Ele fez da literatura a sua arma para combater a injustiça

Textos do escritor inglês Charlies Dickens permanecem atuais e atuantes, 200 anos após sua morte

por Jullimaria Dutra ter, 07/02/2012 - 18:36
Reprodução

Cada fracasso ensina ao homem algo que ele precisava aprender
Charles Dickens

O ofício não era lá um dos melhores. O trabalho consistia em colar rótulos nos frascos de graxa para sustentar a família, encarcerada na prisão por conta das altas dívidas. A história de vida do garoto que iria contribuir decisivamente para a introdução da crítica social na literatura de ficção inglesa não foi uma das mais fáceis.

Charles Dickens transformaria toda a sua trajetória de vida, as dificuldades pelas quais passou - trabalhando na indústria inglesa e encarando as más condições de trabalho da classe operária - em temas recorrentes de suas obras, inaugurando, na metade do século 19 (junto a Gustave Flaubert e Leon Tolstói), o Realismo europeu.

A forma magistral como Dickens empregava os recursos da narração - equilibrada, racional e objetiva – credita seus textos. Em outras palavras, Dickens extrai da escola realista europeia a preferência pelo contemporâneo e, munido de suas experiências, injeta toda sua trajetória de vida de uma forma “invisível”, sem envolver-se diretamente com a mensagem.

Esse estilo textual de Charles Dickens o impulsionou ao caminho literário e ao das artes. Somado a isso, ele atrelou à sua memória fotográfica e concebeu personagens e enredos ficcionais, baseando-se muito nas pessoas e acontecimentos que marcaram a sua vida.

Um desses clássicos personagens é a história de Oliver Twist, um órfão entre centenas que sofrem com a fome e o trabalho escravo na Inglaterra vitoriana. Vendido para um coveiro, ele sofre com a crueldade da família deste e acaba fugindo para Londres, onde é recolhido das ruas por Artur Dodger, um ladrão que o leva até Fagin, um velho que comanda um exército de prostitutas e pequenos marginais. Quando Oliver conhece um bondoso homem em quem finalmente enxerga um possível pai, Fagin teme que ele denuncie seu esquema de crimes e planeja um assalto à casa do rico Sr. Brownlow, o pai desejado por Oliver.

A fragilidade encontrada em seus personagens – sempre pessoas pobres, vítimas de injustiças – foi a maneira que ele encontrou para denunciar tudo o que testemunhava entre os muros das indústrias londrinas. Mas o que há em Oliver Twist que até hoje magnetiza gerações? O que há nos ladrões que tentam impregnar o espírito do roubo? O que há em Fagin que abusa de mulheres e cria para a sociedade pequenos deliquentes? O que há em Dickens que nos questiona com problemáticas sociais e desconstrói a tradição romanesca?

Dois séculos se passaram desde o nascimento desse escritor inglês, que tocou na ferida da sociedade inglesa e continua com suas obras contemporâneas. Charles Dickens permanece vivo e suas obras são, de fato, atuais e atuantes na sociedade do século 21. A data foi lembrada, inclusive, pela gigante Google, que produziu um doodle especial em homenagem ao escritor.

Nos últimos anos de sua vida, o escritor fez muitas leituras públicas de suas obras. Em suas narrações, expressava-se calorosamente e com muita paixão, provocando risos e lágrimas entre a plateia. O esforço despendido era tanto nesses espetáculos que foi apontado como uma das causas da morte do escritor.

Dickens interpretou a sociedade e, para isso, foi leitor de si mesmo, de seu mundo, dos livros que o ajudaram a se ver e a ver tudo a sua volta com clareza e originalidade.

Para um escritor do século 19, Charles Dickens vai além do seu tempo.

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