Espetáculo ao ar livre conta a história de Lampião
Apresentação ocorre em Serra Talhada, no Sertão de Pernambuco
Virgulino Ferreira da Silva, mais conhecido como Lampião, é um dos personagens mais icônicos e controversos da cultura nordestina – até os dias atuais não é possível dizer se o Rei do Cangaço foi herói ou bandido. Entre os dias 23 e 27 de julho, será realizada em Serra Talhada, terra natal do cangaceiro, a terceira edição de O Massacre de Angico – A Morte de Lampião. Conhecida como O Maior Espetáculo ao Ar Livre do Sertão, a peça contará a história das últimas horas de Lampião antes do terrível encontro entre seu bando e os militares do presidente Getúlio Vargas.
Nesta quinta-feira (17), a produção do espetáculo reuniu a imprensa para falar um pouco mais sobre a realização da montagem e claro, de Lampião. Apesar de ter sua estreia nos palcos apenas em 2012, O Massacre de Angico foi escrito há mais de 25 anos, por Anildomá Williams de Souza, um grande pesquisador do Cangaço. Também nascido em Serra Talhada, Anildomá dedicou sua vida a desmistificar a luta dos justiceiros sertanejos e seu líder.
A ideia de O Massacre de Angico, segundo seu criador, é mostrar o legado de Lampião e fazer com que as pessoas descubram e passem a conhecer seu outro lado, um lado mais humano. “A gente traz um Lampião que chora, que faz versos, se apaixona e está com medo de morrer. A gente explica os dois lados da história”, explica Anildomá.
Além de fatos que realmente aconteceram nas últimas horas de vida de Lampião – como a morte de seu pai e seu encontro com Padre Cícero - a peça também irá contar com algumas passagens do imaginário popular, como a história de que Virgulino fez um cangaceiro comer dois quilos de sal por reclamar que comida estava insossa.
Espetáculo em família
Assim como Virgulino Ferreira da Silva, Anildomá também tem a sua Maria Bonita. Cleonice Maria também é uma entusiasta do Cangaço, em Serra Talhada ela criou o Grupo de Xaxado Cabras de Lampião – uma trupe de artistas que reproduzem a diversão dos cangaceiros em meio aos combates. Eles também fazem parte do espetáculo, que juntos com os outros atores e figurantes totalizam 120 pessoas à frente da encenação.
Mas as relações de parentesco por trás da montagem de O Massacre de Angico não param por aí. Quem interpreta Lampião na peça é o filho do casal, Karl Marx, que desde criança esteve em contato com a cultura dos cangaceiros e com a história do Rei do Cangaço. “Eu tenho uma história muito próxima com Lampião, ele é um personagem de dentro da minha casa. Lampião é quase um tio meu”, brinca o ator. Ele conta que, por causa de seus pais, nasceu e se criou dentro do Cabras de Lampião, com histórias e músicas sobre o cangaceiro.
A produção do espetáculo
Se tratando de um espetáculo ao ar livre, Anildomá e Cleonice talvez não pudessem escolher ninguém melhor do que José Pimentel para dirigir a peça – o diretor e ator tem larga experiência em montagens do tipo, como as Paixões de Cristo do Recife e de Nova Jerusalém e o Calvário de Frei Caneca.
O Massacre de Angico é a primeira peça que Pimentel é apenas o diretor e não o dono do texto. Apesar disso ele não teve problemas em aceitar a direção da peça. “Até então, os espetáculo que eu dirigi eu tinha escrito o texto, ia imaginando cada personagem e cada cenário. Mas a proposta era tão grandiosa que eu topei fazer”, explica o diretor. Nesta edição ele também irá atuar em uma pequena parte do espetáculo como pai de Lampião.
Outro motivo que facilitou a entrada de Pimentel na jornada foi suas lembranças e ligação estreita com Lampião. Ele conta que o cangaceiro chegou a frequentar a sua casa e era amigo de seu pai. “Eu convive com a história de Lampião. Em uma das andanças do meu pai eles se conheceram, e montaram um banquete para os cangaceiros. Ainda houve um segundo encontro, já muito amigos. Eu tinha uma foto do meu pai ao lado de Lampião”, contou José Pimentel.
Sucesso de público
O espetáculo, apesar de contar apenas com atores locais, é um sucesso em Serra Talhada. Em 2013 eles conseguiram alcançar uma média de sete a oito mil pessoas por noite. Nesta edição são esperadas cerca de dez mil pessoas - de vários estados do Brasil – por noite. “A gente tem uma grande lotação de hotéis (em Serra Talhada), temos grande procura de pessoas que querem ver o Massacre de Angico”, revela Cleonice.
Serviço
Espetáculo O Massacre de Angico – A Morte de Lampião
23 a 27 de julho | 20h
Estação de Forró (Serra Talhada)
Gratuito