Influenciadores falam de racismo e muitas coisas mais

Youtubers de Belém mostram que o debate sobre raça deve estar presente nas redes. Mas não apenas isso.

ter, 22/12/2020 - 14:00

As redes sociais abriram grandes espaços na sociedade atual. Atores, cantores, chefs de cozinha, celebridades em geral ou anônimos, recorrem a essas mídias para se aproximarem de fãs ou conhecer pessoas. 

Youtubers se tornaram os novos digitais influencers. Como eles, muita gente sonha em fazer carreira na internet.

Em Belém, no momento em que o debate sobre o racismo ganha o mundo, influenciadores pretos estão fazendo a diferença na internet. Amanda Campelo, jornalista e influenciadora digital, traz em seu instagram conteúdos sobre moda, jornalismo e cultura paraense. “Eu comecei a produzir conteúdo mais porque eu sentia uma falta de inspiração e principalmente de representatividade. Eu não me via nas outras meninas que eu já sabia que estavam produzindo conteúdo”, disse. “Eu comecei a produzir para a internet por volta de 2011 e 2012, já fui blogueira, com um blog, e nessa época a maioria das meninas eram do sudeste, do sul. O meu primeiro grande projeto foi muito nesse sentido de querer fazer algo que tivesse a cara de alguém que mora em Belém.”

A jornalista relatou também algumas dificuldades enfrentadas por influenciadores digitais no Brasil e na sua própria cidade. “Falando do Brasil, a dificuldade é que a gente do Norte é invisível, é muito raro ter uma campanha em que chamem alguém daqui. Além da questão de eu ser uma pessoa negra, tem também a questão da quantidade de seguidores. Isso acaba pesando para muitas empresas. Tem muito de as pessoas daqui ainda não entenderem a importância ou simplesmente não ligam para se ter uma proporção nos casts que elas fazem de influenciadores”, assinalou.   

“Essa questão das pessoas acompanharem o conteúdo é uma preocupação que eu sempre tive mesmo quando eu tinha cem seguidores ou mil seguidores, é uma responsabilidade”, comentou Amanda ao ser questionada sobre a influência que ela tem sobre seu público.

“Às vezes de forma mínima a gente tá influenciando as pessoas e servindo de modelo", observou Amanda. "Para mim, o Instagram foi uma mudança de chave nesse requisito, porque quando eu comecei com o blog eu não via muitas meninas negras fazendo isso, ainda mais se tratando de moda que é um ambiente que acaba sendo mais fechado pra gente que é preto.”

“Além dessa questão de ter responsabilidade, de tentar ser um bom exemplo, eu tento também fazer com que outras pessoas também entrem nesse grupo para que cada dia mais a gente tenha não só representatividade mas que a gente tenha proporção nesse meio da produção de conteúdo”, disse a influenciadora .

O jornalista e influenciador digital Kadu Alvorada fala em suas redes sobre sua rotina e vivência diária e viagens e curiosidades do Pará. "Comecei a produzir conteúdo sobre cabelo crespo porque não via nenhum menino paraense fazendo esse tipo de conteúdo. Com o passar dos anos e a minha entrada no mercado de trabalho, fui amadurecendo minhas produções, comecei a falar sobre raça e sexualidade e atualmente falo da minha rotina, vida etc. O que me motiva a continuar é ser inspiração para outras pessoas semelhantes a mim”, relatou.

"Como um produtor de conteúdo que não fala somente de raça, tenho vários recortes e muitas vivências que perpassam a minha pele. Sou jornalista formado, mostro mil cidades e culturas do Pará, mas muitas vezes só se lembram de mim quando falo sobre raça ou quando vêm me cobrar posicionamentos sobre”, disse Kadu acerca dos entraves encontrados por influenciadores pretos.

O jornalista discutiu também um pouco sobre o alcance de seu conteúdo. “Meu conteúdo vai ser sempre pautado nas minhas vivências, seja raça, comunicação, cultura, reforma de casa ou sexualidade”, comentou.

O influenciador relatou também como se sente ao ser considerado referência para outras pessoas. “Fico muito honrado e feliz por estar sendo útil pra alguém. A produção de conteúdo é uma troca de conhecimento e todo dia aprendo e compartilho muita coisa. Amo muito”, disse.

Almir Bekko, estudante de Letras e influenciador digital, aborda assuntos como veganismo, plantas e autocuidados. “Eu acho que tem várias coisas que a gente tem que prestar atenção, uma delas é o fato das redes sociais terem um algoritmo problemático claramente racista. Só que o Instagram é usado por pessoas e essas pessoas são racistas, então obviamente o algoritmo vai reproduzir isso”, disse.

“Outra questão que me incomoda bastante é que as pessoas enxergam conteúdos produzidos por pessoas negras como conteúdos nichados. Eu já vi algumas pessoas falando sobre isso, como uma youtuber chamada Camila De Luccas, ela é negra, ela fala sobre racismo, obviamente porque se a gente não fala, quem vai falar? Só que esse não é o conteúdo dela, ela não fala só sobre racismo, ela fala sobre maquiagem, sobre roupas, sobre cabelo, mas ela sente que as pessoas só estão ali pra ouvir ela de verdade se ela estiver falando sobre racismo. As pessoas preferem seguir uma pessoa branca falando sobre looks e cabelo. Isso é muito complicado, é bem desconfortável na verdade. A gente tem que lutar pra mudar isso no final das contas”, completou Almir.

“No meu Instagram eu quero basicamente falar não sobre mim, mas sobre o que eu gosto. Tanto que eu abordo várias coisas além de racismo. Até porque é muito doloroso falar sobre racismo, eu não quero, não é saudável para mim. Óbvio que eu falo quando necessário mas é doloroso, não é uma coisa que eu quero ficar sentindo toda hora. Eu falo sobre veganismo, é um dos meus focos principais porque é comida e a gente come todo dia. Mas eu falo também um pouco sobre plantas, além de mostrar meus pratos eu mostro as receitas, eu falo um pouco sobre moda porque é uma coisa que eu gosto muito. Eu gosto dessa pluralidade”, relatou.

Por Yasmin Seraphico e Julia Pontes.

 

 

 

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