Afrescos de Michelangelo, inspiração para os cardeais

qua, 13/03/2013 - 13:30
Gabriel Bouys A parte mais famosa da Capela Sistina, que se refere à Criação, no dia 9 de março de 2013 Gabriel Bouys

Reclusos no conclave durante longas horas dentro da Capela Sistina, os cardeais que têm a responsabilidade de eleger o próximo Papa podem se inspirar nas mensagens transmitidas pelos suntuosos afrescos de Michelângelo, obras-primas da pintura do Renascimento e autêntica ilustração da Bíblia. Para onde olharem, os 115 cardeais com direito a voto reunidos no conclave verão as mensagens e os valores transmitidos pelas Sagradas Escrituras, da Gênesis ao Apocalipse.

Ao entrar na capela, a primeira coisa que os "príncipes da Igreja" verão é um afresco que representa a "Entrega de chaves": em uma grande praça, Cristo entrega solenemente as chaves do Reino de Deus a São Pedro, de joelhos. Um símbolo potente, que lembra a figura de São Pedro aos que precisam eleger o sucessor de seu trono. "A imensa responsabilidade destes dias consiste em colocar estas chaves nas mãos adequadas", escreveu Joseph Ratzinger, o agora Papa Emérito Bento XVI, quando ainda era cardeal, no prefácio de "Tríptico Romano", um livro de poemas de João Paulo II, seu antecessor.

Neste mesmo livro, o papa polonês assegurava que "os homens aos quais foi confiado o legado das chaves do reino (dos cardeais) se deixarão inundar pela sinfonia das cores da Sistina". Mas as pinturas desta capela, construída entre 1477 e 1491 por ordem do papa Sisto VI, são uma obra coletiva, na qual participaram Michelangelo Buonarotti (Michelangeo, 1475-1564) e outros grandes mestres do Renascimento, como Sandro Botticelli ou Perugino, autor da cena das chaves.

Talvez o afresco mais impressionante seja "O julgamento final", de Michelângelo, que ocupa toda a abside. No centro, um Cristo atlético e imberbe parece girar sobre si mesmo no centro de um céu intensamente azul. O espetáculo é surpreendente. Os corpos ressuscitam e se submetem ao julgamento implacável: o paraíso ou o inferno, cheio de monstros e de corpos torturados. Conta-se que em 1541, quando o afresco foi inaugurado, Paulo III, impressionado, caiu de joelhos e começou a chorar.

Para fugir deste espetáculo terrível, os cardeais do conclave só precisam olhar para a abóbada da Capela para descobrir a famosa cena do Gênesis e da criação do homem vista pelo talento de Michelangelo.  "Com uma intensidade expressiva única, o grande artista representa o Deus criador, sua ação, sua potência para expressar a evidência de que o mundo não é produto da escuridão, do azar, do absurdo, mas que vem da Inteligência, da Liberdade, de um ato supremo de Amor", afirmou entusiasmado Bento XVI, quando em 2012 ocorreu o 500º aniversário da criação desta obra-prima.

Partindo do Gênesis, a Capela Sistina e seus 2.000 metros quadrados de afrescos explicam os grandes episódios da Bíblia e exaltam a doutrina da Igreja, do Éden ao Apocalipse, passando pelo Inferno e pela história de Moisés ou de Cristo. Uma fonte de inspiração e reflexão permanente para os cardeais responsáveis por eleger o próximo Papa, que têm o privilégio de observar a obra de Michelangelo com toda a tranquilidade, ao contrário dos milhares de turistas que todos os anos fazem filas quilométricas para observar os afrescos por alguns poucos minutos.

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