PCR promete garantir escola para criança com microcefalia

Já a Rede Estadual de Ensino de Pernambuco ainda não possui um projeto de ensino para receber estudantes com má formação no cérebro

por Nathan Santos sex, 05/02/2016 - 16:36

O Brasil vive um momento nunca visto em sua história. De forma inesperada, os casos de microcefalia aumentaram consideravelmente e esboçaram um desafio que passou a ser realidade nas vidas dos médicos, dos pais das crianças diagnósticas e entre os representantes do poder público. Estimativa feita pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) aponta que neste ano, 16 mil novos casos serão identificados. Mas independente dos números e providências tomadas pelos órgãos competentes, uma conjuntura já se faz presente entre muitas famílias: como será o futuro dessas crianças? Entre tantas dúvidas, surgem também questionamentos sobre a vida escolar dos pequenos.

Em Pernambuco, um dos estados que apresenta grande quantidade de crianças com microcefalia, a Rede Estadual de Ensino ainda não possui um plano de ensino ou projeto que visa receber estudantes com má formação no cérebro. De acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria de Educação do Estado, as escolas estaduais não possuem, atualmente, alunos com a anomalia. Segundo a assessoria, o primeiro atendimento escolar feito para essas crianças será de responsabilidade das escolas municipais, uma vez que elas são responsáveis pelo ensino infantil e fundamental. Só depois dessa fase os pequenos chegarão ao ensino médio, que fica sob os cuidados das escolas estaduais.

Diferente da Rede Estadual de Ensino de Pernambuco, as escolas municipais recifenses já têm experiência de ensino para crianças diagnosticadas com microcefalia. De acordo com a Secretaria de Educação da capital pernambucana, dois alunos apresentam a má formação cerebral e estudam, na perspectiva da educação inclusiva, fazendo valer um direito de todo o cidadão brasileiro. Nivaldo Gomes de Souza Júnior, de 12 anos, teve a oportunidade de estudar e trabalhar formas de se desenvolver, tanto pedagogicamente quanto pessoalmente. Aluno do terceiro ano do ensino fundamental da Escola Municipal Diácono Abel Gueiros, no bairro da Macaxeira, Zona Norte do Recife, o jovem começou a desfrutar da vida escolar no ano passado. “Ele passou quatro anos em uma escola particular e não conseguia se desenvolver. Do começo do ano para cá, a gente já notou que ele está mais falante, consegue escrever o próprio nome e tem uma boa relação com os colegas”, afirma a mãe do estudante, Ana Paula da Silva, conforme informações da assessoria de imprensa da Secretaria de Educação.

Outro exemplo é Glauciane Kelly da Silva Barbosa, de 8 anos. Além de ter microcefalia, ela foi diagnosticada com Síndrome de Down. Sua mãe, Maria Elizabete da Silva, não abriu mão de educar a filha na escola. “Ela não andava e não falava quando entrou na creche, com 2 anos. Hoje ela consegue até comer sozinha e interage com os outros meninos”, conta dona Maria, conforme informações da assessoria. “Eu fico muito despreocupada porque aqui (na escola) eu sei que ela é bem cuidada”, complementa. A professora de Kelly, Vilma dos Montes Alves, procura trabalhar atividades diversificadas que ajudam no desenvolvimento da garota. “Nós trabalhamos com algumas atividades diferenciadas porque eles não conseguem acompanhar o conteúdo vivenciado em sala de aula. Nós incentivamos a coordenação motora, atividades lúdicas, como jogos, e atividades curtas de escrita”, explica a docente.

Em entrevista ao LeiaJá, a chefe da Divisão de Educação Especial da Prefeitura do Recife, Lauriceia Tomaz, afirma que a Rede Municipal está preparada para receber todas as crianças diagnosticadas com microcefalia. Porém, ela esclarece que cada aluno terá um atendimento conforme os níveis de deficiência diagnosticados. “A microcefalia pode acarretar várias deficiências. A gente ainda não sabe quais serão as limitações de cada criancinha diagnosticada agora a pouco. Cada caso é um caso. Eu garanto que todos têm o amplo direito de estudar com qualidade e nós vamos garantir tudo isso”, explica Lauriceia.

De acordo com Lauriceia, a Rede Municipal do Recife possui 770 professores especialistas em educação especial. Desses, 254 estão atuando no contexto das aulas inclusivas, porém, o número ideal é de 300 docentes em atuação. Entre as atividades trabalhadas com os alunos com deficiência, no contraturno das aulas normais eles passam por atendimentos específicos em 98 salas multifuncionais, onde são identificadas todas as limitações dos estudantes para que se possa trabalhar o melhoramento desses problemas. Confira no vídeo a seguir a entrevista com a chefe da Divisão de Educação Especial:    

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A neuropediatra Vanessa Van Der Linden acredita que a vida escolar traz benefícios para as crianças com algum tipo de deficiência. Além de ser um espaço que propicia experiências sociais, a sala de aula, segundo a médica, pode ajudar os pequenos praticarem suas habilidades. “Mesmo uma criança com deficiência, independente se mental ou motora, a escola é super importante para ela. É lá onde a criança socializa e desenvolve suas capacidades. Ela tem esse direito! Agora, o desenvolvimento dela não será igual ao de uma criança sem deficiência. Por isso, deve ser feita uma avaliação individual para a escola identificar como será o ensino do aluno”, explica a neuropediatra.

De acordo com a Secretaria de Educação do Recife, as escolas municipais possuem, ao todo, 3686 estudantes com deficiência, transtornos ou altas habilidades. Desse total, a grande maioria (2361 alunos) possui deficiência intelectual. 

 

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