Mulheres negras lutam por espaço e reconhecimento

Saberes, resistência e ancestralidade foram temas abordados em palestra seguida de debate na UNAMA - Universidade da Amazônia, em Belém

por Cleo Tavares qui, 22/11/2018 - 10:53

A UNAMA – Universidade da Amazônia realizou na terça-feira (20), no auditório David Mufarrej no campus Alcindo Cacela, em Belém, a palestra "Mulheres negras, saberes, resistência e ancestralidade na Amazônia". O evento faz parte do calendário de responsabilidade social da instituição.

O coordenador do curso de História, Diego Pereira, destacou que o objetivo da palestra é registrar, para a comunidade acadêmica, o Dia da Consciência Negra. "Esse tema não se remete apenas ao dia 20, por isso o nome 'Mulheres negras, saberes, resistência e ancestralidade na Amazônia”, expressou Diego

A ativista Maria de Nazaré falou que a historiografia oficial não conta essa história da participação do negro na sociedade brasileira. “A gente vem provocando esse debate, atuando fortemente com a aplicação da lei, nas palestras, nos organizando e reivindicando nossas demandas e cada vez mais lutando para que a gente possa ter mais oportunidades. Nessa luta houve muitas mulheres negras, dentre elas Dandara, Aqualtune, Acotirene. Nada mais justo que mostrar que ao longo dessa história as mulheres negras se fizeram presentes”, disse Maria.

 A ativista também comentou sobre a participação de negros nas universidades. “Nós achamos necessário criar um NEAB (Núcleo de Estudantes Afro-Brasileiros), para que negros e negras entrem nesse espaço, para que eles possam pesquisar e falar sobre isso dentro das universidades. A gente ainda está numa discussão embrionária. Nós não somos iguais, nós somos diferentes e queremos ter direitos iguais e oportunidades iguais, tanto do poder público como da sociedade geral. As universidades privadas também precisam ter esse olhar diferenciado. Não basta falar sobre essas pessoas, essas pessoas precisam ser sujeitos de sua própria história, precisam falar de si, precisam estar também representadas no espaço de docência que eu considero de extrema importância”, declarou.

A professora Joana Carmen do Nascimento ministrou palestra e apresentou sua tese de doutorado sobre o tema “Mulheres do território amazônico". "Vai das mulheres urbanas a mulheres do campo, as quilombolas, as quebradoras de coco, as ribeirinhas, com toda a sua história de ocupação desses territórios tradicionais que é onde a gente reside. A nossa pesquisa sobre a ancestralidade localiza as mulheres negras. Nós não sabemos quem nós somos, de onde nós viemos; nós sabemos que contaram para nós o lugar da mulher negra”, reiterou Joana.

Joana também falou sobre a população negra na amazônia. “O Estado do Pará é o maior no número de população negra no Brasil, mas a gente acha que não tem negro na Amazônia, não tem negro no Pará. A importância desse debate é prioritariamente reconhecer, conhecer o que a historiografia não nos ensinou na escola e debater. Agora só precisa fazer uma nova forma de educar, um novo currículo educacional pra que a gente consiga se ver na formação, na formação do professor de História. Que História nós estamos aprendendo e que História nós estamos contando? Aproveita o mote da consciência negra e traz para o debate o espaço que nos trouxeram até aqui”, finalizou.

 

 

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