Onde estão os frevos inéditos na capital pernambucana?
Mesmo com o incentivo da PCR em festivais, divulgação das composições ainda é precária
Por Karolina Pacheco
O ano de 2012 finalmente chegou, e as cidades de Recife e Olinda já começam a voltar suas atenções para o carnaval, uma das festas mais populares do ano. Aqui no Recife, capital multicultural (como a própria gestão municipal se auto-intitula), muitos estilos musicais têm sido difundidos, sobretudo o frevo, considerado pela maioria dos pernambucanos como o gênero que mais identifica a nossa cultura. Só que há um problema pouco colocado em evidência: o fato de que, em todos os carnavais, os frevos tocados serem sempre os mesmos "de antigamente".
A prefeitura da cidade até que tenta, promovendo, por exemplo, o tradicional Festival de Músicas Carnavalescas do Recife, que em sua proposta premia composições carnavalescas distribuídas em cinco categorias: frevos de rua, frevos de bloco, frevo-canção, caboclinho e maracatu.
As propostas para este ano saíram há exatos dois meses, mas a poucos dias, as canções foram divulgadas na internet, que apesar de ser um ambiente de vasto alcance, não atinge plenamente o público que curte o carnaval. Resultado: os hits do carnaval pernambucano são geralmente músicas trazidas de outros estados, geralmente da Bahia.
Este ano, o grande vencedor do festival, que aconteceu em novembro no Parque Dona Lindu, foi o consagrado compositor pernambucano e grande entusiasta desses festivais, Getúlio Cavalcanti, campeão por dois anos consecutivos na categoria Frevo de Bloco e vencedor dos primeiros lugares nesta categoria e na de Frevo Canção, com as músicas "Quem sou eu pra te esquecer" (interpretada pelo Coral Edgar Moraes com arranjo do Maestro Duda) e "Contradição", respectivamente.
Em “Contradição”, a interpretação fica por conta da sua filha, Alessandra Cavalcanti. “Ela se dá muito bem com minhas músicas, tem interpretado há bastante tempo, e esse frevo canção é bem carnavalesco, para a massa cantar", comenta.
Sobre a circulação das músicas, Getúlio é um tanto pessimista, e afirma que as novas composições muitas vezes ficam desconhecidas pelo grande público. "Não há divulgação aqui no Recife. Tem rádios que você escuta durante o dia quatro ou cinco vezes músicas de fora, mas para que a música da gente toque, temos muitas vezes que implorar”, protesta o compositor. Segundo ele, as músicas de outros estados, especialmente as baianas, tem divulgação nas rádios porque são pagas para serem executadas.
Premiação - Além do troféu, confeccionado pela artista plástica Ana Santiago, foram entregues prêmios de R$ 10 mil, R$ 7 mil e R$ 3 mil para os primeiros, segundos e terceiros lugares de cada categoria, respectivamente. As músicas estarão presentes no disco do festival, que, pelo segundo ano consecutivo, será lançado pela gravadora carioca Biscoito Fino.
Também foram eleitos o melhor arranjador e melhor intérprete, somando todas as categorias, que receberam R$ 3 mil cada. Mesmo com esse incentivo, Getúlio, que faturou R$ 20 mil esse ano com seus dois prêmios, afirma que ainda deseja ouvir o público entoar os seus novos frevos. “O que a gente tem é muito pouco: temos a rádio Universitária, a rádio Jornal. Mas é pouco para que as pessoas aprendam a música, as rádios já não massificam como antigamente, antes era uma beleza o povo cantar na rua as músicas novas”, declara, saudosamente, um dos mais conceituados compositores da capital do frevo.