"Estrela Vermelha é a nossa nação, melhor dos Coelhos, ninguém barra não." É com este grito de guerra que inicia-se o ensaio do grupo de maracatu Maracabalde Estrela Vermelha, do bairro dos Coelhos, Região Metropolitana do Recife. Os instrumentos, baldes de plástico e garrafões de água como alfaias, tonéis de tinta como caixas, garrafas pet cheias de areia como mineiros e pedaços de pau como baquetas. Os percussionistas, meninos de sete a 14 anos cheios de vida e disposição para brincar.
O grupo existe há cinco anos. Começaram pegando materiais recicláveis descartados por uma escola de samba que havia na comunidade. No primeiro ano, as pessoas que gostavam do batuque lhes davam refrigerante e lanche e assim os pequenos decidiram continuar. Os primeiros batuqueiros aprenderam os toques na Nação de Maracatu Rosa Vermelha, do mesmo bairro, e com um integrante da Nação Estrela Brilhante do Recife, do Alto José do Pinho - zona norte do Recife. Hoje, já são cerca de 25 crianças envolvidas no brinquedo. Paulo Faustino, de 14 anos, e Guilherme Gabriel, de 13, são os mais antigos no grupo. Eles são os 'mestres', que organizam a batucada e ensinam os toques aos mais novos. A preparação para o Carnaval começa no mês de janeiro, as toadas próprias e de outros maracatus são bastante ensaiadas para que nos dias da folia o batuque ganhe a as ruas da comunidade, "Todo dia tem ensaio", diz Guilherme.
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O Maracabalde ficou conhecido depois do empresário Eduardo Ribeiro postar o vídeo de um ensaio dos garotos na internet. "Vim comprar uns materiais aqui perto e os vi tocando. Achei interessante e resolvi filmar e postar o vídeo.", disse Eduardo. Em menos de 48 horas já eram mais de 5 mil vizualições, "O vídeo já tem, hoje, mais de 150 mil acessos.", comemora o empresário.
Apesar de muito jovens os batuqueiros do Estrela Vermelha são bastante organizados. Eles cobram pontualidade dos integrantes - quem chega atrasado não pode tocar - e já têm até sede, um pequeno terreno baldio numa das ruas da comunidade onde guardam seus instrumentos e se reúnem para os ensaios. E engana-se quem acredita que eles se divertem menos por não terem tambores "de verdade" para fazer seu maracatu, Kleibson Antônio, de 9 anos, garante que os baldes são melhores, "Tocar na lata é mais legal do que tocar tambor de verdade" - diz o menino - "O som é diferente." - arremata o mestre Paulo.
Stomp brasileiro
O percussionista Naná Vasconcelos tomou conhecimento dos meninos e decidiu ir vê-los de perto. Acompanhado do amigo João Rogério Filho, o músico esteve na comunidade dos Coelhos, no último domingo (18), e acompanhou o ensaio do Maracabalde. Ele ensinou duas evoluções aos meninos e ficou admirado com sua desenvoltura e talento chegando a compará-los ao grupo novaiorquino Stomp - grupo de percussão que faz o uso de latas, pneus e baldes. Guilherme, um dos mestres do Estrela Vermelha sentiu-se realizado ao conhecer o ídolo, "Conhecer Naná Vasconcelos foi uma das melhores coisas que já me aconteceu.", disse o menino.
Assim como Naná e João Rogério, diversas pessoas que viram o Estrela Vermelha pela internet resolveram se mobilizar para ajudar os garotos. Está sendo criado um movimento que planeja um trabalho para auxiliar os meninos no seu desenvolvimento como um todo, na educação formal, saúde, disciplina e comportamento social. A primeira 'ação' foi criar uma página numa rede social para que os interessados em acompanhar o trabalho dos meninos possam sempre estar conectados.