Telefones de funcionários da Al-Jazeera são alvo de hacker
Os programas espiões transmitem as informações dos telefones hackeados mediante uma série de servidores intermediários
Telefones de dezenas de funcionários da rede de TV do Catar Al-Jazeera foram hackeados, anunciou nesta segunda-feira (21) uma das pessoas afetadas, após uma investigação de especialistas no Canadá.
A operação de espionagem, que afeta 36 pessoas, foi revelada em relatório divulgado neste domingo (20) pelo departamento Citizen Lab da Universidade de Toronto, um centro de investigações especializado. "O impacto é muito claro e perigoso", declarou à AFP Tamer Almisshal, jornalista investigativo da Al-Jazeera em árabe, um dos afetados.
A emissora informou que entrou em contato com o Citizen Lab em janeiro, após suspeitas de que havia telefones hackeados. Especialistas do laboratório descobriram que os dados trocados por telefone eram enviados clandestinamente a um servidor hostil. "Obtivemos os registros" de um celular da rede da Al-Jazeera. "Nossa análise indica que o programa espião tinha um certo número de capacidades", aponta o relatório.
Segundo o laboratório, o programa pode capturar o áudio do microfone, fotos, buscar a localização de um aparelho e ter acesso a senhas e informações arquivadas. O ataque afetou "36 telefones de jornalistas, produtores, apresentadores e diretores da Al-Jazeera", bem como uma jornalista do canal Al-Araby baseada em Londres.
O Citizen Lab "conclui, com um grau médio de segurança", que dois dos "operadores" do programa espião, batizados de Monarchy e Sneaky Kestrel, trabalham para os governos de Arábia Saudita e Emirados Árabes, respectivamente. Esses países romperam relações com o Catar, que acusaram de apoiar movimentos islamitas, o que Doha nega.
Os programas espiões transmitem as informações dos telefones hackeados mediante uma série de servidores intermediários, que não permitem chegar diretamente a uma agência governamental, assinalou em Montreal Bill Marczak, principal autor do relatório. "Mas para o operador chamado Monarchy, pode-se observar que a maioria das pessoas afetadas estava na Arábia Saudita. De fato, um militante saudita que estava fora daquele país também foi espionado por esse operador", apontou.
O mesmo foi comprovado com o operador Sneaky Kestrel para os Emirados Árabes, acrescentou Marczak. Os hackers usaram o programa de espionagem Pegasus, desenvolvido pelo grupo NSO, de Israel, segundo o Citizen Lab.
"Sem esse processo de vigilância e observação (do Citizen Lab), não teríamos podido detectar" a invasão nos telefones, assinalou Tamer Almisshal. "É uma violação e um crime."