Falta algo no País do Desejo

por Bernardo Queiroz qui, 24/01/2013 - 18:34
Divulgação Fábio Assunção vive um padre no filme de Paulo Caldas Divulgação

É sempre interessante observar a forma como os filmes Pernambucanos tem se apresentando enquanto longas metragem. País do Desejo tem uma história baseada em acontecimentos reais, mas tenta avançar a história por uma abordagem insólita. O eixo central envolve os dramas de José(Fábio Assunção), um padre da vila fictícia de Pasárgada, e a pianista Roberta (Maria Padilha). O padre lida com o drama de defender um aborto em uma menina de 12 anos que estaria grávida de gêmeos devido a um estupro nos canaviais da cidade, algo que gera conflito com seu Arcebispo (o ator portugues Nicolau Breyner). Já Roberta tem uma degradação renal avançada e uma rejeição prévia a transplantes que lhes dão pouco tempo de vida, e quando ela passa mal numa apresentação de Debussy, suas vidas se entrelaçam.

O que parece sem uma trama típica de noveleta das oito se torna algo mais complicado com os outros personagens de circulam ao redor do padre. Germano Haiut é o patriarca da família, cheio de sabedorias e ditames interessantes que irritam seus filhos, apesar de sua esposa estar em coma há tempos. A nova enfermeira que consegue para cuidar da esposa é uma japonesa (Juliana Katemani) que aparentemente foi contratada também para ser o fetiche sexual da casa, a julgar pelos olhares de César (Gabriel Braga Nunes) médico que é irmão de José. Infelizmente, meio que fica por isso mesmo.

A trama que envolve o padre José é interessante, também pela inclusão de dados reais, como a excomunhão pela igreja da menina que aborta, sua mãe e os médicos que realizaram os procedimentos, mas acaba ficando somente aí. O filme é fotografado e montado com competência, inclusive com interessantes construções de entradas e saídas de cenas usando corredores, mas só. O que poderia ser um excelente debate fílmico entre ciência, religião e descrença se torna só mais uma má exploração destes temas para o avanço de uma trama previsível. O que poderia ser uma história marcada  por situações insólitas e quase personagens Rodrigueanas acaba tendo diálogos num nível quase filme-surreal, mas ainda assim comportado demais. Os personagens secundários em particular são os que mais sofrem, já que suas funções na história beiram o desperdício, mas os atores principais também poderiam ser mais guiados por Caldas para oferecem material melhor. Acabamos sempre pensando o que País do Desejo poderia ter sido no lugar do que ele é. É difícil reconhecer o autor de Baile Perfumado nesta produção, uma vez que lhe falta o arrojo que vimos em sua produção Baile Perfumado.

 

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