UFRJ concede título de doutora a Carolina Maria de Jesus

Escritora deixou uma obra literária que a colocou como peça fundamental na luta antirracista

sex, 26/02/2021 - 17:41
REPRODUÇÃO/ACERVO INSTITUTO MOREIRA SALLES Escritora Carolina Maria de Jesus REPRODUÇÃO/ACERVO INSTITUTO MOREIRA SALLES

A UFRJ reconheceu, nesta quinta-feira (25), Carolina Maria de Jesus como doutora Honoris Causa, com a concessão do título pelo Conselho Universitário (Consuni). A aprovação da outorga da distinção foi unânime, e por aclamação. Conforme o parecer que fundamentou a concessão do título, nos últimos seis anos, sua obra foi tema de 58 teses e dissertações, segundo o portal de publicações acadêmicas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Carolina nasceu em 14 de março de 1914, em Sacramento, cidade próxima de Araxá e da região do Triângulo Mineiro. Aos 7 anos ingressou no Colégio Allan Kardec, de orientação espírita, onde ficou até o 2º ano do ensino fundamental. A jornada de escritora começou após os 30 anos, quando se mudou de Minas Gerais para São Paulo, após a morte da mãe. Em 1937, aos 33 anos e grávida, passou a viver na favela do Canindé, zona norte da capital paulista, e a se sustentar como catadora de papel. Aproveitava os cadernos usados que recolhia para registrar o cotidiano em que vivia. Assim, deixou uma obra literária que a colocou como peça fundamental na luta antirracista.

Com o apoio do jornalista Audálio Dantas, em 1958, Carolina publicou o primeiro e mais famoso livro, ‘Quarto de Despejo’, a partir de anotações em vinte cadernos. O sucesso da publicação lhe permitiu mudar para o bairro de classe média de Santana. Três anos depois, publicou o romance ‘Pedaços de Fome’ e o livro ‘Provérbios’. Carolina nunca quis se casar e teve três filhos, todos frutos de relacionamentos diferentes. Morreu em fevereiro de 1977, aos 62 anos, de insuficiência respiratória. Outras seis obras foram publicadas após sua morte, compiladas a partir dos cadernos e materiais deixados pela autora.

Do ponto de vista de Susana Castro, diretora do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (Ifcs/UFRJ) e responsável pela sugestão da honraria, a concessão tem vários aspectos importantes, entre eles o reconhecimento de Bitita no cenário intelectual, artístico e literário brasileiro. “É uma escritora cuja obra é de uma poesia ímpar, que por si só a faz ocupar lugar de destaque entre as escritoras nacionais. O tempo todo é perceptível nas obras o lirismo… Uma preocupação da autora em resguardar aspectos do ambiente em que vivia que, sob olhares, seriam considerados só inumanos devido à miséria e às condições sanitárias. Isso mostra uma grande veia poética, um domínio da capacidade de descrição pela linguagem”, atentou a professora.

A honraria Honoris Causa, que significa “por causa de honra”, é concedida independentemente da instrução educacional a quem se destacou por suas virtudes, méritos ou atitudes. No Brasil, cada instituição de ensino superior define pelo regimento interno quem receberá o título, tendo sido a UFRJ uma das primeiras instituições a concedê-lo, em 1921.

 

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