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Um estudo realizado pela Secretaria de Saúde do município do Paulista, na Região Metropolitana do Recife, está avaliando o nível de infestação na cidade do mosquito Aedes aegypti, transmissor de dengue, zika e chikungunya. O levantamento, que será realizado até a próxima sexta-feira (5), tem como objetivo possibilitar a implementação de ações de prevenção e controle mais eficazes contra as doenças.

O trabalho, que vem sendo realizado em todos os bairros do município, é executado por 103 Agentes de Combate às Endemias (ACEs). Para alcançar as metas do Levantamento de Índice Rápido para o Aedes aegypti (LIRAa), a prefeitura pede que os moradores recebam os profissionais em suas casas. Aproximadamente 6.200 imóveis, provenientes de sorteio, devem ser visitados pelas equipes.

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"A participação ativa das comunidades recebendo os nossos Agentes de Combate às Endemias é fundamental para o processo. A prevenção e a eliminação dos criadouros dependem de iniciativas individuais e coletivas", afirma a médica veterinária e diretora de Vigilância Ambiental, Sílvia Vasco.

De acordo com a gestão municipal, as atividades do LIRAa, que acontecem bimestralmente, envolvem a coleta de dados em um período de tempo relativamente curto, “permitindo uma análise rápida da situação”.

 

Por falta de estoque, o Ministério da Saúde tem atrasado o envio de inseticidas contra o Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, da chikungunya e da zika - o produto é utilizado na nebulização espacial (conhecida popularmente como fumacê). Há escassez do insumo e atraso no repasse a Estados desde o ano passado e a alta de casos em vários pontos do País preocupa.

Ao Estadão, a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do ministério, Ethel Maciel, disse que a atual gestão assumiu "sem nenhum estoque". "Já refizemos os contratos, mas, como são compras internacionais, que chegam de navio, a previsão de entrega é demorada. Um dos (itens) que precisávamos foi aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no fim de fevereiro." Segundo ela, a situação de quatro Estados, onde há condições climáticas mais favoráveis à reprodução do mosquito, preocupa mais: Espírito Santo, Minas, Tocantins e Santa Catarina.

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Até o fim de fevereiro, segundo o ministério, o Brasil teve alta de 46% nos casos de dengue e de 142% nas infecções por chikungunya na comparação com o mesmo período do ano passado. Em nota técnica da Coordenação-Geral de Vigilância de Arboviroses de 3 de março, o ministério informou aos municípios e Estados que o processo de aquisição de um dos fumacês, o Cielo-UVL (Praletina+Imidacloprida), estava na fase final de contratação, com expectativa de recebimento do insumo nos próximos 45 dias.

Queixa

O atraso nos cronogramas, enfrentado desde 2022, é reflexo de dificuldade global de aquisição do produto. A nota explica ainda que, diante dos percalços, optou-se por incluir um novo adulticida para uso em UBV (equipamento que nebuliza o inseticida), o Fludora Co-Max (Flupiradifurone + Transflutrina), para evitar a dependência de um fornecedor único.

Conforme a nota, "se aprovada a excepcionalidade pela Anvisa, por se tratar de aquisição internacional, o produto não estará disponível para distribuição nos próximos 60 dias". Segundo o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), houve problemas nos processos de compras no ano passado. "A atual gestão teve de reiniciar as compras, o que está levando ao atraso para o recebimento do Cielo."

"Outro adulticida estava em processo de compra, mas estava aguardando uma liberação da Anvisa, que só saiu recentemente, para que pudesse concluir a compra e iniciar o processo de importação", acrescentou o órgão de secretários. Ainda segundo o conselho, os Estados precisarão ser capacitados para usar o novo produto, o Fludora.

O Conass diz que a aquisição é de responsabilidade do ministério, pois não há produção nacional e o processo de compra "geralmente é longo". A reportagem entrou em contato com Marcelo Queiroga, ex-ministro da Saúde, para comentar o assunto, mas não obteve resposta.

Conscientização

A preocupação agora começa até em outros países. Por enquanto, o Paraná não registra mais casos que o normal, mas segundo César Neves, secretário estadual da Saúde, o Paraguai já tem mais de 20 mil casos confirmados e mais de 20 óbitos. "Isso fez com que tomássemos a medida, há mais ou menos um mês, de bloqueio na região da tríplice fronteira", e há três semanas o Estado pediu ao ministério kits para diagnóstico de chikungunya, além de receber litros do adulticida Cielo.

O uso do inseticida Cielo só é recomendado em situações de emergência, como surtos e epidemias, pois tem como alvo apenas os mosquitos adultos, diz nota técnica da Coordenação-Geral de Vigilância de Arboviroses do ministério, de 2020. Segundo Neves, embora a estratégia de nebulização seja importante, ela só resolve "30% do problema". O restante, afirma, são medidas de conscientização. "O principal, em termos epidemiológicos, é matá-lo (o mosquito) no estado larvário." Para isso, é preciso evitar deixar água parada, em vasos e cisternas sem cobertura, por exemplo.

SP compra produto por conta própria

Diante da escassez nacional, São Paulo se mobiliza para comprar, por conta própria, insumos para lidar com a escalada de casos. No Diário Oficial de anteontem, despacho da Secretaria da Saúde autoriza a compra, em caráter emergencial, do inseticida adulticida Cielo, em quantidade suficiente para "pronto abastecimento" de todo Estado, por R$ 3,528 milhões.

Segundo o despacho, há "aumento expressivo" de dengue e chikungunya no Estado, situação "semelhante ao mesmo período de 2022, em que o Estado de São Paulo foi classificado com alto risco, a partir da avaliação da matriz de prioridades, construída com indicadores do Diagrama de Controle para Dengue, casos graves e óbitos confirmados e/ou em investigação". Segundo a secretaria, até agora foram relatados 35,6 mil casos de dengue e 25 óbitos em todo o Estado, o que representa uma redução de 13% nas infecções em relação ao mesmo período do ano passado.

Ao Estadão, a Secretaria de Estado da Saúde diz que não recebe entrega do ministério desde dezembro e, por isso, abriu processo para adquirir 15 mil litros. A remessa, afirma, é para suprir a demanda de março, abril e maio, fase de maior incidência das doenças ligadas ao mosquito.

A Prefeitura também importou, por conta própria, 15 mil litros do Cielo. A compra direta, sem intermédio federal, passou a ser estudada em agosto. Ao todo, 10 mil litros já chegaram e permitiram que a política de nebulização não fosse descontinuada.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Uma colaboração nacional - formada por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e de outras 25 instituições do Brasil, com apoio da London School of Hygiene & Tropical Medicine - avaliou os impactos na saúde dos bebês da infecção de gestantes por zika.

Publicado no The Lancet Regional Health - Americas no último dia 28, o estudo revelou que aproximadamente um terço dos filhos de mães infectadas durante a gravidez apresentou, nos primeiros anos de vida, anormalidades consistentes com a Síndrome da Zika Congênita (SZC).

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Segundo a Fiocruz, essa foi a pesquisa sobre o tema que contou a maior quantidade de participantes, conseguindo detectar com mais clareza a relação entre o vírus zika e possíveis distúrbios congênitos. A necessidade dessa avaliação surgiu após uma epidemia de microcefalia no Brasil, em 2015, mas as amostras pequenas, a alta variabilidade entre as estimativas e a limitação dos dados de vigilância limitavam a possibilidade de calcular os riscos.

“As manifestações da síndrome envolvem deficiências neurológicas funcionais, anormalidades de neuroimagem, alterações auditivas e visuais e microcefalia. Tais disfunções aparecem mais frequentemente de forma isolada do que em combinação, com menos de 0,1% das crianças expostas apresentando duas delas simultaneamente”, disse a fundação.

Gestações

Os resultados foram encontrados a partir da análise combinada de dados de 13 estudos que investigam os resultados pediátricos em gestações afetadas pelo vírus zika durante a epidemia de 2015-2017 no Brasil. Esses dados abrangem todas as quatro regiões do país afetadas pela epidemia neste período, com infecção pré-natal confirmada em laboratório por testes genéticos e avaliação dos potenciais efeitos adversos em nível individual.

Segundo o pesquisador Ricardo Arraes de Alencar Ximenes, da Universidade de Pernambuco e da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que liderou o estudo, esse trabalho dá uma contribuição fundamental para a compreensão das consequências para a saúde da infecção pelo vírus zika durante a gravidez, pois reúne dados individuais de crianças nascidas de 1.548 gestantes residentes em diferentes regiões do país que tiveram o diagnóstico confirmado de infecção pelo vírus zika durante a gravidez, permitindo uma estimativa mais precisa dos riscos

Microcefalia

Em relação à microcefalia, condição neurológica em que a cabeça do bebê é menor do que o esperado para sua idade e sexo, uma a cada 25 crianças nascidas de mães infectadas pelo vírus zika durante a gravidez apresentou a disfunção no nascimento ou durante o acompanhamento.

Segundo a Fiocruz, na maioria dos casos, a condição era detectável próximo ao momento do nascimento, mas algumas crianças nascidas com perímetro cefálico normal desenvolveram a microcefalia nos anos seguintes.

De acordo com a pesquisa, o risco de filhos de mães infectadas por zika na gestação apresentarem microcefalia foi de 2,6% no nascimento ou quando avaliados pela primeira vez, aumentando para 4% nos primeiros anos pré-escolares. Esse risco foi relativamente consistente nos diferentes locais de estudo, sem apresentar variação relativa às condições socioeconômicas ou área geográfica.

Conforme a Fiocruz, a realização de estudos adicionais com tempo de acompanhamento mais longo é apontada pela equipe de pesquisadores como o futuro do estudo publicado. Os possíveis caminhos para investigação incluem a avaliação do risco de hospitalização e morte para crianças com microcefalia à medida que envelhecem e, naquelas sem microcefalia, averiguar os riscos de outras complicações, como aquelas ligadas ao desenvolvimento comportamental ou neuropsicomotor.

O Brasil registrou 504 mortes por dengue, no período de 1º de janeiro a 4 de junho. O número representa praticamente o dobro de mortes notificadas em todo o ano passado, segundo o Boletim Epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde. 

O estado de São Paulo lidera a lista, com 180 óbitos. Em seguida aparecem Santa Catarina (60), Rio Grande do Sul (49), Goiás (44) e Paraná (43). Há ainda 364 óbitos em investigação. 

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Somente neste ano foram contabilizados 1,1 milhão de casos prováveis de dengue em todo o país, o que implica em uma taxa de incidência de 517,9 casos a cada 100 mil habitantes. A marca atingida em apenas seis meses já representa mais do que o dobro dos casos registrados em todo o ano de 2021 (544.460). 

A Região Centro-Oeste do país lidera a taxa de incidência, com a marca de 1.544,2 casos a cada 100 mil habitantes, mais alta que a média brasileira. É nessa região também que estão os municípios com o maior número de infectados: Brasília, com 51.131 casos; e Goiânia, com 41.637 casos. Em seguida no ranking aparecem Joinville (SC), com 23.058 casos; São José do Rio Preto (SP), com 16.005 casos; e Aparecida de Goiânia (GO), com 14.689. 

Chikungunya e Zika

De janeiro e junho, o Brasil contabilizou 108.730 casos prováveis de chikungunya, aumento de 95,7% em relação ao mesmo período de 2021. Segundo o boletim, até este momento, foram confirmados 19 óbitos para chikungunya, sendo 14 deles foram registrados no estado do Ceará. Outros 40 óbitos estão em investigação. 

Quanto aos dados de zika, o boletim informa que foram contabilizados 5.699 casos da doença, aumento de 118,9% em relação ao mesmo período do ano passado. Nenhuma morte por zika foi notificada no país neste ano de 2022. 

Sintomas

Dengue, zika e chikungunya são doenças transmitidas pelo mesmo mosquito e seus sintomas são semelhantes: em geral, elas provocam febre, dor de cabeça e manchas vermelhas pelo corpo. Mas alguns poucos sintomas as diferenciam. No caso da dengue costuma haver uma dor atrás dos olhos. Já a chikungunya pode provocar dor e inchaço nas articulações. A zika, por sua vez, pode causar febre baixa e vermelhidão nos olhos. 

Para combater o mosquito transmissor dessas três doenças, as pessoas devem manter os ambientes e recipientes limpos e sem acúmulo de água, que favorecem a sua proliferação. As principais medidas de prevenção são: deixar a caixa d’água bem fechada e realizar a limpeza regularmente; retirar dos quintais objetos que acumulam água; cuidar do lixo, mantendo materiais para reciclagem em saco fechado e em local coberto; e eliminar pratos de vaso de planta ou usar um pratinho que seja mais bem ajustado ao vaso.

A Paraíba registrou o primeiro caso de grávida infectada pelo vírus Zika em 2022, segundo a Secretaria de Saúde estadual.

O vírus é o principal causador de microcefalia em bebês. Para as gestantes que contraíram a doença, ainda não há tratamento para reduzir as chances de o bebê nascer com a malformação.

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Em outros estados, já foram registrados casos de grávidas infectadas este ano. Em abril, a Secretaria de Saúde de Goiás confirmou dois casos no interior do estado.

Pessoas infectadas pelo vírus Zika podem não perceber a doença, pois ela é assintomática em 80% dos casos. Com isso, é muito importante que as mulheres tenham atenção redobrada em relação ao acompanhamento pré-natal, afirma a pediatra e pesquisadora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) Marizélia Ribeiro.

“A gestante precisa consultar seu médico ou enfermeiro que faz o pré-natal para saber que tipo de repelente pode usar, e de quanto em quanto tempo ela pode passar o produto. Ela não deve usar sem orientação, pelo perigo para a saúde dela e para a saúde do bebê.”

O principal modo de transmissão do vírus, segundo a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), é a picada do mosquito Aedes aegypti, o mesmo que transmite a dengue e a chikungunya. Mas a pediatra alerta que há outras formas de transmissão do vírus às gestantes.

“As pesquisas mostraram que o vírus também pode passar na relação sexual. Então as gestantes precisam se proteger utilizando os preservativos. Porque, às vezes, o parceiro pode não ter nenhum sinal, [pode não ter] as manchinhas, a febre, e ele ter Zyka, que foi o que a gente viu na epidemia de 2015 e 2016”, reforça Marizélia.

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--> Pernambuco registra primeiro caso de zika deste ano 

A Secretaria de Saúde confirmou, nessa quarta-feira (1º), o primeiro caso de zika em Pernambuco este ano. O registro é de uma mulher, de 20 anos, que mora em Timbaúba, município da Zona da Mata Norte do Estado, e que não está grávida, de acordo com o perfil divulgado pela pasta. De acordo com o boletim da SES, 1.222 casos da doença já foram notificados por 72 municípios, mas não há confirmação para os demais; 624 casos suspeitos foram descartados. 

Em comparação ao ano passado, quando houve 1.821 casos suspeitos no mesmo período, há uma redução de 32,9% na incidência dos quadros virais que apontam para a possibilidade do vírus zika. Além dos casos suspeitos de zika, neste ano, em Pernambuco, também já foram notificados 25.531 casos suspeitos de dengue e 15.996 de chicungunha.  

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Do total de casos registrados, 530 eram mulheres gestantes com suspeitas de arboviroses. Dessas, 271 realizaram coleta para análise laboratorial: 37 tiveram confirmação para dengue, 92 para chicungunha e 124 obtiveram resultado negativo para zika. 

LeiaJá também: ‘Saiba como diferenciar dengue, zika e chikungunya’ 

A doença 

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a doença causada pelo vírus zika (ZIKV) é transmitida por mosquitos do gênero Aedes, causada pelo vírus zika (ZIKV) e tem como principais sintomas febre baixa, erupções cutâneas (principalmente exantema maculopapular), dor de cabeça, dor nas articulações, dor muscular, mal-estar geral e conjuntivite não purulenta que aparecem entre dois e sete dias após a picada do mosquito vetor. 

A doença teve um pico em Pernambuco em 2015, sendo a arbovirose mais relacionada à síndrome congênita associada à infecção pelo zika vírus na gestação. Essa condição pode causar microcefalia, problemas de visão, audição e alterações neuropsicomotoras em bebês expostos à infecção pelo vírus durante a gravidez. 

O ressurgimento da zika no estado não é incomum para este período. No fim de maio de 2021, chicungunha e zika tiveram aumento de casos em Pernambuco. Durante a época mais chuvosa do ano passado, quando as larvas do mosquito da dengue costumam se proliferar em locais de água parada, foram notificados 3.417 casos de chicungunha em 89 municípios do estado. Para zika, o número também preocupa: são 1.176 notificações da doença, totalizando um acréscimo de 61,8% comparado ao ano anterior. 

Em meio a um surto de dengue, o Brasil registrou um aumento de 113,7% nos casos prováveis da doença até abril deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado. Segundo boletim do Ministério da Saúde, divulgado nesta segunda-feira (2), foram 542.038 casos prováveis, entre a primeira e a décima sexta semana epidemiológica, período compreendido entre 2 de janeiro e 23 de abril de 2022. Esse número já é praticamente o mesmo que foi registrado em todo o ano de 2021, quando foram contabilizados 544 mil casos prováveis de dengue. 

A doença, causada por um vírus, é transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti. Os principais sintomas são febre alta, erupções cutâneas e dores musculares e nas articulações. Nas formas mais graves, a dengue pode causar hemorragia interna em órgãos e tecidos, e levar à morte. 

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A Região Centro-Oeste apresentou a maior taxa de incidência de dengue, com 920,4 casos por 100 mil habitantes, seguida das regiões Sul (427,2 casos/100 mil habitantes), Sudeste (188,3 casos/100 mil habitantes), Norte (154 casos/100 mil habitantes) e Nordeste (105 casos/100 mil habitantes). O estado de Goiás tem sido um dos mais afetados, liderando a incidência da doença no país, com 1.366 casos para cada 100 mil habitantes.  

Os municípios que apresentaram os maiores registros de casos prováveis de dengue até 23 de abril respectiva semana foram Goiânia/GO, com 31.189 casos (2.004,9 casos/100 mil habitantes), Brasília, com 29.928 casos (967,2/100 mil habitantes), Palmas, com 9.080 casos (2.897,7 casos/100 mil habitantes), São José do Rio Preto (SP), com 7.466 casos (1.591,3 casos/100 mil habitantes) e Votuporanga (SP), com 6.836 casos (7.113/100 mil habitantes). 

Desde o início do ano, já foram confirmados 160 óbitos por dengue no país, sendo 147 por critério laboratorial e outros 13 por análise clínica. Os estados com mais registro de mortes pela doença até agora são: São Paulo (56), Goiás (19), Santa Catarina (19) e Bahia (16). Outros 228 óbitos ainda estão em investigação. 

Até o dia 23 de abril, foram notificados 378 casos de dengue grave (DG) e 4.741 casos de dengue com sinais de alarme (DSA). Outros 368 casos de dengue grave e dengue com sinais de alarme seguem em investigação. 

Chikungunya

Em relação à febre chikungunya, o Ministério da Saúde informou que, até o último dia 23 de abril, foram registrados 47.281 casos prováveis, uma taxa de incidência de 22,2 casos por 100 mil habitantes no país. Esses números correspondem a um aumento de 40% dos casos em relação ao mesmo período do ano passado.

A região Nordeste foi a que apresentou a maior incidência, com 65,9 casos por 100 mil habitantes, seguida das regiões Centro-Oeste (15,6 casos/100 mil habitantes) e Norte (8,4 casos/100 mil habitantes).

Os municípios que apresentaram os maiores registros de casos prováveis de chikungunya até abril foram: Juazeiro do Norte (CE), com 3.539 casos (1.271,8 casos/100 mil habitantes); Crato (CE), com 2.068 casos (1.544,3 casos/100 mil habitantes); Salgueiro (PE), com 1.883 casos (3.058,8 casos/100 mil habitantes); Brumado (BA), com 1.744 casos (2.584,9 casos/100 mil habitantes) e Fortaleza, com 1.563 casos (57,8 casos/100 mil habitantes).

Desde o início do ano, a chikungunya foi a causa de morte de oito pessoas no país, sendo seis apenas no Ceará. Maranhão e Mato Grosso do Sul foram os dois outros registros. No entanto, ao menos 12 óbitos seguem em investigação nos estados do Ceará, Bahia, São Paulo, Paraíba, Pernambuco, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás.  

A chikungunya também é uma infecção viral, como a dengue, e que pode ser transmitida pelos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus, os mesmos insetos que transmitem a dengue e a febre amarela, respectivamente. Os sintomas podem incluir febre, dor nas articulações, dor muscular, dor de cabeça, dor nos olhos, dor na garganta e fadiga. Em mais de 50% dos casos, a dor nas articulações (artralgia) torna-se crônica, podendo persistir por anos.

Zika

O Ministério da Saúde também atualizou o balanço dos casos de zika no país, com 2.118 casos prováveis até o dia 14 de abril. A taxa de incidência ficou em 0,99 caso por 100 mil habitantes no país. Em relação a 2021, os dados representam um aumento de 53,9% no número de casos. Até a semana analisada, não foi notificado nenhum óbito causado por zika no Brasil. 

Também transmitido pela picada do mosquito Aedes aegypti, o vírus da zika foi identificado pela primeira vez no Brasil em 2015 e tem essa denominação por ter sido descoberto na floresta Zika, em Uganda, na África. Segundo as o Ministério da Saúde, cerca de 80% das pessoas infectadas pelo vírus Zika não desenvolvem manifestações clínicas. Os principais sintomas são dor de cabeça, febre baixa, dores leves nas articulações, manchas vermelhas na pele, coceira e vermelhidão nos olhos. Outros sintomas menos frequentes são inchaço no corpo, dor de garganta, tosse e vômitos. Em geral, a evolução da doença é benigna e os sintomas desaparecem espontaneamente após 3 a 7 dias. 

Febre amarela

Entre julho de 2021 até meados de abril de 2022, o Ministério da Saúde registrou 1.093 epizootias suspeitas de febre amarela, dos quais 25 (2,3%) foram confirmadas por critério laboratorial. As epizootias são as mortes de animais não humanos em decorrência da doença e podem indicar a presença do vírus em uma determinada região e, com isso, o risco de contaminação de humanos. Os macacos, de diferentes espécies, são os principais hospedeiros do vírus da febre amarela. No mesmo período, foram notificados 485 casos humanos suspeitos de febre amarela, dos quais 4 (0,8%) foram confirmados.

A transmissão do vírus entre primatas não humanos (PNH) foi registrada no Pará, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, sinalizando a circulação ativa do vírus nesses estados e o aumento do risco de transmissão às populações humanas durante o período sazonal, que vai de dezembro a maio. Os casos humanos confirmados tiveram local provável de infecção no Pará (municípios de Afuá e Oeiras do Pará) e em Tocantins (município de São Salvador do Tocantins).

A febre amarela é uma doença viral transmitida por diferentes espécies de mosquitos infectados. Os sintomas mais comuns são febre, dores musculares com dor lombar proeminente, dor de cabeça, perda de apetite, náusea ou vômito. Na maioria dos casos, os sintomas desaparecem depois de 3 ou 4 dias. De acordo com a Organização Panamericana de Saúde (Opas), de 15% a 25% dos pacientes entram em uma segunda fase mais grave, na qual o risco de morte é maior e as pessoas podem ficar com a pele e os olhos amarelados, sangramentos, urina escura (problemas renais), além de dores abdominais com vômitos.

Um estudo realizado pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs), da Fiocruz Bahia, acompanhou 3.308 bebês com síndrome congênita da zika até os 3 anos de idade e identificou uma mortalidade 11 vezes maior que a das crianças sem a doença. As principais causas das mortes variam de acordo com a idade, e entre elas estão anomalias congênitas, doenças infecciosas e parasitárias e causas relacionadas ao sistema nervoso central.

O estudo foi divulgado hoje (24) pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e publicado na revista científica The New England Journal of Medicine. É a primeira pesquisa a acompanhar crianças diagnosticadas com a síndrome até o terceiro ano de vida e faz parte da Plataforma de Vigilância de Longo Prazo para Zika e suas Consequências, coordenada pelo Cidacs/Fiocruz Bahia.

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Para chegar a essa amostra de mais de 3 mil crianças com a síndrome congênita, foram analisados dados de mais de 11 milhões de recém-nascidos cadastrados no Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), entre 2015 e 2018.

A síndrome congênita da zika ocorre por alterações no sistema nervoso central dos bebês causadas quando o vírus infecta as mães durante a gravidez. A forma mais conhecida da doença é a microcefalia, mas há também anomalias funcionais, como a dificuldade para engolir, ou sequelas clínicas, como a epilepsia.

Entre as mais de 3 mil crianças com a doença acompanhadas, houve 398 óbitos até os 3 anos de idade. Os pesquisadores identificaram que, para bebês que nascem com menos de 32 semanas ou menos de 1,5 kg, não há diferença na mortalidade quando as crianças com a síndrome são comparadas com as que não têm.

Já para crianças que nascem com 32 a 36 semanas, a síndrome causada pelo zika aumenta as chances de morrer até os 3 anos em nove vezes. E para aquelas que nascem após as 37 semanas, esse risco aumenta em 14 vezes.

O estudo mostra ainda que a chance aumentada de morrer se estende por todo o período de vida analisado. Até os 28 dias de vida, o risco é sete vezes maior do que para as crianças sem a síndrome. Já entre 1 e 3 anos de vida, a possibilidade chega a ser 22 vezes maior. Uma das autoras do estudo, a pesquisadora associada do Cidacs e professora assistente da London School of Hygiene & Tropical Medicine (LSHTM) Enny Paixão, explicou à Agência Fiocruz de Notícias que números tão alarmantes requerem ações após o nascimento que ajudem a melhorar a sobrevivência dessas crianças. “Precisamos de protocolos pós-natais bem estabelecidos, incluindo intervenção precoce, para ajudar a diminuir sequelas e melhorar a sobrevida delas”, defende.

Outra autora do trabalho, a professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e pesquisadora associada ao Cidacs/Fiocruz Bahia Glória Teixeira, destacou a importância de aumentar a disponibilidade de leitos neonatais para evitar mortes por síndromes congênitas neurológicas.

"Nós observamos que as crianças morriam com maior frequência em localidades com poucos leitos de UTI neonatal. Essas crianças precisam de centros de reabilitação: elas nascem com menos neurônios e com neurônios danificados, mas têm neurônios passíveis de serem estimulados, o que pode melhorar o processo de cognição e motor", disse à Agência Fiocruz de Notícias.

"É fundamental disponibilizar serviços e profissionais capacitados para o atendimento no nível local. Os gestores e técnicos da Vigilância em Saúde dos três níveis de gestão devem trocar informações e pensar em estratégias para capilarizar as ações", disse a professora.

As pesquisadoras chamam atenção ainda para relevância da prevenção da infecção pelo vírus zika, que é uma das arboviroses carregadas pelo mosquito Aedes aegypti. Uma das principais medidas de prevenção contra a proliferação do mosquito é evitar o acúmulo de água parada e descoberta, onde o inseto possa depositar seus ovos e se reproduzir.

De acordo com um dos boletins de arboviroses emitidos pela Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), Pernambuco registrou o aumento de 469% de casos de chikungunya em relação aos 7 primeiros meses do ano passado. Em menores números, também foram mapeados episódios de dengue e zika.

Apesar de todas as doenças serem transmitidas pela fêmea adulta do mosquito Aedes aegypti, saber diferenciá-las é fundamental para prevenir sequelas graves.

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Conheça os sintomas

Dengue: geralmente, os casos de dengue são mais graves quando comparados à chikungunya e à zika. A doença causa febre alta; moleza no corpo; dor no abdômen; perda de apetite; dores de cabeça e atrás dos olhos; falta de ar; vômitos e erupções na pele (principalmente no tórax e membros superiores).

No caso de evolução para quadros mais complicados, a dengue pode ocasionar hemorragias, que, caso não tratadas, levam ao óbito.

Chikungunya: enquanto na dengue o paciente relata dores musculares, a chikungunya ataca, sobretudo, as articulações. Os pacientes também podem apresentar febre, erupções cutâneas, náuseas, vômito e dor de cabeça.

A dor incapacitante nas articulações, principal sintoma da doença, dura por volta de duas semanas. Todavia, o problema pode ir e voltar por vários meses, mesmo após a cura, prejudicando a qualidade de vida dos pacientes.

Zika Vírus: olhos vermelhos e coceira são as principais características da doença, que costuma ocasionar febre mais baixa. Em casos mais raros, há relatos de diarreia, constipação e pequenas úlceras na região da mucosa oral.

Embora não costume incomodar por mais de sete dias, a zika pode deixar sequelas graves. Isso porque a doença tem relação com uma síndrome neurológica que causa paralisia, a Síndrome de Guillain-Barré, e também com casos de microcefalia.

Tratamentos

Nos três casos de infecção, o tratamento é basicamente o mesmo, uma vez que não existem medicamentos específicos para controle das enfermidades. É consenso que o paciente permaneça em repouso e beba muita água, além de outros líquidos. Ademais, o uso de medicamentos inadequados pode desencadear hemorragias graves, portanto, visitar um médico é importante.

Eliminar locais de proliferação do mosquito Aedes Aegypti ainda é o melhor tipo de prevenção.

Fique atento:

- Limpe o quintal e jogue fora o que não é usado;

- Tire a água dos pratos de plantas;

- Sempre coloque garrafas vazias de cabeça para baixo;

- Tampe tonéis, depósitos de água, caixas d’água e qualquer tipo de recipiente que possa acumular água;

- Mantenha os quintais bem varridos e elimine tampinhas de garrafa, folhas e sacolas plásticas;

- Escove bem as bordas dos recipientes (vasilha de água e comida de animais, pratos de plantas, tonéis e caixas d’água).

 

 

Em meio à pandemia de Covid, o Brasil completou cinco anos do anúncio de outra emergência em saúde pública: o surto de microcefalia causado pelo zika vírus. Embora os casos da má-formação venham diminuindo desde 2016, as 3 mil crianças que nasceram com o problema no País continuam lidando com sequelas graves da síndrome - em alguns casos, agravadas com a crise do coronavírus.

Alessandro, Laura, Matheus e Pérola fazem parte do primeiro grupo de crianças nascidas com a síndrome congênita do zika no Brasil, entre 2015 e 2016. Hoje com 5 anos, tiveram algum nível de regressão em seu desenvolvimento após suspenderem total ou parcialmente o tratamento. São acompanhadas pelo Estadão desde o primeiro ano de vida. Quando completaram 12 meses, uma reportagem especial mostrou o descaso governamental na oferta de terapias e as dificuldades enfrentadas pelas famílias. Quatro anos depois, o cenário não é muito diferente.

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Segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde sobre o tema, publicado em fevereiro, das 2.953 crianças vivas com síndrome congênita associada ao zika, 56,4% estão recebendo atendimento especializado. E o problema da falta de acesso às terapias pode ser ainda maior. Isso porque não se sabe ao certo o número real de crianças vivendo com as sequelas da SCZ no País por causa do alto número de casos suspeitos da síndrome que ainda não tiveram investigação concluída.

De 2015 a 2020, foram notificadas 19.622 suspeitas do quadro, das quais 3.577 foram confirmadas e 2.890 estão sob investigação, mais de 500 referentes a nascimentos ocorridos nos anos de 2015 e 2016. Isso quer dizer que o País pode ter centenas ou milhares de crianças com alguma sequela do vírus sem nem constar nos registros oficiais - e provavelmente sem contar com assistência profissional.

Considerando apenas o ano de 2020, 1.007 novos casos foram notificados, dos quais 35 (3,5%) foram confirmados e 597 (59,3%) permanecem em investigação. O próprio ministério ressalta em seu boletim de fevereiro que os casos sem resolução dificultam a elaboração de políticas públicas e destaca que, embora o período crítico do surto tenha terminado, o País vem registrando novos casos da síndrome. "O alto porcentual de casos em investigação pode comprometer o conhecimento do verdadeiro cenário epidemiológico da SCZ no Brasil. A notificação dos casos suspeitos só faz sentido se devidamente investigados, de modo a produzir informação confiável e guiar o planejamento das ações para enfrentamento da doença", destaca o documento.

Também chama a atenção a alta mortalidade entre essas crianças. Dos 3.423 nascidos vivos entre 2015 e 2020 com o diagnóstico confirmado da síndrome, 493 já morreram, o equivalente a 14,4%. Se calculada a taxa de mortes por mil nascidos vivos até 5 anos, o índice das crianças com a síndrome é de 144, dez vezes maior do que esse índice na população geral da mesma faixa etária (13,9).

Para Germana Soares, presidente da União Mães de Anjos (UMA), associação de Pernambuco que representa famílias de crianças com a síndrome do Estado, a pandemia só agravou as dificuldades vividas pelas crianças e suas famílias. "Guilherme, sem a fisioterapia, foi ficando com o pé atrofiadinho e tive de passar com ele numa consulta de urgência no ortopedista", explica ela, referindo-se ao filho, também de 5 anos.

A médica Mariangela Rocha, coordenadora da infectologia pediátrica do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC), no Recife, referência no Estado para acompanhamento das crianças com a má-formação, conta que, durante a pandemia, a unidade se tornou referência também para atendimento de covid-19, o que dificultou a manutenção do atendimento multidisciplinar. "Ficamos praticamente com todos os leitos dedicados à covid", conta ela, que também teve de se distanciar do trabalho presencial por ser do grupo de risco.

A médica diz que os terapeutas do hospital chegaram a gravar vídeos com instruções para os familiares fazerem estimulação com as crianças em casa, mas que, por mais dedicados que sejam os pais, dificilmente os esforços substituirão um atendimento profissional. A mãe de Guilherme conta que, mesmo antes da pandemia, os centros de reabilitação que atendiam as crianças foram reduzindo as vagas. "E alguns centros mais distantes da capital têm dificuldade para contratar profissional porque ninguém quer estar em um local mais pobre e distante para ganhar R$ 1,4 mil. São vários obstáculos", diz.

Para Monique Oliveira, doutora pela Faculdade de Saúde Pública da USP que, em sua tese, pesquisou a relação da ciência com as famílias no zika vírus, "o esforço da comunidade científica foi fechar a relação de causalidade entre o zika e a microcefalia". "Mas essa era a pergunta mais relevante? Não vemos o mesmo esforço da comunidade científica para respostas como o modelo de intervenção que precisa ser pensado para essas crianças. Então fica uma frustração das famílias."

Governo federal

Questionado, o Ministério da Saúde informou que, atualmente, há 506 serviços de reabilitação que recebem orçamento de custeio do governo federal. De acordo com a pasta, muitos desses serviços "passaram a utilizar estratégias alternativas por causa da pandemia, como o teleatendimento". Além disso, ressaltou que foram investidos, desde 2015, mais de R$ 223 milhões em pesquisas relacionadas aos temas zika e microcefalia.

Alessandro

'11 KG E DIFICULDADE PARA PODER COMER

O pesadelo da família de Alessandro começou com a dificuldade dele em se alimentar pela boca após parar com as sessões de fonoaudiologia. Com o atendimento semanal suspenso por causa da pandemia, o garoto de Goiana, cidade a 70 km do Recife, passou a ter dificuldades para deglutir e começou a perder peso. Chegou a pesar, no início de 2021, 11 quilos - o esperado para crianças na faixa dos 2 anos.

Segundo a mãe, a dona de casa Rayane Gomes Mendes, de 24 anos, por alguns meses o menino teve de ser nutrido por sonda - primeiro pela via nasogástrica, aquela que é colocada do nariz até o estômago. "Era fevereiro de 2021 e os hospitais todos lotados por causa da covid, eu fiquei muito nervosa, tremia, não conseguia dormir quando ele estava nessa situação", diz ela. A angústia de ver o filho internado com quadro de desidratação fez a jovem desenvolver depressão, doença que vem agora tentando controlar com medicamentos e terapia.

Rayane espera agora que o menino consiga retomar integralmente as terapias que fazia em três hospitais.

Laura

'ELA NÃO SENTA, NÃO USA A MÃO'

Sem fisioterapia, a rigidez muscular, típica das crianças com sequelas neurológicas, se intensificou. "Ela teve de entrar até no Rivotril por causa da musculatura rígida. A fisioterapia era boa para relaxar os músculos, para poder fazer cocô. Na fono, fazia exercícios para conseguir deglutir a saliva, para não broncoaspirar. Alimento, ela não consegue comer, usa sonda. Com a suspensão, não tem mais evolução. Não senta, não pega nada com as mãos", diz a dona de casa Jaqueline Oliveira, de 30 anos, mãe de Laura.

Como se não bastassem os prejuízos em sua qualidade de vida, a menina de 5 anos (gêmea de Lucas, que nasceu sem a má-formação) foi afetada até pela crise econômica na pandemia. Seu pai perdeu o emprego após a empresa onde trabalhava fechar - o dono morreu de covid.

Sem a principal renda da casa e com Laura e mais três crianças para sustentar, Jaqueline e o marido decidiram, em abril, voltar para Pernambuco, onde nasceram e têm familiares. Foram viver em Camutanga, município de 8 mil habitantes distante pouco mais de 100 quilômetros do Recife. Ao procurar assistência especializada na cidade, Jaqueline se decepcionou. Segundo ela, os médicos "nem sabiam lidar" com uma criança com microcefalia.

Matheus

TRATAMENTO PAGO POR VIA JUDICIAL

Matheus é uma das poucas crianças com a síndrome congênita do zika que conseguiu manter as terapias. Como é beneficiário de um bom plano de saúde oferecido pela empresa da mãe, ele pôde continuar com sessões domiciliares de fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional, além de hidroterapia e psicologia fora de casa. Há três anos, também frequenta uma clínica privada que oferece therasuit, terapia inovadora que usa equipamentos, vestimentas e órteses para estimular de diferentes maneiras as crianças com problema motor.

A família entrou na Justiça para obrigar o convênio a arcar com os custos da assistência. "Ganhamos. O tratamento custa de R$ 9 mil a R$ 12 mil por mês", conta a mãe, a bancária Isabel Cristina Gomes de Albuquerque, de 43 anos.

Pérola

'SE EU MORRER, QUEM VAI CUIDAR?'

Durante quase um ano, Pérola ficou sem frequentar as terapias. No meio de 2021, Marcione Gomes da Rocha, de 33 anos, conseguiu que a filha retomasse o tratamento duas vezes por semana em unidades de saúde da cidade. A vendedora conta que ficou receosa em sair do isolamento por medo de se contaminar e deixar desamparados os filhos, outro dilema das mães de menores com microcefalia.

Se não vão às terapias, veem os filhos regredirem no desenvolvimento. Se decidem ir, ficam com o medo de uma contaminação."Se eu morrer, quem vai cuidar dessas crianças?", questiona.

Mesmo com a retomada das terapias há cerca de dois meses, os danos da interrupção da assistência ainda são evidentes para a mãe. "Ela pode ter de fazer cirurgia", conta.

ESTA REPORTAGEM FOI FEITA COM O APOIO DO DART CENTER FOR JOURNALISM & TRAUMA, UM PROJETO DA ESCOLA DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE COLUMBIA (EUA)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Segundo dados divulgados pela Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), em 2021 o estado de Pernambuco registrou 9.378 casos chikungunya, um aumento de 469% (1.648) em relação ao ano passado. A informação está presente no boletim de arboviroses correspondente a Semana Epidemiológica (SE) 30, no intervalo que corresponde aos dias 3 de janeiro até 31 de julho.

Além da chikungunya, o documento mapeou também os episódios de dengue e zika, todos transmitidos pela fêmea adulta do mosquito Aedes Aegypti. No total, foram 6.926 diagnósticos para dengue e 10 para zika. Sendo assim, em comparação ao mesmo período de 2020, há queda de 15,2% (8.174) para dengue e de 28,6% para zika (14 casos). 

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Ademais, a SES notificou outros 31 casos que evoluíram para óbitos suspeitos de arboviroses, sendo um já confirmado para dengue e dois descartados. Os demais seguem em investigação.

A partir do balanço, considerado preocupante sobretudo face ao enfrentamento da Covid-19, a gerente de Vigilância de Arboviroses, Claudenice Pontes, alertou para a importância das ações de vigilância individuais e nos municípios.

“As chuvas constantes e temperaturas elevadas tornam-se os fatores perfeitos para reprodução do Aedes Aegypti e essa combinação se intensifica no verão. A principal forma de prevenção contra os arbovírus é não deixar o Aedes aegypti nascer. Para isso, é preciso a adoção de medidas para evitar a proliferação do mosquito, manter caixa d'água, baldes e demais recipientes para armazenamento de água bem vedados, e sempre vistoriá-los", frisou.

De acordo com a gestora, o contexto da pandemia do novo coronavírus foi um fator decisivo para que os municípios realizassem as já conhecidas ações de monitoramento. A SES-PE, no entanto, prossegue com as análises das notificações de casos suspeitos, prestando também apoio técnico aos gestores. 

“No caso da dengue, a existência de 4 sorotipos virais dificulta a imunização total da população exposta. Em relação a chikungunya e zika, mesmo com a introdução do vírus no Estado lá 2015, ainda é possível encontrar pessoas vulneráveis, ou seja, que não foram expostas ao vírus”, explicou Claudenice.

“Além disso, os sintomas de chikungunya são mais expressivos, o que facilita a identificação. Já no caso da zika é bem provável que estes números sejam bem maiores que o expressado no sistema de informação, pois existem aquelas pessoas assintomáticas, o que dificulta a identificação da circulação", acrescentou.

Arboviroses e Covid-19: como diferenciar?

A população também precisa estar atenta aos sintomas específicos das arboviroses, que em sua fase inicial podem ser confundidos com a sintomatologia da Covid-19.

“As doenças relacionadas às arboviroses e o novo coronavírus apresentam, em muitos casos, o quadro comum de febre, dor de cabeça e dores no corpo. O que difere à primeira vista é a presença de manchas e coceiras na pele, o que não ocorre com a Covid-19. Para Covid-19, destacamos a tosse e o desconforto respiratório progressivo”, pontua Claudenice Pontes.

Para Pontes, é preciso um cuidado especial com os possíveis casos de dengue, doença que pode evoluir rapidamente ao óbito caso não seja tratada corretamente.

“Após a fase febril, podem aparecer sinais de dores abdominais intensa, vômitos persistentes e pele pegajosa e fria. Esses sintomas precisam ser valorizados e o paciente levado para unidade de saúde. Não existe tratamento específico para as infecções ocasionadas pelas arboviroses. A orientação que podemos dar é que surgindo qualquer sintoma, a pessoa procure uma unidade de saúde mais próxima de sua residência, pois é lá que, após análise da sintomatologia, os profissionais vão indicar a conduta adequada. Além disso, o paciente deve manter repouso e ingerir bastante líquido durante os dias de manifestação desses sinais”, finalizou a gerente. 

Com a chegada do verão no Brasil e da chuva em diversas regiões, uma preocupação de saúde pública aumenta: o crescimento da circulação do mosquito Aedes aegypti e das doenças associadas a ele (chamadas de arboviroses urbanas), como dengue, zika e chikungunya.

Conforme o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde sobre o tema, lançado em dezembro, entre janeiro e novembro foram registrados 971.136 casos prováveis de dengue no Brasil, com 528 mortes. As maiores incidências se deram nas regiões Centro-Oeste (1.187,4 por 100 mil habitantes), Sul (931,3/100 mil) e Nordeste (258,6/100 mil).

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No mesmo período, as autoridades de saúde notificaram 78.808 mil casos de chikungunya, com 25 óbitos e 19 casos em investigação. As maiores incidências ocorreram no Nordeste (99,4 por 100 mil habitantes) e Sudeste (22,7/100 mil). Já os casos de zika, até o início de novembro, totalizaram 7.006, com incidência mais forte no Nordeste (9/100 mil) e Centro-Oeste (3,6/100 mil).

Na avaliação do professor de epidemiologia da Universidade de Brasília Walter Ramalho, este é o momento de discutir o problema do Aedes aegypti e as medidas necessárias para impedir sua proliferação. O maior desafio é diminuir os focos de criação dele.

O Aedes está no Brasil há mais de 100 anos. Em alguns momentos, já chegou a ser erradicado. Mas nos últimos 30 anos o inseto vem permanecendo e, segundo o professor Ramalho, se adaptando muito bem ao cenário de urbanização do país e do uso crescente de materiais de plástico, que facilitam o acúmulo de água propício à reprodução do mosquito.

“Todos esses materiais, que podem durar muito tempo na natureza, podem ser criadouros do mosquito. A gente tem que olhar constantemente o domicílio, não somente na terra como nas calhas. Este é um momento do começo da chuva. Se não fizermos esse trabalho e se a densidade do mosquito for elevada, não temos o que fazer”, alerta o professor.

Ele lembra que não se trata apenas de um cuidado com a própria pessoa e sua casa, mas com o conjunto da localidade, uma vez que domicílios com foco de criação acabam trazendo risco para toda a vizinhança.

O professor da UnB acrescenta que o cuidado no combate aos focos não pode ser uma tarefa somente do Poder Público. Uma vez que qualquer residência, terreno ou imóvel pode concentrar focos, é muito difícil que as equipes responsáveis pela fiscalização deem conta de cobrir todo o território.

Ramalho destaca que as doenças cujos vírus são transmitidos pelo mosquito são graves. A dengue hemorrágica pode trazer consequências sérias para os pacientes.

“A zika causou microcefalia no Nordeste e em algumas cidades de outras regiões. E precisamos nos preocupar com a chikungunya. Ela causa sintomatologia de muitas dores articulares. Muitas pessoas passam dois, três anos sentindo muitas dores. Isso causa desconforto na vida durante todo esse período”, afirma.

Campanha

No mês passado, o governo federal lançou uma campanha contra a proliferação do Aedes com o lema “Combater o mosquito é com você, comigo, com todo mundo”.  O desafio é conscientizar os cidadãos sobre a importância de limpar frequentemente estruturas onde possa haver focos e evitar a água parada todos os dias.

A campanha conta com a difusão de peças publicitárias em meios de comunicação, alertando sobre esses cuidados e sobre os riscos da disseminação do mosquito e as consequências das doenças associadas a ele. 

Além de viver a pandemia de coronavírus, que fez mais de 170 mil vítimas fatais no Brasil desde março, outro problema conhecido da população brasileira preocupa as autoridades sanitárias do país. De acordo com o anúncio feito pelo Ministério da Saúde na última terça-feira (24), os casos de dengue passam dos 971 mil entre janeiro e a primeira quinzena de novembro de 2020.

O comunicado da pasta ainda aponta que, devido à atenção dos agentes sanitários ao surto da Covid-19, o número das vítimas do mosquito Aedes Aegypti pode ser maior. Segundo o ministério, os números da dengue no Brasil no começo da pandemia de coronavírus eram superiores aos do ano anterior. O índice, no entanto, é hoje 35,5% menor do que 2019, quando mais de 1,5 milhão de pessoas foram diagnosticadas com a doença.

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Embora tenha havido redução nos números que tinham tendência de aumento há cerca de oito meses, o Ministério da Saúde confirma a possibilidade dos índices da dengue estarem sub-notificados em 2020. Até o mês de junho, 528 mortes foram causadas após infecção oriunda da picada do mosquito. Os estados do Paraná, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, além do Distrito Federal, tiveram o maior número de vítimas fatais da doença.

Chikungunya e zika

Os números relacionados a outros dois vírus transmitidos pelo mosquito Aedes Aegypti também foram divulgados pelo Ministério da Saúde. De acordo com a pasta, os casos de chikungunya são cerca de 78,8 mil e apresentam queda de 37% quando comparado aos dados de 2019. Já os pacientes diagnosticados com zika foram pouco mais de 7 mil no país, com maior incidência (75% a mais) no último mês de junho.

Além de apresentar os índices, a Saúde anunciou uma nova campanha de conscientização para o combate ao mosquito que tem maior incidência de reprodução nos períodos mais quentes do ano. A iniciativa "Combater o mosquito é com você, comigo, com todo mundo", vai ser divulgada na mídia e nas redes sociais até o início do verão de 2020.

Uma pesquisa realizada pela Fiocruz Pernambuco, em colaboração com a Universidade Estadual do Colorado (CSU) dos Estados Unidos, encontrou evidências científicas da importância da transmissão sexual do vírus na epidemia de Zika em Pernambuco.

Trata-se do primeiro estudo brasileiro a chegar a essa conclusão e o segundo no mundo a demonstrar que a transmissão sexual do vírus da Zika tem um papel muito mais importante na epidemia do que se estimava inicialmente. O primeiro foi realizado em Porto Rico (2019).

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Outras investigações anteriores já haviam comprovado a existência desta forma de transmissão em localidades sem a presença do mosquito vetor, o Aedes aegypti e sem indicar qual a sua relevância na epidemia. O estudo pernambucano aponta que essa contribuição é significativa.

"A via sexual não parece ser unicamente responsável pelo contágio sustentado do Zika, mas associada à transmissão pelo mosquito pode contribuir significativamente para a disseminação eficiente do vírus", explica a pesquisadora Tereza Magalhães (CSU e Fiocruz PE), que coordenou o projeto, ao lado dos pesquisadores Ernesto Marques (Fiocruz PE e Universidade de Pittsburgh, EUA) e Brian Foy (CSU).

Além do cuidado metodológico para tentar enxergar a transmissão sexual de forma separada da vetorial, a equipe do projeto precisou superar um grande desafio no início da pesquisa: a redução drástica dos casos de Zika, a partir de 2017 (em Pernambuco e em todo o país), que acabou inviabilizando a identificação de novos casos para se somarem à coorte do estudo. Assim, os investigadores precisaram buscar uma estratégia alternativa para o projeto, envolvendo participantes de uma pesquisa anterior, sobre diagnóstico de dengue, e moradores de suas residências.

Realizado por Tereza e Ernesto entre maio de 2015 e maio de 2016, esse estudo recrutou pacientes atendidos na UPA de Paulista com sintomas sugestivos de dengue. O trabalho foi realizado em colaboração com o pesquisador da Universidade de Heidelberg (Alemanha) e CSU, Thomas Jaenisch.

O resultado foi surpreendente, pois, ao final das análises, 60% dentre os mais de duzentos e cinquenta pacientes estudados foram casos confirmados de infecções com os vírus Zika e chikungunya, sendo pouquíssimos casos de dengue. Portanto, esse estudo se revelou um importante registro do período final da epidemia de Zika e do posterior crescimento dos casos de chikungunya em Pernambuco, doenças que haviam se instalado silenciosamente na população.

A partir desse conhecimento acumulado, foram convidados os participantes dessa pesquisa anterior (denominados index), seus parceiros sexuais e até mais dois moradores da mesma residência, formando uma coorte de 425 pessoas. O objetivo foi comparar, através de sorologia, a exposição prévia dos participantes aos vírus Zika e chikungunya. A hipótese era que a exposição ao Zika seria maior entre os parceiros sexuais, já que esse vírus é transmitido por sexo e pela picada do mosquito. A comparação com o chikungunya foi muito importante no estudo já que não é transmitido sexualmente (somente pela picada do mosquito).

Foram coletadas amostras de sangue, realizados testes sorológicos e aplicados questionários, para responder a dois tipos de análise. Primeiro foi avaliado o risco da pessoa ser positiva para Zika ou chikungunya quando morando com paciente index soropositivo para o respectivo vírus, sendo ela parceira sexual ou não. Depois, esse mesmo risco foi observado em todos os pares de uma mesma residência, independente de serem formados pelo paciente index.

Os resultados apontaram que, no caso do Zika, o risco de ter sido exposto ao vírus foi significativamente maior (risco relativo de 3.9) para o parceiro sexual do que para o morador no mesmo espaço que não era parceiro sexual (risco relativo de 1.2). Para chikungunya, utilizado nessa pesquisa como "controle", o resultado foi bem diferente e o risco se mostrou igual para todos os moradores (parceiros sexuais ou não; risco relativo de 2-2.5). Na segunda parte das análises, os pares sexuais das residências tiveram uma maior probabilidade de terem sorologia concordante para o Zika do que os pares sem relação sexual, fato que não foi observado com o grupo chikungunya.

Foram coletados também dados clínicos retrospectivos dos participantes. Uma das informações obtidas, em relação aos participantes soropositivos para Zika, é que uma menor porcentagem de pares sexuais disse que teve sintomas típicos de arboviroses, comparando com os pares não sexuais.

"Isso pode indicar que, se essas pessoas dos pares sexuais foram infectadas com o Zika através de relação sexual e não da picada de mosquitos, talvez a sintomatologia seja diferente de acordo com a forma de transmissão", declara Tereza, ressaltando a importância de que esse fator seja levado em conta na fase aguda da doença. "É muito importante até para o manejo clínico, pois pode ser que o médico não consiga fazer um diagnóstico correto se avaliar somente sintomas típicos", complementa.

O estudo mostrou que a transmissão sexual do Zika em áreas endêmicas, associada à transmissão vetorial, pode ter sido um dos fatores responsáveis pela rápida disseminação do vírus nas Américas e em outras regiões afetadas pela pandemia em 2015/2016.

Mais detalhes sobre a pesquisa - que contou ainda com a participação das pesquisadoras da Fiocruz PE Ana Brito, Clarice Morais e Marli Tenório, além de vários estudantes e técnicos da instituição – podem ser obtidos no artigo Follow-up household serosurvey in Northeast Brazil for Zika virus: sexual contacts of index patients have the highest risk for seropositivity.

Da assessoria da Fiocruz Pernambuco

Uma criança de 4 anos com microcefalia decorrente da Síndrome Congênita do Zika Vírus morreu por Covid-19 no Recife na quinta-feira (28). Este é o primeiro caso confirmado de óbito por Covid-19 de uma criança com microcefalia decorrente do zika em Pernambuco, segundo a União de Mães de Anjos (UMA).

 Isabella Gomes dos Santos morava em Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata de Pernambuco. Ela foi internada com sintomas do novo coronavírus no Hospital Universitário Oswaldo Cruz, no Recife, em 25 de maio.

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 “Quando uma mãe especial perde um filho, todas as outras perdem um pouco também”, escreveu a UMA em postagem nas redes sociais. A mãe de Isabella apresentou sintomas do novo coronavírus, mas passa bem. A UMA diz que não houve nenhum outro registro de caso confirmado de coronavírus nas crianças com microcefalia ou em seus pais.

 Até a última quinta-feira (29), a Secretaria Estadual de Saúde (SES) havia confirmado 2.566 mortes por Covid-19. Foram registrados 30.713 casos da doença no estado. Desses, 13.354 casos considerados graves.

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, nesta quinta-feira (30), rejeitar uma ação que pedia, entre outras coisas, o direito de aborto para grávidas infectadas pelo vírus da zika. A Corte já havia formado maioria no sábado (25). O último a votar foi o ministro Luís Roberto Barroso, que acompanhou a relatora, Cármen Lúcia, mas, com ressalvas, reiterando posicionamento pela descriminalização do aborto.

O processo, movido pela Associação Nacional de Defensores Públicos (Anadep), e foi analisado no plenário virtual da Corte, uma ferramenta online que permite aos magistrados votarem sem se reunir presencialmente. A relatora do caso, ministra Cármen Lúcia, votou por rejeitar a ação - no jargão jurídico, "não conhecer" a ação, sem analisar o mérito.

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Único a apresentar ressalvas, Barroso afirmou que, diante da maioria que já se formou no plenário virtual para negar seguimento à ação, não abriria divergência.

Barroso contra a criminalização

Por outro lado, disse entender que a Anadep tinha legitimidade para entrar com a ação e considera que 'a extinção das ações adia a discussão de um tema que as principais supremas cortes e tribunais constitucionais do mundo em algum momento já enfrentaram'.

"A reflexão que se segue, portanto, parece-me necessária e, em rigor, transcende a questão da Zika e da microcefalia, alcançando os direitos reprodutivos das mulheres de maneira geral", afirma.

Barroso ressaltou que 'o aborto é um fato indesejável, e o papel do Estado e da sociedade deve ser o de procurar evitar que ele ocorra, dando o suporte necessário às mulheres'. "Essa é a premissa sobre a qual se assenta o raciocínio aqui desenvolvido".

O ministro reiterou posicionamento externado durante durante julgamento na Primeira Turma, em 2016, em que se manifestou pela descriminalização do aborto na análise de prisão preventiva de médicos e funcionários de uma clínica. Na ocasião, por maioria, a turma concedeu habeas corpus para soltura dos envolvidos.

Segundo Barroso, 'o tratamento do aborto como crime não tem produzido o resultado de elevar a proteção à vida do feto'. "Justamente ao contrário, países em que foi descriminalizada a interrupção da gestação até a 12ª semana conseguiram melhores resultados, proporcionando uma rede de apoio à gestante e à sua família".

"Esse tipo de política pública, mais acolhedora e menos repressiva, torna a prática do aborto mais rara e mais segura para a vida da mulher", afirmou.

Barroso disse ainda que o 'acesso aos serviços públicos de saúde, aconselhamento adequado, informações sobre métodos contraceptivos e algumas gotas de empatia produzirão melhor impacto sobre a realidade do que a ameaça de encarceramento'.

"Atirar no sistema penitenciário mulheres que já vivem um quadro aflitivo, quando não desesperador, é não compreender a grandeza do sofrimento de quem se encontra em tal situação. Ninguém faz aborto por prazer ou por perversidade", escreveu.

O ministro ainda afirmou ser importante 'registrar que praticamente nenhuma democracia desenvolvida do mundo combate a interrupção da gestação com direito penal. "Justamente porque existem alternativas menos traumáticas e mais eficientes". "Há de haver alguma razão para isso".

Por outro lado, disse que se deve ter um 'profundo respeito pelo sentimento religioso das pessoas', ao lembrar que a 'tradição judaico-cristã condena o aborto'. "E, portanto, é plenamente legítimo ter posição contrária ao aborto, não o praticar e pregar contra a sua prática".

"Mas será que a regra de ouro, subjacente a ambas as tradições - tratar o próximo como desejaria ser tratado - é mais bem cumprida atirando ao cárcere a mulher que passe por esse drama? Pessoalmente, não creio. Portanto, sem abrir mão de qualquer convicção, é perfeitamente possível ser simultaneamente contra o aborto e contra a criminalização", concluiu.

'Não haverá aborto'

Na última quinta-feira (30), o presidente Jair Bolsonaro disse que enquanto for presidente "não haverá aborto". Na saída do Palácio da Alvorada, o presidente parou para falar com apoiadores e ouvir um coral de crianças coordenadas pelo padre polonês Pedro Stepien. As crianças cantaram uma música religiosa e fizeram um pedido ao final: "Senhor presidente, temos um pedido para o senhor, não queremos aborto".

O Código Penal prevê que a interrupção da gravidez no Brasil é permitida apenas nos casos em que a gestante corre risco de vida ou quando a gravidez decorre de estupro. Em 2012, o STF decidiu que não é crime a interrupção da gravidez em casos de anencefalia.

Omissões

Ao entrar com a ação no STF, a Anadep apontou falhas do Poder Público no acesso à informação, a cuidados de planejamento familiar e aos serviços de saúde no enfrentamento do zika, além de omissão sobre a possibilidade de interrupção da gravidez para mulheres grávidas infectadas pelo vírus.

A Anadep também pede a obrigação de haver médicos capacitados para o diagnóstico clínico de infecção por zika em unidades do SUS e a imediata disponibilidade nos hospitais de exames para a detecção da infecção.

Em 2016, em manifestação encaminhada ao Supremo, o então presidente do Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), por meio da Advocacia do Senado Federal, alegou que o aborto nessas circunstâncias "diz respeito a um dissenso moral profundo", sobre o qual dificilmente os parlamentares vão adotar uma "uniformidade de posições". Para o Senado, a "repulsa ao aborto está profundamente arraigada na cultura brasileira".

O Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria nesse sábado (25) para rejeitar uma ação que pedia, entre outras coisas, o direito de aborto para grávidas infectadas pelo vírus da zika. O processo, movido pela Associação Nacional de Defensores Públicos (Anadep), está sendo analisado no plenário virtual da Corte, uma ferramenta online que permite aos magistrados votarem sem se reunir presencialmente.

A relatora do caso, ministra Cármen Lúcia, votou por rejeitar a ação. Até por volta das 21h deste sábado, acompanharam o entendimento da relatoria os ministros Edson Fachin, Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes, Rosa Weber e o presidente do STF, ministro Dias Toffoli. A íntegra dos votos ainda não foi divulgada.

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O julgamento está previsto para ser concluído às 23h59 da próxima quinta-feira (30). Até lá, os cinco ministros que ainda não votaram podem se manifestar, concordando ou discordando dos colegas, ou até mesmo eventualmente apresentando pedido de vista (mais tempo para análise), o que interromperia o exame do caso.

O Código Penal prevê que a interrupção da gravidez no Brasil é permitida apenas nos casos em que a gestante corre risco de vida ou quando a gravidez decorre de estupro. Em 2012, o STF decidiu que não é crime a interrupção da gravidez em casos de anencefalia.

Omissões

Ao entrar com a ação no STF, a Anadep apontou falhas do Poder Público no acesso à informação, a cuidados de planejamento familiar e aos serviços de saúde no enfrentamento do zika, além de omissão sobre a possibilidade de interrupção da gravidez para mulheres grávidas infectadas pelo vírus.

A Anadep também pede a obrigação de haver médicos capacitados para o diagnóstico clínico de infecção por zika em unidades do SUS e a imediata disponibilidade nos hospitais de exames para a detecção da infecção.

Em 2016, em manifestação encaminhada ao Supremo, o então presidente do Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), por meio da Advocacia do Senado Federal, alegou que o aborto nessas circunstâncias "diz respeito a um dissenso moral profundo", sobre o qual dificilmente os parlamentares iriam adotar uma "uniformidade de posições". Para o Senado, a "repulsa ao aborto está profundamente arraigada na cultura brasileira".

Uma dieta pobre em proteína torna mulheres mais vulneráveis a infecções e teria contribuído para o nascimento de bebês com microcefalia na epidemia de zika no Brasil, em 2016. A correlação é feita por um grupo internacional de cientistas que assina novo estudo na revista Science Advance.

A hipótese foi testada originalmente em camundongos. O trabalho, feito na Universidade Federal do Rio (UFRJ), revelou que entre as roedoras infectadas por zika só as que tinham déficit proteico significativo na alimentação tiveram filhotes com microcefalia. Dados epidemiológicos confirmaram a tendência também em humanos.

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"Eles se tornaram muito mais suscetíveis à infecção, apresentavam carga viral maior e, além disso, vimos que o vírus causava alteração placentária muito maior do que a do animal controle. Essa barreira (a placenta) foi totalmente destruída", diz Patrícia Garcez, da UFRJ, uma das principais autoras.

Os cientistas entrevistaram mulheres que tiveram bebês com microcefalia para determinar seus hábitos alimentares. Dados epidemiológicos revelaram que uma taxa alta (40%) de mães que tiveram filhos com a síndrome congênita da zika também apresentavam desnutrição proteica. Foram ouvidas 83 mulheres no Ceará.

Em países desenvolvidos como os Estados Unidos, a transmissão vertical do vírus (mãe para filho) é de menos de 1%. No Brasil, na epidemia de zika, essa taxa chegou a 43%, com a maioria dos casos no Nordeste.

A alimentação rica em carboidratos e pobre em proteínas é comum nas áreas mais pobres do País. Em número de calorias, a dieta pode estar no padrão recomendado. O indivíduo pode até não ser magro; pelo contrário, tende ao sobrepeso. Mas a carência de alimentos ricos em proteínas (mais caras que os carboidratos) leva a uma deficiência do sistema imunológico, facilitando a infecção e a transmissão do vírus ao feto.

A Organização Mundial da Saúde recomenda que um adulto coma 60 gramas diárias de proteína - um bife médio tem 30 gramas e um ovo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O plenário da Câmara dos Deputados acelerou os trabalhos na tarde desta terça-feira, 17, para aprovar uma série de projetos antes do recesso parlamentar, que começa na próxima semana. Entre as medidas, os deputados aprovaram o pagamento de pensão mensal vitalícia para crianças com microcefalia causada pelo vírus zika.

A Medida Provisória 894 determina o pagamento de um salário mínimo por mês para crianças com microcefalia nascidas entre o dia 1º de janeiro de 2015 e 31 de dezembro deste ano. Agora, a matéria segue para o Senado.

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Aprovado por unanimidade pela comissão mista, o período compreendeu um ano a mais do que o previsto originalmente. Antes, a MP concederia o benefício aos nascidos até dezembro de 2018.

"Essas crianças exigem de suas mães a necessidade de elas abandonarem o emprego para criar e cuidar de seus filhos", disse a deputada Carmen Zanotto (Cidadania-SC). Para ter acesso à pensão, a família deve fazer requerimento ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Uma perícia médica do INSS será feita para apontar se, de fato, existe relação entre a microcefalia e o vírus zika em cada caso.

Também foi aprovado projeto de lei que aumenta a pena de quem abusa, fere ou mutila cães e gatos. O texto aprovado é o substitutivo da comissão especial do deputado Fred Costa (Patriota-MG).

O plenário deu aval ainda à proposta que autoriza a União a transferir recursos, a título de contribuição de capital, em favor de Associações de Proteção e Assistência aos Condenados (Apacs) para a realização de investimentos em presídios.

Antes disso, os deputados aprovaram uma moção de aplauso ao educador Paulo Freire, morto em 1997. Ele foi criticado na segunda-feira, 16, pelo presidente Jair Bolsonaro. (Com informações da Agência Brasil)

Depois de provocar uma grave epidemia que resultou no nascimento de milhares de bebês com microcefalia, o vírus da zika vem revelando um aspecto tão inesperado quanto positivo: a capacidade de destruir tumores cancerígenos. Um novo estudo publicado na Scientific Reports por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) constatou que o vírus é capaz de inibir a proliferação de células do câncer de próstata em pelo menos 50%.

Não foi o primeiro estudo a constatar essa vocação benigna do vírus. O mesmo grupo da Unicamp, liderado por Rodrigo Ramos Catharino, já havia demonstrado que o patógeno também é eficaz no combate a tumores no cérebro. O grupo de especialistas está estudando o uso do vírus contra outros tipos de tumores malignos e espera que, em cinco anos, já tenha alguma terapia disponível para o público.

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No trabalho mais recente, publicado ontem, os cientistas da Unicamp usaram células de adenocarcinoma de próstata. Eles constataram que, mesmo depois de ser inativado, o vírus consegue inibir a replicação das células. Os experimentos foram feitos com uma linhagem viral obtida a partir de amostras isoladas de um paciente infectado no Ceará, em 2015. Depois de cultivado em laboratório, o vírus foi aquecido a uma temperatura de 56º C durante uma hora para que o seu potencial de causar uma infecção fosse inibido.

"Na versão 'selvagem' (sem passar por inativação), o vírus poderia trazer efeitos indesejáveis e, portanto, não poderia ser usado como terapia", explicou Catharino, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp e coordenador do Laboratório Innovare de Biomarcadores.

O passo seguinte foi colocar uma cultura de células tumorais em contato com o vírus inativado. Após períodos de 24 e 48 horas, os cientistas compararam essa solução a um outro grupo de células cancerígenas que não tinham sido expostas ao vírus. Na análise feita após dois dias, a linhagem que ficou em contato com o vírus inativado apresentou um crescimento 50% menor do que a linhagem de controle. "Há redução real na atividade das células do tumor em mais ou menos 50%, o que já é excelente", disse o especialista. "Vemos, no futuro, uma terapia promissora."

O trabalho foi feito pela estudante de doutorado Jeany Delafiori com a colaboração do doutorando Carlos Fernando Odir Rodrigues e com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A linha de pesquisa do grupo teve início há cerca de quatro anos, quando foi descoberta a relação entre a epidemia de zika e o aumento dos casos de microcefalia no País. Depois que estudos confirmaram que o vírus era capaz de infectar as células neurais dos embriões, Catharino resolveu testá-lo em linhagens de glioblastoma - o tipo mais comum e agressivo de câncer do sistema nervoso central. A redução, no caso, foi de 40%.

"O próximo passo da investigação envolve testes em animais", contou Catharino. "Caso os resultados sejam positivos, pretendemos buscar parcerias com empresas para viabilizar os ensaios clínicos."

Casos

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), 60 mil novos casos de câncer de próstata são registrados todos os anos no País. Trata-se do segundo tipo mais incidente entre os homens, atrás apenas do câncer de pele. O novembro azul é uma campanha internacional que visa a chamar a atenção para a prevenção e o diagnóstico precoce da doença.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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