Vídeo do TikTok 'destruiu' 4,6 mil estudos científicos

Dica de uma influenciadora americana conseguiu 'arruinar' pesquisas comportamentais feitas por cientistas

por Jameson Ramos sex, 15/10/2021 - 18:07

Cerca de 4.600 estudos científicos foram "arruinados" por conta de um vídeo, de 56 segundos, publicado no Tik Tok pela jovem Sarah Frank, de 18 anos, moradora da Flórida, nos Estados Unidos. 

“Bem-vindos ao 'side hustles' [corres para ganhar dinheiro, em português livre] que eu recomendo tentar - parte um”, diz ela no vídeo, sugerindo para os usuários o site Prolific.com. Ela explica que o site é "basicamente, um monte de pesquisas para diferentes quantias de dinheiro e diferentes períodos de tempo". 

Esse vídeo, publicado em junho deste ano, já tem mais de 4,2 milhões de visualizações no Tik Tok, sendo responsável por fazer com que dezenas de milhares de novos usuários se inscrevessem na plataforma Prolific, que é uma ferramenta para cientistas conduzirem pesquisas comportamentais. 

O site The Verge aponta que, de repente, por conta do vídeo da norte-americana, os cientistas, que estavam acostumados a obter uma ampla mistura de assuntos em seus estudos, viram suas pesquisas inundadas com respostas de mulheres jovens em torno da idade de Frank.

Isso foi considerado um grande problema sem causa óbvia e sem uma maneira imediatamente clara para consertar, já que a Prolific não contava com uma ferramenta de triagem para garantir entregas restritas a amostras populacionais representativas para cada investigação. Sendo assim, a plataforma foi inundada de respostas de jovens, que acabaram alterando o rumo dos resultados. 

Antes de existir plataformas como a Prolific, todas as pesquisas em ciências sociais aconteciam em laboratório. "Você precisaria trazer alunos do segundo ano da faculdade e submetê-los a questionários, pesquisas e outros enfeites ”, disse Nicholas Hall, diretor do Laboratório Comportamental da Stanford School of Business, ao The Verge.

Ele complementa que isso “é um esforço enorme que exige muito tempo e mão de obra. A pesquisa online torna tudo muito mais fácil. Você programa uma pesquisa, coloca online e, em um dia, tem 1.000 respostas", disse.

Desconfiança

Pesquisadores começaram a desconfiar das características dos entrevistados semanas após o vídeo do TikTok viralizar. Sebastian Deri publicou em seu twitter que estavam surgindo títulos e descrições muito genéricas e que 91% dos entrevistados seriam mulheres, enquanto 7% são homens. "Como isso acontece?", indagou.

O cofundador da Prolific Phelim Bradley disse ao The Verge que muitos dos novos usuários parecem estar diminuindo atualmente. “Antes do TikTok, cerca de 50% das respostas em nossa plataforma vinham de mulheres”, revela.

“O aumento atingiu 75% por alguns dias, mas desde então, esse número está diminuindo, e atualmente estamos de volta a 60% das respostas vindas de mulheres”, complementa Bradley.

A Prolific reembolsou pesquisadores que tiveram os estudos afetados pelo aumento de mulheres que fizeram as pesquisas e introduziu um novo conjunto de ferramentas de triagem demográfica. Além disso, a empresa colocou uma equipe responsável pelo balanço demográfico para reconhecer e responder mais rapidamente a este tipo de problema no futuro.

COMENTÁRIOS dos leitores