Os Miseráveis evolui, mas não revoluciona

por Bernardo Queiroz sex, 01/02/2013 - 00:00
Divulgação

 França, 1815. Prisioneiros executam, cantando, a proeza monumental de arrastar via cordas um enorme navio para uma doca seca num início de tempestade. Esta é a primeira cena de Os Miseráveis, uma cena que simboliza bem tanto o calibre de produção do filme quanto a sensação que sentimos quando mergulhamos nele. 

Beasedo na romance de Vitor Hugo e no que talvez seja a peça da Broadway mais adaptada da história, acompanhamos a história de Jean Valjean(Hugh Jackman, Wolverine: A Origem), um dos presos da cena inicial que é libertado em condicional perpétua. Marcado como um criminoso e ameaçado pelo seu oficial de pena Javert (Russel Crowe, Robin Hood). Após o sofrimento de vagar pelas ruas sendo maltratado pelo seu status criminoso que ganhou roubando um único pão, Valjan acaba por roubar uma igreja onde foi acolhido. Capturado no ato, é perdoado pelo padre responsável, que o motiva a queimar sua antiga identidade e viver uma nova vida mais digna. Nove anos depois, Valjean tem outro nome e é prefeito de uma próspera cidade, quando seu antigo algoz Javert o encontra novamente, iniciando uma perseguição que se estenderá por muitos anos, mas também eventos que marcam a história da França.

O trabalho dos atores num filme desta escala é algo de assombroso, já o que o diretor Tom Hopper ( O Discurso do Rei) fez questão de que toda a captação ocorresse com os atores em cena, ao invés do habitual onde as músicas são gravadas posteriormente numa dublagem em estúdio. Todas as roupas do filme receberam microfones múltiplos para que as vozes pudessem ser captadas de qualquer ângulo, o que torna visível o esforço dos atores, com gratas supresas. Anne Hathaway (O Cavaleiro das Trevas Ressurge) em particular demonstra um nivel de projeção e poder de voz e de presença de palco que assombra. Ela interpreta Fantine, uma prostituta salva por Valjean e que o faz prometer que vai cuidar de sua filha Cossete (Amanda Seyfried), que depois se torna pivô do arco romântico da história durante a revolução. A própria Seyfried não faz feio, com uma voz de passarinho que a broadway tanto adora. Outros talentos que acabam sub-utilizados por fazerem mais do mesmo são Sasha Baron Cohen (O Ditador) e Helena Bohan Carter (Alice), repetindo seus papéis em Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco, mas que não os tornam menos fantásticos em cena.

Mas o esforço dos atores, particularmente de Jackman e Hathaway, que protagonizam canções fortes e de muita emoção, não são capazes de segurar o interesse em um filme tão longo. O cinema consegue dar ao espetáculo uma escala que jamais teria em palco algum do mundo, mas também nos deixa especialmente conscientes do conflito eterno que é o drama do gênero dos musicais: A rivalidade entre letras e diálogo. Embora existam algumas canções especialmente marcantes, nenhuma delas esconde a aparente incapacidade de Hooper de conter sua direção de fotografia, com a câmera sendo jogada, movida, deslizada e aberta em grandes e  close-ups bruscos, com uma montagem que não possui um mínimo de sutileza.  Recomendado para os fãs de ópera, mas não para é certamente para todo mundo.

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