeu o Sudão e o Conselho de Segurança da ONU exige o retorno dos civis ao poder.

"Em 30 de outubro, vamos recuperar as conquistas da revolução", garante à AFP Abdeljalil al-Bacha, que protesta em Omdurman.

O governo dos Estados Unidos retirou formalmente o Sudão da lista de países que apoiam o terrorismo, na qual estava desde 1993, uma medida que pode estimular os investimentos estrangeiros no país.

"Como o período de notificação no Congresso, de 45 dias, expirou, o secretário de Estado assinou uma notificação que anula a designação do Sudão como um Estado que apoia o terrorismo. A medida é efetiva a partir de 14 de dezembro", anunciou a embaixada dos Estados Unidos em Cartum.

Washington incluiu o país na lista depois de acusar o então presidente sudanês, o islamista Omar al Bashir, de ter relações com "organizações terroristas" como a Al-Qaeda, cujo líder, Osama bin Laden, se hospedou no país nos anos 1990.

Esta medida tão aguardada por Cartum deve representar uma lufada de ar para a economia do país, muito debilitada. A inclusão na lista impedia outros países de fazer negócios e investir no Sudão, sob pena de sanções.

O presidente americano, Donald Trump, anunciou em 19 de outubro a retirada do Sudão da lista de países que apoiam o terrorismo, mas só notificou o Congresso no dia 26, depois que Cartum anunciou a normalização das relações com Israel, sob pressão de Washington.

Apesar da estratégia, as autoridades sudaneses sempre negaram qualquer tipo de "chantagem" por parte dos Estados Unidos.

Cartum, no entanto, continua esperando obter imunidade legal nas questões relacionadas com atentados passados, para o que precisa de uma lei que está sendo examinada no Congresso americano.

O Congresso deve aprovar uma lei que proclame a "paz legal" com Cartum, para conceder imunidade legal como Estado nestas questões.

Mas as negociações neste sentido entre o governo Trump e o Congresso esbarram em várias frentes.

A decisão de Washington faz parte de um acordo que prevê que o Sudão indenize com 335 milhões de dólares os parentes das das vítimas de atentados cometidos em 1998 pela Al-Qaeda contra as embaixadas dos Estados Unidos no Quênia e na Tanzânia (mais de 200 mortos). E isto porque as autoridades sudanesas da época já haviam hospedado Osama bin Laden.

Recentemente, o Sudão expressou impaciência, lamentando que alguns "compromissos políticos e econômicos" não foram respeitados por Washington.

O país advertiu que o bloqueio poderia "atrasar a aplicação do acordo" de normalização das relações com Israel.

Washington retomou o contato com Cartum durante a presidência do democrata Barack Obama, quando Omar al Bashir começou a cooperar na luta antiterrorista, um processo acelerado pela revolta popular que provocou a queda de Al Bashir em abril de 2019.

Após 17 anos de conflitos na República do Sudão do Sul, no continente africano, um acordo de paz foi assinado entre governantes e rebeldes do país. A resolução, homologada na capital Juba foi viabilizada pelas autoridades do Sudão. Em 2019, a coalizão que comanda o país vizinho depôs o então presidente Omar Al-Bashir e atuou junto à Frente Revolucionária Sudanesa (FRS) para pacificar a zona de combate sulista.

O acerto teve o aval de diplomatas de países da região, considerada uma das mais conflituosas do planeta. Na assinatura do acordo, representantes de Cartum, capital do Sudão, membros do governo de transição sul-sudanesa, além dos movimentos rebeldes e lideranças de territórios como Chade, Catar, Egito, da União Africana e da Organização das Nações Unidas (ONU), participaram da cerimônia em Juba.

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Segundo o acordo, que havia sido celebrado no fim de agosto, os grupos armados deixarão de existir e todos os membros passam a fazer parte das Forças Armadas do país. Ainda conforme o documento, o exército deve se reorganizar para representar todo o povo sudanês. O acerto também vai tratar de assuntos como propriedade da terra e assegurar o retorno de cidadãos refugiados ou expulsos por questões políticas.

Paz e recuperação da economia

Marcado por diversidades étnicas e religiosas, os conflitos são resquícios das três décadas em que Al-Bashir ficou à frente do governo sudanês. De acordo com o atual governo de Cartum, a paz com os rebeldes era ponto fundamental para que a economia dos dois países se recupere. A separação do Sudão do Sul deixou o vizinho sem 75% da produção de petróleo. Além da baixa, os Estados Unidos ainda inseriram a nação em uma lista de territórios que financiam ações terroristas.

As autoridades sudanesas, no poder há um ano, e quatro movimentos rebeldes assinaram nesta segunda-feira (31) em Juba, capital do Sudão do Sul, um acordo de paz que deve acabar com 17 anos de guerra.

O acordo foi assinado em duas etapas, primeiro pelos grupos rebeldes em Darfur, onde a guerra que começou em 2003 deixou, segundo a ONU, quase 300.000 mortos e 2,5 milhões de deslocados, e depois pelo movimento rebelde de Kordofan do Sul e do Nilo Azul, cujo conflito afeta um milhão de pessoas.

Do lado das autoridades sudanesas, o acordo foi assinado por Mohamed Hamdan Daglo, vice-presidente do Conselho Soberano que governa o país e acusado de ter cometido "atrocidades" em Darfur durante a guerra civil.

Em um momento muito simbólico, Mohamed Hamdan Daglo apertou a mão daqueles que foram seus inimigos, os chefes dos quatro movimentos rebeldes reunidos na Frente Revolucionária Sudanesa (FRS).

"Esta é uma ocasião para reconciliação. Temos que reconhecer que cometemos erros, mas é hora de começar uma nova página", disse Daglo.

Por sua vez, o líder rebelde Gibril Ibrahim, do Movimento pela Justiça e Igualdade, destacou que "o principal desafio será implementar o acordo e conseguir financiá-lo".

Já o líder do Movimento Popular para Libertação do Sudão do Norte (SPLA-N), Malik Agar, espera que "este histórico acordo de paz ajude na construção de um novo Sudão".

O acordo também foi assinado, como testemunha, pelo presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir.

Vários líderes sudaneses viajaram até Juba para celebrar o primeiro êxito desde a queda do autocrata Omar Al Bashir no início de 2019.

Os governos dos Estados Unidos, Reino Unido e Noruega celebraram o acordo de paz.

Os três países, conhecidos como Troika pelo Sudão do Sul, viram o acordo como o "primeiro passo" para restaurar a estabilidade e a esperança do povo sudanês, que há anos sofre em meio a conflitos violentos.

"O acordo de paz estabelece as bases para uma paz sustentável e estabilidade em Darfur e outras áreas afetadas por conflitos, essenciais para a transição democrática do Sudão", afirmaram em nota.

Conforme declarado no comunicado, os riscos para uma paz sustentável permanecem altos, devido à violência em Darfur, Porto Sudão e nos estados de Kordofan do Sul e Nilo Azul.

- Um ano de negociações -

Para alcançar ao acordo, as partes precisaram de um ano de negociações pela enorme desconfiança entre os dois lados e a complexidade do conflito.

"Quando aconteceu a declaração de Juba em setembro (2019), todo o mundo esperava que a paz seria assinada em dois ou três meses, mas percebemos que os temas tinham uma complexidade excepcional", disse Hamdok.

Após o fracasso de vários acordos de paz, como o de 2006 em Abuja (Nigéria) e o de 2010 no Catar, os adversários entenderam que não se tratava apenas de uma questão de segurança e abordaram as questões profunda que envenenam o país desde sua independência, em 1956.

Antes da cerimônia oficial nesta segunda-feira, os representantes das distintas partes assinaram no fim de semana os oito protocolos que integram o acordo de paz: segurança, propriedade imobiliária, justiça transitória, distribuição e compensação, desenvolvimento do sector nômade e pastoril, distribuição da riqueza, divisão do poder e o retorno dos refugiados e deslocados.

O acordo estipula que os movimentos armados terão que ser desmantelados e que seus combatentes terão que unir-se ao exército regular, que será reorganizado para ser representativo de todos os componentes do povo sudanês.

As negociações de paz eram a prioridade do novo governo de Cartum.

Mas ainda resta muito por fazer porque dois grupos não participaram nas cerimônias de segunda-feira: o Movimento de Libertação do Sudão (MLS) de Abdelwahid Nour e o Movimento Popular de Libertação do Sudão do Norte (SPLA-N) de Abdelaziz al-Hilu.

"Esta é a primeira fase e esperamos que aconteça outra etapa de negociações com os dois grupos", afirmou Saleh.

Cerca de 500 homens armados mataram 60 pessoas depois de invadir um povoado habitado por agricultores de tribos africanas na região sudanesa de Darfur, para onde o novo governo enviará tropas a fim de deter a violência endêmica.

É o incidente mais sangrento de uma série de atos violentos cometidos desde a semana passada em várias partes de Darfur, oeste do Sudão, onde por anos as tribos nômades árabes e os agricultores tribais africanos entraram em conflito por terra e água.

Segundo a ONU, cerca de 500 homens armados atacaram a cidade de Masteri, a 48 quilômetros da capital da província de El Geneina, no oeste de Darfur, no sábado, matando mais de 60 pessoas, a maioria da comunidade Masalit. Outras 60 pessoas ficaram feridas.

Várias casas no norte, sul e leste da cidade foram saqueadas e queimadas, assim como metade do mercado local, informou o Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) em Cartum.

"Este é o mais recente de uma série de sete incidentes violentos entre 19 e 26 de julho, que deixaram dezenas de mortos e feridos, além de várias cidades e casas incendiadas, além de danificar mercados e lojas" nesse estado, informou a ONU.

Segundo a organização internacional, "essa espiral de violência em diferentes partes de Darfur causa deslocamento da população e põe em risco a estação agrícola", que coincide com a das chuvas.

Nos cinco estados de Darfur, 2,8 milhões de pessoas passam fome. Dessas, 545.000 vivem em Darfur Ocidental.

No sul de Darfur, homens armados mataram pelo menos 20 camponeses na sexta-feira, quando retornavam aos seus campos após mais de 15 anos de ausência, segundo um chefe tribal local.

Esses camponeses assassinados haviam sido autorizados a voltarem para suas terras graças a um acordo celebrado há dois meses com aqueles que se estabeleceram ali durante o conflito em Darfur. O governo mediou esse acordo.

- Minorias marginalizadas -

O Conselho de Defesa e Segurança, o mais alto órgão de segurança do país, se reuniu para tratar da situação.

"Devemos usar a força para proteger os cidadãos e suas propriedades. As forças de segurança serão deslocadas de Cartum para regiões onde ocorrem distúrbios a fim de garantir a segurança dos moradores", disse o ministro do Interior do Sudão, Eltrafi Elsdik, em comunicado.

Este conflito, que eclodiu em 2003 entre o regime de maioria árabe de Omar al Bashir e os insurgentes das minorias étnicas que se consideravam marginalizadas, causou centenas de milhares de mortes e milhões de pessoas deslocadas, segundo a ONU.

Nos últimos anos, diminuiu de intensidade. Em 2019, o autocrata Omar al Bashir foi derrubado pelo exército sob pressão de manifestantes.

O novo governo, formado após um acordo entre os militares e os líderes dos protestos, entrou em negociações em outubro de 2019 para um acordo de paz com grupos rebeldes com o objetivo de acabar com os conflitos no Darfur, Kordofan do Sul e o Nilo Azul.

No entanto, a violência endêmica persiste devido a conflitos relacionados à terra, segundo Adam Mohamad, especialista na região.

"A questão da terra é uma das causas do conflito e permanece assim porque, durante a guerra, os camponeses fugiram de suas terras e aldeias para irem aos acampamentos e os nômades os substituíram e se estabeleceram ali", explicou à AFP.

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