Empreendedorismo e sustentabilidade: o mercado dos brechós
Negócio de artigos usados cresce significativamente no Brasil nos últimos dois anos
Brechós, bazares e comércios de antiguidade movem a economia em Pernambuco e no Brasil. A categoria parece na Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), que ajuda a dividir os diferentes tipos de negócios e entender mais sobre o desempenho destes empreendimentos no país.
Em uma pesquisa apresentada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em 2023, o Brasil possui 118.778 brechós ativos e com um aumento de 30,97% nos últimos cinco anos. O mercado está em ascensão pelo público que vem se interessando em pagar menos e em ser sustentável.
Números do Sebrae mostram que a pandemia gerou uma redução na criação de novos empreendimentos no primeiro semestre de 2020, mas se recuperou nos dois anos seguintes, com o total de 2.308 brechós criados no primeiro semestre de 2022.
A analista do Sebrae Pernambuco, Edielsen Gomes acredita que houve uma mudança significativa na relação da clientela com o comércio de artigos usados, algo muito procurado hoje em dia.
“A gente identifica, em primeiro caso, uma mudança no comportamento do consumidor. Hoje a gente vê as pessoas muito mais dispostas a estar comprando coisas de segunda mão que antes eram vistas de uma forma ruim e hoje ganha um novo significado, muito mais por esse comportamento de ser mais sustentável e ser politicamente correto”, afirma Edielsen.
No Brasil, o estado com mais negócios deste ramo é São Paulo, com 4.636 lojas. O Sul não fica de fora com participação significativa de todos os estados com 500 a 2.000 lojas. Com exceção de Piauí, Maranhão, Alagoas e Sergipe, o Nordeste possui uma média de 100 a 500 lojas por estado, um número que tende a aumentar.
Rafaella Pontes de Carvalho tem 35 anos e faz parte das estatísticas nordestinas. Com um brechó em Pernambuco, a empresária comanda um negócio produtivo há mais de uma década no ambiente virtual e a mais de quatro anos com loja física.
Vivendo do brechó
Foto: Júlio Gomes/LeiaJá
O Garimpo das Grifes surgiu em 2008, no início como apenas um desapego de Rafaella das suas roupas usadas. Na época, ela trabalhava na grife Farm e por isso recebia muitas roupas de marca que não eram utilizadas. Para resolver isso e ainda juntar um dinheiro, ela começou a publicar as peças que não queria nas suas redes sociais para conhecidas próximas.
“Quando foi 2009 eu criei esse nome “Garimpo das Grifes”, mas era uma coisa só minha e para minhas amigas, não era nada muito concreto. Foi em 2011 que eu realmente tive a ideia de fazer eventos do brechó e abrir um MEI para mim, fiz um CNPJ e comecei a trabalhar com isso”, relembra a empreendedora.
Os eventos aconteciam de forma periódica a cada dois meses para expor as roupas do brechó, que até então era apenas on-line. Com o passar do tempo, o Garimpo das Grifes se fortaleceu no mercado e Rafaella sentiu a necessidade de abrir sua própria loja física, em 2019.
Hoje em dia, o Garimpo das Grifes conta com mais de 500 fornecedores, todos pela consignação onde uma porcentagem vai para o fornecedor e a outra fica com o brechó. Dessa forma, o empreendimento mantém uma diversidade no estoque e oferece peças femininas, masculinas, infantis e até decorações para casa.
“São peças de fornecedores, damos preferência a peças de marca mas não precisam ser todas. Então, uma peça que seja mais atual, da modinha, a gente pega também porque aqui a gente atende todos os públicos”, conta Pontes.
Mudança de público
Apesar de quase quatro anos com loja física, Rafaella reconhece que o público virtual ainda representa grande parte das vendas do brechó, correspondendo a 50%. Por isso, o negócio se compromete em deixar as redes sociais sempre atualizadas, com novas roupas e novidades para que o público on-line não se afaste.
Por estar no mercado há bastante tempo, a empreendedora consegue perceber bastante a diferença de público de anos atrás para hoje em dia, e como o mercado do brechó tem sido mais procurado pelo público geral.
“Quando eu comecei, eu senti que, no começo, as pessoas tinham um pouco de receio por se tratar de artigos usados. Não é só questão de receio, mas também falta de conhecimento. Ninguém sabia o que era brechó, quando eu comecei a fazer em 2011 o pessoal fazia ‘o que é brechó? É um bazar?’. (...) Mas hoje em dia, a aceitação e a procura tem crescido bastante, bastante mesmo”, afirma.
Um dos motivos mais levantados, inclusive por Rafaella, é que o brechó defende duas vertentes importantes para os anos atuais: o econômico e o ecológico. Então são lugares que oferecem um vestuário mais acessível ao público e ainda promovem uma moda sustentável, uma bandeira que está sendo mais levantada.
Apesar de ser formada em direito, Rafaella Pontes se aventurou no mercado da moda e dos brechós e, hoje em dia, sustenta apenas com o lucro do seu negócio. A empreendedora diz estar realizada com seu trabalho e espera crescer mais:
“Eu estou muito satisfeita com meu negócio. Eu amo o que eu faço e quando você trabalha com amor as coisas fluem de maneira natural. Então eu quero que minha empresa cresça e passe essa ideia de oportunidade, né? Porque o brechó é oportunidade. Você comprar uma peça bacana por um preço acessível, é uma oportunidade”, finaliza a dona do Garimpo das Grifes.