Como seria o mundo sem as redes sociais?

Há pouco mais de uma semana, Whatsapp, Facebook e Instagram passaram cerca de seis horas fora do ar, deixando boa parte dos usuários desnorteados

sex, 15/10/2021 - 15:10
Pixabay Redes sociais provavelmente seriam substituídas por outras dinâmicas de encontro. Pixabay

Há pouco mais de uma semana, Whatsapp, Facebook e Instagram passaram cerca de seis horas fora do ar. A queda de três das mais populares redes sociais em funcionamento deixou usuários desnorteados e causou um prejuízo de US$ 6 bilhões para Mark Zuckerberg, dono das empresas, bem como perdas incalculáveis a pequenos negócios. O mundo como conhecemos ainda seria viável sem essas plataformas? O LeiaJá conversou com alguns especialistas para entender de que forma as redes sociais já determinam nossos modos e meios de vida.

Cientista da computação e professor da CESAR School, Carlos Diego Cavalcanti destaca que, se as redes sociais deixassem de existir, o impacto da ausência delas seria especialmente sentido pelo mercado. “Com o recente episódio de interrupção das redes do Facebook, a Abrasel [Associação Brasileira de Bares e Restaurantes] reportou perdas de R$ 25 milhões de bares e restaurantes no Brasil. Depois da pandemia, 30% das entregas são feitas pelo aplicativo. Bancos e outros sistemas essenciais utilizam o Whatsapp como forma de validação de acessos de segurança. O Instagram e o Facebook são hoje os principais canais de vendas de muitas empresas que, se já não nasceram no digital, foram fortemente influenciadas por ele pós-pandemia”, comenta.

Cavalcanti menciona ainda a influência que as plataformas são capazes de exercer no comportamento humano. Em 2015, um relatório do GlobalWebIndex apontou que o brasileiro passa uma média de 3h40 por dia conectado à internet pelo celular. Ao todo, tal quantitativo chega a 26h por semana, o que equivale a mais de um dia investido exclusivamente no celular. “Ao ver uma curtida ou um comentário em uma foto, há uma reação química em nosso organismo causada pela dopamina, substância que ativa um sistema de recompensa no nosso cérebro, semelhante ao que faz a nicotina, ou seja, é uma ferramenta altamente viciante. Atualmente, podemos sim dizer que temos uma sociedade de alguma forma viciada em redes sociais. Então, essa privação poderia desencadear questões comportamentais importantes”, destaca.

O psicólogo Paulo Aguiar alerta para a capacidade das redes sociais de estimular uma postura narcisista em seus usuários. “Vivemos essa ideia de que a imagem é muito mais importante do que qualquer outra coisa. As redes sociais provocam na gente essa busca pela imagem perfeita, que consiga ter mais likes, mais curtidas, mais seguidores. Essa é uma questão que pode causar danos e sérios prejuízos para nossa construção subjetiva, que vai sendo pautada por uma imagem idealizada. O que isso causa depende de cada sujeito”, afirma.

História

Fundada em 1995, no Canadá, a ClassMates é amplamente reconhecida como a primeira rede social da história. A plataforma, que existe até hoje, tem o objetivo de possibilitar encontros de ex-colegas de sala de aula, de escolas ou faculdades, bem como do serviço militar.

O professor do departamento de Antropologia e Museologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Alex Vailati lembra que o termo “rede social”, contudo, já existia antes da criação da própria internet. “Surgiu nos estudos antropológicos em meados de 1950. Os antropólogos estavam interessados  em como se constituíam as relações interpessoais. Depois, a partir dos anos 1980, com a popularização da world wide web, os antropólogos começaram a realizar pesquisas online”, explica.

Para Vailati, a pane das redes sociais ocorrida na última semana, deve servir de ensejo para que sejam pensadas alternativas à concentração de capital que rege tais plataformas. No ano passado, a Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos e 48 autoridades estaduais do país, por exemplo, entraram com dois processos contra o Facebook, por monopólio ilegal. A empresa foi acusada pela compra das concorrentes Instagram, em 2012, e Whatsapp, em 2014, bem como de forçar concorrentes a não criar funcionalidades que pudessem rivalizar com as suas. 

“Caso as redes sociais que conhecemos não existissem, elas provavelmente seriam substituídas por outras dinâmicas de encontros, mais ou menos presenciais. Mais do que pensar em uma realidade distópica, há todo um embate sobre os códigos open source [do inglês, código aberto], porque basicamente o usuário não sabe o que acontece além daquela parede que é o Facebook”, pontua o antropólogo.

Como seria o mundo sem redes sociais?

1. Fim dos influencers?

Dada a grande quantidade de conteúdo que circula nas redes sociais, alguns usuários dessas plataformas passaram a desempenhar um papel de curadoria das coisas, ligando seu público a produtos relevantes. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Qualibest constatou que 76% dos usuários de redes sociais já compraram um item recomendado por influenciadores digitais. Sem as mídias como conhecemos, tal atividade seria pouco viável.

2. Aumento da importância da televisão

O levantamento "Digital Video and the Connected Consumer", realizado pela Accenture, mostrou que a televisão foi a única categoria de produto a ter o seu uso reduzido, na casa de dois dígitos, para telespectadores de todas as idades. A TV vem perdendo espaço para mídias como as plataformas de streaming e as redes sociais. Sem tais novidades, ela ainda monopolizaria a demanda de consumo de informações.

3. Blogs seriam mais relevantes

Sem as redes sociais, pequenos negócios, para os quais custa caro investir em um site próprio, precisariam se adptar para permanecer online, bem como ampliar a comunicação com os clientes. Além disso, seria possível que as pessoas voltassem, de maneira majoritária, a manter blogs pessoais, para compartilhar lembranças, ideias e preferências.

4. Diminuição do alcance das marcas

As redes sociais são importantes aliadas de quem precisa anunciar seus produtos com investimentos maleáveis. Nelas, é possível promover um post com qualquer valor. Com o fim de Instagram, Facebook, Whatsapp, dentre outras, o tráfego de público consumidor na internet diminuiria, reduzindo também o alcance das marcas. 

5. Menos feedback de clientes

Através das redes sociais, clientes são capazes de avaliar serviços, estabelecimentos e empresas, seja dando boas referências ou expondo falhas publicamente. Além de fornecer informações valiosas, o feedback social é capaz de promover um ciclo favorável à empresa, atraindo outros consumidores.

 

COMENTÁRIOS dos leitores