Crianças online: qual é o limite?

‘Contato exacerbado da criança com as tecnologias é também uma forma de conforto para quem cuida delas’, afirma psicóloga

por Katarina Bandeira sab, 12/10/2019 - 15:17
Júlio Gomes/LeiaJáImagens Danielle Clericuzi é mãe de Pietro e defende o uso controlado dos dispositivos Júlio Gomes/LeiaJáImagens

Desenhos animados a qualquer hora do dia, canais do YouTube focados em conteúdos infantis, jogos de celular feitos para faixas etárias menores de 5 anos. Vivemos tempos de conexão constante e este não é um privilégio apenas dos adultos. Todos os dias, milhares de crianças são influenciadas por conteúdos que assistem em tablets, smartphones e computadores. Dispositivos muitas vezes vistos como aliados dos pais, por distraírem os pequenos, mas que também podem ser grandes vilões do desenvolvimento infantil. Em meio a era ‘online’ você sabe qual o limite saudável do uso da tecnologia por crianças?

Danielle Clericuzi é mãe de Pietro, de 9 anos e defende o uso controlado dos dispositivos. “Eu comecei a dar acesso a ele usando o meu celular. Nunca permiti que ele tivesse o próprio tablet, sempre sob minha supervisão até para conseguir acompanhar o que ele acessa”, conta. Ela também estabelece limites de uso, dependendo do desempenho escolar ou das atividades extras que a criança precise realizar. “Hoje ele pode ficar uma hora, sempre bem controlada. Se estiver bem na escola, pode ficar mais tempo, mas se vai ter semana de prova não fica sob hipótese alguma”, afirma.

Apesar da vista grossa, ainda assim é difícil acompanhar tudo o que as crianças consomem online. “Nem sempre consigo assistir tudo o que ele assiste porque são muitos canais e é muita informação, mas sempre tento conversar com ele sobre o que ele tem visto”, diz e afirma que - quando o conteúdo é de um canal novo é importante sempre ver qual tipo de conteúdo é veiculado, para ter certeza que é apropriado para a faixa etária da criança.

Normas de criação de conteúdo mais rígidas

Para ajudar os pais nessa tarefa, no mês de setembro, o próprio YouTube - uma das plataformas mais usadas pelas crianças - tornou mais rígida a supervisão de conteúdos voltados ao público infantil. Em um comunicado oficial, a companhia afirmou que estaria mudando as permissões para os criadores de conteúdo. 

"Limitaremos a coleta de dados e o uso em vídeos feitos para crianças apenas ao necessário para apoiar a operação do serviço. Também deixaremos de veicular anúncios personalizados inteiramente sobre esse conteúdo, e alguns recursos não estarão mais disponíveis como comentários e notificações. Para identificar o conteúdo criado para crianças, os criadores serão solicitados a nos informar quanto o conteúdo deles se enquadra nessa categoria, e também usaremos o aprendizado de máquina para encontrar vídeos que visam claramente o público jovem, por exemplo, aqueles que têm ênfase em crianças personagens, temas, brinquedos ou jogos", diz o comunicado.

Essas restrições foram feitas após análises de especialistas e pais, tornando mais rígida a fiscalização em vídeos e canais com intuito de atingir o público infantil. "Com um boom no conteúdo da família e o aumento de dispositivos compartilhados, a probabilidade de crianças assistindo sem supervisão aumentou" diz a empresa.

Para a psicóloga Olga Miranda, esse não é apenas um papel das empresas, mas principalmente dos responsáveis pelo desenvolvimento dos pequenos. “Primeiro é preciso questionar o que vem acontecendo para os pais ou cuidadores estarem facilitando esse contato com celulares, tablets, TV”, diz. “O contato exacerbado da criança com as tecnologias é também uma forma de conforto para quem cuida delas. Hoje, parece que está sendo mais complicado fazer esse papel atencioso, mas completamente importante, que é de cuidar, brincar, ter esse tempo tão  precioso para criança”, afirma. 

O que diz a OMS

Em abril, a Organização Mundial de Saúde (OMS), lançou uma cartilha para ajudar os pais e responsáveis a entenderem qual é o limite saudável para uma criança ficar conectada. Para a agência de saúde crianças com até 5 anos não devem passar mais de 60 minutos assistindo a uma tela todos os dias. Já bebês com menos de 12 meses não devem ter nenhum acesso à dispositivos eletrônicos. Para a organização os responsáveis devem se esforçar para se envolver em brincadeiras interativas, principalmente para evitar a obesidade infantil.

Olga reforça esse posicionamento, alertando, inclusive para problemas neurológicos no futuro, mas ressalta que isso depende dos limites impostos por cada núcleo familiar.“Fala-se muito do sedentarismo, de alguns problemas neurológicos, todos resultantes do consumo passivo e excessivo de entretenimento, ou seja, recebe-se muitas informações ao mesmo tempo e isso pode acarretar, sim, em alguns sintomas. Mas não é uma regra”, diz a psicóloga. “Sair da zona de conforto é necessário, logicamente entendendo o limite de cada família”, afirma.

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