Tópicos | Violência POlicial

O novo estudo "Pele Alvo: Bala Não Erra o Negro", elaborado pela Rede de Observatórios de Segurança, um projeto do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec), mostrou que, em quatro das maiores cidades do Grande Recife, apenas pessoas negras foram mortas pelas forças policiais em 2022. O resultado se repetiu por dois anos seguidos, sendo o mesmo também em 2021. Os municípios com a totalidade de pessoas pretas ou pardas mortas pela polícia foram Recife, com 11 mortos; Igarassu, com sete mortos; Olinda, com seis mortos; e Cabo de Santo Agostinho, com cinco mortes. 

Ainda de acordo com a pesquisa, em Pernambuco a proporção de negros entre as vítimas de operações policiais foi de 89,66%. No total, 91 pernambucanos foram mortos durante alguma intervenção do Estado. Destes, 87 tiveram cor e raça declaradas, e 78 foram identificados como negros (89,65%). Pessoas negras são 65,1% da população de Pernambuco. No estado, além da maioria de vítimas negras, os jovens de 12 a 29 anos representam 67,03% dos casos. 

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O estudo do Cesec divulgado nesta quinta-feira (16) utilizou estatísticas fornecidas pelas polícias do Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Pernambuco, Ceará, Piauí, Maranhão e Pará, com base na Lei de Acesso à Informação (LAI). As informações foram cruzadas com os dados de cor e raça divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados levam em consideração a autodeclaração populacional, admitida pelo IBGE, e que enxerga como população negra pessoas declaradas pretas ou pardas.  

“É perceptível o quanto a violência toma uma nova forma ao chegar na juventude. Marginalizados e sem direitos e acessos básicos, corpos negros nas periferias são alvos de execuções brutais pela polícia, tendo o racismo como motor para esses eventos de violência. O descaso é ainda maior quando os casos acontecem no interior do estado, pois ainda existe uma enorme falta de assistência e políticas públicas voltadas para essas regiões. É como se não existissem”, diz Edna Jatobá, coordenadora do Observatório de Segurança de Pernambuco. “Seja na capital ou nas demais cidades, a dinâmica do racismo tem historicamente estigmatizado corpos negros, majoritariamente jovens, sobretudo nas ações realizadas pelas polícias”, completa.  

Brasil 

O número de pessoas mortas pela polícia em apenas oito estados brasileiros chegou a 4.219 em 2022. Desse total, 2.700 foram considerados negros (pretos ou pardos) pelas autoridades policiais, ou seja, 65,7% do total. Se considerados apenas aqueles com cor/raça informada (3.171), a proporção de negros chega a 87,4%.  

 

Dezenas de milhares de pessoas se manifestaram neste sábado (23) contra a "violência policial" em diversas cidades da França, incluindo Paris, onde uma viatura policial foi atacada por manifestantes com uma barra de ferro, segundo as autoridades francesas.

Cerca de 30.000 pessoas participaram dos protestos em todo o território francês, segundo o Ministério do Interior, enquanto os coletivos e partidos de esquerdas que organizaram o movimento cifraram o total de manifestantes em 80.000, 15.000 deles em Paris.

Os protestos contra a "violência policial" e o racismo foram convocadas quando completam quase três meses dos distúrbios ocorridos na França depois da morte do adolescente Nahel, de 17 anos, alvejado à queima-roupa por um policial no fim de junho.

Pouco depois do início da marcha parisiense, um grupo de manifestantes vestidos com roupas pretas e encapuzados destruíram a porta de uma agência bancária, constataram os repórteres da AFP.

Além disso, uma viatura da polícia foi atacada "com uma barra de ferro", segundo a prefeitura da polícia de Paris, e o Ministério do Interior assinalou que três agentes da tropa de choque sofreram ferimentos leves.

"Viemos lutar por meu irmão. O homem que o matou, um ex-militar de unos 80 anos, foi deixado em liberdade", afirmou Hawa Cissé, de 21 anos, irmã de Mahamadou Cissé, um jovem que morreu após receber um disparo de um vizinho no fim do ano passado na cidade de Charleville Mézières, no nordeste de França.

"Justiça para Nahel", "Polícia por todos os lados, justiça em nenhuma parte" e "Sem justiça não existe paz", eram algumas das palavras de ordem exclamadas pelos presentes na manifestação, que contou com o apoio de 130 personalidades da cultura, entre elas a cineasta Justine Triet, que ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cannes este ano.

Na última quinta-feira (24), grupos de movimentos negros se encontraram em diversas cidades do Brasil para dar início à Jornada dos Movimentos Negros contra a Violência Policial. No Recife, coletivos, frentes e articulações pelos direitos das pessoas negras se reuniram no bairro do Ibura, na zona Sul da cidade.  

Um dos grupos representados no ato foi o Sindicato dos Professores da Rede Municipal do Recife (SIMPERE), com a presença de Carmen Dolores, que faz parte do Coletivo Antirracista, formado por professores e professoras da categoria. Ao LeiaJá, Dolores compartilhou a importância de incluir pautas antirracistas no currículo escolar, e como falta de presença das autoridades é latente. 

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“A gente acha que as ações da prefeitura com relação à questão da violência e do enfrentamento ao racismo ainda têm sido muito tímidas. Na prefeitura, por exemplo, a gente tem um grupo que é responsável de fazer o trabalho do antirracismo nas escolas, e esse grupo praticamente se resume hoje a duas pessoas na Prefeitura do Recife”, declarou Carmen. 

Carmen Dolores, integrante do Simpere. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá 

“Não existe uma política pública de fato. Não é política de governo, a gente quer uma política de Estado, uma política que se alongue independente dos governos, na perspectiva do enfrentamento da violência e do racismo. Então essas ações estruturantes [devem ser colocadas em prática] a médio e longo prazo”, continuou a docente. 

Soluções concretas e possíveis 

As críticas, no entanto, não vêm sozinhas. A categoria já encontra e insiste em propor soluções concretas e possíveis. A necessidade de formação para os professores é fundamental, para a implementação de uma educação antirracista, segundo apontam os docentes. 

“O principal apontamento para resolver o problema da violência nas comunidades, é a escola ser pertencente da comunidade. É a comunidade se sentir parte da escola, ‘derrubar os muros’. Quando a comunidade sente que a escola é pertencente à própria comunidade, a escola não é atacada, não existe violência. É um processo em que a escola precisa se aproximar cada vez mais das comunidades”, enfatizou Carmen Dolores. 

Ato lembra Mãe Bernadete 

Além de abordar a violência policial, que causou a morte de 45 pessoas na Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo, entre julho e agosto deste ano, o ato foi organizado para se manifestar contra a morte da Yalorixá Mãe Bernadete, assassinada no último dia 17. 

Piedade Marques, da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, lista as principais problemáticas que incentivaram a mobilização nacional. 

Piedade Marques, participante da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá 

“É aquela história, no frigir dos ovos, é sobre as nossas vidas. É sobre as violências, é sobre o racismo estrutural, sobre o perfilamento que define quem são as pessoas, os corpos sujeitos da ação policial. Fala sobre o encarceramento em massa, fala sobre a guerra às drogas aonde nós, negros e negras é que somos vítimas, colocadas inclusive como algozes porque somos nós que estamos ocupando os presídios”, relata Marques. 

 

Manifestações pacíficas, organizadas pela união de movimentos negros, ocupam diversas cidades no Brasil nesta quinta-feira (24). A data foi escolhida por marcar o aniversário de 141 anos da morte de Luiz Gama, primeiro advogado negro do Brasil e Patrono da Abolição da Escravidão no país. Em Pernambuco, o ato foi realizado na praça da UR-11, no bairro do Ibura, na zona Sul do Recife. 

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A jornada dos movimentos negros contra a violência policial foi pensada como forma de se manifestar contra as chacinas ocorridas nos estados da Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo, em julho e agosto deste ano, que resultaram na morte de 45 pessoas. Os grupos também lembram a morte da Ialorixá Mãe Bernadete, que foi assassinada em sua casa na última quinta-feira (17), na região metropolitana da Bahia, atingida por 14 tiros. 

O ato local foi realizado por diversos grupos como a Articulação Negra de Pernambuco, o Centro Comunitário Mário Andrade, Feministas Antirracistas Socialistas, Afoxé Alafin Oyó, Coalizão Negra por Direitos, coletivos sindicais, entre outros. 

Um dos participantes ativos é João José da Silva, militante do Coletivo de Entidades Negras e do Movimento de Luta Popular e Comunitária de Pernambuco. Ao LeiaJá, João explicou a razão da escolha do local do ato no estado. "A gente aqui em Pernambuco não fez no centro da cidade porque as violências policiais ocorrem nas periferias, e aí a gente adotou aqui em Pernambuco na periferia, em uma das áreas que tá sendo mais [atingida]", afirmou João. 

João José da Silva. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá 

"A gente preferiu fazer aqui na UR-11 porque também é um ponto que tem sido muito chocante a atividade policial em cima dos nossos jovens negros e negras", continuou. 

Presença contra injustiças 

O ato contou com a participação de Joelma Andrade, mãe de Mário, adolescente de 14 anos que foi morto por um policial em 2016. “Esse ato representa toda a minha luta. Amanhã faz sete anos e um mês que eu estou sem meu filho através de um policial que exterminou Mário, ele tinha 14 anos. E nesse ato hoje é para mostrar mais uma vez que a gente, o povo preto, tem voz.”