Peso da mochila escolar causa danos à saúde
O projeto de lei que determina a pesagem das mochilas pretende eliminar o aparecimento de danos irreversíveis
Desde o ano passado entrou na pauta de discussão do Senado o limite de peso para mochilas escolares. Segundo o projeto, os materiais transportados nas mochilas não podem ultrapassar 15% do peso do aluno. Com a aprovação da lei, as escolas são obrigadas a disponibilizar armários para os alunos guardar parte dos materiais que serão utilizados no dia-a-dia.
O projeto do deputado Sandes Júnior (PP-GO) vem favorecendo o debate sobre o tema, mas segundo profissionais do setor da educação e da saúde, a proposta apresenta falhas, já que o texto não aponta como será feita a fiscalização nas escolas, ou aplicação de sanções para quem não cumprir a norma.
Segundo o médico ortopedista, Alexandre Arraes, do Hospital Jayme da Fonte, do Recife, a atenção deve ser redobrada para as crianças, pois é nesta fase que a coluna ainda está em processo de formação. Ele comenta que os problemas iniciados na infância podem durar para o resto da vida e que a criança que utiliza uma bolsa mal posicionada, está vulnerável a desenvolver distúrbios no sistema ósseo e muscular.
No início das aulas, muitos alunos se empolgam e querem carregar boa parte do material escolar nas costas. Por isso, é importante que os pais possam verificar se o filho está levando além do que é necessário, checar os quadros de horários para saber quais os materiais didáticos serão utilizados na aula do dia.
Tanto na infância quanto na idade mais avançada, os problemas causados pelo excesso de peso nas bolsas podem surgir imediatamente ou à longo prazo, como explica o médico ortopedista: "Hoje, a criança começa a frequentar a escola desde muito cedo, e uma criança pequena com uma bolsa um pouco desproporcional, aumentada em relação ao corpo dela, já começa a apresentar problemas de imediato. Às vezes está chorando e a mãe não sabe que é dor. Depois isso evolui para a primeira infância e a idade mais crítica que é a adolescência. É nessa fase que essas bolsas pesadas provocam os problemas que se fixam e vão prejudicar esse adolescente na idade adulta", reiterou o médico.
Questionado sobre o peso ideal para uma criança carregar na mochila, o médico considera que o percentual de 10% defendido por alguns especialistas ainda é considerado desproporcional para a criança. Para ele, a bolsa precisa ser bem leve e devem ser colocados apenas os livros com a matéria do dia. Se a criança optar pelos carrinhos, devem tomar cuidado para não fazer torção no corpo ao puxar a bolsa de rodinhas.
Ao identificar qualquer desvio na postura dos filhos, os pais devem procurar ajuda de um especialista, para evitar que essas consequências provoquem situações mais sérias, como a lordose, que gera o aumento anormal da curvatura lombar - conhecida popularmente como corcunda - e a escoliose, identificada pelo desvio lateral da coluna. Essas deformidades podem geram doenças limitantes, que muitas vezes deixam as pessoa semi incapazes.
Bons exemplos
Algumas escolas particulares do Recife já contam com armários onde os alunos podem guardar os materiais. De acordo com a lei, as escolas públicas deverão incluir os gastos de instalação dos armários, com base no cálculo do custo mínimo por aluno.
Segundo o diretor administrativo do Colégio Avance, que fica no bairro do Ipsep, na Zona Sul da capital pernambucana, a escola passou a adotar livros-apostila, que são divididos em quatro ou três bimestres, o que possibilita a diminuição da sobrecarga do material transportado. "Nas salas de aula, disponibilizamos armários para todos os alunos", informou.
Com o advento da tecnologia, algumas escolas do Recife já estão implantando a utilização de tablets em sala de aula. Os conteúdos na plataforma digital visam colaborar no processo de aprendizagem. Nos dispositivos, os alunos leem e-books e bibliografia complementar que não precisam ser impressas, diminuindo assim, a quantidade de livros em papel.
A queixa de pacientes com problemas causados pelo uso incorreto das mochilas é bastante comum nos consultórios de especialistas. As principais alterações físicas são diferença de ângulo dos joelhos, e alterações de posicionamento dos pés. A prática de alguma modalidade esportiva pode ajudar a criança a manter a postura correta, ressalta o médico ortopedista. "O esporte é de um valor saudável para o desenvolvimento muscular e a sustentação óssea nas retas da criança", concluiu.
Reforçando: A recomendação é que os pais estejam sempre atentos a qualquer alteração corporal da criança e procurar a ajuda de um médico. E na hora de comprar as mochilas, vale a pena pesquisar bem.