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O governo federal informou nesta segunda-feira (4) que notificou a empresa grega Delta Tankers, proprietária da embarcação Boubolina, suspeita de ser a responsável pelo vazamento de óleo que alcança praias da Região Nordeste desde setembro. Segundo representantes do Executivo, o dano ainda está sendo calculado, mas pode chegar à casa dos bilhões de reais.

A investigação é conduzida pela Polícia Federal (PF) e pela Marinha. De acordo com a apuração, a embarcação grega Boubolina teria feito um carregamento na Venezuela, contornado a costa brasileira e seguido para uma região próxima à Cingapura e à Malásia, onde teria efetuado uma operação “barco a barco” de transferência de barris de óleo. O vazamento teria ocorrido no fim de julho.

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Em entrevista a jornalistas em Brasília, o chefe de geointeligência da PF, Franco Perazzoni, declarou que a corporação cobrou por meio da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) que a companhia Delta Tankers se pronunciasse sobre o vazamento e esclarecesse informações sobre a viagem, como quem comandava o veículo, quanto foi carregado na Venezuela e qual foi o destino do óleo.

Um inquérito foi aberto pela Superintendência da PF no Rio Grande do Norte. A ação investiga diversos ilícitos relacionados ao episódio, como crime ambiental. Diante das evidências de óleo no Parque de Abrolhos, no sul da Bahia, as irregularidades incluiriam também violações contra áreas de proteção.

Franco Perazzoni disse ainda que a empresa grega é a única suspeita, mas que a equipe ainda vai analisar as respostas dela e das autoridades marítimas, não tendo ocorrido ainda o indiciamento da firma.

“Agora é a fase mais complexa no exterior. Já iniciamos a cooperação policial. Pedimos para a Grécia quem são os donos, quando abasteceu. Estamos aguardando os resultados de pedidos de cooperação e explorando toda forma de buscar dados. Temos que obter documentação, avançar para reunir elementos que necessitamos para chegar a conclusões”, comentou Perazzoni.

Além disso, inquéritos foram abertos pela Marinha juntamente a autoridades marítimas, inclusive internacionais. “A Marinha abriu inquérito administrativo que vai para o tribunal marítimo. Eles têm um poder de alcançar os responsáveis. A autoridade marítima brasileira oficiou autoridade marítima grega”, relatou o comandante operacional da Força, Leonardo Puntel.

Em nota divulgada em seu site, a empresa grega Delta Tankers rebateu alegando que conduziu uma apuração a partir de suas câmeras e sensores e que não haveria prova alguma de um vazamento de óleo durante o trajeto entre a Venezuela e a Malásia. No comunicado, a companhia também informou não ter sido comunicada ainda, mas que o material levantado por ela “será compartilhado com autoridades brasileiras”.

Multas

Caso comprovada a responsabilidade da empresa, ela poderá responder pelas infrações ambientais bem como por danos aos comerciantes da região. O presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Leonardo Bim, lembrou que a multa máxima pela legislação é de R$ 50 milhões, mas que o valor final pode ir além desse montante.

“O limite é R$ 50 milhões, mas pode ser aplicada mais de uma multa a depender da infração. Podem ser considerados danos da União, estados e municípios. O dano não está quantificado ainda, mas pode chegar à casa de bilhões”.

Situação

Até hoje, o grupo de acompanhamento do governo federal contabilizou 321 praias em 110 municípios em nove estados atingidas desde o início do aparecimento das manchas de óleo. Segundo o Ministério da Defesa, hoje permaneciam 11 praias, em três estados: Bahia, Sergipe e Alagoas. Ceará, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte estão, conforme as autoridades do Executivo, “limpos”.

Ontem foram identificadas as primeiras manifestações de óleo no Parque de Abrolhos, no sul da Bahia. O comandante da Marinha classificou as substâncias identificadas de “fragmentos” e “pelotas”, buscando diferenciá-las das manchas que apareceram em outras praias. No dia de hoje, acrescentou, não houve registros de óleo no local.

Puntel ressaltou que o caso é inédito e que o óleo se desloca por baixo do mar, o que dificulta a previsibilidade da sua rota. O responsável pela operação assinalou que as manchas arrefeceram na Região Nordeste, mas que não é possível “descartar possibilidades”. “Como é óleo que vem submerso e não conseguimos detectar, não sabemos se tem muita coisa ou pouca coisa”, respondeu.

 

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ainda não decidiu se vai instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar o vazamento de óleo no Nordeste. Ele previa tomar a decisão nesta segunda-feira (4), mas hoje, cumprindo agenda em Pernambuco, afirmou que decisão será tomada até a terça-feira (5).

 De acordo com Maia, os deputados do Nordeste serão procurados. "Vou ouvir os prós e contras e depois vamos decidir sobre ela [CPI]", disse.

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 O pedido para a instalação da CPI foi apresentado pelo deputado João Campos (PSB-PE). O requerimento apresentado à Secretaria Geral da Mesa da Câmara contou com assinatura de 250 deputados. 

 Na última semana, Maia já havia demonstrado preocupação de que a CPI virasse espaço de disputa político-partidária entre o governo federal e os governos do Nordeste. Existe ainda o temor que a instalação da comissão resulte em prejuízos para o setor hoteleiro na região.

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Pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA) pedem que o governo declare estado de emergência de saúde pública por causa da contaminação provocada por manchas de óleo que atingem praias do Nordeste. Em nota divulgada na sexta-feira, 25, especialistas alegam riscos para "número expressivo de populações vulneráveis potencialmente expostas" e falta de orientação sanitária.

"Existe uma situação de calamidade que requer uma intervenção imediata, ampla, coordenada e com suporte legal do Setor Saúde", diz o comunicado da UFBA. "A situação de Emergência Ambiental nos estados do Nordeste é essencial para o controle do desastre/crime identificado em 30 de agosto de 2019."

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Para justificar o pedido, os especialistas enumeram uma série de razões. A primeira é que o óleo bruto ou petróleo apresentam "riscos toxicológicos" que "podem levar à morte por intoxicação". "Entre os componentes mais tóxicos estão o benzeno, tolueno e xileno. O benzeno é uma substância química cancerígena, pode causar má formação fetal e patologias graves e potencialmente fatais como câncer e aplasia de medula", afirmam. Segundo os cientistas, a absorção dessas substância pode acontecer desde por contato com a pele a até mesmo por inalação.

Com base em dados do Ibama, os pesquisadores calculam que as manchas de óleo podem afetar a saúde de 144 mil pescadores artesanais. "Diante da situação de vulnerabilidade econômica, eles não dispõem de equipamentos de proteção individual, acesso aos serviços de saúde para realizar exames periódicos quando há exposição crônica aos agentes químicos, além da dificuldade de obtenção de informações e orientações fidedignas", afirmam.

Para os especialistas, faltam medidas sanitárias tanto para garantir a segurança de quem consome esses pescados quanto para não prejudicar os trabalhadores. "Por decorrência, tanto a segurança à saúde como a alimentar não estão sendo objetos de ação eficaz da estrutura sanitária nos níveis Federal, Estaduais e Municipais de saúde, resultando em consequências desastrosas, a exemplo de notícias veiculadas que indicam a suspensão generalizada do consumo de mariscos e pescados em todo Nordeste."

De acordo com o comunicado, a falta de recursos financeiros tem resultado em "improvisos e práticas insuficientes para responder a dimensão do evento". "O apelo generalizado ao voluntarismo - mobilizando milhares de pessoas desprotegidas para retirada das manchas de óleo, muitas vezes manualmente e sem orientações e equipamentos necessários - reflete a falta de recursos financeiros e humanos, associados à fragilidade organizacional das ações de saúde", afirma. "São homens, mulheres, muitas gestantes e crianças tomados pela sensibilidade do malefício desse crime ecológico, ao atuarem desordenadamente na limpeza da praia podem se contaminar e agravar o risco de adoecimento."

Os cientistas pedem medidas urgentes para que todas as praias e manguezais com presença de petróleo sejam mapeadas e tenham as atividades de mariscagem interditadas. Solicitam também que o estado de saúde desses trabalhadores seja monitorado e que todos os pescadores e marisqueiros atingidos recebam seguro defeso.

Outra medida, diz a nota, é organizar processos de controle sanitário, com participação do Ministério da Saúde, para especificar "o risco real de consumo de mariscos e pescados para população apenas em áreas ou situações atingidas pelo desastre e proteja o consumo seguro, evitando pânico e condutas sem fundamentos técnicos".

Ministério divulgou cartilha com orientações

Também na sexta, a Defesa Civil e o Ministério da Saúde publicaram uma cartilha com orientações a voluntários que participam da limpeza de óleo nas praias. Entre os itens, o texto alerta que a exposição de longo prazo traz risco de câncer e infertilidade.

Nos últimos dias, voluntários e pescadores têm relatado sintomas como dor de cabeça, náuseas e tontura - reações a curto prazo também listadas no material do governo.

Uma comissão temporária externa do Senado vai trabalhar por 180 dias para acompanhar as ações do governo no caso das manchas de óleo que se espalham pelo litoral da região Nordeste. O requerimento para a criação do colegiado foi aprovado pelo Plenário nessa terça-feira (22).

A comissão será composta por oito senadores: Fabiano Contarato (Rede-ES), Jean Paul Prates (PT-RN), Humberto Costa (PT-PE), Styvenson Valentim (Podemos-RN), Jaques Wagner (PT-BA), Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Rodrigo Cunha (PSDB-AL).

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Antes, na tarde desta terça-feira, o presidente da Comissão de Meio Ambiente (CMA), Fabiano Contarato, entregou ao presidente da República em exercício, Hamilton Mourão, um documento com sugestões de medidas providências a serem tomadas pelo governo. Entre as medidas sugeridas está a decretação de estado de emergência ambiental para facilitar a liberação de recursos.

*Da Agência Senado

O protesto do Bahia contra o desastre ambiental ocorrido no litoral do Nordeste ganhou grande repercussão nas redes sociais e a tentativa dos torcedores em colaborar com a ação derrubou o site em que as camisas do clube estão sendo leiloadas. O Bahia produziu para o jogo desta segunda-feira contra o Ceará camisas como se estivessem manchadas de óleo em referência ao vazamento de petróleo que atingiu o litoral nordestino. Como não houve tempo para produzir estoque do uniforme, o clube teve a iniciativa de leiloar as camisas utilizadas na partida e destinar a renda para as organizações que estão tentando combater esse desastre ambiental.

"A ideia surgiu porque estávamos incomodados sobretudo com ausência de resposta do governo ao impacto que está causando. Entendo que é algo de interesse de saúde pública e por isso não poderia passar sem discutir. Vamos ajudar quem está tomando para si a função que deveria ser do Estado", disse ao Estado Tiago Cesar, um dos coordenadores do núcleo de ações afirmativas do Bahia.

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Esse núcleo nasceu há aproximadamente cinco anos com o intuito de trazer pautas humanitárias para o futebol. O Bahia já realizou ações de combate à homofobia, ao racismo e ao machismo. As iniciativas ganham a participação dos atletas e de torcedores de outros times. "No Novembro Negro, por exemplo, cada atleta tinha na camisa o nome de uma referência do movimento negro. Nesse contexto colocamos uma biografia desses personalidades no material que o atleta recebe para o jogo."

O Twitter do Bahia conta com 1,4 milhão de seguidores. A ação de protesto contra o vazamento de óleo recebeu mais de 23 mil compartilhamentos e quase 80 mil curtidas. Mais de 2,5 milhões de pessoas viram a imagem. A maioria dos comentários era favorável à manifestação. "Nossa rede social tem sido muito festejada por parte de torcedores do Bahia e de outros clubes também. A gente festeja que o Bahia seja um clube querido nessa nossa jornada. Essa ação foi feita de última hora então não houve tempo para criar um estoque e vender as camisas", informou Tiago.

Mas há também manifestações contrárias, de quem leva a postagem para o lado político. Segundo Tiago, o Bahia evita entrar em polêmicas, mas avisa que não há motivo para deixar de levantar essas questões. "Quem se insurge no combate a um movimento contra a homofobia, por exemplo, precisa repensar sua existência no mundo. A gente está em busca de um mundo mais humano, mais igual. O futebol é uma grande manifestação cultural e excluir grupos contraria sua própria essência."

O Bahia prepara para novembro mais uma ação de combate ao racismo. "Vamos debater alguns temas, convocando algumas lideranças de combate ao racismo, estamos discutindo como abordar racismo estrututal e genocídio negro, que está muito presente em Salvador e em outras cidades", afirmou. O clube também já está pensando também em protestar contra a homofobia em 17 de janeiro, que é dia da visibilidade trans. "São muitas agendas e temos tentado dar conta de tudo", disse.

O presidente em exercício, Hamilton Mourão, disse nesta segunda-feira (21) que as medidas de contenção da macha de óleo que avança sob o Nordeste são complicadas pois, como não se consegue detectar a origem do vazamento, não há previsibilidade sobre o seu caminho. "É um caso único no mundo. As próprias medidas de contenção são complicadas, o máximo que a gente pode fazer hoje é ter gente capacitada para recolher esse óleo que chega às praias e é isso que estamos fazendo", disse, ao deixar o gabinete da Vice-Presidência, no Palácio do Planalto, em Brasília.

Mourão destacou que todas as medidas do Plano Nacional de Contingência foram tomadas e que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) está à frente da operação com apoio de outros órgãos, como Marinha e Petrobras. O governo também continua a busca para saber a causa do desastre ambiental. Nesta tarde, o presidente em exercício se reúne com autoridades para avaliar a situação.

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De acordo com o Ibama, o petróleo cru que chegou ao litoral do Nordeste está em uma camada superficial, que não pode ser visualizado em imagens de satélites, sobrevoos e monitoramento por sensores. Mais de 525 toneladas de resíduos já foram recolhidas das praias.

Viagem ao Peru

Na quarta-feira (23), Mourão viaja ao Peru para a assinatura de um acordo entre a Marinha brasileira e a peruana para troca de embarcações. Em Lima, ele se reúne com o Conselho de Ministros e com o presidente do Peru, Martín Vizcarra. A previsão é que o vice-presidente retorne na sexta-feira (25).

Mourão assumiu a Presidência com a viagem do presidente Jair Bolsonaro ao Japão. Bolsonaro fará um giro de dez dias por cinco países da Ásia e do Oriente Médio. Como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, também deve sair do país enquanto Mourão estiver no Peru, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre deve assumir o Executivo.

Antes disso, nesta terça-feira (22), Alcolumbre comanda a sessão de votação em segundo turno do texto principal da reforma da Previdência, pelo plenário do Senado. Para Mourão, a expectativa é que o texto seja aprovado com tranquilidade. “Pela conversa que tive com o Davi Alcolumbre desde a semana passada, ele não vê problemas na votação de amanhã”, disse.

 

O deputado federal João Campos (PSB-PE) anunciou que pretende protocolar um pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), nesta terça-feira (22), para apurar o vazamento de óleo que atinge praias do litoral do Nordeste. O pessebista está coletando assinaturas de apoio entre outros parlamentares. 

“Na atuação falha e até omissa do Governo Federal, o trabalho do Parlamento se torna ainda mais importante e necessário. Temos que investigar a origem do óleo vazado nas praias do litoral nordestino e punir os culpados. Por isso, vou criar a CPI do Vazamento de Óleo”, informou o deputado, que esteve nesse domingo (20).

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Até a noite desse domingo, de acordo com dados do Governo de Pernambuco, foram atingidos praias e rios dos municípios de São José da Coroa Grande, Tamandaré, Sirinhaém, Barreiros, Rio Formoso, Ipojuca e do Cabo de Santo Agostinho. O Recife está em alerta para a eventual chegada da substância na capital pernambucana. Um total de 71 toneladas de óleo foram recolhidas das praias.

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O novo vazamento de óleo detectado na área do Campo de Frade, no Rio de Janeiro, operado pela petrolífera americana Chevron, não tem potencial para se tornar uma "tragédia", considerou nesta quinta-feira o assessor da diretoria-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Sílvio Jablonski, em audiência no Senado. Ainda assim, a empresa corre o risco de perder a concessão no campo.

Segundo ele, o vazamento encontrado é de gotículas de óleo, que estão sendo recolhidas por equipamentos instalados pela empresa no local. "Sobrevoos diários não indicam nada de anormal. Além disso, robôs no fundo do mar estão observando os pontos e não percebemos nada de trágico", afirmou o assessor.

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De acordo com Jablonski, o órgão regulador e fiscalizador ainda não tem uma resposta sobre as causas do incidente. "Temos nove hipóteses, incluindo a possibilidade de ser óleo do vazamento anterior", afirmou, referindo-se ao vazamento identificado no mesmo campo em novembro do ano passado. "Mesmo que não tenhamos causa estabelecida para o segundo incidente, não se trata de nada catastrófico, até porque o reservatório tem pouco óleo", completou.

Ainda assim, ele lembrou que a Chevron continua sendo investigada pelo vazamento de novembro de 2011. A ANP concluiu recentemente um relatório que indica que a companhia fez uma avaliação errada sobre a necessidade de revestimento interno do poço, o que trouxe risco operacional para a exploração. "A situação poderia ser evitada se o revestimento fosse mais extenso, por mais 300 ou 400 metros. Mesmo se houvesse ruptura, esse óleo não teria condições de chegar ao oceano", detalhou.

Jablonski lembrou que a empresa ainda tem 15 dias para responder ao relatório, para que a ANP possa deliberar sobre o vazamento do ano passado. "Multa é uma das penalidades possíveis, mas isso não afasta possibilidade de se exigir a mudança do operador da concessão ou até mesmo que se opte pela rescisão do contrato", concluiu.

A Chevron classificou de "ultrajante e sem mérito" o conteúdo da denúncia entregue à Justiça pelo Ministério Público Federal. "Não há nenhuma evidência técnica ou factual que demonstre qualquer conduta intencional ou negligente por parte da Chevron ou de seus empregados no que diz respeito ao incidente", informa nota divulgada nesta quarta-feira pela empresa.

O advogado da empresa na área criminal, Nilo Batista, informou que vai questionar a competência do procurador da República Eduardo Santos, do Ministério Público Federal de Campos dos Goytacazes (RJ), para propor ação contra a empresa. Batista alega que o vazamento ocorreu fora do território nacional.

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Ele cita o Código Penal para afirmar que a competência cabe à procuradoria da República no Rio de Janeiro. "O artigo 88 diz que a competência é da capital do Estado onde por último residir o acusado", afirmou. Se a Justiça determinar que a competência não é de Campos, a denúncia terá de ser avaliada por outro procurador e novamente apresentada à Justiça.

A Chevron informou que o vazamento ocorrido no início do mês está reduzido a "gotas de óleo intermitentes". Em sua entrevista, Batista disse que havia "indícios técnicos" de que o episódio mais recente não tem a ver com o vazamento de novembro. Ele citou como exemplo exame laboratorial que comparou amostras de óleo das duas ocasiões.

De acordo com a nota, os dois pontos de vazamento estão "a três quilômetros de distância um do outro, em lados opostos do Campo Frade, e também em lados opostos da principal falha geológica do Frade". Enquanto o primeiro incidente estaria relacionado com um aumento repentino de pressão durante abertura de um poço, o segundo caso ocorreu em área em que não havia perfuração, diz a empresa.

Para o MPF, o vazamento de março ainda é consequência do primeiro. "Sobre um possível colapso do leito marinho: Não há, hoje, nenhuma evidência plausível indicando que um evento significativo possa vir a ocorrer", rebate a Chevron.

Os advogados da petroleira questionaram ainda o pedido de indenização de R$ 20 bilhões, pedido pelo procurador na ação cível, e minimizaram possíveis danos ambientais. "Os danos, se existiram, foram mínimos. Não se comprometeu a saúde de ninguém. Não houve a morte de qualquer baleia, golfinho, qualquer ave. Na verdade não houve uma sardinha que morreu por conta do acidente", afirmou o advogado Oscar Graça Couto, que atua na área cível.

Sobre a decisão judicial que impede a saída de dirigentes da Chevron do País, os advogados informaram que só quatro dos 17 passaportes ainda não foram entregues, porque os executivos estavam viajando. Eles consideraram a medida desnecessária. "Um deles esteve cinco vezes fora do País durante o inquérito. Outros estavam viajando quando houve a decisão e voltaram. A Chevron não vai deixar o Brasil", afirmou Batista.

Um vazamento de óleo da empresa Chevron Brasil, de proporções não divulgadas, foi registrado na Bacia de Campos, a 120 quilômetros da costa do Espírito Santo, ontem. O acidente, no campo de Frade (próximo ao campo de Roncador, operado pela Petrobras), deve ter sido causado por uma falha geológica. A Chevron está trabalhando na contenção do material e não acredita que o óleo chegará à costa.

Uma fonte do setor petroleiro que teve acesso à notificação do acidente para a Agência Nacional do Petróleo (ANP) garantiu que o volume vazado foi pequeno. A falha geológica estaria a 150 metros do poço injetor que estava sendo perfurado. Não houve paralisação da produção, iniciada em 2009. A Petrobras tem uma fatia de 30% no campo, enquanto o consórcio Frade Japão Petróleo Ltda detém os 18,3% restantes. A ANP irá investigar o acidente.

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