'Samba do Trabalhador' inicia temporada em SP
Numa segunda-feira de maio de 2005, o músico Moacyr Luz, coautor de clássicos do samba como Saudades da Guanabara e Cabô meu Pai, decidiu aproveitar o dia de folga para se reunir com amigos também músicos. Convidou cerca de 50 pessoas, que se encontraram por volta das 14 horas no Clube Renascença, tradicional reduto de negros e músicos no Andaraí, na zona norte do Rio. Entre uma cerveja e outra, buscada por conta própria porque os garçons também estavam de folga, e mesmo sem ensaio nem equipamentos de som, emendaram um repertório de sambas clássicos.
A notícia se espalhou e, na semana seguinte, o encontro de amigos reuniu mais de cem pessoas. Na quarta semana, já eram 500. Formou-se uma roda de samba que desde então se repete religiosamente nas tardes e noites de segunda-feira, no mesmo clube, e hoje atrai mais de mil pessoas.
Moacyr decidiu chamar o evento de Samba do Trabalhador. "Parece uma brincadeira, já que a maioria dos trabalhadores está ocupada na segunda à tarde, mas eu me referia aos músicos: a gente trabalha todo final de semana e só pode se divertir na segunda", explica.
Passados nove anos, e depois de dois CDs e DVDs lançados (em 2005 e 2013), o Samba do Trabalhador inicia nesta terça-feira, 5, uma temporada sem data para acabar no Traço de União, casa de samba inaugurada em 2003 em Pinheiros, na zona oeste.
Toda terça-feira, a partir das 19 horas, Moacyr e outros oito músicos vão entoar o repertório que inclui, além de músicas do próprio líder, clássicos de Paulo Cesar Pinheiro e Aldir Blanc (seus parceiros frequentes), Paulinho da Viola, Cartola e tantos outros. Como parte do ritual, a música de encerramento é sempre Poder da Criação, de João Nogueira e Paulo Cesar Pinheiro. "É uma oração ao samba", resume Moacyr.
"Sempre recebemos muita gente de São Paulo, tem até ônibus que sai do Belenzinho (bairro da zona leste) para ir ao Rena", conta o músico. "Já tocamos em alguns lugares de São Paulo, no (bar) Pirajá e na Virada Cultural, por exemplo. Mas nunca havíamos acertado uma sequência, uma temporada inteira na cidade", diz.
"Queríamos um lugar espaçoso, para montar a roda de samba no meio do público, como fazemos no Rena, porque isso torna o samba ainda mais empolgante. No Traço podemos fazer assim", afirma Moacyr, que não prevê fim para a temporada paulistana. "Vamos tocar enquanto houver fôlego. Ao menos até dezembro estaremos lá", afirma.
Durante o show, Moacyr canta e toca violão e é acompanhado por Gabriel Cavalcante, Alexandre Nunes (ambos cantam e tocam cavaquinho), Álvaro Santos, Mingo Silva (cantam e tocam percussão), Daniel Neves (violão sete cordas), Luiz Augusto, Junior de Oliveira e Nilson Visual (percussão).
Quando foi lançada no Rio, a roda de samba começava às 14 horas, mas logo os músicos perceberam que era cedo demais. "Às 2 da tarde fazia muito calor. No clube não havia cobertura e a gente ficava procurando uma sombrinha, se espremendo onde não batia sol. Então, decidimos começar mais tarde", conta Moacyr. Hoje o samba começa às 16h30 e segue até as 21h30.
Em São Paulo, 16h30 seria cedo demais, avalia Moacyr. "A casa vai abrir às 18h e decidimos começar o samba lá pelas 19h, hora adequada para quem quiser trocar o congestionamento por um samba", diz o músico. A música não deve parar antes da meia-noite.
Preço
As despesas semanais com viagem e hospedagem dos nove músicos elevou o custo do show e, por isso, o ingresso em São Paulo custará R$ 30, o dobro do preço no Rio.
"Estamos indo para São Paulo com as próprias pernas", explica Moacyr. "Compramos passagens aéreas na promoção para as três primeiras semanas de agosto, e na última vamos de ônibus. A hospedagem também será por nossa conta", afirma. "Vamos ganhar menos do que no Rio, mesmo com o ingresso custando o dobro, mas temos vontade de tocar em São Paulo", diz Moacyr.
Ele lembra que, no início do Samba do Trabalhador, a entrada era grátis. "Começamos a roda em maio, com o clube de portas abertas. Mas havia gastos com equipamentos de som, estrutura, então em setembro decidimos cobrar. Mas eram R$ 2 e só homem pagava", conta.
Citado em documentários produzidos até no exterior, como França, Austrália e Japão, o Samba do Trabalhador já foi registrado em dois CDs e DVDs.
Moacyr não tem dados oficiais sobre o número de discos vendidos, mas garante que o mais recente, gravado ao vivo no Renascença e lançado no início de 2013, já vendeu mais de 5 mil cópias. Participam dele Toninho Gerais, Efson, Makley Mattos, Moyses Marques e Marcelinho Moreira. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.