Videoclipes e a música pernambucana
De produções domésticas a clipes feitos em produtoras, os músicos pernambucanos investem alto na produção audiovisual
Em meados da década de 60 os Beatles revolucionaram a indústria fonográfica ao juntar imagem às suas músicas. Era o príncipio do videoclipe, um pequeno filme que ilustra o som das bandas, dando-lhe dinâmica e identidade visual. Hoje, em pleno século XXI, os avanços da tecnologia tornaram mais fácil e mais barata a produção desses vídeos. Em Pernambuco, artistas dos mais diversos gêneros musicais estão usando, cada vez mais, essa plataforma para divulgar seus trabalhos e aproximar-se do público. Só nos dois últimos meses, nomes como Feiticeiro Julião, N'Zamby, Jorge Cabeleira e China lançaram clipes na internet. As produções são dos mais diversos tipos, indo de ficções bem elaboradas até o uso de imagens cedidas por fãs e colaboradores.
Em casa
Para Dani Carmesim, cantora pernambucana, música e vídeo se completam dando sentido um ao outro, além de dar ao artista a possibilidade de fazer coisas que seriam inviáveis no palco. Desde o início do seu trabalho, ela vem registrando as gravações do seu CD e lançando teasers na internet, de forma caseira. Dani percebeu que a força de querer fazer um clipe, ainda que com poucos recursos, seria o bastante para produzir. Com a ajuda do baixista de sua banda, e noivo, André Williams, ela elaborou o roteiro, organizou cenário e figurino e iniciaram as gravações na sua própria casa. "Eu até batizei de 'DemoVídeoHome', foi gravado na minha casa e 80% das filmagens foram feitas do celular do André e de uma câmera digital. Toda a edição também foi feita por ele, no notebook, vendo vídeo de tutorial ensinando como usar programas básicos.
Produção do interior
O cantor, compositor e guitarrista Joanatan Richard é de Caruaru, tem 20 anos de carreira e atualmente vem trabalhando seu CD, Rockin This Crazy World, autoral e pioneiro no Norte e Nordeste no gênero 50´s rock. Para Joanatan, os vídeos são um meio muito importante de divulgação, tanto que, depois de lançar My Baby, Baby, seu trabalho vem sendo executado em rádios especializadas no gênero em países como Japão, Espanha, México e Rússia. O caminho que ele encontrou para produzir seu clipe foi a parceria com uma produtora da sua região que dispõe de equipamento de cinema. "A maior dificuldade é levantar grana mesmo, patrocinadores são cada vez mais raros", diz. Ele citou outros nomes da cena caruaruense que também vem investindo nesta plataforma, Sangue de Barro, Carioca e Alkymenia são alguns.
Trabalho coletivo
China é cantor, compositor, produtor e já está na cena musical pernambucana há muitos anos. Ele escolheu um caminho bem diferente para fazer seus últimos vídeos, todos produzidos com a colaboração dos fãs. No primeiro, Só serve pra dançar, meninas de todos os cantos do Brasil aparecem dançando em cenas enviadas, pelas próprias, para o músico. Em seguida, foi a vez de Panorama montar uma verdadeira colcha de retalhos com fotos, colagens e ilustrações que trazem trechos da música, também enviadas pelos fãs. O último, recém lançado, foi o clipe de Arquitetura de Vertigem, todo montado com imagens captadas pelo público na ocupação do movimento Ocupe Estelita, ocorrido no Recife, no 1º semestre deste ano. O vídeo foi pré selecionado para o International Music Video, festival realizado em Paris, que está em sua 10ª edição. "Acho essa troca massa.O clipe fica com a cara de todo mundo que curte meu som, entende? Clipes não dão dinheiro, então é apenas uma troca de carinho e consideração com os envolvidos É uma alegria ter um monte de gente pensando no mesmo objetivo.", diz.
O músico conta que com o Sheik Tosado, banda de Hard Core que liderava na décad de 90, era bem mais difícil produzir, os custos eram muito altos e a estrutura mais dificultosa, "Meus primeiros clipes, na época do Sheik Tosado, foram filmados em cinema. Coisa fina mesmo, e nada podia dar errado, pois era na época do rolo de filme ainda." Segundo ele, hoje em dia, ter uma boa ideia vale muito mais do que um grande investimento em dinheiro.
Seja através da contratação de produtoras especializadas, aventurando-se com câmeras e outros equipamentos amadores ou contando com a colaboração dos admiradores, os artistas de Pernambuco estão bem empenhados em produzir, cada vez mais, peças audiovisuais de qualidade e bom gosto. Ganham eles, pelo acréscimo que a repercussão dos vídeos lhes retorna, e ganha o público, brindado com essa grande variedade de trabalhos interessantes.