Sisu: o risco de escolher um curso só porque 'a nota deu'
Optar por um curso que não é do seu interesse pode gerar prejuízos, alerta professores
As inscrições para o Sistema de Seleção Unificado (Sisu), que oferece mais de 200 mil oportunidades em instituições públicas do país nesta edição, começaram nessa terça (6) e vão até o próximo dia 9. O estudante pode selecionar até duas opções de curso, modalidade e instituição em que almeja estudar. É necessário, ainda, para participar da seleção, que o candidato tenha realizado o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020, entre outros requisitos ligados à prova.
Durante o processo de candidatura às vagas, alguns candidatos acabam optando por cursos que não são prioridade, uma vez que suas notas não foram suficientes para a graduação sonhada. Isso pode gerar problemas ao estudante.
De acordo com dados do Censo da Educação Superior, durante o período de dez anos de acompanhamento da trajetória dos ingressantes no ano de 2010, 59% desistiram de seu curso até 2019. Para a professora de português e redação Lourdes Ribeiro, o risco principal em escolher um curso que não gosta é que o estudante acabe abrindo mão da formação. “O curso superior já é um curso bem puxado e sempre vai haver alguma disciplina que a gente não vai se identificar tanto. E aí o grande risco de escolher um curso que você não gosta é que você não consiga concluir, porque acaba ficando desmotivado e vai ficar mais difícil superar as disciplinas que não gosta", alerta. "Não é perda de tempo e conhecimento, mas você poderia estar investindo aquele tempo estudando o que você realmente se identifica e, consequentemente, sendo um profissional, um estudante com mais êxito”, acrescenta a docente.
Lourdes aconselha o estudante que pensa na possibilidade de ingressar em um curso que não condiz com o seu perfil, somente pelo fato de seu resultado não ter sido suficiente para entrar na graduação almejada. "Eu recomendo que pesquise as disciplinas, porque o que ele pode fazer se não passou no que ele queria, é encontrar um curso similar, porque nesse curso similar, ele vai poder abater as disciplinas depois. Então, por exemplo, se você quer cursar jornalismo e você não conseguiu, você tem a possibilidade de cursar letras e aí já adianta algumas disciplinas ”, explica.
Acerca do assunto, o professor de redação Diogo Xavier opina: “Quando se escolhe um curso com o qual não se tem afinidade, só porque é o que ‘dá para passar’ com a nota que o fera tirou, há a possibilidade de o fera ser pressionado pela família ou por si próprio a ir até o final, só para ter um curso superior. Mas isso pode gerar um profissional infeliz, insatisfeito com o que faz, frustrado. Muitas vezes, na correria do trabalho, não consegue mais tempo ou disposição para fazer o curso que desejava de fato”, avalia.
“Por isso oriento que o jovem pondere dois fatores: se a nota não foi suficiente para o curso que deseja (e se não são boas as chances para a lista de espera), existe outro que desperte o interesse? Caso sim, o fera pode arriscar começar o curso para ver se existe uma identificação. É comum que estudantes se encontrem e se realizem em formações que não eram sua primeira opção; se não há curso de interesse possível para a nota que tirou (é interessante pesquisar sobre as opções possíveis para a nota, pois dificilmente o jovem pensou a respeito de todos os cursos disponíveis), a minha recomendação é que não invista em algo que não desperta seu interesse, tirando a vaga de uma pessoa para abandonar logo em seguida ou se tornar um profissional frustrado. Nesse caso, é melhor tentar novamente ou verificar outras opções viáveis, como Prouni, Fies ou desconto junto a instituições privadas de ensino superior, como as do grupo Ser Educacional”, aconselha Xavier.
De acordo com o coordenador pedagógico do Colégio GGE, José Veiga, escolher um curso que não gosta aumenta a possibilidade de ocorrência de implicações que afetarão o emocional e a saúde mental do estudante. “Na busca pela aprovação no curso superior, muitos candidatos imprimem um esforço muito grande na realização desse objetivo (preparação, Sisu, Prouni), e muitas vezes se esquecem da importância da escolha correta do curso, em consonância com suas habilidades, competências e interesses, além disso, muitos acabam optando por um curso que não desejam, apenas para divulgação em redes sociais de sua aprovação ou uma satisfação da família", diz. "Dessa forma, o candidato assume um grande risco, pois a probabilidade de evasão, frustração e desmotivação se torna grande, afetando seu emocional, prejudicando sua saúde mental, já que está estudando áreas que não trarão perspectivas de futuro promissor, além de estar tirando a vaga de uma pessoa que realmente tem interesse e almeja essa determinada profissão. Como a universidade é um investimento de tempo e dinheiro, é fundamental que se visualize que você pode passar muito tempo estudando algo que não lhe despertará interesse”, afirma.
Veiga comenta, também, qual a importância do papel da coordenação pedagógica na orientação do aluno para que ele não escolha uma graduação sem desejá-la. “A coordenação pedagógica tem uma função extremamente importante nesse processo, pois ela visualizará rendimentos, habilidades, competências e interesses, no decorrer de todo processo, auxiliando o aluno na tomada de decisão, como também, verificar se o estudante está seguro em sua escolha, alinhando com o setor de psicologia e com a família para que trabalhem juntos nesse processo de orientação profissional”, detalha.
O coordenador pedagógico orienta, ainda, os estudantes: “O conselho que dou é que você precisa perseguir seu sonho, a realização e concretização muitas vezes requerem tempo, amadurecimento, esforço, dedicação e paciência. Não deixe de buscar a realização de seus objetivos, tenha foco para entender e buscar aquilo que almeja, tenha força, para perseverar diante das adversidades e tenha fé, primeiramente uma força maior, independentemente de sua religião, e segundo em você mesmo, acredite que é capaz e que vai romper qualquer barreira ou ventura que apareça em seu caminho”, finaliza José.
A plataforma educacional Beduka disponibilizou, gratuitamente, um teste vocacional em parceria com o projeto Vai Cair No Enem. O Beduka também oferta uma ferramenta de pesquisa que traz informações sobre universidades e cursos.