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Câmeras de monitoramento da prefeitura de Lins, no interior de São Paulo, flagraram o momento em que doze imigrantes venezuelanos foram desembarcados de duas viaturas oficiais de Pirajuí, município vizinho, na rodoviária local. O grupo, composto por homens, mulheres e crianças, pretendia seguir até Araçatuba, principal cidade da região noroeste do Estado, mas foi deixado na rodoviária de Lins, a 93 km do destino pretendido.

A prefeitura de Lins levou o caso ao Ministério Público. Já a prefeitura de Pirajuí nega irregularidades no atendimento aos estrangeiros.

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O desembarque aconteceu no último dia 4 e, ao ter acesso às imagens das câmeras de monitoramento, a Guarda Civil Municipal de Lins acionou a prefeitura. Foi verificado que os dois veículos oficiais usados no transporte tinham o brasão do município de Pirajuí e a marca da Divisão de Ação Comunitária, órgão assistencial da prefeitura vizinha.

Cerca de 50 km separam as duas cidades. Os imigrantes foram abordados quando estavam no canteiro central de uma via pública, nas imediações da rodoviária.

Em ofício enviado à Promotoria de Justiça de Piraju, na segunda-feira, 8, o prefeito de Lins, João Lopes Pandolfi (PP), afirma que "realizar a prática de simplesmente deixar as pessoas em nosso município sem contato prévio com os serviços que atendem essa população, além de não ser cumprido o que estabelece a Política de Assistência Social e garantido as seguranças de acolhida, caracteriza-se como uma política higienista passível de denúncia".

A prefeitura de Lins registrou também um boletim de ocorrência de natureza "não criminal" na Polícia Civil do município. Por envolver pessoas em situação de vulnerabilidade, a apuração será feita em sigilo. Os venezuelanos foram atendidos em unidades de acolhimento do município e, em seguida, como estavam com dinheiro suficiente para a passagem, seguiram a viagem de ônibus para Araçatuba.

Em nota, a prefeitura de Pirajuí informou que seus veículos levaram os migrantes até a rodoviária de Lins a pedido deles, pois pretendiam chegar até o destino, em Araçatuba, antes do anoitecer.

'Houve a solicitação, através da Secretaria de Assistência Social, por um meio de locomoção até um ponto mais próximo do destino. O município, em todo momento, visou o bem estar dos envolvidos. Antes de ser ofertado o transporte, alimentação, vestuário, documentação e atendimento familiar foram ofertados pela equipe de abordagem", diz a nota.

Segundo a prefeitura de Pirajuí, os migrantes vieram de Bauru, a 148 quilômetros, até a cidade na mesma situação. "Considerando a presença de crianças e bagagens, tais atitudes foram tomadas de forma conjunta pela Assistência Social."

Disse ainda que todas as ações tomadas tiveram por objetivo preservar a integridade dos envolvidos, repudiando a forma com o tema foi abordado pela prefeitura de Lins. "Diariamente recebemos migrantes e itinerantes em nossa cidade e a prefeitura mantém-se à disposição para atendê-los de forma cordial", acrescentou.

A reportagem não conseguiu contato com nenhum familiar ou representante dos estrangeiros, pediu informações sobre o caso ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e aguarda retorno.

Muito praticado em diferentes regiões do continente americano, o beisebol reforçou-se como um esporte chave na vida de alguns imigrantes latinos que desembarcaram no Brasil, mais especificamente em Olinda e Recife. O esporte reúne o melhor da cultura latino-americana e ajuda a integrar aqueles que chegam ao país.

É o caso de Javier Sequea, venezuelano que trabalha como soldador e joga pelo Latinos Beisebol, time fundado em 2019. Sem nunca ter saído de sua cidade natal, Javier chegou ao Brasil em 2018, em Pacaraima-RR, e só foi ao Recife em julho do ano seguinte. Grato pela recepção que teve dos brasileiros, ele conta das dificuldades que enfrentou ao chegar em um país diferente do seu.

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Javier Sequea - Foto: João Velozo/LeiaJáImagens

“Ir para um país novo, com uma língua que eu não conhecia, uma cultura diferente, era um pouco complicado. A pessoa sem dinheiro e arranjando de onde não tinha [...] Agradeço até hoje aos muitos brasileiros que me acolheram. Foram pessoas que foram uma benção para minha família, pois chegar em um país que você não conhece e nem tem apoio de ninguém, só de Deus mesmo, foi bastante complicado. Me adaptar foi um processo muito forte”, disse.

“O time dos Latinos tem sido muito importante principalmente para a integração. Muitas vezes conhecemos amigos imigrantes venezuelanos, e muitos deles nós encontramos na rua entregando currículo e sem apoio de ninguém, e aí fazemos uma integração e damos uma indicação de trabalho, uma orientação. Esse é um dos principais pontos do Latinos. Ele serve para ajudar muitas pessoas e para conhecê-las", reforçou.

O mesmo valeu para Luis Gutierrez, jogador do Recife Mariners. O jovem de 22 anos nasceu em El Tigre, na Venezuela. Acompanhado de sua tia, chegou ao Brasil em 2019. Através dela, conheceu o Latinos e assim pôde se reconectar com seu país natal.

Luis Gutierrez - Foto: João Velozo/LeiaJáImagens

"Eu me conecto com meu time e gosto de jogar. Para mim, o beisebol é algo incrível, uma coisa única. É cultura para mim, eu amo esse esporte, jogar, pegar a bola, arremessar, correr [...] O time é como minha família agora”, afirmou.

Nascido na cidade de Santa Clara, região central de Cuba, Adonys Lima saiu de seu país e foi para os Estados Unidos. De lá, veio ao Brasil com sua esposa, que é brasileira. Figura conhecida entre os que praticam o esporte no Recife, Adonys é um ponto de referência para aqueles que jogam beisebol na capital.

Adonys Lima - Foto: João Velozo/LeiaJáImagens

“O beisebol cria uma irmandade. Eu, por exemplo, trabalho numa área que envolve muitas categorias, e fico passando os contatos, com isso um vai tentando ajudar o outro. E assim vai fechando o círculo”, contou Adonys.

Jhonnarelys Espluguez, a única mulher no time, foi criada em Puerto Píritu, na Venezuela. Comerciante e estudante de odontologia, ela se familiarizou com o esporte desde pequena, quando acompanhava os treinos de seu irmão mais velho. Uma vez que ingressou no Latinos, Jhonnarelys se viu dentro de uma família.

Jhonnarelys Espluguez - Foto: João Velozo/LeiaJáImagens

"Aqui consegui uma família de novo [...] Principalmente porque brigamos muito, como toda família. Brigamos muito, incentivamos um ao outro, e depois que saímos do jogo, pronto, a briga foi aqui. Depois da briga, seguimos sendo família”, afirmou.

“Por exemplo, quando um familiar não aparece, ligamos e perguntamos quando vai aparecer, estamos ligando para que volte. Quando está aqui brigamos para que melhore, e assim andamos sempre”, finalizou.

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Quem nunca ouviu que a educação é capaz de mudar o mundo? No Brasil, a frase mais parece chavão, clichê, especialmente em ano eleitoral, quando as promessas de priorizar o ensino passam a fazer parte dos discursos políticos. Mas não para a professora pública Rosângela Moura, que resolveu colocar a máxima em prática ensinando português de graça a imigrantes venezuelanos. Isso em plena pandemia, sem estrutura e de forma online.

O projeto Esperança Venezuela surgiu bem antes da chegada do novo coronavírus ao Brasil. Coordenadora do Centro de Ensino de Línguas (CEL) de Osasco, do governo do Estado, Rosângela, que é formada em Letras pela USP, passou a debater a crise venezuelana de 2018 com os alunos durante as aulas de espanhol. Já naquele ano, eles resolveram arrecadar donativos aos refugiados que chegavam a São Paulo.

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"Os próprios alunos começaram a pensar em como ajudar, apesar de eles próprios serem de famílias carentes. Eu levei o que conseguimos juntar em roupas, bilhetes de metrô e alimentos para a Casa do Migrante da Missão Paz, em São Paulo, e lá percebi que eles precisavam de muito mais", contou.

Depois de alguns anos, em plena pandemia, a professora decidiu ajudar com o que mais sabe fazer: ensinar. "Para quem muda de País o idioma faz toda a diferença. Sem conseguir pronunciar o português fica difícil procurar emprego ou entender como se tirar documentos, por exemplo. É difícil para eles palavras com acento circunflexo, como avô, e também com ‘lh’", disse.

Determinada, Rosângela montou um currículo e foi atrás dos alunos por meio de uma página no Facebook. "Entrei nos grupos (de refugiados) e alertei sobre o curso que seria dado pelo google meet. Pensei que iria aparecer uns 30 e pronto. Mas vieram 100, 200, 500. De repente, numa única noite, tinham 600 interessados. Fiquei surpresa e preocupada porque não sabia como iria dar aulas para tanta gente", lembrou.

ADESÃO

A solução foi buscar ajuda e ali mesmo, no CEL. Eva Cristina Esteves e Daniela Cavalcanti, também professoras estaduais, aceitaram o convite e o trio então se dividiu para atender inicialmente quatro turmas, de cem alunos cada - quantidade máxima permitida pelo sistema online.

"E foi aí que descobrimos as outras tantas dificuldades. Tinha gente com problema de conexão para assistir às aulas, outros com urgência em aprender determinado vocabulário para trabalhar ou ainda em busca de ajuda para traduzir um currículo. Cheguei a ensinar receita de bolo para uma venezuelana com entrevista marcada em uma doceria."

O curso foi montado com 15 aulas de 1 hora e 2o minutos cada. O foco foi ensinar em grupo o básico de gramática e, especialmente, de pronúncia. Dúvidas individuais eram atendidas pelo WhatsApp. "Não pudemos avançar muito porque nos faltava recursos e mais gente para assumir esse compromisso."

Ainda assim, Rosângela conseguiu abrir outras três turmas, alcançado 650 alunos no total. "Ao final do curso, o que nós percebemos é que, com ajuda, eles melhoraram muito rápido a pronúncia e passaram a se sentir mais seguros para conversar e procurar emprego. Já a gente aprendeu muito também, como se colocar no lugar o outro. A educação faz isso."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A última família de venezuelanos indígenas da etnia Warao se mudou nessa terça-feira (15), para uma casa em Nova Morada, na Várzea, Zona Oeste do Recife. As nove famílias de imigrantes estavam juntas em um local temporário oferecido pela Secretaria de Assistência Social de Pernambuco e executado pela Cáritas Brasileira. As casas foram alugadas a partir de um projeto emergencial de acolhimento temporário dos venezuelanos durante cinco meses. Apesar do abrigo, os imigrantes questionam para onde vão depois desse período, tendo em vista que a principal forma de conseguir alguma renda é pedindo dinheiro nos sinais.  

O Projeto Emergencial para Ajuda Humanitária à População Indígena da etnia Warao da Cáritas conta com o apoio de organizações internacionais e da sociedade civil na área de acolhimento, implementação de experiências em projetos humanitários e desenvolvimento social para indígenas Warao, e também tem parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude (SDSCJ) do governo de Pernambuco. A locação das casas de acolhimento na Região Metropolitana do Recife (RMR) durante cinco meses é uma forma de trabalho para fortalecer o vínculo familiar comunitário, autonomia e corresponsabilidade. 

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Cerca de 80 indígenas Waraos estão locados em casas nos bairros de Santo Amaro e Várzea, que foram alugadas pelo Cáritas Arquidiocesana de Olinda e Recife (CAOR). São 13 famílias ao total acolhidas pelo projeto; uma está locada em Santo Amaro, e as outras 12 em Nova Morada. Os imóveis são divididos por duas ou três famílias, e são disponibilizados fogão, geladeira, ventilador e filtro de água, além do fornecimento semanal de alimentos. 

De acordo com o coordenador do Cáritas, Sirley Vieira, a distribuição da alimentação tende a acontecer toda segunda-feira, e todas as famílias moram em casas próximas. "Porém, como esses estavam lá no CSU e iam se mudar hoje, combinei com eles para entregar a alimentação no dia da mudança. Em Nova Morada, o total são 12 famílias; quatro em uma rua, quatro em outra; duas em outra e mais duas numa outra".

Só uma família está em um bairro diferente, em Santo Amaro. Ele explicou a motivação da distância. "Existia uma família em Santo Amaro que a gente dava assistência e as filhas já estudavam em Santo Amaro, e eles quiseram ficar lá. Arrumamos a casa e instalamos eles lá, mas a Prefeitura tinha feito um acordo com eles no mesmo período para continuar dando assistência, foi quando essa casa ficou vaga e como tinham muitas famílias no CSU da Imbiribeira, a gente perguntou se uma delas queria ir para Santo Amaro, até que uma se prontificou", disse. 

"Todas as outras famílias estão instaladas aqui. Foi uma solicitação deles porque, a princípio, quando a gente foi fazer o mapeamento e o levantamento para colocar as famílias, conseguimos fechar os primeiros contratos da casa aqui em Nova Morada. As primeiras famílias que se instalaram aqui gostaram do bairro e todos solicitaram vir para cá. Isso causou um certo problema pra gente no início, porque a gente não tinha garantia de conseguir todos os outros aluguéis, mas encontramos casas, abrimos processo de negociação com os proprietários e hoje, graças a Deus, a gente conseguiu fechar a última casa", contou. 

No entanto, em conversa com os venezuelanos, eles contaram à reportagem do LeiaJá que se veem desamparados e sem saber para onde ir em cinco meses. "Deveria ser de pelo menos um ano para podermos nos organizar melhor", disse o chefe de uma das famílias. 

A principal forma deles conseguirem dinheiro é pedindo nas ruas e nos sinais do Recife, foi assim que uma mulher, que manda cerca de R$ 200 para a mãe que está na Venezuela todos os meses, conseguiu comprar uma geladeira, já que tem muita gente na casa. "Eu comprei a geladeira com o dinheiro do meu suor, e quando sair daqui, como vai ser?", questionou. 

Um outro imigrante disse que não poderia falar nada porque não tinha "coisas boas" para falar. "Estaria mentindo", disse. A justificativa foi a sensação da volta às ruas estar se aproximando a cada dia que passa. Além disso, não sabem se quando saírem da casa vão poder levar os móveis doados pelo Governo de Pernambuco, "não dá para confiar". 

“O projeto prevê um apoio de cinco meses, os que estão sendo instalados conta de agora a garantia do apoio de todo o projeto. Estamos em diálogo desde o ano passado com o governo do estado pra ver se eles conseguem estender esse prazo por pelo menos um ano, e eles já pontuaram a possibilidade da extensão, mas ainda não deram a posição final, estão vendo qual é o recurso que eles conseguem. E é isso o que a gente pretende, que eles fiquem com garantia de 12 meses porque a gente acredita que é o tempo mínimo para eles poderem realmente se ajustar”, detalhou o coordenador da Cáritas. 

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Um surto de casos de tuberculose está sendo registrado em venezuelanos que estão hospedados em uma casa localizada em Santo Amaro, área central do Recife. 

A Secretaria de Saúde do município confirmou ao LeiaJá que, na última terça-feira (16), recebeu a informação de que se trata de 12 venezuelanos que apresentaram os sintomas da tuberculose. Eles foram encaminhados para receber a assistência médica necessária na Policlínica Gouveia de Barros, na Boa Vista.

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Nesta sexta-feira (19), profissionais da Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde (Sesau) foram até o local onde os venezuelanos estão hospedados para averiguar a situação dos demais moradores que possam estar sintomáticos.

A secretaria garante que deu instruções aos venezuelanos sobre medidas de prevenção para este tipo de doença. "Os profissionais sempre esbarram na resistência do grupo em receber atendimento e orientações, além de não darem continuidade aos tratamentos indicados pelas equipes de saúde", detalha a Sesau.

A pasta aponta que alguns imigrantes já fizeram o Cartão SUS, para facilitar o acesso aos serviços de saúde, mas apresentam resistência para ir às unidades. A Secretaria Executiva da Assistência Social informa ainda que acompanha semanalmente as famílias que moram no imóvel de Santo Amaro. 

A residência, inclusive, foi inicialmente ocupada por duas famílias, com sete pessoas. No entanto, na última semana, mais nove famílias vindas de Jaboatão dos Guararapes, com 45 pessoas, também se acomodaram na casa. 

A informação que eles passaram para a equipe de assistência social é que já são acompanhados pela Cáritas, organização da Igreja Católica, e a Prefeitura de Jaboatão.

Quase 12.000 músicos venezuelanos interpretaram no sábado (13) a Marcha Eslava de Tchaikovsky, em uma tentativa de bater o novo recorde Guinness de "maior orquestra do mundo", um resultado que será conhecido nos próximos dias.

No pátio da Academia Militar da Venezuela, em Caracas, reuniram-se músicos de todas as regiões do país, integrantes do Sistema de Orquestras Infantis e Juvenis da Venezuela, um programa estatal fundado em 1975 pelo falecido maestro José Antonio Abreu e que deu acesso à educação musical para milhares de crianças das classes populares.

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"O Sistema", como é conhecido e que serviu de inspiração para vários projetos em dezenas de países, é berço de grandes nomes, como Gustavo Dudamel, diretor musical da Ópera de Paris e da Filarmônica de Los Angeles.

A obra de Piotr Ilich Tchaikovsky, composta em 1876 como hino para inspirar os soldados russos e sérvios na guerra com a Turquia, foi a terceira no programa de oito peças do concerto.

Andrés David Ascanio, de 34 anos, recebeu a missão de reger a orquestra.

"Se uma corda partir, não parem. Caso percam a partitura, continuem de memória, mas não parem", pediu o maestro ao final do ensaio, para não colocar o recorde em risco.

A Orquestra Sinfônica Simón Bolívar, a mais importante do país, foi a base do grande número de músicos.

Durante os 12 minutos de duração da Marcha de Tchaikovsky, 260 auditores da empresa KPMG observaram se cada músico respeitava as regras para o novo recorde, como se não compartilhavam instrumentos e que todos tocassem por pelo menos cinco minutos.

A organização Guinness anunciará nos próximos 10 dias se a Venezuela tem a maior orquestra do mundo.

O atual recorde, de 2019, foi registrado em São Petersburgo, Rússia, por uma orquestra de 8.097 músicos.

"O Sistema" já reuniu mais de 10.000 músicos para prestar homenagem ao maestro Abreu quando ele faleceu, em 2018. Na época foi impossível certificar o recorde pelo tempo e a documentação exigida pelo Guinness.

De mãos dadas com o pai, Julio, de 11 anos, chega ao norte do Chile após completar uma arriscada jornada que começou na Venezuela e o levou por cinco países da América do Sul. Está cansado e assustado, como centenas de venezuelanos que cruzam a fronteira todos os dias.

"O que quero é ver minha mãe", diz o tímido Julio, que acaba de cruzar para o Chile com o pai em Colchane, na fronteira com a Bolívia, em pleno altiplano.

À frente eles têm o deserto do Atacama. Mais de 100 mil quilômetros quadrados de solo árido, uma terra estéril de 1.600 km de comprimento e até 180 km de largura.

A história de Julio é a de centenas de crianças que dormem em terminais de ônibus ou no meio do caminho entre Antofagasta, Colchane, Iquique e Arica, constataram jornalistas da AFP em um grande giro pela região.

"Não vejo minha mãe desde os cinco anos, só por videochamadas", conta Julio, com frio e sede, após uma viagem de 12 dias "cheia de sustos". Pai e filho deixaram Caracas com mais recursos do que outros migrantes, o que lhes permitiu viajar de ônibus para a Bolívia a um custo de US $ 1.400.

Mas ainda faltam quase 2.000 km para chegar até Karina Alvarado, a mãe da criança que acompanha nervosamente seus passos desde Santiago.

Crianças e adultos caminham por povoados e estradas com sacolas nos ombros, a maioria com bebês nos braços e outros com animais de estimação.

"Levo a criança para a mãe em Santiago e (vamos) com nosso companheiro Beethoven", diz Jesús Ruiz, que viaja com Benjamin (10) e um cachorro grande, seu "grande companheiro de vida".

O Chile é o terceiro destino da região para as 5,5 milhões de pessoas que deixaram a Venezuela, atolada na pior crise política e econômica de sua história moderna, o segundo êxodo atual mais importante do mundo depois do sírio. O país recebeu 460 mil venezuelanos, número superado apenas pela Colômbia e pelo Peru, com 1,8 e 1,1 milhão respectivamente, segundo o ACNUR.

- Estigmas -

Em 25 de setembro, um grupo de chilenos em Iquique protestou contra os migrantes venezuelanos instalados em espaços públicos e queimou suas roupas, brinquedos, cobertores e tendas doados por organizações locais e vizinhos.

"Fatos dessa natureza não surgem por geração espontânea, mas se alimentam do discurso que assimila a migração ao crime, criminalizando os migrantes aos olhos da população local", alerta o relator especial da ONU sobre os direitos humanos dos migrantes, Felipe González Morales.

"Mas, por conta de alguns poucos, não vamos julgar um país inteiro", afirma Jenny Pantoja, de 34 anos, que espera a ajuda prometida por um grupo de vizinhos em Iquique para viajar a Santiago com seus cinco filhos, um neto, o pai dos filhos e um genro.

"Agradecemos aos Carabineros da fronteira porque nos emprestaram uma barraca para dormir e na verdade estão fazendo um trabalho muito bom com os venezuelanos, que Deus os abençoe", declara sobre a polícia chilena.

- Barricadas -

Uma barricada de pedras bloqueia parte da rota de Colchane a Iquique. "Dê-me água, por favor", diz um dos rapazes. São 12, todos pedem socorro, sobem à força em caminhões.

Perto da passagem de fronteira no altiplano, Gregory, um vendedor de 26 anos e outros nove venezuelanos, mais jovens que ele e que se conheceram na estrada desde que deixaram a Venezuela, passaram a noite ao redor de uma fogueira para enfrentar o frio de - 3ºC a 4.000 metros de altitude.

Em outro trecho do deserto, uma família de Maracaibo com dois filhos de 7 e 5 anos e um bebê de dois meses caminha à beira de uma estrada na zona industrial de La Negra de Antofagasta.

Faz muito calor e há pequenos tornados de areia. Um caminhão para e concorda em levá-los até Coquimbo, 862 km ao sul.

"A única coisa que sei é que eles são pessoas como você e eu. Eu os vejo com seus bebês e penso nos meus", comenta à AFP o caminhoneiro.

González Morales explica que as famílias venezuelanas "fogem de uma grave crise humanitária" e garante que é "fundamental dar-lhes proteção internacional".

- Entrar no Chile -

No marco da fronteira com a Bolívia, o cabo Sánchez parece estoico em sua guarda, mas desmorona ao descrever "os dias difíceis, em que mulheres chegam com muito pouco e com recém-nascidos com frio".

Quase um quilômetro depois, um oficial dos Carabineros cumprimenta um grupo de migrantes com entusiasmo: "Como você está? Está mais feliz hoje?"

Ele dita os procedimentos para cadastrá-los, dar-lhes bebidas quentes, alimentos e alojá-los em abrigos.

Alguns vêm direto da Venezuela, mas muitos viviam na Colômbia, Equador ou Peru. Todos querem trabalhar no Chile, onde dizem que há mais trabalho e uma vida melhor.

Em Arica, na fronteira com o Peru, o major dos Carabineros Patricio Aguayo explica em uma patrulha de fronteira que busca interceptar traficantes de pessoas e que sua missão é proteger os migrantes e apoiá-los.

A noite cai e a patrulha detecta um grupo de sete venezuelanos. Sob os faróis do veículo ficam paralisados, se abraçam, mostram pânico, enquanto Aliegnis, de 10 anos, se agarra à mãe, desata a chorar e implora para poder entrar no Chile.

O programa 'Português como Língua Adicional (PLA)' teve início no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE), que visa ensinar o idioma para venezuelanos da etnia indígena Warao refugiados no Recife. O órgão responsável pela implementação do projeto é o Instituto Federal Sul de Minas Gerais (IFSULDEMINAS), cuja realização ocorre em outras onze instituições.

O programa conta com uma carga horária de 250 horas, divididas em 18 lições apresentadas no ambiente virtual de aprendizado (AVA). Ainda há um encontro presencial por semana, que no Recife é realizado no Taller Warao, no bairro da Torre. O espaço é oferecido pelo Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM), em parceria com as Irmãs do Colégio Damas.

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Segundo o professor Diego Paixão, do Campus Barreiros, as aulas são fundamentais para as relações dos imigrantes com os espaços locais, como organizações não governamentais (ONGs). “Essa iniciativa facilitará a interação deles nas comunidades onde vivem, bem como no diálogo com o poder público e com as ONGs que acompanham a situação. Alguns sequer falam espanhol, comunicam-se majoritariamente na língua original dos Waraos. Nosso objetivo é que o Português seja mais do que uma língua adicional, seja na verdade uma língua de acolhimento desses migrantes aqui no Brasil”, explica o professor, que coordena o programa no IFPE e ministra as aulas para a turma de indígenas na capital.

O professor ainda destaca que a formação foi oferecida a partir da demanda dos indígenas. O pedido foi apresentado ao Comitê de Migração de Pernambuco (COMIGRAR), e desde janeiro começaram as articulações para preparar as aulas. Devido ao agravamento da pandemia do novo coronavírus, além de outros fatores, as atividades só puderam ter início no segundo semestre do ano, mas isso não desanimou o público alvo. “Eles estão muito animados e esperançosos de que outras portas sejam abertas aqui em Pernambuco. As dificuldades de acesso à internet, de falta de equipamentos para acompanhar o curso semanalmente no AVA e as adversidades do dia-a-dia não são motivo para desestímulo por parte desse público”, ele comenta.

As aulas também são ministradas nos Institutos Federais do Triângulo Mineiro, de Brasília, de Mato Grosso, do Amapá, de Mato Grosso do Sul, do Ceará, do Rio Grande do Norte, do Rio Grande do Sul, Sul-Rio-Grandense, de Roraima e de São Paulo. As atividades começaram no dia 23 de agosto, e serão realizadas até dezembro.

O Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) divulgou a abertura do 'Programa Português como Língua Adicional (PLA)', iniciativa de órgãos federais para ministrar aulas de português para imigrantes venezuelanos da etnia indígena Warao, refugiados no Recife. O objetivo da formação é atender às necessidades de comunicação da comunidade, integrando e promovendo o trabalho.

O curso terá início em 23 de agosto e seguirá até dezembro. A turma será formada por pessoas indicadas pelo Serviço de Proteção ao Migrante (SPM), organizado pelo Ministério da Justiça e Cidadania. O IFPE ainda vai oferecer as aulas para estudantes estrangeiros oriundos de instituições de ensino da Colômbia, Chile e Argentina, à medida que o processo de parceria avançar.

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As aulas são no formato virtual, como medida protetiva contra o novo coronavírus, e são ministradas por professores do Instituto. Segundo Laura Cavalcanti, coordenadora geral do Centro de Libras e Línguas Estrangeiras do IFPE (CELLE), o programa busca integrar e fortalecer as relações com estrangeiros recém-chegados ao país. “Ao integrar o PLA em Rede, atendendo aos estudantes de instituições de ensino internacionais, o IFPE constrói mais possibilidades de parcerias com instituições estrangeiras, fortalecendo o projeto de internacionalização, e criando uma comunidade internacional de ação, o que, futuramente, gerará mais oportunidades para nossos próprios estudantes”, explica.

O curso tem duração de 250 horas divididas em 18 lições, ministrado todo em um Ambiente Virtual de Aprendizado. De acordo com informações da assessoria, a formação busca fortalecer as políticas de internacionalização e tem o intuito de promover a educação do português como língua adicional para que as pessoas sejam capazes de transitar em diversos contextos globais e interculturais.

A parceria do IFPE envolve os institutos federais do Triângulo Mineiro, de Brasília, de Mato Grosso, do Amapá, de Mato Grosso do Sul, do Ceará, do Rio Grande do Norte, do Rio Grande do Sul, Sul-Rio-Grandense, de Roraima e de São Paulo. O responsável pela operação do programa é o Instituto Federal Sul de Minas Gerais (IFSULDEMINAS). Mais informações sobre o PLA podem ser acessadas pelo e-mail portuguesemrede.conif@gmail.com.

O curso gratuito Luiz Gama (CLG) realiza uma ação solidária voltada para os alunos da rede de ensino particular que querem ter acesso ao material de estudo preparatório. Para participar da ação, os estudantes devem doar 5 kg de alimentos, sendo eles, necessariamente, 2 Kg de arroz, 2 kg de feijão e 1 kg de fubá.

O projeto educacional é realizado por um grupo de jovens da Região Metropolitana do Recife (RMR) que prepara videoaulas, simulados, apostilas, questões de vestibular, entre outros materiais, para estudantes da rede pública de ensino que não tem condições de pagar um cursinho preparatório para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

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As doações serão destinadas às famílias de migrantes venezuelanos assessoradas pelo Projeto RAFA - Rede de Amor, Fraternidade e Amizade. Os estudantes da rede privada interessados em participar da ação, podem deixar suas doações em pontos estratégicos informados pelos voluntários do CLG nos bairros da Torre, Casa Forte ou no Rosarinho, nos horários das 8h às 11h.

O idealizador do Projeto RAFA, Luiz Marcos, comemora a ação do cursinho preparatório. “Nós do Projeto RAFA acreditamos que toda a iniciativa que inspire a solidariedade entre os seres humanos, especialmente para com os migrantes em situação de vulnerabilidade merece nosso apoio e admiração. As ações patrocinadas por esses jovens, nos faz acreditar que a vida é maravilhosa”, declarou, em nota.

Para obter mais detalhes sobre o preparatório ou contribuir para a ação solidária do cursinho, basta entrar em contato com os voluntários pelos perfis no Instagram @cursoluizgama, @projeto_rafa_ e/ou @caritasregionalnordeste2.

Vender todas as suas coisas e deixar o país foi a reação da venezuelana Keila Ruiz Yepez ao se ver em meio a uma crise social e humanitária. Ela cruzou a fronteira com o Brasil, alcançando o estado de Roraima em agosto de 2018. Saiu de um extremo do país para outro e atualmente, aos 45 anos, vive com o marido e dois filhos em Esteio, no interior do Rio Grande do Sul (RS).

"Somos da capital Caracas, mas vivíamos na Ilha de Margarita. E não tinha comida. O abastecimento dependia de navios e também havia falta de gasolina. Tínhamos dificuldades de acesso ao trabalho e à escola. Quando chegamos em Esteio foi muito emocionante. As pessoas nos receberam com um carinho que não consigo explicar. Meus filhos começaram a estudar, conseguimos trabalho. Iniciamos uma nova vida", lembra. A cidade também se preparou para receber um contingente de venezuelanos e integrá-los: a prefeitura de Esteio determinou o ensino obrigatório da língua espanhola nas escolas municipais.

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Hoje, o município que tem cerca de 90 mil habitantes abriga 416 venezuelanos. A trajetória de cada um deles guarda semelhanças, como muitas outras envolvendo o recomeço em solo brasileiro.

Na semana passada, o Ministério da Cidadania realizou uma cerimônia para celebrar a marca de 50 mil venezuelanos interiorizados por meio da Operação Acolhida, iniciativa que envolve uma rede de organizações sob a liderança da pasta. Um estudo lançado pelo Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) nesta quinta-feira (29) traduz em números histórias de esperança que vêm sendo construídas por essa população.

Realizado em parceria com a organização humanitária Aldeias Infantil SOS Brasil, o levantamento feito com 198 entrevistados em nove municípios do Sul, Sudeste e Nordeste revelou que 51% deles têm acesso a curso de treinamento e qualificação profissional, 95% usaram o serviço de saúde do país e 93% afirmaram ser boa ou muito boa a relação com os brasileiros. Em 63% das famílias, os filhos estão matriculados na escola. Além disso, 98% têm acesso à energia elétrica, 99% acesso à água potável e 97% ao saneamento básico. A renda média  familiar mensal declarada foi de R$ 1.338,20.

O levantamento revela, segundo o Acnur, a capacidade de boa parte dos venezuelanos de superar as dificuldades que se somam ao deslocamento involuntário. "Ainda que a renda familiar tenha apresentado perdas devido à pandemia de covid-19, foi possível constatar a efetividade e sustentabilidade das ações que visam ao acesso à educação, saúde, infraestrutura do lar e geração de renda na modalidade institucional da interiorização", registra o estudo.

Diante do acolhimento encontrado no Brasil, apenas 22% do entrevistados disseram que gostariam de voltar à Venezuela. Keila não está nesse grupo. "Quero ficar aqui. Me sinto em casa. Tenho acesso aos serviços básicos. Mas claro que eu sinto saudade. Quando escuto uma música, vejo uma notícia de lá, me parte o coração", diz.

O movimento atípico na fronteira começou a chamar a atenção em 2017, culminando com uma série de problemas sociais no município de Pacaraima (RO), a 215 quilômetros da capital Boa Vista. No ano seguinte, o quadro se intensificou e, em 2019, o fluxo se manteve em patamar alto. Diante do cenário, o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), órgão colegiado vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, reconheceu em 2019 a situação de grave e generalizada violação de direitos humanos na Venezuela. A decisão influencia a análise dos pedidos de reconhecimento da condição de refugiado apresentados pelos venezuelanos.

De acordo com Paulo Sérgio de Almeida, oficial de meios de vida do Acnur, cerca de 500 pessoas ingressavam diariamente no país. "Nem todas ficavam no Brasil, há um fluxo de entrada e saída. Mas uma parte dessas pessoas acabava ficando", afirma.

A Operação Acolhida surge em abril de 2018 como uma resposta emergencial humanitária do Estado brasileiro ao fluxo migratório decorrente da crise no país vizinho. A iniciativa, liderada pelo Ministério da Cidadania, conta com o suporte de uma rede de organizações da sociedade civil articuladas com o apoio do Acnur. Também busca envolver estados e municípios nesse acolhimento aos venezuelanos. O Exército brasileiro coordena a logística de deslocamento dos migrantes.

"Estimamos que cerca de 260 mil refugiados e migrantes venezuelanos vivem atualmente no Brasil. Isso equivale a dizer que um em cada cinco recebeu apoio da Operação Acolhida. A parceria assegura que os refugiados e migrantes venezuelanos encontrem no Brasil um horizonte de esperança", disse o ministro da Cidadania, João Roma, durante o evento que celebrou a marca dos 50 mil interiorizados.

Vocação brasileira

Três pilares constituem a Operação Acolhida: o primeiro é o ordenamento de fronteira e documentação e o segundo envolve a garantia do acesso às necessidades básicas da população que está chegando, incluindo a oferta de acolhimento nos abrigos estabelecidos em Roraima. O terceiro pilar é a integração socioeconômica por meio da estratégia de interiorização.

A iniciativa reitera uma vocação do país, consolidada historicamente, para lidar de maneira positiva com migrantes e refugiados. O Brasil é, por exemplo, considerado pelo Acnur uma referência internacional no tratamento dado aos sírios que fugiram do conflito armado que assola o país do Oriente Médio há dez anos. A legislação garante aos refugiados os mesmos direitos que qualquer cidadão brasileiro, como acesso a serviços de saúde e de educação.

O caso dos venezuelanos é mais desafiador devido ao volume que entra no país. Desde o início da crise humanitária em 2017, o Conare já concedeu refúgio a 46 mil venezuelanos. De todos os refugiados em solo brasileiro, cerca de 80% vieram da Venezuela. Na América Latina, o Brasil é a nação que reconheceu o maior número de refugiados provenientes do país vizinho.

Brasileiros e venezuelanos não têm muita dificuldade para atravessar a fronteira que os separa. Em decorrência de um acordo bilateral, turistas não precisam de vistos e podem visitar o país vizinho por 90 dias. Para lidar com o fluxo intenso a partir de 2017, um posto da Operação Acolhida foi instalado em Pacaraima, próximo à fronteira. No local, é feito um primeiro processo de identificação, triagem e orientação sobre documentação para ter acesso à estratégia de interiorização.

Duas possibilidades são indicadas aos venezuelanos para regularizar a situação de permanência. A primeira é solicitar o reconhecimento da condição de refugiado. A outra é pedir um visto de residente temporário, alternativa oferecida pelo governo brasileiro que permite ficar no país inicialmente por dois anos. Posteriormente, é possível requerer uma conversão para um visto de longa duração. Tanto os solicitantes de refúgio e refugiados já reconhecidos, quanto os residentes temporários têm acesso pleno a serviços públicos. Estão liberados para buscar vagas no mercado de trabalho e podem obter seu Cadastro de Pessoa Física (CPF) e a Carteira de Trabalho.

"Na região da fronteira, não há possibilidades de inserção socioeconômica de toda a população que chega. Então, uma parte busca outras regiões do Brasil. A estratégia de interiorização apoia as pessoas que queiram se deslocar para outras cidades brasileiras, onde há melhores perspectivas de inserção socioeconômica", explica Paulo Sérgio de Almeida, oficial do Acnur.

Criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para assegurar e proteger os direitos das pessoas em situação de refúgio em todo o mundo, o Acnur se mantém exclusivamente com doações que podem ser feitas, por meio de seu site. No Brasil, ele tem atuação direta em Roraima, justamente devido às preocupações com a situação na fronteira com a Venezuela. No resto do país, a atuação é indireta, financiando organizações sociais e entidades do terceiro setor. Elas desenvolvem ações em frentes variadas, que incluem cursos de português, capacitação profissional, encaminhamento de crianças para a escola, concessão de auxílios sociais e financeiros, atendimento psicossocial, entre outras.

Um depoimento gravado pelo venezuelano Alberto José Figueredo Lugo, exibido na cerimônia organizada para celebrar os 50 mil interiorizados, revela a importância dessa rede de organizações sociais articuladas no Brasil. Ele destaca o acolhimento obtido em Boa Vista por meio da Cáritas Brasileira, entidade vinculada à Igreja Católica. Há três anos no país, Lugo se sente realizado. "Representou muito para mim. Mudança de vida, sonhos, metas. Consegui entrar no mercado de trabalho. Meu sonho sempre foi ser empreendedor e ter meu próprio negócio. Hoje tenho uma hamburgueria na cidade de São Sebastião. E quero dar minha contribuição a esse país que me acolheu", disse.

Modalidades

A interiorização pode se dar em várias modalidades. Na mais comum, denominada institucional, pessoas sozinhas ou junto com a família vão para um dos centros de acolhida e de integração apoiados pelo Acnur, que existem em diferentes cidades de 13 estados. Lá eles são abrigados geralmente por três meses e recebem apoio para se inserir na nova sociedade. Outra modalidade é voltada à reunificação familiar, quando já existem parentes morando em outros estados. Nesse caso, o governo assegura a logística para o reencontro. A terceira modalidade, de reunião social, é similar e ocorre quando o migrante já tem amigos ou conhecidos vivendo no Brasil e dispostos a acolhê-lo em sua residência.

Por fim, existe uma última possibilidade, quando alguma empresa se interessa em contratar venezuelanos que estão em Roraima. Nesse caso, há um procedimento rigoroso adotado pela Operação Acolhida, que começa com o levantamento de perfis e com o recrutamento e envolve ainda a avaliação das possibilidades de moradia no local de destino.

O Iguatemi Empresa de Shopping Centers, em São Paulo, recorreu à Operação Acolhida. "Atualmente temos 26 migrantes e refugiados no nosso quadro de trabalho em diferentes shoppings, a maioria da Venezuela. Estamos muito comprometidos com a equidade de gênero e por isso procuramos trazer mais mulheres para compor a nossa diversidade. Consideramos importante, neste momento de pandemia, contribuir para ressignificar a vida e o trabalho de algumas mulheres venezuelanas", avalia Vivian Broge, diretora de Recursos Humanos da empresa.

Manaus é líder em número de venezuelanos acolhidos pela estratégia de interiorização. Foram 4.893. Na lista das dez cidades que mais receberam os vizinhos, oito são capitais. As outras duas são Dourados (MS), para onde foram 2.517, e Chapecó (PR), que já recebeu 1.056. Segundo Paulo Sérgio, é justamente a mobilização de empresas que tem colocado algumas cidades médias em destaque.

"Nessas duas cidades, o setor de processamento de alimentos, sobretudo frigoríficos, tem participação. São empresas que vêm expandindo sua capacidade de produção, seja para exportação, seja para atender algum tipo de demanda adicional e, muitas vezes, não acham trabalhadores na região em número suficiente para preencher todas as vagas abertas. E as pessoas contratadas vão com suas famílias ou trazem suas famílias depois", afirma.

O acesso a emprego formal é considerado um dos principais indicadores do sucesso da interiorização. Ele foi medido em um levantamento em 2019, realizado pelo Acnur em parceria com a organização internacional Reach, que comparou a situação das pessoas interiorizadas em dois momentos: quando elas ainda estavam em Roraima e cerca de quatro meses depois de chegarem aos novos destinos. Foram estudados núcleos familiares que somam 314 indivíduos. Os resultados mostraram que houve aumento médio de 230% na renda familiar mensal, saltando de R$ 532 para R$ 1.758. O acesso a emprego formal aumentou de 7% para 77%.

Além disso, muitas famílias passaram a ter condições de deixar os abrigos e alugar casas. Antes da interiorização, apenas 22% delas tinham essa capacidade. Quatro meses após a chegada aos novos destinos, 74% já estavam em imóveis alugados. "Muitos dos venezuelanos tentavam sobreviver em Roraima realizando trabalhos que pagavam diária, mas que tinham periodicidade incerta. O acesso maior ao emprego formal faz uma diferença muito grande", diz Paulo Sérgio.

Pandemia

A pandemia de Covid-19, no entanto, trouxe novos desafios tanto para os venezuelanos quanto para a gestão da Operação Acolhida. A logística para garantir a interiorização exige maior cautela. Além da documentação regularizada, para ser beneficiário da estratégia de interiorização, o interessado precisa obter as vacinas obrigatórias contra febre amarela, sarampo e difteria. Com a pandemia, a verificação médica para saber se há condições de viagem passou a ser ainda mais criteriosa.

"Mesmo com a crise pandêmica, uma crise dentro da crise, a operação não parou e registramos 19 mil interiorizações só no ano passado", informou o general Antônio Manoel de Barros, coordenador operacional da Operação Acolhida, durante exposição no evento que celebrou os 50 mil interiorizados.

Por outro lado, a pandemia provoca uma redução no fluxo de entrada no Brasil. "A fronteira está fechada desde março do ano passado. Há um fluxo menor, de pessoas que acabam usando vias alternativas e informais", comenta Paulo Sérgio.

O oficial da Acnur observa que os venezuelanos que estão no Brasil têm demonstrado certa capacidade para atravessar a crise. "O novo estudo mostra que a grande maioria das pessoas continua integrada. A interiorização tem assegurado um processo de inserção socioeconômico sustentável. A pessoa consegue estabelecer redes de contato na região e daí, acesso ao trabalho. Claro que muitas perderam o emprego com a pandemia, mas a resiliência dessas pessoas é maior. Então, muitas vezes, conseguiram se recolocar ou encontrar outros caminhos para a geração de renda".

O Ministério da Defesa discute no governo Jair Bolsonaro como retirar as Forças Armadas da Operação Acolhida, criada para receber e atender venezuelanos. Considerada modelo pelas Nações Unidas e um dos raros trunfos internacionais do governo, a operação está prestes a completar três anos e sofreu mudanças de dinâmica por causa da redução do fluxo de imigrantes provocado pela pandemia da Covid-19. Há quem defenda que ela seja apresentada para concorrer ao prêmio Nobel da Paz.

Oficiais generais do Ministério da Defesa e das Forças Armadas já manifestaram internamente o desejo de sair da operação ou ao menos reduzir ao máximo o engajamento das tropas. É corrente entre eles a avaliação de que chegou a hora de "passar o bastão" e diminuir as responsabilidades, assumidas em março de 2018. A operação é coordenada pela Casa Civil, comandada pelo general Walter Braga Netto.

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Entre os militares, a Operação Acolhida é classificada como Força Tarefa Logística Humanitária. O comando é do Exército, que cede espaços no 3º Pelotão Especial de Fronteira em Roraima para receber os imigrantes. Eles também trabalham em Boa Vista, capital do Estado, e Manaus (AM), cidades que concentram os venezuelanos e têm abrigos.

A cada três meses, militares da Marinha, da Aeronáutica e principalmente do Exército são deslocados de vários comandos do País para assumir como o contingente da vez. Em janeiro, está prevista a décima troca de pessoal. Ao todo, 650 militares serão enviados a Boa Vista e Pacaraima e Manaus.

Além da logística, os militares cuidam da segurança e atendimento de saúde. Outros órgãos do governo prestam atendimento psicossocial, do qual também fazem parte cerca de uma centena de entidades da sociedade civil e da ONU. Os migrantes e refugiados são vacinados, passam por avaliação clínica, entrevistas e podem solicitar emissão de documentos como CPF. Eles recebem refeições, são alojados num dos 12 abrigos temporários, e recebem kits de higiene e limpeza, podendo participar de atividades de lazer e aulas de português.

Um almirante da Marinha e um general do Exército, ambos da ativa e, por isso, ouvidos reservadamente, confirmaram a intenção de deixar a Acolhida. Um comandante da Força Terrestre comparou as Forças Armadas a uma espécie de "Posto Ipiranga" no governo Bolsonaro.

Nos bastidores, militares afirmam que a operação deve se concentrar mais na interiorização dos imigrantes para desafogar a região Norte, menos estruturada - e que o Ministério da Cidadania, que cuida dessa estratégia e tenta encontrar empregos e elos familiares bem como abrigo no destino aos venezuelanos por todo o País, deveria assumir mais protagonismo.

Cerca de 44 mil já foram transportados a outras cidades do País, tendo como destinos principais São Paulo, Amazonas, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná. O ritmo, no entanto, está aquém do desejado. Neste ano, 16,7 mil foram deslocados até novembro, menos do que os 22,2 mil em todo o ano passado. Cerca de 3,5 mil permaneciam nos abrigos, segundo dados do governo.

Nos últimos meses, aumentaram as queixas de oficiais com o envolvimento das Forças Armadas. Ao mesmo tempo, os militares passaram a ser enviados para mais operações de Garantia da Lei e da Ordem, como a Verde Brasil, e o suporte da Operação Covid, durante a pandemia do novo coronavírus.

Os generais dizem que esse "desvio" de função, como classificam, ocorre por pressão política e social, além da falta de pessoal e organização em outros órgãos de governo.

Apesar da vontade de sair da Acolhida, os militares preveem dificuldades em encontrar outro órgão capaz de assumir as principais tarefas operacionais - o atendimento na ponta aos refugiados e imigrantes que escapam da crise generalizada na Venezuela.

Há um outro fator. A cúpula do Ministério da Defesa teme, ao abandonar ações subsidiárias e de assistência, um dano de imagem, pois passaria uma mensagem negativa e perderia prestígio. Esse é um receio que as Forças Armadas têm, na avaliação de um general da ativa que acompanha os debates internos. De acordo com esse general, ainda que a operação seja considerada importante para segurança humana, ela consome efetivo e orçamento.

Pandemia. Antes da pandemia, chegavam cerca de 500 venezuelanos por dia a Roraima. Depois, o fluxo foi praticamente interrompido com o fechamento da fronteira - sempre há possibilidade de ingresso clandestino por meio de trilhas abertas na mata, as "trochas", como dizem os venezuelanos.

O orçamento previsto para o ano que vem é de R$ 90 milhões, ligeiramente abaixo do proposto em 2020 - R$ 91,2 milhões. Os recursos foram ampliados em 2020, e a dotação atual é de R$ 283 milhões, conforme dados do Painel do Orçamento Federal. Desses, R$ 254 milhões foram empenhados e R$ 114 milhões efetivamente pagos.

O rumor da vontade de sair dos militares chegou ao conhecimento do Ministério Público Federal. Em setembro, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) questionou os militares sobre a redução orçamentária e a possibilidade de acabar com a Operação Acolhida. O Ministério Público Federal apurou que o plano era usar apenas 25% do orçamento atual em 2021 e encerrar a operação ao fim do ano, transferindo a assistência aos governos locais, organizações não governamentais e agências internacionais.

O general Antonio Manoel de Barros, comandante da operação, disse em reunião com a PFDC, Defensoria Pública da União e Conselho Nacional dos Direitos Humanos, em outubro, que a Acolhida não vai acabar. "Mesmo com a redução de recursos, não vai acabar. Já estamos buscando novas estratégias e colaboradores. A ideia do Exército é readequar a coordenação com a parceria de Ministérios", afirmou o general Barros.

O Estadão fez perguntas sobre possíveis mudanças ao Comando da Operação Acolhida e à Casa Civil, que coordena o comitê de assistência interministerial, mas não obteve resposta. Desde o início, em 2018, 265 mil venezuelanos ingressaram no Brasil e foram regularizados para permanecer pela Acolhida, segundo dados do governo. O Brasil é o quinto principal destino do êxodo na América do Sul.

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O sábado (31) foi de celebração para as crianças venezuelanas da etnia indígena Waraos, refugiadas com as suas famílias no centro do Recife desde 2019. Em campanha conjunta da Cáritas Brasileira NE2, em parceria com a Rede De Amor, Fraternidade e Amizade (Projeto RAFA), foram entregues mais de 150 brinquedos aos pequenos refugiados, que apesar da pandemia da Covid-19, não passaram o Dia das Crianças em branco.

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A ação solidária “Doe e faça uma criança feliz” foi organizada pelas entidades locais, e tem o objetivo de sensibilizar a população para a presença e necessidades do povo venezuelano que vem ao Recife. Tudo ocorreu seguindo as orientações e protocolos de segurança contra a Covid-19.

Os presentes foram entregues a aproximadamente 150 crianças, de até 12 anos de idade, em dois momentos distintos. Pela manhã, a ação foi das 9h às 11h, e ocorreu nas casas do povo Waraos, nos bairros de Santo Amaro e Coelhos, no Centro. À tarde, o ponto de distribuição dos presentes foi na área externa da Casa de Direitos, no Bloco E da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), das 14h às 17h. Ao fim da visita na primeira residência, o ancião António Calderón, de 60 anos, chamou a atenção dos convidados e pediu para cantar um canto ancestral sagrado do povo Waraos, em agradecimento à presença de todos.

Segundo Calderón, “essa música só se canta em momentos muito especiais e alegres, e nós somos um povo festivo”. O idoso utilizou um instrumento típico chamado “Jabisanuka”, espécie de chocalho, como apoio.

As crianças Warao ainda não sabem dialogar em português, e usam do espanhol sob o próprio dialeto indígena, mas foram responsivas à presença das equipes. Alegres, receberam os presentes sem timidez, brincaram e pediram atenção nas fotos e vídeos.

O Projeto RAFA propõe iniciativas voltadas aos venezuelanos e dá suporte às famílias imigrantes, com foco no empreendedorismo, investimento e reconhecimento de talentos dessas pessoas. Segundo o idealizador do projeto, Luiz Marcos Nascimento, até agora, seis pequenos empreendedores já foram ajudados financeiramente e com consultoria para levar os seus projetos adiante. Já a Cáritas possui um programa de  migração e refúgio, que assessora as famílias e realiza a sua acolhida direta, conectando-as com as entidades do direito civil no Estado, situando e conscientizando os Waraos. Ambos atuam de forma independente, mas estabelecem comunicação com órgãos estaduais, com a Prefeitura do Recife e com o Ministério Público de Pernambuco, para conseguir realizar um melhor monitoramento da movimentação desses imigrantes.

Ao todo, cerca de 20 famílias são assessoradas. O educador social da Cáritas e ponte de comunicação entre os grupos assessores e os Waraos é um imigrante venezuelano, no Brasil há aproximadamente três anos. Davi Ramos, quando perguntado pelo LeiaJá sobre o monitoramento dos casos da Covid-19 entre o povo indígena, explicou que a capacidade de rastrear o vírus nessa comunidade é muito baixa. “Sei que houve uma morte confirmada, de um senhor de 60 anos, pai de uma mulher Warao na comunidade do Recife. Isso ocorreu há quatro meses, mas é difícil saber se houve mais mortes. A Prefeitura do Recife testou todos os cidadãos venezuelanos sob nossa assessoria, e ao menos quanto à confirmação de casos, ainda não temos positivos”, disse.

Ainda segundo o educador, o povo Waraos está em movimento de diáspora há quase 20 anos. Eles são parte do povo ribeirinho originário de Delta Amacuro, às margens do Rio Amacuro, próximo à fronteira da Venezuela com a Guiana. Apesar da influência da situação socioeconômica na Venezuela, a exploração ilegal e contaminação das terras indígenas, principalmente as ribeirinhas, têm forçado essas famílias a buscar novos lares. Waraos tentam se realocar em um Recife “próspero”. 

O educador social Davi Ramos explica que o povo indígena tem chegado ao Brasil de forma independente, e não foi diferente com os imigrantes no Recife. A maioria está na cidade desde outubro de 2019 ou chegou mais recentemente. “Eles chegaram sozinhos, por conta própria. Faz parte da missão da Cáritas ajudar os mais vulneráveis, então, nós, juntos ao Projeto RAFA, e com o Comitê de Imigrantes e instituições do estado, realizamos o acolhimento dessas pessoas. O Nordeste tem visto muito dessas migrações, principalmente Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Alagoas”, contou o venezuelano.

José Lizardo Moraleda é líder da família que reside em Santo Amaro. Está no Brasil há um ano, mas em Recife, é recém chegado e acaba de completar um mês na cidade. Ele contou que chegou ao Brasil com o apoio das autoridades, e precisou ficar em uma casa de apoio em Pacaraima, na divisa entre Roraima e Venezuela. Apesar de enxergar o Recife como um lugar “próspero”, tem vontade de voltar ao próprio país. “Não vim para cá definitivamente. Tenho vontade de voltar à Venezuela, apesar da situação, sinto falta da minha terra, da agricultura. Somos uma família que sempre trabalhou, e queremos trabalhar, mas no meu país não está acontecendo trabalho. A situação está muito difícil e caótica, e o custo é muito alto. Sinto falta da minha família, e penso em voltar para lá no próximo ano, apesar de tudo”, disse o chefe de família.

Para António Rafael, morador do bairro dos Coelhos, a perspectiva já é outra. De origem rural, na Venezuela, vivia de agricultura ao lado da esposa Irma Ribeiro, uma Warao. O “criollo”, como são chamados os não-indígenas, relata que foi vítima de roubos na sua propriedade no país natal e que, pela situação de vulnerabilidade, o crime é uma opção para muitas pessoas. “Na Venezuela, o custo de tudo é muito alto. Em alguns lugares, cobram as coisas em dólar americano. Quinze dólares um pacote com carne, 10 dólares um fertilizante para a minha terra. Como um indígena pobre, como eu, vai conseguir esse dinheiro para sobreviver? Graças a Deus, aqui em Recife, não passamos fome. Conseguimos comer e temos um lugar para ficar. Espero que surjam oportunidades de trabalho, pois não penso em voltar”, revelou o agricultor.

O depoimento se repetiu conforme os venezuelanos eram ouvidos. A família vizinha de António vive em uma situação ainda mais vulnerável. Com um banheiro e um quarto para sete pessoas, das quais cinco são crianças, os Morales ainda não conseguiram se estabelecer no Estado, e têm recorrido às ruas. Bicui, pai da família, pede por ajuda e diz que tem pedido dinheiro junto aos filhos. “Junto cada R$ 50 e vou comprando o que dá para comer no dia. Os vizinhos ajudam, o meu sobrinho, o meu cunhado. Todo mundo junta o que pede e compra algo para comer. Tenho cinco crianças aqui, então dou atenção ao que precisamos mais. Um leite, pão, frango… Tudo é muito caro para nós. Precisamos muito de ajuda, de trabalho. Quero ter uma ferramenta para trabalhar. Sinto saudade da minha mãe, do meu pai, que ficaram lá, mas eu preciso continuar aqui”, desabafou.

A família Morales ainda não é assessorada pelo Cáritas, nem pelo Projeto RAFA. Eles chegaram recentemente à cidade, e se comunicam com a família estrangeira pelo telefone de uma vizinha, que os dá apoio. As entidades pegaram o contato dos residentes para seguir o procedimento de acolhida.

O candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden, prometeu nessa quinta-feira (29), durante ato na Flórida, que vai evitar a expulsão de venezuelanos que fogem do regime de Nicolás Maduro e que mudará a política dos Estados Unidos com relação a Cuba se vencer o presidente republicano Donald Trump nas eleições presidenciais de 3 de novembro.

Embora lidere as pesquisas de intenção de voto nacionais, o candidato democrata aparece ombro a ombro com o presidente americano na Flórida, um estado decisivo para o definir o resultado do pleito e que conta com uma forte população de origem hispânica.

Biden qualificou o presidente Venezuelano, Nicolás Maduro, de "bandido" e denunciou a decisão do governo Trump de enviar centenas de venezuelanos e cubanos "de volta às suas ditaduras".

Trump "nem sequer quer outorgar um status temporário aos venezuelanos que fogem do opressor regime de Maduro", lamentou o candidato democrata, em um discurso de campanha no condado de Broward, próximo a Miami. "Eu o farei", disse.

Este Status de Proteção Temporária (TPS, na sigla em inglês) permite às pessoas originárias de países em conflito ou que sofrem crises humanitárias trabalhar legalmente nos Estados Unidos sem ter visto de residência.

Um projeto de lei para proteger 200.000 venezuelanos foi aprovado em 2019 na Câmara de Representantes, de maioria democrata, mas não avançou no Senado, controlado pelos republicanos.

Trump "não se preocupa pelos cubanos e venezuelanos", disse Biden.

O presidente republicano disse a seus partidários, reunidos em Tampa, também na Flórida, que Joe Biden havia "traído" os hispânicos durante sua longa carreira política em Washington.

"Eu sempre os amei e acho que eles sempre me amaram", disse.

Os cubano-americanos formam a maior proporção de eleitores hispânicos na Flórida e tradicionalmente optam pelos republicanos.

Biden também afirmou que é necessário adotar uma "nova política com relação a Cuba", e disse que a ilha "não está mais perto da liberdade e da democracia do que há quatro anos".

Ao final de 2014, durante a gestão de Barack Obama, de quem Joe Biden foi vice, os Estados Unidos empreenderam uma aproximação histórica com Cuba.

Mas as relações bilaterais azedaram desde a chegada ao poder de Donald Trump à Casa Branca, em 2017. Desde então, o presidente tem multiplicado as sanções contra o governo da ilha.

Inflação acima de 4.000%, 96% da população na pobreza, salário mínimo abaixo de US$ 3 e uma crise sanitária que se agrava num país onde 58% dos hospitais não têm água e 63% reportam falta de energia elétrica constante. É para essa Venezuela que 100 mil venezuelanos decidiram voltar, deixando diferentes cidades colombianas em razão da pandemia.

No Terminal do Norte de Bogotá, dezenas de venezuelanos esperam todos os dias com a esperança de entrar num ônibus e ir até a região da fronteira, passar por um dos corredores humanitários e seguir para a Venezuela. A estação agora está equipada com banheiros, chuveiros e controles epidemiológicos. Só entra no local quem possuir o bilhete da viagem, que custa 180 mil pesos (R$ 265).

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Os ônibus fornecidos pela Migração Colômbia saem para Cúcuta (a mais de 500 quilômetros da capital, Bogotá) ou para Arauca (a 700 km), mas não passam diariamente no terminal.

Segundo a entidade do governo colombiano, desde o dia 14 de março, 100 mil venezuelanos retornaram e 40 mil aguardam para voltar ao país de origem. A fronteira entre Colômbia e Venezuela, que tem 2.200 quilômetros, está fechada desde a declaração da pandemia da covid-19 e o retorno dos venezuelanos depende da negociação entre autoridades migratórias dos dois países.

O governo de Nicolás Maduro tem restringido cada vez a entrada pelos corredores humanitários: passou de 500 pessoas por dia para 300 e até 100, no ponto que existe em Arauca.

Pressão

Para o professor da Universidade Simón Bolívar Erik del Bufalo, o impacto do retorno desses venezuelanos será forte nas questões sanitária e econômica. O sistema de saúde venezuelano está sobrecarregado e desde o início da crise do novo coronavírus, autoridades sanitárias alertam para um possível colapso.

Com a crise econômica e a perda de poder de compra, que piora desde 2014, a diáspora venezuelana chegou a 5 milhões de pessoas - a pior migração forçada da América Latina na história moderna. E muitos desses venezuelanos viviam em situação precária nos países vizinhos, trabalhavam na informalidade e tinham pouco acesso a programas de saúde, por exemplo.

Com o isolamento social imposto para conter a propagação do vírus, os migrantes perderam a condição de sobrevivência e precisaram regressar à Venezuela, como mostra um relatório do Centro de Justiça e Paz (Cepal). Entre março e maio, quase 65 mil venezuelanos haviam deixado a Colômbia.

Mas esses venezuelanos voltam para enfrentar um cenário de incerteza: durante o mês de abril, 43% dos residentes na Venezuela informaram que não podiam mais trabalhar ou haviam perdido parte da renda. Em agosto, o número de lares que recebem ingressos vindos de parentes no exterior passou de 9% para 5%.

"Essas pessoas (que retornam) estavam desempregadas, trabalhavam na economia informal ou para o Estado, por isso não veremos um impacto em números muito alto, mas a pressão sobre os sistemas de saúde e social será grande", explica Del Búfalo.

"Os indicadores econômicos devem piorar, cria uma situação social mais complicada e isso, do ponto de vista político, dá uma certa munição para a oposição, principalmente a (Juan) Guaidó", diz o coordenador de relações internacionais da Fesp-SP, Moisés Marques.

Outra área que sente as consequências da crise sanitária - e também será um desafio aos que regressam à Venezuela - é a educação: a cobertura educacional para os jovens entre 18 e 24 anos caiu pela metade, ou seja, 2,2 milhões de jovens não estão estudando no país.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Barroso concedeu liminar pedida pelo deputado Paulo Pimenta (PT-RS). (Fernando Frazão/Agência Brasil)

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O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu a expulsão de 34 diplomatas venezuelanos do Brasil. Os representantes do regime de Nicolás Maduro teriam de deixar o país hoje (2), sob pena de serem declarados personas non gratas pelo governo brasileiro. Barroso concedeu liminar pedida pelo deputado Paulo Pimenta (PT-RS) para suspender a ordem por dez dias, até que o presidente Jair Bolsonaro e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, prestem esclarecimentos sobre os motivos da expulsão.

Na decisão, Barroso considerou que pode ter ocorrido violação à Constituição brasileira, a tratados internacionais de direitos humanos e à Convenção de Viena, que rege as relações diplomáticas e consulares entre os países. O ministro também citou que os diplomatas, caso sejam expulsos, estarão expostos à Covid-19 caso fiquem em locais fechados por longo tempo durante a viagem de volta à Venezuela.

O governo brasileiro não reconhece o regime de Nicolás Maduro e considera o líder oposicionista Juán Guaidó como presidente da Venezuela, assim como considera a advogada María Teresa Belandria como embaixadora do país vizinho. A advogada foi enviada por Guaidó como representante dos interesses dele no Brasil. Barroso atendeu a recomendações do procurador-geral da República, Augusto Aras, que ontem (1º) encaminhou ofício ao Itamaraty recomendando suspender a expulsão dos diplomatas.

No documento, Aras destacou que a logística para a viagem dos diplomatas do regime de Maduro deve levar em conta a epidemia de Covid-19, a perspectiva humanitária e aos trâmites legais nacionais e externos.

O governo interino da Bolívia decidiu nessa sexta-feira (13) conceder asilo político a 200 cidadãos venezuelanos que, de acordo com a Agência da ONU para Refugiados (Acnur), fugiram de seu país por causa da "perseguição política" da gestão de Nicolás Maduro, disse a ministra das Relações Exteriores Karen Longaric.

"Eles estão em situação irregular e muitos deles com autorização de residência temporária no território boliviano", disse.

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Segundo a funcionária, "esses cidadãos eram contra o regime Maduro". (Com agências internacionais)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O adolescente venezuelano Juan (nome fictício), de 17 anos, passou cinco dias caminhando e pegando carona nas estradas, por mais de mil quilômetros, de Caracas a Boa Vista. O adolescente contou que, na Venezuela, já vivia sozinho e não conhecia os pais. "Lá todo mundo falava que, no Brasil, a gente tinha oportunidade, emprego. Então eu vim embora."

O jovem vive nas ruas há três meses. "Estou tentando um abrigo, mas eles dão prioridade a famílias e eu não tenho", lamentou. "Fiz amigos e agora busco trabalho. É difícil, mas tenho esperança."

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A reportagem ainda procurou outras crianças e adolescentes em cinco abrigos temporários e informais, além de prédios públicos abandonados, hoje ocupados por venezuelanos. Em um deles, o coordenador venezuelano, Nizan Abrantes, informou que um grupo de crianças e adolescentes chegou a buscar abrigo no local, mas foi mandado embora. "Não dava para ficarem aqui sem 'madre' nem 'padre'. A fiscalização vem e estaríamos em perigo. Então mandamos de volta para a rodoviária", afirmou.

A situação dessas crianças e adolescentes é conhecida por instituições públicas, como relata a conselheira tutelar de Boa Vista Andreza Ferreira. "Existem até os abrigos que chamamos de 'fantasmas'. São casas e vilas onde se aglomeram várias famílias e pessoas." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Garoto warao se alimenta em pé, em meio à desorganização do corredor de uma das casas. (Arthur Souza/LeiaJáImagens)

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Há pouco mais de um mês, a Rua da Glória, no Bairro da Boa Vista, Centro do Recife, se transformou em um inusitado reduto de indígenas da etnia Warao oriundos da zona rural da cidade de Tucupita, capital do estado venezuelano de Delta Amacuro, a 720km de Caracas.

Fugindo da grave crise econômica da Venezuela, responsável pela escassez de roupas, medicamentos e alimentos no país, cerca de setenta pessoas estão aglomeradas nas casas de número 480 e 485 e tentam se acostumar a uma rotina completamente diferente. Sem acomodações apropriadas ou mesmo colchões, crianças, mulheres e homens passam a maior parte do dia enfileirados no chão dos corredores estreitos dos imóveis, segurando crianças de colo nos braços. À tarde, quando o calor se torna insuportável, é preciso circular pela rua e vencer a timidez- que parece comum ao grupo- para ocupar algumas calçadas.

É pela manhã, contudo, que cerca de trinta adultos esmolam pelas ruas, com a árdua tarefa de pagar o aluguel de uma casas e garantir a alimentação dos demais. “Não estamos passando fome porque estamos pedindo dinheiro nos sinais. Saímos com os cartazes, com os quais mostramos que somos venezuelanos e precisamos de ajuda. Algumas pessoas contribuem, mas outras sempre dizem que aqui no Brasil não tem abrigo para nos receber e perguntam o porquê de a gente não estar estar trabalhando”, comenta Lorenzo*, que mora em uma das casas e veio para o Brasil há sete meses, com a esposa e os filhos. 

“Viemos em um grupo de oitocentas pessoas, mas um parte ficou em Manaus. Minha mulher e meu filho estão no Maranhão, tentando conseguir dinheiro para vir. As pessoas que ficaram lá estão tentando vir, pouco a pouco”, conta.

Além conviver com a saudade, Lorenzo ainda precisa lidar com a ausência de moradia fixa. “Estamos nesta casa (485) há um mês e eles (outros venezuelanos) na outra (480) há cerca de dez dias a mais que nós. Eles pagam R$ 400 reais, mas nós não pagamos aluguel nesta, o dono deixou a gente passar o mês aqui. Não sei para onde vamos depois disso, não temos dinheiro, queremos que a prefeitura nos ajude”, lamenta.

Em cartazes improvisados no isopor, levados aos sinais, venezuelanos se esforçam para pedir em português: "poderia me ajudar?". (Arthur Souza/LeiaJáImagens)

Falando em espanhol durante toda a entrevista, o warao lembra que, na Venezuela, ele e seu povo viviam da agricultura. “Minha ideia é ficar no Brasil e conseguir um emprego, mas ainda não sei como, porque não cresci na cidade e trabalhava como agricultor, então não tenho formação profissional. Além disso, eu não falo português”, lamenta.

Os problemas enfrentados por Lorenzo são os mesmos de praticamente todos os seus compatriotas instalados na Rua da Glória. A única exceção parece ser o professor Salvador*, que funcionou como uma espécie de interlocutor do grupo no primeiro diálogo oficial com o governo municipal, que se deu através de uma reunião com a Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Câmara do Recife, realizada no dia 14 de outubro.

Após muita insistência da reportagem, o professor aceitou trocar algumas palavras com a equipe do LeiaJá. Desconfiado, ele alegou que a entrevista não seria necessária já que outros jornalistas já haviam falado com ele e “nada foi feito”. “A prefeitura veio aqui pegou nossos nomes e documentos, mas não fez nada. Estamos esperando a resposta, não sei quando eles vão dar”, resume.

Adultos passam o tempo nas calçadas, onde também fogem do calor no interior das casas, na Rua da Glória. (Arthur Souza/LeiaJáImagens)

Em nota, a assessoria de comunicação da Secretaria de Desenvolvimento Social, Juventude, Políticas Sobre Drogas e Direitos Humanos, órgão da prefeitura do Recife, confirmou que esteve no local em quatro ocasiões - a última delas no dia 21 de outubro - e cadastrou setenta imigrantes warao que estão residindo na Rua da Glória, dentre eles, 40 crianças e adolescentes, organizados em 15 núcleos familiares.

As informações coletadas foram reunidas com a intenção de traçar um perfil desta população e compreender suas necessidades, para, a partir delas, planejar ações. “Foram identificadas necessidades básicas - documentação moradia, saúde, educação e emprego. As equipes realizaram reunião com a Defensoria Pública da União para receber orientação sobre a regularização da documentação dos refugiados, bem como encontros com as secretarias municipais de Saúde, Educação e Trabalho, para discutir alternativas de atendimentos nessas áreas”, acrescenta o comunicado oficial.

Ainda de acordo com a prefeitura, as famílias instaladas na Rua da Glória chegaram ao Recife sem apoio oficial de governos e entidades assistenciais, na primeira semana de outubro.

Há cerca de dois anos, a maior parte do grupo entrou no Brasil, passando por Pacaraima (Roraima), Belém (PA), Fortaleza (CE) e Natal (RN). “Os imigrantes estão sendo acompanhados por Agentes Comunitários de Saúde e enfermeiros do Programa de Agentes Comunitários Boa Vista - que fica a 3 minutos distante da Rua da Glória. A Secretaria de Saúde do Recife realizou atendimentos médico e odontológico e fez vacinação de adultos e crianças. Os profissionais também começaram tratamento contra verminoses e pediculoses (piolhos). Houve ainda bloqueio contra varicela, já que uma criança teve a doença, conhecida como catapora”, acrescentou a prefeitura.

Segundo a Prefeitura, há 40 crianças warao na Rua da Glória. (Arthur Souza/LeiaJá Imagens)

Na tarde da última terça (5), foi realizado um mutirão CADúnico/ Bolsa família com os warao. Ao contrário da primeira leva de imigrantes venezuelanos, contudo, os recém-chegados ainda não foram cadastrados na Agência do Trabalho. Segundo a Prefeitura, o aluguel social é uma alternativa para solucionar o problema de moradia do grupo, mas a possibilidade de sua aplicação ainda está sendo discutida com o Governo do Estado.

Crianças sem estudar

Segundo Pablo*, morador da casa de número 480, nenhuma das 40 crianças de origem warao que residem na Rua da Glória está matriculada em escolas. “Antes de alugarmos a casa, as crianças sofriam muito na rua. Elas precisam estudar, como toda criança, para que não percam nossa cultura nem deixem de aprender a daqui”, preocupa-se.

Para o vereador e membro da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal do Recife, Ivan Moraes (Psol), que participou da reunião do dia 14 com os Warao, o município não pode agir, para solucionar a demanda de educação dos jovens ou qualquer outra, até que analise bem os dados coletados durante o cadastramento realizado. “Muitos não têm documentos, não é uma coisa simples. Quais documentos essas crianças já possuem? Quais elas não têm? Com as informações coletadas, a Prefeitura irá avaliar se já temos programas sociais suficientes dentro da pauta do povo em situação de rua dentre outros ou criar um novo programa”, opina.

Moraes comentou ainda que, durante a reunião, parte do grupo manifestou interesse em solicitar o status de refugiado. “O que formalmente deveria ter sido feito quando eles entraram no país. Como eu tenho me posicionado: um grupo de pessoas, seres humanos, vieram bater na nossa cidade. Então, só por isso, eles têm o direito de terem seus direitos garantidos, não importa de onde sejam”, conclui.

Reunião na câmara foi o primeiro contato oficial dos warao com o governo municipal. (Divulgação/CâmaradoRecife)

No Brasil, o mecanismo do refúgio é regido pela Lei 9.474 de 1997, que estabelece os procedimentos para a determinação, cessação e perda da condição de refugiado, além dos direitos e deveres dos solicitantes. A Lei Brasileira de Refúgio considera como refugiado todo indivíduo que “ I - devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas encontre-se fora de seu país de nacionalidade e não possa ou não queira acolher-se à proteção de tal país; II - não tendo nacionalidade e estando fora do país onde antes teve sua residência habitual, não possa ou não queira regressar a ele, em função das circunstâncias descritas no inciso anterior; III - devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país”.

A presidente da Subcomissão de Direito dos Refugiados da Ordem dos Advogados do Brasil, secção Pernambuco (OAB-PE), Emília Queiroz, frisa que poucas pessoas no Brasil são oficialmente refugiadas. “A solicitação desse tipo de visto se dá através da Polícia Federal (PF), mas pode durar anos e não gera um NIS (Número de Identificação Social), o que impede que essas pessoas sejam contratadas por empresas que exigem o número”, coloca. Por esta razão, muitos dos venezuelanos que chegaram ao Brasil preferem pedir o visto de residência. “Esse é temporário, diferentemente do status de refugiado”, completa Queiroz.

Donativos

Pablo acrescenta que o grupo está conseguindo arrecadar comida, mas tem a dieta prejudicada pela ausência de uma geladeira. "A gente tenta comprar frango, mas não temos onde guardar. Queríamos pedir às pessoas que puderem nos ajudar que tragam doações", pede. 

*nome fictício

O presidente Jair Bolsonaro disse nesta quarta-feira, 2, que "mais importante" do que "resgatar a liberdade e paz na Venezuela" é colaborar para que países vizinhos não se aproximem daquilo que vive "nosso querido povo venezuelano". "Brasil, peço a Deus. Não flerte mais com o socialismo", disse.

O presidente afirmou ainda que a Venezuela é "a prova viva" de que as Forças Armadas decidem se haverá ou não "liberdade e democracia". "Quem mantém a ditadura venezuelana são as suas forças armadas", disse.

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O presidente discursou em cerimônia sobre a Nova Fase da Operação Acolhida, que promove assistência a refugiados venezuelanos que migram para o Brasil. No evento, foram assinado dois documentos: um de criação de fundo privado de doações ao programa acolhida e outro de protocolo de intenções para incentivar municípios a acolherem refugiados.

No discurso, Bolsonaro voltou a elogiar a ditadura militar brasileira (1964-1985). Ele afirmou que resgatou a "honra de um grande coronel do Exército", em referência a Carlos Alberto Brilhante Ustra, primeiro militar condenado por sequestro e tortura durante o regime.

O presidente disse ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, presente no evento, que muitos dos críticos do coronel estão presos em Curitiba "graças à coragem" dele.

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